Enquanto o mundo acabava, o mini zoológico dava sua volta. Os equinos corriam feito loucos e os outros cansaram e deitaram na grama. Algum tempo depois, uma caravana formada por cavalos, burros, mulas, asnos, jegues, zebras, unicórnios e qualquer coisa que lembrasse um equino chegou ao acampamento. Liderando-a estavam Epona, Macha e Rhiannon.

— Senhora Epona. – Disseram Fiáin e Gaoithe fazendo uma breve reverência. – Senhora Macha e Senhora Rhiannon.

— É ela?— Perguntou Sinnen.

— Todas as três juntas. Isso só pode ser um sonho! – Disse Sleipnir.

— Quanta emoção! – Disse Árion. – Senhora Epona? Nossa é muita emoção.

— Podem montar na gente?! – Perguntaram os três em uníssono.

— Vai ser divertido. – Riu Macha. – Vamos, meninas.

— Mas ele não é o cavalo dos gregos e o outro dos nórdicos? – Questionou Rhiannon.

— O que torna mais divertindo ainda.

As três montaram. Macha montou em Árion, Rhiannon em Sinnen e Epona em Sleipinir. Os três começaram a correr felizes e que nem loucos. Mais tarde elas revesariam e Epona montaria Sinnen, Rhiannon em Árion e Macha em Sleipinir. Fiáin e Gaoithe retornaram para o acampamento com os outros animais. A caravana os seguiu.

— Onde estão Árion, Sleipinir e Sinnen? – Perguntou Frísio.

— Sua mãe e as amigas dela chegaram, mestre Frísio. Os três estão com elas.— Contou Fiáin.

— Mas que porra é essa?! – Exclamou Zeus ao ver tanto cavalo na vida.

— Onde está Sleipnir?! – Exigiu saber Odin.

— Com a minha mãe e das amigas dela. Ele, Árion e o pesadelo Sinnen.

— Você deve ser o filho de Epona que a Jazz tanto fala. – Comentou Njord.

— Está explicado. – Riu o Maior Nórdico.

— Árion está aqui?! – Surpreendeu-se Poseidon.

— Epona. – Atena franziu as sobrancelhas. – Ela tinha amplo culto em Roma, mas nunca a vimos e nunca protegia aqueles cujas mães pediam.

— Não quando enfrentavam celtas ou gauleses.

— Sua mãe teve amplo culto em Roma e nunca a vimos ou sequer deu satisfação aos romanos.

— É claro. Você acha que minha mãe iria trocar a Gália por Roma?! Mas nem fodendo!

— Tem noção do que foi Roma?

— Um império que não conseguiu conquistar a Caledônia e tiveram que construir uma muralha para isolá-los, sendo que os caledônios eram mais primitivos?

A tensão se formou entre o semideus celta e a deusa da sabedoria. Até mesmo alguns deuses gregos pareciam incomodados com as afirmações dele. Shiva olhava tudo com interesse, imaginando a briga, afinal, ele adorava ver o povo se matando e o circo pegando fogo.

— Por que tem uma zebra ali no meio? – Perguntou Angus, quebrando o clima e dando raiva a Atena.

— A minha mãe decidiu montar zebras recentemente, já que atrai qualquer tipo de equino. Não só cavalos, mas há asnos, mulas, pôneis, zebralos, zebrasnos, unicórnios, kelpies...

— Kelpies?

— Estão vendo aqueles cavalos molhados? São kelpies. Eles sempre vão escorrer água do corpo. Parecem dóceis e são fáceis de montar, mas se você fizer isso, ele vai prender a sua pele no corpo dele e te levar para o fundo do rio, onde vai te comer enquanto você se afoga.

— Eita! – Exclamaram alguns.

— Fiquem longe dos kelpies, crianças.

Algum tempo depois, da floresta, surgiu Epona montada em Árion, Rhiannon contada em Sleipnir e Macha montada em Sinnen. Quando se aproximaram, desmontaram. Epona e Macha chamavam atenção e bastante, já que eram extraordinariamente lindas. Afrodite sentiu uma pontada de ciúme.

— Você! – Exclamou Ares irritado, e sem óculos, mas ninguém tinha percebido esse detalhe.

— Hey, é você.

— Conhece ela?! – Perguntou a deusa do amor.

— É uma doida.

— Nossa, esse visual de bad boy dos anos 50 não parece em nada com você.

— Não estou de bom humor.

— O que houve?

— Ele perdeu os óculos. – Contou Hefesto rindo da aparência do irmão.

— Quer dizer, estes aqui?

— Eles estavam com você o tempo todo?!

— Mas é burro mesmo. Eu te mostrei quando os peguei.

— Me devolva!

— Me o-bri-gue.

Não deu um segundo e Ares jás tava na biga perseguindo Macha montada em um cavalo castanho. Deuses e semideuses tentavam entender o que acabara de acontecer, mas Frísio, Epona e Rhiannon deram de ombros. Sabiam como ela era. Epona aproveitou que tinha acabado de chegar e foi até as mesas dos semideuses abraçar o filho.

— Frísio, que saudade!

— Mãe!

— Esses são seus amigos que ouço falar tanto?

— Prazer, Lady Epona. – Disseram cada um deles.

— Que isso, meninos, só Epona está bom. Essa é a menina que você tanto fala? – Se referindo à Jasmine.

— Mãe! – Dessa vez ele corou.

— Ele fala?

— Claro que fala!

— Então, você é a Epona. – Retornou a dizer Atena.

— Algum problema?

— Como pôde ter um culto tão amplo em Roma e não participar dele?

— Quem resolveu me cultuar em Roma foram os próprios romanos. Você acha mesmo que eu trocar a minha amada Gália por Roma? Só pode ser piada. Tanto que nunca saí da Gália.

— Enquanto a reunião não começa, podemos dar uma olhada por aí? – Perguntou Haumia.

— Mas eu nem chamei vocês!

— Mas já que estamos sem fazer nada além de beber e conversar, pensamos em analisar algumas plantas ou mesmo ensinar um pouco aos semideuses.

— Ensinar o que?

— Simples. Quem tiver interesse em agricultura, cultivo e seja lá o que, vai com Rongo e quem tiver interesse em propriedades medicinais das plantas vem comigo. Assim não ficam sem o que fazer.

— É uma ideia ótima! – Exclamou Deméter e os outros deuses se perguntavam o que ela tinha bebido.

— Não façam merda. – Sentenciou Tawhiri.

— Rhiannon e eu esperaremos por Macha aqui mesmo.

Apenas uma frase e Macha voltou galopando com o castanho enquanto Ares a perseguia com a biga sem uma das rodas, sendo que a outra estava toda destruída. Correram em círculos várias vezes até a outra roda cair. Macha parou a alguns metros.

— Venci.

— Vá sonhando, sua...

O cavalo galopou no mesmo instante em que Ares tentou pegá-lo, fazendo-o pegar apenas ar. Macha pôs os óculos escuros e peou um espelho para se olhar.

— Credo! Pareço uma funkeira ostentação.

— Hey!

— Sério, esses óculos são horríveis! Que mal gosto.

A ruiva pegou os óculos e os atirou para trás, em uma cena teatral dando de ombros. Hermes e Hefesto riam feito hienas.

— Sério, esse estilo John Travolta das antigas não combina em nada com você.

Se o deus da guerra fosse um vulcão, teria entrado em erupção de tanta raiva que sentia. Os filhos dele não gostaram do que viram, pelo menos a esmagadora maioria. Macha apenas sorria zombeteiramente, adorava aquela situação. Ares acabou cedendo e retornando à sua forma original, fazendo muitas meninas estagnarem pela beleza.

— Agora sim está melhor.

— Cala a boca, mulher!

— É tudo que consegue me xingar?

— Macha, você prometeu se comportar!

— Calma, Rihanna, só estou brincando com um velho conhecido.

— Macha...

— Está bem, eu me comporto.

— A reunião vai atrasar um pouco. – Comentou Epona. – Querem ir até algum lugar mais tranquilo?

— Adoraria!

Não deu um minuto e as três estavam montadas e cavalgando para uma área mais vazia. O cortejo dos equinos continuava lá e dessa vez os hipocampos saíam do mar e se juntavam a eles.

— Caralho, os hipocampos também?! – Surpreendeu-se Poseidon.

Nas mesas, a fofoca corria solta. Alguns acabaram por acolher as amazonas. Perguntaram sobre os deuses, sendo que a maior parte foi direcionada à Embaixada. Sem demora veio um grupo de campistas do Acampamento Júpiter, pois tinham ouvido falar em uma reunião de pais e aproveitaram para relatar algumas atividades estranhas aos deuses, mas ninguém recebeu missão, foram todos dispensados e convidados a sentar nas mesas.

— Não sabia que existia outro acampamento. – Disse Jasmine

— Eu sim. – Disse Frísio. – São os romanos, possuem regime militar. Não gosto nem um pouco deles.

— Esquece isso. – Disse Eliot despreocupado. – Isso está em um passado muito distante.

— Eu sei, mas sou uma espécie de nacionalista. Os nacionalistas franceses são realmente teimosos. Nem minha mãe sequer pisou em Roma, mesmo com um grande culto difundido.

— Cara, eu não gostaria de ser o seu inimigo.

— O Norte se lembra. – Brincou Marcos.

— Mas ele tem razão. – Comentou Nicolas. – Não podemos baixar a guarda com eles.

— Está se esquecendo que somos vikings? – Perguntou Diana brincalhona. – Eu, você e Helena contra eles, o que acha?

— Dispenso. – Helena voltou a bebericar seu vinho.

— Isso me lembra...! – Exclamou Tangaroa chamando a atenção de todos. – Quando é que suas aulas começam?! – E boa parte capotou pensando que fosse algo realmente importante.

— Pai, estou de férias. Deixa isso pra depois.

— Férias de inverno, a menos que você tenha trazido a Nova Zelândia para o hemisfério norte e eu não estou sabendo.

— Hehe...

— Férias de inverno? Mas não é verão?

— Verão aqui, Jazz. No hemisfério sul é inverno. Eu vou ter que voltar às aulas em Agosto, não em Setembro como você, no entanto, vou ficar Dezembro, Janeiro e Fevereiro de férias, as minhas férias de verão.

— E Agosto não está perto?

— Pai! Deixa isso pra depois!

— Deixar o cacete porque se depender de você, você falta à escola o ano inteiro e sua mãe não tira dinheiro da bunda para pagar tua escola.

— Pai!

— Mas ainda nem estamos em Julho! – Disse Rongo.

— E você acha que ele se lembra disso?

— Valeu pela confiança, hein.

— E já que não é Julho, você não deveria estar em aula?

— O fuso horário é diferente!

— E mesmo assim duvido que tenha ido para a escola todo esse tempo em que passou aqui.

— Er...

— E você ta em semana de prova, nem em férias entrou ainda. Não devia estar estudando?

— Mas eu estou estudando.

— Porra nenhuma, só se for! Vou ter que te buscar para a escola?!

— Não precisa, eu volto para a escola e vou estudar para as provas.

— É bom mesmo.

— Você tem um jeito estranho de lidar com seu filho. – Comentou Deméter.

— Sou um pai presente. É meu dever cria-lo e saber onde ele está, com quem ele anda e que está fazendo.

— Já que estamos falando nisso... – Começou Rá. – E a escola Raven?

— Está ótima e minhas notas estão ótimas.

— Bom saber.

— Angus?

— Está no mesmo lugar de sempre. Não se preocupe, a escola não vai fugir.

— Angus...

— Está tudo bem, não precisa se preocupar.

— Eliot?

— Tudo bem, pai. Não preciso de aulas de reforço com o Thoth tão cedo.

— Acho bom.

— Aulas de reforço com o Thoth? – Perguntou Marcos.

— É porque se a gente estiver com notas baixas, os nossos pais botam o Thoth para dar aula para a gente. – Esclareceu Eliot. – Você não vai querer ficar o dia todo estudando, ainda mais com o Thoth te passando zilhões de exercícios.

— Fora que a gente não pode fazer nada a não ser estudar. – Disse Angus. – Não pode sair, não pode ver TV, não pode entrar o Netflix, não pode entrar nas redes sociais, não pode jogar, não pode treinar combates físicos e nem magia, nem ver nossos e-mails nós podemos!

— Ainda bem que o meu pai é tranquilo.

— Os nossos também. – Disse Raven. – Nós podemos fazer o que quisermos, mas nossas notas têm que estar boas, a lição de casa feita, nada de drogas e...

— ... Eles não podem virar avôs. – Tyler se juntou a Raven no uníssono.

— Meu pai também é assim, mas ele fica muito em cima.

— Eu acho que o de todos nós nesse quesito. – Disse Diana.

— O seu também?

— Cara, meu pai me cobra, minha mãe me cobra, Frigga me cobra e só não posso sair com um cara.

— Pensei que Odin fosse mais flexível.

— Meu pai é, mas meus irmãos não. Principalmente Vali e Vidar, aqueles puta que pariu.

— Eu te entendo. Meu pai também não érígido. – Contou Parvati. – Mas o meu avô é capaz de atirar o tridente em qualquer garoto que estiver sozinho comigo.

— E você, Frísio?

— Minha mãe é muito tranquila, mas mesmo assim tenho receio de dizer a ela quando tenho um encontro. Sério, ela é muito mãe e às vezes me envergonha.

— Ela faz isso porque te ama muito. Pelo menos não te fez ser expulso de uma boate.

— Teu pai fez isso, Tyler?

— Eu amo o meu pai, mas tem vezes que bate um cagaço dele.

— Helena, você pôs o capuz de novo! – Se surpreendeu Angus.

— Estava com ele o tempo todo. Não ouse tirá-lo.

— Mas por quê?! Seu cabelo é bonito demais para ficar escondido.

— Não é uma boa hora.

Enquanto conversavam sobre suas vidas, em outra mesa, os romanos conversavam com Percy e os amigos. Hazel e Frank tinham ido com a delegação romana.

— Quer dizer que teve outra escavação aqui? – Perguntou Hazel.

— Teve, mas faz algum tempo. Aquela Cerridwen fechou o sítio.

— Cerridwen?

— Desculpe, vocês não estão acostumados com eles.

— O que são eles exatamente?

— Semideuses de outras mitologias. Nórdicos, egípcios, maia, celta, inuit, maori, hindu... Eles forma a Embaixada com a filha da Gaia.

— Gaia teve filha?! – Exclamaram os romanos.

— E por que não tem um romano lá? – Perguntou um deles, um rapaz ruivo de olhos verdes.

— Porque foram eles que se autointitularam assim.

— Não é isso! A guerra acabou, há amizade entre os acampamentos, mas mesmo assim ainda estamos divididos.

— Mas os deuses fizeram assim, cara!

— Mas mesmo assim um dos nossos mora aqui e não houve mais trocas desse então.

— Só porque os acampamentos não são mais inimigos que precisa haver trocas.

— Esqueça isso, David. – Pediu um companheiro romano. – Não vale a pena.

Mas o ruivo não escutara. Olhava para a mesa da Embaixada e como eles tinham amigos nas outras mesas. Eram pacientes ao explicar as coisas, principalmente sobre seus deuses. Olhara os deuses e vira o quão eram diferentes. Alguns pareciam se dar realmente bem.