A filha de Gaia escrita por Goth-Lady


Capítulo 18
Crise no Olimpo


Notas iniciais do capítulo

Antes de ler: eu troquei a aparência dos deuses.
Antes de atirarem pedras por ter trocado a aparência dos deuses: Gosto de trabalhar mais com a mitologia em si e muitas das descrições de Riodan e até alguns "retratos" que ele fez me deixaram perplexa e até fula da vida, então troquei a aparência deles, mas não fiquem tristes, eles poderão usar as aparências da obra no Acampamento (uma vez que os filhos os reconhecem daquele jeito e estou planejando falar mais disso).
Boa leitura.



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A mensagem de Iris tinha sido enviada aos deuses para se reunirem. Zeus estava no trono com seus cachos grisalhos mais puxados para o branco do que para o cinza e sua longa barba. No trono ao lado estava Hera, com seu cabelo negro preso em um penteado típico grego enquanto ostentava sua coroa. Poseidon tinha abandonado seu visual de tiozão praiano e retornado a ter cabelos brancos compridos e meio azulados e uma longa barba da mesma cor. Hades continuava parecendo um morto-vivo, embora estivesse imponente.

Apolo irradiava com seu cabelo dourado e sua beleza enquanto sua irmã Artêmis tinha abandonado a forma de garotinha pré-adolescente porta de cadeia e se tornado uma jovem adulta de cabelo preto azulado preso em uma trança, o cabelo com o qual nascera e a deixava mais bela que o ruivo.

Hefesto, que mais parecia um anão do tamanho de uma pessoa normal, feio e deformado como Tyrion Lannister, coxo e calvo. Ares, por sua vez, tinha renunciado à aparência de bad boy de filmes dos anos 50 e exibia seu cabelo preto um pouco mais comprido e seus olhos vermelhos como sangue.

Deméter exibia seu cabelo castanho e usava suas roupas verdes, além de carregar uma tigela de cereais para o lanche de todos os presentes. Afrodite optou por usar longos cachos louros até o quadril e um vestido rosa. Héstia exibia seu cabelo ruivo como o fogo parcialmente coberto pelo capuz da capa vermelha, assim como o seu vestido, qualquer fã de Game of Thrones que a visse a confundiria com Melisandre.

Hermes ostentava seus cachos loiros, parecendo um anjo que saiu de uma pintura renascentista, mas ostentava o olhar travesso. Atena preferiu um visual mais guerreiro e um cabelo castanho escuro quase negro. Dionísio, que tinha sido chamado para a reunião, tinha abandonado o visual de tiozão de acampamento, retornado aos cachos castanhos e feito a barba. Iris também estava lá.

— Dionísio, o que te falei sobre beber durante seu castigo?! – Rugiu o deus do trovão.

— Aumento minha pena, mas não fico sóbrio para enfrentar essas porras! – Disse entornando o corno de vinho de uma só vez.

— Devo lembrá-lo do porquê de estar aqui?

— Foda-se! Ninguém aqui tem ideia do que eu passei!

— A abstinência deve ser grande. – Cochichou Hermes para Apolo, que assentiu.

— Estamos aqui para averiguar os boatos. – Disse Atena. – A começar pela volta da Arke.

— Não vi, mas está com a Morrigan.

— Como assim com a Morrigan?! – Exigiu saber o chefão.

— Com a Morrigan.

— Iris, você sumiu por um dia inteiro. – Recordou Hera. – Onde estava?

— Eu fui ver a minha irmã.

— Ela não é mais sua irmã, é uma traidora.

— Foi até o castelo de Morrigan sozinha?

— Sim, Morrigan e suas irmãs me dão calafrios.

— Maldita Morrigan, sempre se metendo onde não deve! – Resmungou Zeus.

— E tem aqueles cavalos. – Disse Artêmis. – Um deles tirou a virgindade de uma de minhas caçadoras com o chifre!

— Que cavalos? – Perguntou Poseidon.

— Seu filho Árion resolveu fazer amizade com Sleipnir, dois unicórnios e um pesadelo. E agora eu tenho que aturar aquela praga falando merda todo dia.

— Isso é um pesadelo!

— Não, o pesadelo é aquele cavalo de crina flamejante que anda com o seu filho. – O deus do mar bateu com a mão na própria cara.

— Como ele conseguiu essa façanha?

— Unicórnios no acampamento? – Perguntou Atena. – Como e por quê?

— Eles pertencem àquele garoto Crísio, Prísio, alguma coisa assim, aquele celta.

— Há um celta no acampamento?! – Surpreendeu-se Hera.

— Um celta, alguns nórdicos, uns egípcios, uns índios...

— Esse povo todo está no meu chalé?! – Exclamou Hermes.

— Que mané chalé! Construíram uma embaixada.

— Quem autorizou isso?! – Exigiu saber Zeus.

— Eu, estressado e de mau humor com um bando de gente vindo e tendo que fazer aqueles barracos de madeira. Pelo menos nisso esse povo me ajudou, se livrou daqueles malditos barracos. Hei, eles me ajudam mais do que os outros.

— Não me diga que estão treinando com os nossos filhos.

— Treinando? Estão é esculachando. Só a filha do Odin enche a minha enfermaria.

— Odin teve filha?!

— Mas Odin só tem filhos homens. – Disse Apolo.

— Essa é a primeira. É igual aos irmãos.

— Como foi que isso aconteceu?! – Exigiu Ares.

— Sexo, porra. Nunca fez não? – O deus da guerra o olhou como se fosse fuzilá-lo. – Por falar em nórdicos, eles adotaram a filha da Gaia.

— O QUE?!

A sala inteira ficou em silêncio, mas no segundo seguinte urros de raiva tomaram o ar. O deus do vinho continuou bebendo como se não houvesse amanhã.

— A gente tem que fazer alguma coisa! – Exclamou Hera.

— Essa menina pode tentar me derrubar!

— É guerra! – Ares puxou a espada.

— Que castigo mandaremos? – Perguntou o deus do mar.

— Vocês são estúpidos ou o que?! – Resmungou Hades. – Têm noção do que estão dizendo?!

— E você tem noção?!

— Sim, eu conheci essa menina.

— O QUE?! QUANDO?! ONDE?!

— Na reunião entre nórdicos e egípcios. Até levei Perséfone daqui para ir comigo.

— Por que você foi convidado e eu não?! – Reclamou Zeus.

— Porque eu sou o único aqui com um Godcel e com amigos entre os nórdicos e egípcios.

— Deixe-me adivinhar: o trio que estragou o meu primeiro e único carro de metal. – Disse Poseidon.

— Já pedimos desculpas.

— Aquilo era um Cadillac com rabo de peixe, tem noção do quanto vale agora?!

— Eu que devia ter sido convidado por Rá e Odin!

— Depois do que aconteceu?

— E eu nem fui. – Lamentou Dionísio.

— Voltando ao nosso foco, temos que fazer algo com essa menina. – Disse Atena.

— Ela não é problema, é muito inocente e tola e mal sabe mitologia, Thoth teve que explicar um monte de coisas a ela.

— É, até que aprende demais e vem me tirar do trono. – Reclamou o governante.

— Vou ser claro: ela foi adotada por Njord, Njord é nórdico, ela tem dupla nacionalidade, qualquer coisa que fizermos a ela, mesmo se mandarmos alguém fazer o nosso “trabalho”, é guerra contra os nórdicos. Vamos tomar no cu para os nórdicos de novo! Entendeu?

Trovões puderam ser ouvidos, assim como os resmungos do maior grego e do deus da guerra. Os outros se limitaram a olhar feio, menos Dionísio e Héstia.

— Está dizendo que não podemos fazer nada?! – Reclamou Hera.

— O que acha de punirmos o chalé em que ela está até que fique sem lugar pra morar? – Sugeriu Deméter.

— E depois virá um monte de deuses de diversas mitologias querendo nossas cabeças. Não podemos fazer nada sem causar guerra. Ou vocês acham mesmo que os nórdicos, os celtas e os egípcios vão deixar barato?

— Como não ouvimos falar dela até agora? – Perguntou Hermes.

— Não é óbvio? Gaia não quer que ouçamos falar dela. – Esclareceu a deusa da sabedoria. – Deve ter lançado algum feitiço para que a notícia não saísse do solo.

— Mas Gaia é uma primordial, não? Como pode ter filhos semideuses? – Perguntou Héstia.

— Não sei se vocês sabem, mas os deuses primordiais podem ter um avatar que os permite andar por aí, inclusive ter filhos. – Esclareceu Hades. – Esses filhos gerados por avatares são como se tivessem nascido do próprio primordial e possuem o mesmo sangue de seus pais divinos.

— É O QUE?! – Exclamaram vários.

— E só agora você me diz isso?!

— Se deixassem seus egos de lado e prestassem atenção ao mundo, saberiam disso.

— Como é que você soube disso?! – Perguntou Hermes.

— Conheci um, mas de outra mitologia. Geb, que parecia insatisfeito com um acidente envolvendo um poço de petróleo. Tivemos que segurar Seth para que ele não saísse matando em nome do pai naquele dia.

— Precisamos destruir esses avatares!

— Tinha que ser um deus da guerra para dar uma ideia tão estúpida! Primordiais ou não, não são da nossa mitologia. Isso quer dizer que vamos tomar no cu para outra mitologia.

— Mas Gaia é da nossa!

— Estou cercado de idiotas. Os primordiais não levantam seus avatares toda hora, só quando querem conversar pessoalmente ou ter filhos ou seja lá qual for o motivo. Quando não precisam dele, o desfazem e só recriam quando precisarem dele de novo. É como um personagem de jogo, quando morre ou é “aposentado”, eles podem criar outro.

— MARIDO!

Uma mulher bateu as portas do salão. Ela tinha pele morena, olhos castanhos e cabelo negro repuxado para trás para esconder os chifres semelhantes a garras de caranguejo e preso parcialmente, deixando o resto solto, caindo até o tornozelo. Ela vestia um simples vestido branco meio transparente, mostrando um pouco a lingerie feitas de escamas que pareciam grudadas à pele, além de possuir um cinto de pérola, braceletes do mesmo material, um colar de ouro com pingentes de pérola e uma fina e bem trabalhada coroa de coral dourado que parecia ouro.

— Anfitrite, o que faz aqui?!

— Briares... Cymopoleia... Fugiu...

— Respira, mulher! O que houve?!

— Cymopoleia fugiu. Briares percebeu quando voltou para casa e agora quer a esposa de volta.

— E onde ela se meteu?!

— Se eu soubesse, você acha que eu teria vindo até aqui?!

— Puta merda! Essa menina só me dá trabalho!

— O pior é que ela deve estar revoltada com você.

— Eu sei.

— Criou uma nova Despina, irmão?

— NÃO FALE ESSE NOME! – Gritaram Poseidon e Deméter em uníssono.

— Quem é Despina?

— Ninguém, meu anjo do mar. Vamos ver onde essa menina se meteu! Dionísio, mande os semideuses procurá-la!

— Hic, quem ama vinho tinto? Dionísio ama vinho tinto. Hic, é verdade? É sim! Eu amo, eu amo, eu amo!

— Cacete!

Enquanto isso no Advilun, Cymopoleia descobriu que cuidar da agenda de Sedna não seria tão ruim, se não fosse tão ocupada. Sedna não tinha mãos, então seu cabelo criava vida para ajudá-la em diversas tarefas, mas ainda assim não era capaz de escrever com ele e esse trabalho cabia a Cymopoleia.

Na torre emersa, ocorriam as audições e reuniões, isso quando não iam para outro lugar, outra morada dos deuses. Tirando as moradas de Sedna e Tornasuk, as outras moradas eram mais simples, cabanas de madeira e ossos de animais cujas peles formavam portas e cortinas das janelas, tudo dentro delas era o necessário para sobreviverem e trabalharem e mesmo assim eram aconchegantes, uma parte do mundo rústico perdida em um mundo altamente tecnológico.

Tudo era feito a mão, todo o padrão de vida era rústico e as únicas vestes que achara deslumbrantes eram as de Malina, Igaluk e Akna, mas era compreensível, pois Malina era a deusa do sol, Igaluk o da lua e Akna a Mãe Terra e o motivo da aliança entre os inuites e os maias.

— Anda logo, receberemos a visita de Tootega ao cair da noite!

— Estou tentando, Senhora Sedna.

A única coisa que não gostava era ter que cuidar dos cabelos de Sedna. Eventualmente eles embaraçavam, ficavam cheios de lodo ou precisavam de uma lavagem e o cabelo dela era enorme, mas ela se recusava a cortá-lo. Se não fosse desembaraçado e devidamente cuidado, Sedna ficava de mau humor e suas tempestades eram as piores que Cymopoleia já vira.

— O que teremos para amanhã?

— Pinga quer vê-la, assim como Nujalik. Alguma coisa sobre castigar os homens.

— Ah sim, a temporada de caça. Tenho que proteger as minhas preciosas baleias. Comunique ao Greenpeace.

— Sim senhora.

Dionísio tinha retornado ao Acampamento Meio Sangue cambaleando de tão bêbado e coube a Hermes dar a missão de procurar Cymopoleia. Muitos saíram em jornada, mas os estrangeiros ficaram, já que os gregos queriam provar que conseguiriam completar uma missão fácil.

— Quem é Cymopoleia? – Perguntou Jasmine.

— É a deusa das tempestades marinhas mais violentas. – Respondeu Tyler. – É uma das filhas de Poseidon e Anfitrite.

— Anfitrite?

— É uma nereida e a esposa de Poseidon. – Dessa vez quem respondeu foi Sienna. – Isso foi depois que plantou os gêmeos em Deméter.

— Zeus pediu a Nereu que arrumasse uma boa esposa para o irmão, já que ele estava puto da vida e ser rejeitado pela Deméter só piorou, então ele arrumou uma de suas filhas, Anfitrite. Só que ela também o rejeitou após ser rude com ela e se escondeu, então ele mandou todas as criaturas marinhas em sua busca. A única que conseguiu encontrá-la e convencê-la a se casar com ele foi um golfinho, que virou constelação.

— Eu nem sabia que ele tinha esposa.

— Muitos não sabem. – Disse a inuit.

— E Cymopoleia?

— É uma das filhas dele. Ela foi dada a um gigante de cem braços como esposa em troca no auxilio na titanomaquia, a guerra entre deuses e titãs, coisa que ela odiou.

— Será que os irmãos dela estão sabendo? – Perguntou o maori.

— Ela tem irmãos?

— Claro! O primeiro filho é Tritão, um deus marinho e herdeiro do trono de Atlântida. Depois dele vem Benthesikyme, a deusa das ondas e a mais velha das três irmãs, a segunda é Rhode, deusa e padroeira da ilha Rodes, e Cymopoleia.

Apesar das buscas terem começado, nenhuma notícia tinha chegado até Atlântida. Poseidon tinha mandado todas as criaturas marinhas, ninfas, sereias e sirenos atrás dela. Ele também tinha chamado seus outros filhos enquanto Anfitrite tinha trocado suas pernas por uma cauda verde-água.

Tritão, como sempre verde com duas caldas também verdes, mas de tom diferente, cabelo preto preso em um rabo de cavalo e olhos verde-água, fora o primeiro a chegar.

Benthesikyme, a mais velha das irmãs, possuía cabelos loiros escuros em cachos de anjo e olhos verde-água e vestia um vestido verde-água claro cujo busto era liso e sustentado por correntes de pérola e a saia era estampada com flores aquáticas, também usava botas verdes e braceletes de pérola.

Rhode, a irmã do meio, era linda com seu tom de pele naturalmente queimado pelo sol e pelo vento, olhos verde-água e um belíssimo cabelo castanho em um penteado semelhante ao da mãe, mas ele era um ondulado perfeito que caía até a cintura. Seu vestido era verde-água escuro da cintura para cima e azul claro da cintura para baixo com a barra verde-água escura bordada com fio de ouro. Também usava sapatos azuis claros, mangas abertas transparentes azuis claras, um cinto de ouro e verde-água escuro, um colar de ouro com mosaico em rubis, cornalinas e ametistas amarelas e um véu vermelho com brilhos dourados entre os braços, tão majestoso como sol.

— É mesmo verdade?! – Perguntou a deusa das ondas, Benthesikyme.

— Infelizmente.

— Como alguém pode fugir do próprio casamento?!

— Isso não deveria ser surpresa. – Disse Rhode. – Não depois do que aconteceu.

— Rhode, não comece!

— Você sabe que ela estava infeliz com o próprio casamento!

— Mas era só consertar. – Disse a mais velha, recebendo um olhar zangado os irmãos. – O problema é que todo mundo resolve trocar de par do que concertar.

— Não estamos falando disso, Benthy! Você sabe que ela não queria esse casamento! Cymo sempre foi decidida com o que não queria.

— Se chama política, Rhode. – Disse o pai. – Todos estão cientes disso.

— E essa política incluía proibi-la de visitar a sua própria família?!

— Você sabe que os poderes dela...

— É sempre a mesma desculpa! De quem é a culpa por ela não saber controlar os poderes mesmo? Ah sim, de quem devia ter ensinado!

— JÁ CHEGA! Me respeite, garota! Eu sou o seu pai!

— Se é meu pai, então onde esteve durante toda a minha infância enquanto eu estava aqui com minha mãe e meus irmãos?! Atrás de uma boceta mortal, só pode!

Poseidon se levantou e bateu com o cabo do tridente no chão. Anfitrite se pôs ao lado do marido segurando seu braço e suplicando que não fizesse nada contra a filha e Tritão pôs o braço à frente da irmã, para empurrá-la para trás caso ocorresse o pior. Rhode só encarou o pai com as feições zangadas e depois deixou os salões morrendo de raiva. O deus do mar se sentou em sua cadeira, massageando as têmporas.

— O que eu faço com essas meninas? Elas só me dão trabalho.

— Você ainda tem a mim, papai.

— Quem me dera que todas fossem obedientes como você, Benthy.

— Talvez Rhode tenha um dedo nisso.

— O que te faz pensar nisso, meu pai? – Perguntou Tritão. – Rhode não faria isso e nem nada que despertasse sua fúria!

— Você viu como ela me desafiou!

— Ela não te desafiou em nenhum momento! Seu filho bastardo fez coisa pior e você não pensou sequer em puni-lo!

— Será que todos os meus filhos vão ficar contra mim?! O que eu fiz ou deixei de fazer não é assunto de nenhum de vocês! Agora saiam e me deixem pensar!

Os dois filhos saíram do salão, sobrando apenas Anfitrite, para acalmar o marido.

Cymopoleia estava ao lado do trono de Sedna na torre suspensa. Ambas esperavam a velha Tootega cruzar o portão.

Tootega, apesar de idosa, não era uma velha pequena e enrugada com imaginava, era até alta, com a pele avermelhada contendo algumas rugas, olhos castanhos aconchegantes e cabelo branco como a neve preso em duas tranças que passavam do quadril. Ao contrario do estilo vovó, ela usava uma elegante blusa preta de mangas compridas feita de pele de foca, calças brancas feitas de pele de urso polar, botas marrons também de pele e uma manta marrom de pele de urso pardo, sem deixá-la parecendo com uma vovó de contos de fadas.

— Tootega, é bom vê-la. – Disse Sedna suave e respeitosa. – Que bons espíritos a trazem?

— Grande Sedna, rainha das águas e dos animais marinhos. Trouxe um infortuno tão grande que devo lamentar minha presença em seus salões.

— Oh, o que há de mal contra a minha sorte?

— Não contra a sua, mas a de todos nós. Direi depois de uma xícara de chá. Nanook está ajudando minha convidada a se aquecer antes de trazê-la para dentro. Se não for incômodo, gostaria que todos estivessem sentados para ouvir o que tenho a dizer.

A outra concordou e pediu a Cymopoleia que preparasse um chá. A cozinha da torre suspensa era simples, além de utensílios simples possuía uma mesa de jantar de pedra negra e cadeiras de madeira do Canadá. Cymopoleia se apressou em fazer o chá com tundra, não entendia porque os inuites gostavam tanto daquela planta rasteira no chá, se não era própria para isso.

Depois de alguns instantes, Sedna entrou na cozinha e em seguida Tootega seguida de um homem com cabeça de urso polar, seu corpo era coberto de pelos brancos e seus dedos da mão e do pé eram semelhantes aos de um urso, a diferença era o peitoral humano e o fato de andar sobre duas pernas peludas. Além disso, ele vestia trapos cinzentos amarrados com tiras de couro. Este era Nanook, o deus e mestre os ursos.

Atrás de Nanook vinha uma mulher que a grega não conhecia, mas pelas vestimentas percebia-se que não era inuit, apesar de ser indígena. Ela tinha a pele avermelhada dos indígenas, cabelos negros volumosos na altura dos ombros e olhos cinzentos e vestia um top cinza sustentado por uma armação de madeira, uma saia azul com bordados florais, sandálias cinza, proteção de couro cinza com desenhos estranhos nos braços e uma flor vermelha no cabelo.

Todos se sentaram à mesa todos se sentaram à mesa e esperaram o chá ser servido. Quando Cymopoleia o serviu, todos provaram e aprovaram em silêncio, esperando que a anciã falasse. Tootega somente quebrou o silêncio depois de ter bebido meia xícara.

— Esta é Arohirohi, a deusa maori das miragens. Eu a trouxe até aqui para materializar o que está por vir. Suas miragens irão me ajudar em minhas visões.

— Não sabia que previa o futuro.

— Tootega não tem o dom da visão e sim do pressentimento, ela é tão velha e sábia, que conhece várias artes ocultas.

— Inclusive as perdidas e extintas. – Disse a própria deusa que não se incomodou de ser chamada de velha.

— É assim que tratam sua anciã? – Perguntou a maori.

— Anciã? Tootega é tão velha que trocou as fraldas de Caos e Neter.

— E troquei mesmo. Envelhecer não é o pior dos destinos, só é uma forma de ver todo o seu trabalho gerar frutos, presenciar o que seu legado irá construir de agora em diante. Prefiro morrer velha e sábia do que jovem e imprudente, pois assim poderei aproveitar mais a vida, aprender com os meus erros e reparar o mal que fiz antes que seja tarde.

— Já é tarde para muita gente. – Disse Cymopoleia.

— Só é tarde para aqueles que estão mortos. Os que estão vivos têm muito tempo para reparar seus danos.

— E são não quiser?

— Então alimentaremos o ciclo vicioso ao qual a humanidade está presa.

— Mas não foi isso que veio me dizer, certo? – Perguntou Sedna.

— Não. O que tenho a dizer a vocês é o mesmo que disse a Tornasuk, Pana e Pinga e o mesmo que Arohirohi dirá aos dela. Podemos começar.

Arohirohi se preparou e uma esfera de névoa surgiu no centro da mesa. Suas miragens mostravam vários lugares aleatórios aparentemente sem ligação. Mostrou Valhalla, o Olimpo, a morada dos egípcios, as dos celtas, inuites, maoris e hindus, mostrou construções feitas pelos antigos povos nativo-americanos, locais terrestres sem ligação alguma e por fim símbolos, sendo que não conseguiram identificar vários deles.

— O que isso significa?! – Exigiu saber a deusa do mar e dos animais marinhos.

— Significa que problemas surgirão e nenhum de nós será poupado. Isso significará nossa glória ou nossa queda.

— Uma profecia?

— Uma profecia não escrita.

— O que isso quer dizer? – Pronunciou-se Nanook pela primeira vez.

— Quer dizer que tudo que acontecerá de agora em diante será uma incógnita que oráculo nenhum poderá desvendar. Nenhuma linha foi traçada, não há heróis destinados, tudo será moldado conforme nossas escolhas e ações. O destino está nas mãos de todos nós, sem exceção.


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Notas finais do capítulo

Melisandre é uma personagem de GoT ou ASOIF. Ela é uma bruxa inteiramente vermelha (cabelo, olhos e roupas) e sempre descrita como fogo.
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Cadillac com rabo de peixe é um carro que ficou famoso nos anos 60. Era um carro conversível cuja traseira parecia um rabo de peixe.
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Dupla nacionalidade mitológica é um conceito inventado por mim para um semi deus adotado por outra mitologia.
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Esse avatar dito no capítulo é um corpo artificial que anda por aí e pode reproduzir. Quem aqui já jogou RPG ou MMOPG ou até mesmo Dating Games ou Light Novels ou até mesmo The Sims, com toda certeza criou seu personagem e não não criou, pelo menos escolheu um nome para por nele. Esse personagem é um avatar seu no jogo e ele fará o que você quiser fazer (lutar, responder perguntas, comprar itens).
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Esse avatar dos primordiais são semelhantes ao avatar de jogo acima, com a exceção de que eles podem reproduzir e as crianças terão seu sangue, pode soltar uns poderes loucos like X-men e agir como uma pessoa comum. Quando ele não tem mais utilidade, ele é desfeito e refeito quando precisarem.
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Não adianta sair por aí matando avatar porque eles são só avatares e não os jogadores (no caso, os primordiais). Quando o primordial perde seu avatar, ele podefazer um novo se ele quiser.
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Primordiais da Terra têm muito mais condições de criar um avatar do que qualquer outro, principalmente do ar, já que eles podem usar barro.
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Geb é o pai do Osíris, do Seth, da Ísis e da Néftis e marido de Nut. É o único Pai-Terra que encontrei.
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Anfitrite é a esposa de Poseidon e uma das filhas de Nereu e Dóris. Quando ela foi escolhida para ser a esposa de Poseidon, ela o rejeitou porque ele foi rude com ela e se escondeu em uma caverna e só sua mãe sabia a localização. Algumas versões dizem que ele conseguiu conquistá-la, outra que mandou todos os animais buscá-la, mas só o golfinho teve sucesso e conseguiu se desculpar.
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"Hic, quem ama vinho tinto? Dionísio ama vinho tinto. Hic, é verdade? É sim! Eu amo, eu amo, eu amo!" Esta frase é uma referência ao programa Kenan e Kel. Ela era dita toda vez que mostravam um refrigerante de laranja para o Kel.
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Tornarsuk, o deus inuit do submundo. Na parte leste da Groenlândia, os ursos eram chamados assim.
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Akna é a deusa inuit da fertilidade e do parto, porém esse também é o nome da deusa da maternidade e do nascimento da mitologia maia. Como tem o mesmo nome e as mesmas funções, juntei tudo em uma deusa só que pertence a ambas mitologias.
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Por Akna pertencer a ambas as mitologias, os inuites e os maias possuem uma espécie de aliança em que ambos os povos não se matam, mas se um entrar em guerra, o outro deve auxiliar, já que um único deus com dupla nacionalidade puxa a outra mitologia para a guerra, mesmo sem querer.
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Tootega é uma anciã que tem a habilidade de andar sobre a água. Não há mais informações além dessa.
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Nujalik é a deusa inuite da caça terrestre, ao passo que Sedna cuida da caça marítima.
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Apesar de ser associada à caça marítima, Sedna não gosta que cacem suas baleias por qualquer motivo que não seja alimentação, principalmente em épocas de reprodução. Então SALVEM AS BALEIAS!
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Quem não sabe o que é Greenpeace, sai da Terra. É uma organização não governamental que protesta em pró do meio ambiente. Volta e meia tem notícias deles.
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Nanook é o mestre dos ursos. Ele decide se o caçador está apto e merece caçar um urso ou não. Ele é representado como um urso humanoide.
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Arohirohi é a deusa maori das miragens e esposa de Tama-nui-te-rā, o deus do sol. (esses nomes me matam)
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Gostaram? O que vai acontecer a seguir nessa aventura? Só esperando pelo próximo.



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