O capitão acordou dessa vez em uma completa claridade. Por um segundo ele tinha esperanças de que Peggy aparecesse naquele momento, todavia sentiu um nó na garganta quando lembrou que era só mais um sonho impossível. Peggy tinha falado com ele enquanto estava inconsciente, Tony tinha ameaçado beijá-lo e agora ele tinha acordado em uma sala branca. Que série de acontecimentos horríveis. Olhou em volta e percebeu que estava deitado numa cama em uma sala do hospital.

Steve tentou se levantar apesar da dor, e então notou que alguém estava dornindo sentado em uma cadeira ao lado com a cabeça e os braços na cama, impedindo que Rogers saísse. Era Tony. O loiro pensou em acordá-lo, mas aí lembrou do número de horas que Stark conseguia tirar de sono por semana e decidiu deixá-lo dormir. Ele não tinha nenhum lugar para estar no momento, mesmo.

A porta do quarto abriu-se silenciosamente e Natasha entrou com um copo de café na mão. Ela o viu acordado e deu um de seus raros sorrisos, aqueles que só reservava para quando estava sozinha ou para quem merecia.

— Como está se sentindo? — A agente perguntou, dando um gole no café e fechando a porta. Steve deu de ombros.

— Como se tivesse sido atropelado por cinquenta robôs de metal — Natasha deu um sorriso de lado.

— É, foi mais ou menos isso que aconteceu. Uma pessoa normal teria morrido instantaneamente, mas… Bem, você não é uma pessoa normal — Rogers suspirou e tentou não gemer de dor. Uma das outras desvantagens de ser Capitão América era que nenhum anestésico funcionava com ele. — É melhor eu ir avisar os outros que você está acordado.

Natasha mal conseguiu terminar a última palavra, pois a porta foi aberta por Thor em um estrondo, assustando todos no quarto. Inclusive Tony.

— Jesus Cristo! — O bilionário exclamou, levantando subitamente da cadeira e quase caindo no processo. Thor aparentemente não se importou e sorriu ao ver o capitão, que estava bem mais acordado em comparação a 0.8 segundos atrás.

— Amigo Steve!! Ouvi que você acordou! Como se sente?

Natasha abriu os lábios para dizer algo, mas não achou as palavras. Tony ainda estava tentando (com muito esforço) entender o que estava acontecendo.

— Estou bem, Thor — Steve sorriu brevemente. — Melhor que antes, pelo menos.

Thor ia responder quando de repente Stark deu um tapa na cabeça de Rogers. Não doeu, mas ele ficou surpreso.

— Seu idiota! — Tony gritou, porém todos perceberam que ele usou irritação na voz para cobrir sua preocupação — Você tem ideia do quando você assustou a gente? Você quase me matou do coração!

Steve queria falar que a pessoa que quase morreu era ele, mas a cara séria do gênio bilionário indicava que não era hora de piadas. O capitão optou pela opção mais aceitável.

— Desculpa.

— É bom você se desculpar mesmo, Capitão estúpido! — Ele pegou o café da Natasha e acabou com tudo em três goles. Rogers pensou que provavelmente foi porque Tony pensou que era álcool — Argh! Isso aqui não é bebida, mas serve.

É. Totalmente pensou que era álcool.

— Olha, eu sei que vocês estão com raiva e tudo mais, mas… — Steve limpou a garganta e mordeu o lábio ao tentar melhorar o humor de todos. — É bom estar de volta.

Silêncio reinou na sala enquanto os heróis absorveram a confissão. Tony, como sempre, foi o primeiro a manifestar-se.

— Como assim estar de volta? — Rogers sentiu suas bochechas corarem ao perceber que deveria contar tudo. Ele realmente não queria abrir seu coração em um quarto de hospital.

— Err… Vamos só dizer que… Eu tinha uma escolha. — Os vingadores cerraram suas sobrancelhas e esperaram ele continuar. — Eu podia escolher se ficava ou ia embora e… — Ele apontou para Stark com um pequeno sorriso no rosto. — Você me fez ficar. Eu ouvi tudo o que você disse lá atrás e… Se não fosse por você, Stark, eu nem estaria aqui.

Tony congelou por inteiro e o encarou com os olhos arregalados, mal acreditando no que tinha ouvido. Rogers fitou seus olhos com incerteza ao notar que o bilionário não tinha movido um músculo.

— Acho que você o quebrou, Rogers — Natasha cruzou os braços com uma expressão divertida no rosto. — Vamos, Thor. Temos que avisar Clint e Bruce que Steve acordou. E também preciso pegar mais café. — Ela encarou Tony ao mencionar a última frase e saiu do quarto, levando Thor consigo, que decidiu não protestar. Anos de treinamento de interrogatórios e espionagem a ajudaram a ler a expressões das pessoas, e era óbvio que Steve estava desconfortável com aquela situação. Tony também tinha assuntos pendentes com o Capitão, já que a última conversa dos dois no estacionamento afetou mais o gênio do que qualquer outro Vingador. O idiota ficou os últimos dois dias seguidos no hospital, e só agora que tinha pregado no sono Steve tinha acordado.

— Então... — Stark começou, apoiando seu peso em um pé e depois o outro. Ele fazia aquilo quando estava nervoso ou desconfortável — Você ouviu tudo o que eu disse?

O soldado assentiu e olhou para o lado, querendo evitar o olhar do outro.

— Eu… Não estava a fim de lutar com ninguém lá. Acho que foi isso que me derrubou. — Lágrimas ameaçaram sair e Rogers fechou os olhos, pois não estava disposto a demonstrar tal fraqueza na frente de ninguém. Ele suspirou desapontado ao confessar — Estava cansado, e não queria mais levantar. Mas aí você veio e colocou um pouco de senso na minha cabeça — Steve riu ao se recordar da sua confusão ao ouvir as ameaças vazias de Tony.

— Whoa, espera aí — Stark interveio. — Quer dizer que você queria morrer? Steve, você tem ideia do quão insano isso soa?!

— Eu não queria morrer — Ele retrucou e virou para encará-lo. — Eu só... Peggy morreu e eu... — Steve engasgou ao ouvir ele mesmo fazendo aquela declaração. — Eu deveria ter feito parte da vida dela. Não assim, não desse jeito — Ele gemeu frustrado e passou a mão pelo cabelo.

Anthony o fitou com a boca entreaberta, não sabendo o que dizer. Ele nunca tinha ouvido Rogers falar de Peggy, mas sabia muito bem quem ela era. Tony era próximo de Carter quando era criança, pois ela sempre trabalhava com Howard.

— Q-Quando que ela…?

— Hoje de manhã.

— Oh. — Tony fez as contas de cabeça de quando foi a última vez que Steve poderia ter tido comunicação com alguém — Você quer dizer dois dias atrás — Rogers o olhou confuso — Você ficou inconsciente por dois dias.

— O quê?!

— Pois é. Seu coração parou de bater duas vezes, então acho justo seu corpo precisar de dois dias para se recuperar — Tony rangeu os dentes. O capitão parou de repente para entender o que o outro tinha dito.

— Meu coração-

— Parou. Sim. — Stark suspirou, agora parecendo muito mais cansado. Ele sentou-se na cadeira e esfregou os olhos numa tentativa de despistar o sono. — Clint, eu sei que você está aí. Entra logo.

Steve ficou surpreso ao ver Barton abrindo a porta cuidadosamente com uma expressão arrependida e olheiras em baixo dos olhos. O capitão não se espantou com isso, e sim pelo fato de não tê-lo ouvido antes, já que sua audição era mais apurada que o normal. Talvez estivesse mais cansado do que imaginava.

— Desculpe — Clint anunciou, mirando Rogers. — É que Nat disse que você tinha acordado e que não devíamos interromper, mas…

Steve sorriu ao se lembrar do que Stark tinha dito antes sobre o arqueiro e seu problema de seguir ordens a não ser que fossem do capitão. Ele nunca tinha percebido isso, porém fazia muito mais sentido agora.

— Estou bem, Barton, — O soldado já foi respondendo, pois era óbvio que Clint queria saber se estava tudo bem. — Só um pouco cansado. — Ele olhou para os dois, que entenderam a indireta e começaram a sair do quarto. Clint foi embora e Tony colocou a mão na porta quando estava prestes a se retirar.

— Steve, — Stark chamou sua atenção e sorriu, — Estou feliz que não morreu. Todos ficaram morrendo de preocupação.

Steve retribuiu o sorriso e Anthony saiu antes de fechar a porta. Rogers estava feliz que tinha decidido ficar. Ainda haviam pessoas que precisavam dele, e ele poderia dançar com Peggy outro dia.