Os dois jovens Lordes chegavam perto dos aposentos de Landon e espreitavam o que estava acontecendo lá dentro, de tal modo a não serem vistos. Os dois avistaram o jovem príncipe zardreniano tendo uma conversa agradável com Catelyn e perceberam que um não deixava de olhar nos olhos do outro. Por conta desse clima agradável, a jovem Lady já estava mais tranquila quanto ao seu noivo.

Quando eles estavam juntos, era perceptível, pelo olhar, que um demonstrava afeto pelo outro. E, à medida que se conheciam melhor, pareciam se apaixonar mais e mais um pelo outro. Landon olhava para Catelyn como se ela o hipnotizasse, mesmo sem ter essa intenção. Para a jovem Lady, o olhar de seu noivo também exercia sobre ela o mesmo efeito. E, quando se pegavam olhando muito um ao outro nos olhos, ambos coravam, pois ainda não romperam de vez a barreira da timidez.

— Landon, você tem certeza de que está tudo bem? – Catelyn perguntou.

— Está se preocupando à toa, Catelyn. – Landon disse com um sorriso. – Eu estou bem. Só estou de repouso para o Gregory observar se está tudo realmente bem comigo. Mas me sinto muito bem.

A jovem Lady sentiu que tocavam a sua mão, mesmo de forma tímida, que parecia ter a intenção de tranquilizá-la. Quando ela viu, percebeu que era Landon quem fazia isso, mas logo ele recolheu sua mão, bastante ruborizado.

— M-Me desculpe... – ele murmurou. – Acho que eu não deveria fazer isso.

Catelyn apenas riu discretamente, mas havia sido o bastante para ele mais uma vez ficar corado.

Enquanto essa cena se desenrolava, os dois jovens Lordes procuravam se segurar para não fazer qualquer barulho desnecessário. Mesmo assim, nada impediu que os dois confabulassem a respeito.

— Robert – Marden cochichou. – Qual é a sua ideia com essa caixa?

— Apenas assista, Marden... – Robert respondeu no mesmo tom, enquanto abria a tampa de uma caixa bem lentamente com um sorriso maroto.

*

Na sala do trono, a qual tem o esquife de cristal com o corpo do rei Ramsay, Daithi e Jeyne estavam em seus lugares, recebendo as condolências de quem visitava e contemplava, por alguns segundos, o falecido rei. O príncipe alkavampiano conseguia colocar, com perfeição, uma expressão extremamente desolada em seu rosto. Já sua esposa não ficava atrás, conseguia chorar copiosamente, disfarçando a falta de lágrimas com um lenço nos olhos.

Por mais que tivesse vontade de rir em meio àquele funeral patético, Daithi precisava manter a pose. Não queria estragar o seu crime perfeito agora que conseguira o que tanto desejava.

— Altezas, por que não descansam? – Kevan questionou.

— Não podemos. – o príncipe respondeu após dar um suspiro triste. – Vamos ficar velando aqui o meu finado pai.

— Obrigada, Excelência. – Jeyne respondeu com voz chorosa. – Eu ficarei junto ao meu marido.

— Como quiserem. – Kevan fez a reverência enquanto se retirava.

Daithi, em seu íntimo, repetia em pensamento o mantra “Paciência, Daithi, paciência”. Precisava efetivamente ser paciente para não dar bobeada e colocar tudo a perder o que conseguira... Até porque tinha planos extremamente ambiciosos para quando assumisse de fato o trono de Alkavampir.

Por fora, era um homem desolado, mas por dentro, sorria escancaradamente, em pensamento. Cassius de Zardren que o aguardasse, pois ele seria o próximo rei a morrer em suas mãos!

Mas, antes, precisava começar a pensar em um discurso fúnebre arrebatador, que coroasse o seu espetáculo de teatro!

*

— Robert, tem certeza de que vai dar certo isso? – Marden cochichou.

— Absoluta! – Robert respondeu no mesmo tom. – Isso vai fazer com que a Lady Catelyn literalmente pule nos braços do Landon!

— Tomara... Porque quero que ele passe pelo ritual que o transformará em homem...

—... O primeiro beijo! – o jovem Lorde da Terra sorriu de forma travessa.

Com calma, Robert abriu a caixa e, dela, saiu um sapo. O anfíbio entrava de fininho no quarto de Landon, enquanto ele conversava com Catelyn e ambos sorriam. O jovem príncipe não conseguia tirar os olhos de sua noiva prometida.

— Landon, é verdade que você pretende pedir que façam um jardim de rosas para mim?

— Claro... Se você quiser.

— Eu adoraria ver.

— Tem alguma cor favorita de rosas?

— Gosto muito das cor-de-rosa. – ela sorriu. – Mas também gosto de vermelho... Como a cor dos trajes que você usa nas ocasiões especiais. Você fica muito bem de vermelho. – finalizou já corada.

— É... É mesmo? – o jovem corou ao ouvir o elogio. – Eu... Eu fico bem de vermelho?

— Sim. E...

Catelyn avistou algo pulando em sua direção e arregalou os olhos de medo. Neste momento, um sapo pulou de forma a querer atingi-la e ela, por reflexo e tomada pelo pânico, pulou em cima da cama de Landon, indo diretamente ao colo dele. Surpreso, o jovem príncipe a segurou nos braços e, devido à proximidade excessiva, ele corou violentamente e engoliu seco. Sua respiração se acelerou, bem como as batidas de seu coração perdiam totalmente o compasso.

A jovem Lady percebeu isso e se assustou:

— Landon, está tudo bem? – ela perguntou completamente rubra. – Não vá ter um colapso!

— N-Não se preocupe...! Eu estou bem! É que... É que estamos tão próximos, e...

O jovem olhou nos olhos de sua noiva, hipnotizado com aquele olhar, como se nele fizesse um mergulho sem volta. Seus rostos se aproximaram perigosamente devido àquela hipnose mútua que se estabelecera. Além disso, estavam perto, muito perto, de quebrarem um protocolo importantíssimo.

E, enquanto isso se desenrolava, Marden e Robert estavam ansiosos para verem o que tanto aguardavam. Finalmente, iriam ver Landon se tornando um homem, dando o seu primeiro beijo!

— Robert, você é um gênio! – Marden se empolgou em voz baixa.

— Até que enfim você reconheceu! Eu disse que esse plano não tinha erro!

— Devo admitir que você tem boas ideias de vez em quando!

— Engraçadinho. – Robert o fuzilou com o olhar.

Quando viram que os rostos de Landon e Catelyn estavam ainda mais próximos, os dois jovens Lordes cochichavam “Beija! Beija!”. Lorde da Terra e Lorde da Água, por uns instantes, se entreolharam com expressões vitoriosas como se, ao invés de terem executado um plano simples, tivessem vencido um exército inteiro de cavaleiros alkavampianos.

Porém, quando voltaram a olhar para os aposentos do jovem príncipe zardreniano, deram de cara com o próprio, ali à porta, de braços cruzados e com uma cara assustadora. Os dois Lordes ficaram surpresos com aquela postura intimidadora e, ao mesmo tempo, balbuciaram:

— L-Landon...?

— Muito bem – ele disse com tom autoritário. – Quem foi o engraçadinho que botou um sapo no meu quarto pra assustar a Catelyn?