O vento soprou mais uma vez para dentro da casa. O cheiro de flores era ainda mais intenso, o que indicava que os nossos “visitantes” misteriosos estavam cada vez mais perto.

– Vai ficar tudo bem querida... – Disse papai tentando me acalmar.

Assenti lhe devolvendo um sorriso forçado. Ele estava apoiado no “braço” do sofá e apenas, abraçou-me pelos ombros. Mamãe juntou-se a nós no abraço e a sensação de carinho se tornou quase completa, isso porque faltava Jacob ao meu lado. Ainda não me agradava à idéia de ele e tia Alice estarem tão ligados. Não digo isso por causa da dependência que essas malditas dores estão causando nela, mas também pelo fato do carinho que se estabeleceu entre eles. Isso era algo notável... Encaro os dois de onde estou e vejo titia de olhos fechados, “afogada” no peito de Jacob, seu semblante é muito tranqüilo e seus lábios finos confundem-se entre um sorriso ou não, igual ao de “Monalisa” – a famosa mulher do retrato de Da Vince. Uma expressão enigmática que me faz tremer com a possibilidade “maluca” de ela estar apaixonada por Jacob.

Papai fisga meu olhar, espantado com meus devaneios.

– Já disse pra você sair da minha cabeça. – Pensei encarando-o. Ele assentiu, fazendo cara feia. Não me importei, se tia Alice estivesse sentindo algo a mais por Jacob papai certamente me contaria. Eu acho...

O rosto de papai se retorceu. Seus lábios formaram uma linha fina e seu semblante ficou muito pesado e carrancudo. Perguntei-me o que estava lhe causando tão mal, se eram meus pensamentos absurdos ou a aproximação constante de Angus e suas companheiras.

Vovô põe-se de pé e fecha a porta.

– O que está fazendo querido? – Vovó Esme pergunta quando ele retoma seu lugar ao lado dela.

Derrepente, papai muda a linha reta de seus lábios em um sorriso torto.

– Ótimo teste Calisle. – Disse, num tom humorado.

Vovô lhe devolve o sorriso fechado dizendo:

– Se essas pessoas forem do bem, certamente baterão na porta. Não é algo concreto, mas mostrarão que têm boa educação.

Todos riram meio apreensivos.

– Toc, toc... – O som ecoa da porta de madeira da sala. Todos se entreolham e o nervosismo paira no ar como uma fumaça densa e negra.

Vovô levanta-se e caminhando, um pouco rígido, abre a porta. O odor de flores é forte e muito bom, uma essência que acalma e concede uma tranqüilidade indescritível.

– Calisle Cullen, eu suponho. – Uma voz feminina – doce e firme ao mesmo tempo – fala, ao ver vovô.

– Isso mesmo, em que posso ajudá-los?

– Angus não falou de nossa chegada?

– Sim, soube pelos meus filhos que um ser desconhecido queria conversar com a família. Desculpe a frieza, mas não sei de quem se tratam e o que querem por isso não lhes convidei pra entrar ainda.

Ouço risinhos suaves.

– Não precisa ter medo querido Calisle. Não viemos lhes fazer nenhum mal.

Vovó saltou para o lado do vovô, certamente por causa do “querido” que a estranha carinhosamente colocou na frente do nome. Ri baixinho comigo mesma, nunca vi vovó com ciúmes.

– O que garante que são confiáveis a ponto de entrarem em nossa casa? – Perguntou vovó, meio irritada. A mulher com quem dialogavam com certeza esbanja alguma beleza, só isso despertaria o mau humor de vovó Esme.

– Me poupem de suas desconfianças tolas... – Ouvi uma voz rouca, feminina também, dizer com dureza.

Antes que vovô pudesse fazer a defesa da vovó, outra voz surgiu do lado de fora da casa:

– Não liguem para a Die, ela apenas está angustiada assim como todos nós.

– Isso mesmo Jana, precisamos de sua ajuda urgentemente Sr. Calisle, sua e de toda sua família. – Concordou Angus. Reconheci sua voz grave.

– Entrem, por favor. – Disse vovô, estendendo-lhes a mão – mostrando-lhes a direção.

Desencostei do sofá para ter uma visão ampla dos visitantes tão estranhos que desejavam falar conosco.

Minha boca “despencou” ao ver a beleza das três jovens que adentraram a casa. Elas estavam vestidas com roupas de tecidos muito diferentes, era uma fibra tão “natural”... pareciam, folhas. – Me espantei com a comparação. – Não podia ser folhas, o risco delas ficarem nuas ali com todo aquele vento seria muito grande. Angus estava ao lado da mulher do meio, ao lado deles estavam as outras duas. Todas com uma beleza muito diversificada, olhei ao redor e vi que o impacto maior aconteceu com os garotos da família, inclusive Jacob.

– Sou Flora – Apresentou-se a mulher que estava de braços dados com Angus. O tecido de sua roupa assemelhava-se com as demais. Só mudava a cor e alguns detalhes, parecia um vestido. Um vestido com mangas regatas – grossas que lhe cobriam bastante os ombros. Seu decote era bem cavado e formava um “V”. Era um decote enorme e mostrava os lados de seus seios fartos. Agora entendi a reação de vovó ao vê-la; A cor de sua pele era branca e meio reluzente, com um brilho próprio, combinava com o tom pastel de seu vestido. O traje terminava um pouco acima dos joelhos e a borda da roupa era linda, não era uniforme. Ao contrário, formava uma fileira de “V” de cabeça pra baixo. Pareciam folhas mesmo. Seus lábios eram fartos e brilhavam bastante, seja lá o que ela estava usando com certeza foi muito caro, pois dava um “up” a sua boca. A maquiagem era suave, exceto sobre os olhos, que carregavam uma sombra azul com rajadas violetas. Pareciam asas de borboletas nos cantos de seus olhos verdes. Sua cabeça estava circundada por uma coroa fina cheia de pedras preciosas, reconheci esmeraldas e rubís que estavam espalhadas pelo metal. Seu cabelo era outra característica que chamava muita atenção, era loiro-dourado e caía em lindos cachos sobre seus ombros e costas. Exceto na parte frontal, onde se estendia uma franja sobre os olhos. – Antes de começarmos a falar do que realmente interessa... – ela continuou, tirando-me de meus olhares indiscretos – acho melhor apresentar a todos. Como já disse, me chamo Flora e sou princesa do reino de Florença. À minha direita está Angus, creio que vocês já o conheçam...

– Não tanto quanto gostaríamos. – Disse vovô.

– Sabemos que as dúvidas devem ser muitas. Mas, teremos todo tempo necessário para respondê-las. – Disse Flora, ela parece ser a porta-voz do grupo.

– Essa é Denise, ou somente “Die”. – Apresentou a mulher que estava um pouco atrás, a sua direita. – Minha amiga protetora – Sussurrou orgulhosa.

Denise era alta e de um corpo escultural, usava vestido branco. Mas, com regata apenas de um lado. Sua pele era clara, mais pálida que Flora. Enquanto Flora tinha olhos verdes, os de Denise brilhavam com cor de mel, seu rosto é fino e concorda com seu penteado. Ela está com cabelo trançado, uma trança linda e longa com flores brancas que envolvem e formam ramos perfeitos. A trança está apoiada em seu ombro nu e o cabelo preto com mechas douradas é notável sobre seu tom de pele pálido. Seus lábios oscilam entre finos e carnudos, são exatamente proporcionais, lhe dando um sorriso torto magnífico. Suas curvas são as mais acentuadas, parece até terem sido feitas à mão por alguém que lhe queria perfeita. Senti um toque de inveja, me senti um ser tão insignificante. E se Jacob renunciar a mim por causa disso? Há tantas mulheres lindas por aí...

– Rhum, Hum’ – Papai pigarreou – levantei os olhos para vê-lo e a repreensão estava clara em seu olhar. Droga! Pare de ler a minha mente papai... – Ordenei mentalmente, tentando ser brava.

– Prazer em conhecê-los. – Disse Denise – Espero sinceramente que vocês sejam realmente dignos do que temos a lhes oferecer. – Retrucou com arrogância.

Flora riu, discretamente, ao ver a expressão de vovó. A coitadinha estava aflita com os decotes sinuosos das... – ainda não sei bem como defini-las.

– E por ultimo, apresento-lhes a doce Jana. – Murmurou Flora, indicando a outra moça que estava ao seu lado.

Jana era linda e possuía características mais diferentes das outras. Ela era morena com um tom de pele um pouco claro, seu vestido era lilás e parecia-se mais com o de Flora. Seus cabelos são castanho escuro e possui um tom avermelhado que reluz timidade; seu corpo não deixa a desejar em curvas e perfeição. O rosto da garota é um pouco estranho, é bonito, mas diferente das outras “top models” que estão nos visitando. Jana tem sobrancelhas um pouco grossas, mas isso não afeta sua beleza. Ao contrário, apenas a destaca das outras. Ter percebido isso foi um “achado” impressionante, considerando a franja que cobre sua testa e lhe cai sobre os olhos. As três mulheres não usavam sapato, a olhos humanos diriam que estavam descalças. Porém, elas tinham fibras – uma espécie de cipó muito fino – que envolviam seus pés até o alto da perna, próximo ao joelho.

– Olá queridos, estou muito feliz de enfim, conhecê-los. – Disse Jana num largo sorriso. Vovô riu em resposta.

– E então, que tal apresentar-se também? – Sugeriu Flora.

– Oh sim. Desculpem-nos pela “tensão” que criamos senhorita, geralmente somos mais receptivos. – Disse vovô.

– Nós entendemos perfeitamente Calisle. Qualquer pai agiria da mesma forma para proteger sua família.

Vovô assentiu, um pouco mais confiante nos nossos visitantes.

– Como você já sabe, sou Calisle Cullen e essa é a senhora Cullen, Esme. – Disse vovô enchendo vovó de orgulho por destacar o pronome “senhora”. Ele certamente percebeu a insegurança de vovó Esme sentiu ao ver as visitantes. – Esse é Jasper – Jasper acenou tentando rir amigavelmente, mas seu humor não estava bom. O coitadinho não tirava os olhos de tia Alice. – Rosalie - Titia levantou uma das sobrancelhas, totalmente desconfiada. – Emmett – Tio Emmett acenou e sorriu mais a vontade que tio Jasper para o bando estrangeiro – Edward – Papai ficou rígido, sem nenhuma expressão. Ele estava confuso e isso indicava que não estava conseguindo ler a mente de Angus e muito menos das mulheres que o acompanhavam – Bella - Mamãe forçou um sorriso, mas não deu muito certo. – Renesmee - Acenei e me aproximei ainda mais de mamãe. – E aqui temos Alice e Jacob. - Um sorriso torto se formou nos lábios de titia. Ela tentou afastar-se um pouco de Jacob, mas a dor a fez voltar para o peito dele na mesma hora.

– Vocês formam um lindo casal – A tal Denise falou, olhando para Jacob e Tia Alice com um olhar especulativo – Vi como estavam animados pra brincar na floresta antes do vampirão aí tentar matar o lobo. – Papai retorceu o lábio em desgosto com a lembrança.

– “brincando?”, brincando como? – Pensei eufórica, sentindo uma dose de ciúme embrulhar o meu estomago.

– Não somos namorados, ela é apenas uma... amiga. – Disse Jacob exasperado. Todos da família ficaram pasmos com a definição. Jake e tia Alice, amigos? Desde quando? – Pensei estática.

– Estávamos caçando na floresta, íamos apenas competir para sabermos quem era mais rápido na caçada. – Disse tia Alice preocupada com a reação de tio Jasper. O clima na casa ficava cada segundo mais tenso.

– Desculpem-nos pela indiscrição de Denise. Ela não costuma medir seus comentários. – Disse Jana.

– Só falei isso porque vi o cachorrão agarrado com a moça. Vocês não estão vendo como eles estão agarradinhos?

– Chega Die, não vê que está constrangendo nossos anfitriões? – Esbravejou Angus.

– Seu mala... - Denise cruzou os braços e fez biquinho. Não sei por que, mas algo nela me lembra tia Rose.

– A ordem dos casais aqui é a seguinte querida, - Falei levantando-me. Era a deixa perfeita para eu me aproximar de Jacob sem demonstrar meu ciúme maluco. Todos me olharam surpresos – Calisle e Esme, Emmett e Rosalie, Jasper e Alice, Edward e Bella, papai e mamãe – ri com o espanto das mulheres ao saber do parentesco – e eu, Renesmee e Jacob. – Disse abraçando-o de lado, o lado oposto ao de titia. Jake roubou um beijo discreto de meus lábios quando me aproximei. Ele ficou feliz por eu ter decidido me juntar aquele abraço “forçado”.

– Entendi. Mas se você é a companheira do lobo, o que a outra faz nos braços dele? – Retrucou Denise completamente confusa.

Nós três rimos sem graça.

– A culpa disso é de vocês. Seres bizarros... – Cuspiu tio Jasper.

– Calma Jasper... – Pediu Calisle.

– Como assim? O que nós temos a ver com... isso? – Jane perguntou .

Vovô explicou: Alice é uma espécie de... vidente. Ela tem “flash´s” do futuro que são muito úteis. Mas infelizmente, há efeitos colaterais desse talento extraordinário. Renesmee é metade humana e metade vampira, ela é diferente e a sua formação no ventre já causava dores de cabeça em Alice. Mas isso foi superado com a convivência. Essas dores que sentia quando Nessie estava pra nascer, voltaram intensamente há algum tempo. Acreditamos que o fato de vocês não serem humanos nem vampiros seja a causa dessa dor.

– Sentimos muito. Não sabíamos do mal que estávamos causando à Alice – Solidarizou Flora, comovida. – Sendo assim, não acredito que possam nos ajudar. – Concluiu angustiada, abraçando Angus fortemente.

– Estamos perdidos... – Lamentou Jana, baixinho, estreitando os olhos. Por um momento pensei ter visto lágrimas rolarem por seu rosto.