O Sorriso do Maroto - Fred Weasley escrita por Giulia Lopes


Capítulo 6
E tudo que eu amei, eu amei sozinho


Notas iniciais do capítulo

“E tudo que eu amei, eu amei sozinho.”
― Edgar Allen Poe



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/650865/chapter/6

Os gêmeos riam soltos na Casa de Chá da Madame Puddifoot em Hogsmeade. Lino falava com uma animação excessiva sobre o próximo jogo de Quadribol e o novo microfone que Dumbledore comprara.

— Vocês não entendem! Além de ser próprio para um estádio de até cinco mil pessoas, ele vem com efeitos. Vocês têm ideia que agora eu posso colocar som de vômito todas as vezes que Goyle encostar na goles?

— E como você espera fazer isso bem debaixo do nariz da Mcgonagall? – perguntou Jorge sério.

— Tá brincando? Ela está mais empolgada com isso do que eu. Parece que antes de entrar no time ela era narradora e na época dela o microfone era tão ruim que ela perdia a voz em todos os jogos. É capaz até dela não me deixar encostar nele e narrar ela mesma o jogo – respondeu Lino ficando emburrado com essa possibilidade.

— Nunca vou entender a animação de vocês dois com um microfone, até mesmo um mágico. A única magia que me interessa é a capaz de me fazer gritar durante as provas sem ninguém saber que fui eu e – Fred ia continuar, mas se surpreendeu com a atitude do amigo – Lino que diabos você está fazendo?

O garoto, depois de enfiar a cara em uma caixa de madeira que estava na lateral da mesa esfregava saquinhos de chá em seu nariz.

— O que? Eu tenho que narrar o jogo amanhã. Se músicos cuidam de seus instrumentos eu vou é cuidar do meu.

— E desde quando bolinar um saquinho de chá é cuidar desse seu precioso instrumento?

— Tem muitas opções e eu ainda não decidi qual delas vou querer.

Jorge achou graça na cena. Ele sempre havia amado os momentos que os três passavam juntos, mas diante da situação atual e da confusão amorosa que permeava o grupo ele passou a apreciar ainda mais cada momento. Era incrível como o tempo passava. Ele e Fred nasceram juntos, cresceram juntos e viviam vidas complementares e ainda assim era notável, pelo menos para ele e as pessoas mais próximas deles, as diferenças entre os dois jovens. Ambos eram brincalhões e gostavam de pregar peças. Jorge, no entanto, achava que seu irmão gostava até um pouco demais de explodir as privadas do banheiro feminino do segundo andar e assustar a Murta Que Geme. O menino, algumas vezes, se via na obrigação de frear a veia travessa do irmão. Lino havia entrado na vida de ambos no primeiro ano em Hogwarts, quando os gêmeos preparavam bolinhas de papel que voavam e grudavam na nuca dos outros estudantes. Apesar de todo seus esforços, eles não conseguiam fazer com que as bolas grudassem por mais de três segundos até que Lino os interrompeu e com um único feitiço fez com que as bolas grudassem tanto que alguns alunos precisaram da ajuda da Madame Pomfrey para soltá-las.

Desde então o trio era inseparável, sendo até mesmo considerado como alguns como um pacote. Aonde um ia os outros iam atrás. Poucas coisas conseguiam criar atrito entre os meninos. Jorge, no entanto, temia que os sentimentos amorosos de seus amigos pudessem mudar isso. Para Fred, o afeto de Lino por Ana não passavam de uma paixonite exagerada por razões cómicas, totalmente inofensiva. Isso poderia ter sido verdade no início, mas agora os sentimentos de Lino por ela cresciam e se enraizavam cada vez mais em seu coração ao mesmo tempo que seu ressentimento pelo jeito que Fred tratava a menina cresciam. E, por mais que seu irmão amasse Hermione, seu coração tinha um cantinho com o nome da lufana escrito e ele não reagiria bem se descobrisse como seu amigo se sentia de verdade.

Por isso ele decidira que aproveitaria todos os momentos possíveis com seus amigos. Por mais que ele os amasse, Jorge não se meteria na situação. Era uma confusão que pertencia aos outros dois e era dever deles resolver quando tudo explodisse. Ele se encontrava incapaz de tomar partido, por mais que Fred fosse seu gêmeo, o menino daria seu sangue para salvar Lino, que era tanto sua família quanto outro. Apesar disso, ele não conseguia esconder uma voz que lhe dizia que Lino lidava com a situação com um pouco mais de dignidade, e o ruivo se sentia culpado por pensar assim.

Jorge foi retirado de seus devaneios quando uma discussão começou entre seus amigos.

— Mas como Fred? Chá de hortelã? – disse Lino – Para que vou querer beber alguma coisa que tem gosto de pasta de dente?

— É refrescante, Lino. Você precisa experimentar algo novo.

— E estragar meu ganha pão? Nunca. Você acha que conquisto as garotas por causa de um rostinho bonito e de um peitoral malhado igual vocês dois? É tudo na voz e no molejo – disse ele estufando o peito - Sem contar que se chegar com a voz ruim amanha vai ser a desculpa perfeita para a Mcgonagall roubar meu microfone e nunca mais me devolver.

— Você nem gosta de hortelã, Fred – interrompeu seu irmão – se lembra daquele ano que o Gui mudou o sabor do seu bolo de aniversário para hortelã e você chorou por umas duas horas?

— Ei, eu amadureci meu paladar e agora sou um jovem sofisticado que toma chá de hortelã.

— Você ainda só usa paste de dente de morango porque acha a de hortelã muito ardida...

— Olha, só sei que desde que usei aquela pomada de hortelã que a Hermione me recomendou eu desenvolvi um gosto pela coisa.

Jorge nem se deu o trabalho de responder, ele já sabia muito bem como as coisas iam ocorrer. Fred pediria um chá de hortelã jurando de pé junto que esse novo gosto adquirido em nada tinha relação com seus sentimentos mal resolvidos por Hermione. Ele sabia que seu irmão ficaria perdido demais em suas desculpas para suspeitar das razões para Lino sempre pedir um chá de camomila. É bom para a garganta, dizia sempre ele, mas era suspeito como seu chá adoçado com mel cheirava bem como uma certa lufana. Jorge apenas pediu um chá-preto com leite, torcendo para que o castelo de cartas que Fred e Lino construíam não despencasse tão cedo.

*******

Ana é, na superfície, um estereótipo da Lufa-Lufa. Carinhosa, amável e leal. Sempre tranquila até que fizessem que o texugo dentro dela pulasse para fora. Era o Quadribol que a fazia entrar em um frenesi. Torcedora fervorosa dos Vagabundos de Wigtown, paixão passada para ela por seu pai Hian Parkin, descendente distante do fundador do time Válter Parkin. Ela entrava de cabeça quando era dia de jogo da sua casa, principalmente desde que seu melhor amigo, Cedrico Diggory, ganhou o posto de apanhador do time.

Agora, todos os dias de jogo a menina acordava cedo, vestia suas vestes amarelas, pegava suas bandeiras e descia para tomar café com o amigo. Havia se tornado uma espécie de ritual entre os dois, que aproveitavam cada minuto dele, de um jeito que apenas verdadeiros lufanos poderiam. Existe algo a ser observado e respeitado na Lufa-Lufa: aqueles que carregam seus valores no coração; e não havia exemplo melhor disso do que Cedrico Diggory e Ana Parkin.

Os dois amigos riam e devoravam uma torta de maça juntos naquela manhã. Cedrico adorava a luz que Ana emanava quando ela se sentia verdadeiramente feliz. Para ele, ela era uma daquelas pessoas que conseguiam mudar o humor de um cômodo inteiro, possivelmente por causa da influência que ela possui em seu próprio humor. Houve um momento que ele pensou que seus sentimentos pela garota fossem mais que amizade, mas ele percebeu que a amava como uma irmã, para ele, ela já era seu sangue.

Por isso doída tanto ver a forma com que ela se portava ultimamente. Doando tanto de si para abastecer Fred que faltava para si mesma. Ele o culpava pelo seu estado cabisbaixo e seu ressentimento crescia a cada olhar roubado e sorriso dado por ele que não eram direcionados a sua amiga. Cedrico sabia dos sentimentos de Fred, tinha como não saber? Seu coração partido era visível em seus olhos e ele parecia sentir alívio apenas quando tinha Ana por perto. O lufano entendia porque ele queria sua amiga por perto, mas ainda o culpava por fazer isso a custo da felicidade da mesma.

Essa era a razão dele estar aproveitando tanto esse café da manhã. Cedrico havia esperado ansioso por um jogo entre a Lufa-Lufa e a Grifinória desde que Ana e Fred começaram a namorar. Ele sabia que ganhar não mudaria nada a dinâmica do casal, mas vencer a Grifinória com ele apanhando o pomo seria algo que deixaria seu coração um pouco mais leve. Ganhar uma partida de Quadribol eram sempre algo que o fazia feliz, agora vencer de Fred era algo que havia ganho um peso maior do que qualquer outra partida, maior até do que a revanche da final do ano anterior quando perderam para a casa do ruivo.

O menino se engasgou de rir com uma piada que Ana lhe contava. Nada naquele momento conseguiria desviar seus olhos dela. Cedrico não entendia como que as pessoas poderiam achar que ela não era bonita o suficiente para Fred Weasley, o garoto não passava de um peitoral malhado com uma cabeleira ruiva. Talvez fosse porque ninguém a via como ele, em seu papel de honorário de irmão mais velho ele sempre a via quando estava completamente confortável e confiante. Era em momentos que ela ainda mais linda e ele dava crédito ao ruivo por ser capaz de enxergar o que não ninguém além dele conseguia.

Depois de comer os dois desceram para o campo de Quadribol. Ele com seu uniforme e ela com suas bandeiras e seu rosto pintado com as cores da casa. Por mais que gostasse de Fred nada seria capaz de impedi-la de torcer e desejar que todos os jogadores do outro time caíssem de suas vassouras. Ana não jogava no time, mas em seus momentos vagos se divertia jogando com seus amigos na sua posição favorita: batedor. Havia uma pequena lenda urbana na Lufa-Lufa que o balaço que teria atingido Luke Cholderton durante um jogo informal de Quadribol, após uma briga com Cedrico Diggory, teria sido propositalmente rebatido na sua direção por Ana. A mesma jura nunca ter feito isso.

Chegando no campo eles se despediram, ele indo para o vestiário e ela para a arquibancada. A menina se sentou do lado de um empolgadíssimo Lino e uma levemente entediada Hermione.

— Bom dia! Preparados para ver a Grifinória passando vergonha? – ela disse surpreendendo Hermione.

— Achei que vocês lufanos tivessem um espirítio esportivo mais forte – respondeu a outra.

— Somos ótimos perdedores com uma pequena exceção: quadribol!

— Pequena exceção pessoal sua, né Ana. Você grita o suficiente por toda a sua casa todo jogo – brincou o grifinório.

Hermione sorriu com as brincadeiras dos dois. Ela nunca admitiria, mas se sentia levemente intimidada pela lufana. Ambas eram as melhores de suas casas, com Hermione sempre ficando com notas mais altas, mas quando se tratava de pessoas, Ana sempre levava a melhor. A morena admirava o jeito com que a outra era sempre tão verdadeiramente ela mesma e essa mistura de admiração e intimidação havia se transformado em um leve ciúme fazendo com que ela sempre mantivesse uma distância da loira. Distância essa, que era entendida como superioridade pela outra, fazendo com que elas nunca se aproximassem de verdade.

Agora, rodeada pelos amigos de Ana e do lado de um Lino Jordan que babava na mesma, Hermione se sentia particularmente desconfortável, se escondendo cada vez mais no seu tão surrado exemplar de “Hogwarts: uma história”. Com vinte minutos da partida, a morena já havia se arrependido de não ter ficado no seu dormitório terminando seu trabalho de poções.

— Hermione, não estou conseguindo te escutar, vem sentar aqui do meu lado – disse Ana surpreendendo a outra que sabia que não havia dito nada desde que a partida havia começado.

Apesar da surpresa ela foi e se sentou do lado da loira que gentilmente começou a explicar quais eram as estratégias dos dois times. Mesmo com a situação envolvendo Hermione e Fred, Ana não conseguia deixar a outra sozinha e entediada no canto. Poucos instantes depois, a goles passou pelo aro do gol da Grifinória levando uma alegre Ana a loucura sendo imitada por uma Hermione, que sem nem pensar comemorava o gol contra o próprio time. Percebendo o que havia feito a menina caiu na risada junto com todos ao seu redor.

Os minutos se passavam e o jogo se intensificava. A Lufa-Lufa estava 30 pontos na frente e Potter se esforçava para encontrar o pomo de ouro. Hermione se divertia como nunca antes e Ana sentia seu coração mais leve ao perceber que genuinamente gostava da outra. Lino, bem, Lino acumulava gritos de Mcgonagall toda vez que tentava usar um efeito sonoro e gritos de Ana toda vez que tentava falar mal do time lufano.

Mais trinta minutos passados no relógio e a Lufa-Lufa marcara mais quatro vezes levando o time da Grifinória a se desesperar. Cedrico procurava o pomo tentando não dar chance de uma virada enquanto Harry se agarrava a esperança de encontrar o pomo. Fred sentia uma mistura de desespero e alegria. Desespero por estar perdendo uma partida que ele considerava ganha antes mesmo de entrar em campo, mas alegria por ver sua namorada e sua, hum, melhor amiga se dando bem na arquibancada. Ele estava rindo olhando como Hermione comemorava cada movimento da Grifinória em uma alegria de quem claramente não tinha ideia do que estava acontecendo quando um “Merda” da Mcgonagall ecoou do microfone de Lino e o estádio foi a loucura.

Cedrico segurava orgulhoso o pomo de ouro enquanto o time da Lufa-Lufa dava piruetas no ar. A casa havia vencido seu jejum de oito partidas sem vencer do time grená. A alegria de Ana era tamanha que ela se atirou na primeira pessoa conhecida na sua frente. Agarrada em Lino ela pulava e gritava, gastando até mesmo a voz que não tinha. Lino nunca havia ficado feliz com uma vitória da Lufa-Lufa antes na sua vida, mas ver a loira em seus braços havia lhe dado mais prazer do que ele esperava e logo – contra sua vontade, mas seguindo seu bom senso – se soltou dos braços da garota.

Cansado e frustrado com a derrota, Fred se aproximou do grupo.

— Não acredito que perdemos essa partida. Exijo recontagem dos gols! – brincou o ruivo.

— Ai Fred, ganhamos com tanta vantagem que mesmo tirando dois ou três gols a derrota ainda continua feia – brincou Ana.

— Sem problema, amor. A cena que eu vi hoje na arquibancada é melhor que qualquer vitória.– respondeu ele dando um beijo na bochecha de sua namorada.

Ana riu sem graça. Ela sabia que ele não falava da gafe de Mcgonagall ao microfone, e sim de uma certa garota que era a razão pela qual a boca dele sempre tinha gosto de hortelã.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Sorriso do Maroto - Fred Weasley" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.