Crônicas de um Jovem Rei escrita por MisuhoTita, Vanessa Sakata, TommySan, Sally Yagami


Capítulo 144
Luz, trevas e sangue - Parte IV


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal! Vanessa Sakata chegando com mais um capítulo que promete fortes emoções, por isso, recomendo que tenham lenços à mão!

Apertem os cintos, respirem fundo e boa leitura!



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Astrid não conseguia articular qualquer palavra por conta do pânico. As lágrimas inundavam os seus olhos e encharcavam sua face ante o retrato de horror que se formara à sua frente e praticamente aos seus pés. Aquilo era pior do que o mais terrível de seus pesadelos... Infinitamente pior!

Aqueles corpos jogados aos seus pés eram de homens leais que deram suas vidas por ela e por Cassius. Por quê...? Por que tinha que ser assim...?

Todos caíram, e só permaneciam com vida ela e Cassius, que via, estarrecido, que todos estavam mortos... Principalmente Ferdinand e William. Temia muito que ele tivesse o destino de seus amigos...

Temia muito pela vida de seu marido, assim como ele temia pela dela. O olhar do rei zardreniano denunciava isso e se encontrou com os olhos dela. Apesar de tudo, ele tentava transmitir alguma segurança, pois queria protegê-la... Era o seu dever, bem como faria isso por amá-la.

Ambos passaram muito tempo juntos, compartilhando alegrias, tristezas, sonhos... Como resultado do amor de ambos, nascera Landon, que crescera e se tornara um homem.

Ao se lembrar de Landon, o coração de Astrid se apertou muito e sua mente voltou ao momento em que ela abraçara seu filho... Seu único filho... Sentia que aquele momento fora sua despedida, sentia que o bafo gelado da morte se aproximava mais e mais dela.

Landon...!

As lágrimas novamente encharcaram sua face frente ao desespero que se tornava ainda maior. O pavor e o pressentimento de que não iriam sair dali com vida a deixavam extremamente desesperada. Não conseguia esconder isso do seu marido. Não conseguia mais esconder nada do que sentia...

— Cassius...! – ela murmurou com voz trêmula devido ao pânico. – Eu estou com muito medo, Cassius...!

O rei zardreniano sentiu o medo que sua mulher tinha, e com toda a razão. Bastava olhar para todos os cadáveres caídos no chão. Todos os cavaleiros de sua guarda, o Comandante Alexander, o Escudeiro Jonathan, as Ladies Jacqueline, Adrienne e Elise, os Lordes Christian, Ferdinand e William... Todos caíram, se sacrificando para proteger Astrid.

Todos... Todos se sacrificaram por eles... Não apenas por lealdade ao casal real. Mas por conta dos laços que existiam entre eles.

E, por conta disso, aqueles sacrifícios doíam mais do que se imaginava. Primeiro, porque eram seu povo. Depois, porque eram pessoas próximas, amigos, praticamente irmãos. Cassius sentia a dor de tantas perdas de forma brutal.

E temia pela vida de Astrid, até mais do que temia por sua própria vida.

Hoster novamente atacou Cassius, que o bloqueou com a espada Sagrado Coração. Não queria que o lorde alkavampiano ganhasse terreno para chegar até Astrid. Ele queria protegê-la de qualquer maneira, não importavam as consequências!

Deixou que seu corpo fosse tomado pela luz, a fim de aumentar o seu poder frente ao inimigo. Ao partir para o ataque, sua espada foi bloqueada pelo alkavampiano, que aproveitou uma brecha e encaixou um forte soco na barriga de Cassius. O rei de Zardren procurou recuperar o fôlego e reagir, mas Hoster mostrava ser mais rápido, acertando-lhe um forte chute no rosto. Com o impacto do golpe, Cassius caiu para trás e sua espada caiu fora de seu alcance.

Hoster sorriu cruelmente, segurando a espada com a clara intenção de perfurar o peito de Cassius. Porém, o rei zardreniano disparou uma esfera de energia contra o adversário, que se esquivou magistralmente. Ele acabou tentando novamente perfurá-lo, porém o soberano conseguiu rolar para o lado, até alcançar a sua espada e bloquear novamente o ataque. Ele conseguiu se levantar e reagir, contra-atacando, mas a defesa do lorde alkavampiano era cada vez mais sólida, dificultando para o lado de Cassius. Foi quando Hoster se afastou e correu de encontro ao seu inimigo com uma velocidade absurda, como se fosse um raio. O rei de Zardren lançou uma rajada luminosa contra ele, mas o lorde de Alkavampir simplesmente se esquivou de praticamente todos os ataques. Numa corrida desenfreada, ele se aproximou de Astrid que, indefesa, não conseguiu evitar que um acontecimento se repetisse dezessete anos depois.

— Você se lembra disso? – ele ironizou. – Se não, este golpe é para que nunca se esqueça de mim!

No mesmo local que Astrid fora atingida, Hoster cravara sua espada. Porém, desta vez, fora ainda mais profundo, transpassando mesmo seu corpo. Ao retirar sua espada do corpo da mulher, sorriu ao vê-la cair de joelhos no chão e levando as mãos ao ferimento, tentando em vão parar o sangue que jorrava sem parar.

— ASTRID!!

Cassius correu para tentar acudi-la, mas Hoster foi ainda mais rápido e, com a espada ensanguentada, transpassou o peito da rainha zardreniana, enquanto dizia:

— Vá... E aguarde o seu querido marido no inferno!

Furioso, o rei de Zardren atacou Hoster com uma poderosa esfera luminosa, conseguindo assim afastá-lo de sua mulher. Ajoelhou-se e a pegou em seus braços, sem se importar com o sangue de sua esposa manchando sua roupa e com as raras lágrimas que começavam a escorrer por sua face.

— Astrid...! Por favor, resista...!

— Cassius... – ele ouviu a voz moribunda de Astrid.

— Astrid...!

— Landon... – ela voltava seus últimos pensamentos para o filho. – Por favor, Landon... Sobreviva...!

Nisso, Jerome, que ainda estava oculto graças à sua técnica como o líder dos Dragões das Sombras, arremessou uma adaga, que se cravou nas costas de Astrid. Um golpe de misericórdia, que liquidou com a vida da Rainha Astrid de Zardren.

Abraçado fortemente àquele cadáver, Cassius se permitiu dar vazão às suas emoções. Naquele momento, ele passava a derramar as lágrimas mais amargas de toda a sua vida, pois acabava de perder não apenas a mulher que tanto amou, mas havia perdido uma parte do seu ser.

 

*

 

Landon, ainda na sala do trono, pousou seus olhos sobre um deles, justamente aquele que sua mãe ocupava. Encarou aquele trono por um longo momento, sob o olhar preocupado de Catelyn, que decidira ficar junto com o marido. Por mais que ele não deixasse transparecer tudo, ela sabia que ele sofria. Ele já não conseguia mais esconder direito a angústia que sentia.

Será que ele tinha razão para estar daquele jeito? Embora ela quisesse tranquilizar Landon, algo em seu interior começava a dizer que, de algum modo, aquela aflição toda parecia ter algum fundamento. Mesmo que em menor intensidade, ela começava a sentir algo parecido.

O príncipe zardreniano engoliu seco. Lembrou-se novamente de seu pesadelo e do abraço que recebera de sua mãe quando ela partia, junto com seu pai e com os demais. Cerrou os punhos e novamente engoliu seco enquanto seus olhos começavam a querer arder.

Por que essa vontade de chorar, agora?

Por que essa sensação de que seus maiores medos pareciam querer se tornar realidade?

Por que essa sensação de que estava perdendo, neste exato momento, alguém tão precioso em toda a sua vida?

E, neste momento, não conseguia mais tirar de sua cabeça aquele abraço que recebera de sua mãe. Aquela sensação de que aquele havia sido, de fato, o último abraço, acompanhado das palavras que poderiam ter sido as últimas, se tornava mais forte a cada minuto.

Aquilo estava ficando cada vez mais insuportável...!

— Mãe...! – sua voz saía estrangulada pela vontade de chorar, precariamente reprimida.

Catelyn percebeu que ele estava ainda mais aflito. Por mais que ele tentasse não preocupá-la, ela estava preocupada com ele. Sabia que ele não estava bem. Ele saiu apressadamente, mas ela tentou detê-lo:

— Landon! Aonde você vai?

— Eu não posso mais ficar aqui, Cat...! – a voz dele saía trêmula. – Eu não suporto mais essa angústia! Eu preciso ir ver se aconteceu alguma coisa...! Não posso ficar aqui...!

Ao abrir a porta, deu de cara com Reid e lhe disse:

— Reid, por favor, não saia de perto da Catelyn! Não saia de perto dela, por nada deste mundo!

O conselheiro, confuso com esse pedido de Landon, no qual percebera desespero e angústia, conseguiu questionar:

— O que aconteceu, Alteza?

— Eu preciso ir aonde meus pais e os outros foram. Não posso ficar aqui, Reid! Não, quando estou com um mau pressentimento!

— Landon...! – Catelyn tentou falar, mas faltavam-lhe palavras para tentar argumentar com o marido.

— Cat, eu não posso ficar aqui me matando de angústia sem saber se está acontecendo alguma coisa... – ele olhou nos olhos dela. – Não vou mentir, eu estou com muito medo do pior... Por favor, torça para que seja apenas uma paranoia minha.

Landon beijou Catelyn e logo se retirou, deixando claro para que Reid não saísse de perto dela. A passos decididos, deslocou-se para os estábulos, onde encontrou Marden, Robert, Rickon e um jovem chamado Kauff alimentando os seus respectivos grifos.

Sem dizer nada, o príncipe aparelhou seu grifo de forma apressada, o que chamou a atenção do quarteto. Marden tomou a iniciativa de questionar:

— Landon, aonde você vai com essa pressa? A Cat já está em trabalho de parto?

— Não, ela não está em trabalho de parto.

— Então por que essa pressa? – Robert perguntou.

— Eu não posso ficar aqui sem saber como estão os meus pais!

— Landon, você está parecendo paranoico! – o Lorde da Água disse.

— Que os deuses te ouçam, Marden...! – o príncipe já não conseguia mais esconder a aflição que sentia, e que o dominava por completo. – Mas eu só vou ficar tranquilo se eu tiver a certeza de que ninguém morreu!

— Landon, vira essa boca pra lá! – o Lorde da Terra exclamou. – Você está ficando paranoico, neurótico e sei lá o que mais! Não há necessidade nenhuma de fazer isso!

— Eles foram apenas a um festival, devem estar de volta ao anoitecer! – Marden completou.

— Não quero que me detenham. Eu preciso fazer isso... Não aguento mais sentir essa agonia tomar conta de mim...!

— Mas, Landon...! – Robert tentou protestar.

— Não me detenham!

— Landon...! – Marden também tentou protestar.

— Não me detenham! Isso não é um pedido, é uma ordem!

Após proferir essas palavras, Landon se retirou apressadamente, levando o grifo Poseidon ao pátio, para dali sair voando pelo trajeto que seus pais fariam conforme planejado. Ao ver a atitude do príncipe, Marden não pestanejou e também arreiou seu grifo.

— Vai atrás dele, Marden? – Robert perguntou.

— Vou. Estou preocupado com ele. É perigoso ele fazer alguma besteira.

— Então também irei. Do jeito que ele é cabeça-dura, se for apenas você, não vai dar conta de evitar que ele faça besteira.

— Kauff – Rickon disse. – Darei a você a missão de liderar os cavaleiros que estão aqui. Quero que tanto você como os demais protejam o Conselheiro Reid e a Princesa Catelyn. Protejam este palácio com todas as suas forças!

— Deixe comigo, Subcomandante! – o jovem cavaleiro bateu continência.

Tão logo Rickon terminou de instruir Kauff, ele e os Lordes pegaram seus grifos e levaram ao pátio, para dali saírem e alcançarem Landon. Nos rostos de Marden e Robert estava estampada a preocupação com o amigo.

Para Landon estar daquele jeito... Era preciso segui-lo.

O que estava acontecendo realmente com ele?

 

*

 

Cassius se refez um pouco daquele grande baque. Claro que a dor era imensa, mas não podia ficar se lamentando agora. Não, quando o sentimento de vingança clamava, aos berros, pelo sangue do homem que ceifara a vida de Astrid.

Vingaria cada gota de sangue que ele derramara dela, uma dívida acumulada por dezessete anos!

— Eu pensei que você continuaria chorando por sua amada esposinha... Pelo jeito, me enganei, você não é tão tolo quanto parece!

— Por que diz que sou tolo? – o rei zardreniano tentava mostrar alguma frieza.

— Você chora por uma mulher, quando há tantas outras que podem substituí-la. Aliás, que mulher não adora abrir as pernas para alguém importante, ainda mais sendo um rei?

Os olhos de Cassius começaram a faiscar:

— Não fale assim da minha mulher...! Eu não vou deixar que você saia impune!

— Então venha executar a sua punição, rei Cassius! – Hoster sorriu com crueldade.

Cassius não se fez de rogado e, com sua espada em punho, partiu para o ataque. Porém, Hoster, com sua agilidade incomum, escapara de um ataque que poderia feri-lo com alguma gravidade. Experimentou um contra-ataque, mas foi bloqueado pela espada Sagrado Coração, empunhada pelo rei zardreniano. Fez com que a espada de Cassius cedesse e, com um rápido giro, atingiu o lado esquerdo de seu abdome com um corte profundo.

O zardreniano não se importou com o ferimento, apenas queria vingar Astrid a qualquer preço. Novamente, sua espada se chocou com a de seu inimigo e, ao tentar dar nele uma rasteira, o lorde alkavampiano aproveitou uma brecha e perfurou seu ombro direito. Mesmo assim, o soberano de Zardren não se rendia. Apesar do braço direito doer e de mal suportar segurar a espada, Cassius tentou novamente atacar. Arremessou contra Hoster uma poderosa esfera de luz, a qual foi cortada ao meio com facilidade.

Após fazer isso, Hoster contra-atacou, abusando de sua agilidade. Com um rápido golpe de espada, fez com que ela chocasse contra a espada de Cassius, desarmando-o com grande facilidade. Porém, isso não fez com que o rei zardreniano se desse por vencido, usando sua mão esquerda para criar outra espada com energia luminosa e partindo mais uma vez ao ataque.

Ele iria vingar a morte de Astrid! Faria aquele maldito pagar pela morte dela!

Correu de encontro a Hoster, que também correu de encontro a ele, com a espada em punho. Ao se encontrarem, Cassius sentiu algo atravessar seu peito de forma brutal e, nesse momento, vomitou uma grande golfada de sangue. Sentiu, com aquela dor cortante, que seu peito se molhava de forma pegajosa, ao mesmo tempo em que a espada de luz que empunhava desaparecia de sua mão.

Com o seu olhar começando a se turvar, viu que Hoster retirava de seu peito a espada que o atravessara. Caiu de joelhos, levando a mão ao local atingido, onde sentiu algo quente, molhado e pegajoso. Com a visão embaçada e começando a lhe faltar o ar, viu que sua mão estava lambuzada de sangue... Do seu sangue...

A sua vida estava começando a se esvair...

 

— Vou demorar muito a ter essa espada em minhas mãos. Só quando o senhor for muito velhinho.

— Tomara que seja assim.

 

Cassius queria que fosse assim... Que Landon só assumisse seu lugar quando ele, em idade avançada, abdicasse de seu trono em favor do filho. E sabia que o seu filho queria o mesmo... Landon o queria vivo, tal como queria que sua mãe vivesse...

Mas a realidade nua e crua não permitia que esse simples desejo de não ter o mesmo destino cruel de seus antecessores se concretizasse. Não queria morrer precocemente, com pouco mais de quarenta anos. Assim como Astrid, ele queria ver seu neto nascer...

... Mas agora tudo lhe era arrancado de um golpe só!

Todos os seus sonhos... Todas as suas alegrias... Todos os anos que poderia ainda ter pela frente, principalmente junto de Astrid... Tudo estava sendo cruelmente arrancado por aquela espada, que mais parecia a foice do poderoso deus da morte, que era temido até pelos homens mais poderosos de Emperius.

Seu corpo já respondia cada vez menos aos seus comandos e terminou de cair ao solo. Sua visão cada vez mais turva viu, pertinho dali, o corpo de Astrid. Cuspiu outra grande golfada de sangue e, com o resto de suas forças, com seus últimos instantes de vida, começou a se rastejar.

Já que era para sua vida findar... Que fosse junto da mulher que amou até o fim...

Uma trilha de sangue marcava os rastros que Cassius deixava ao se rastejar até o cadáver de Astrid. Não queria ficar longe dela... Não podia ficar longe dela... Jamais...

Com muito custo, moveu sua mão direita na direção da mão direita de sua esposa, entrelaçando os seus dedos com os dela após muito esforço. Após fazer isso, seus olhos derramaram suas últimas lágrimas enquanto murmurava com um fio de voz:

— Astrid...! Eu estou indo te encontrar...!

Sentiu um golpe profundo em suas costas, atingindo um de seus pulmões e o fazendo cuspir uma última golfada de sangue. Não conseguia mais respirar ao mesmo tempo em que ouvia uma gargalhada vinda de seu algoz, Lorde Hoster.

Nada disso importava mais... Sua vida estava se esvaindo por completo...

Antes de se juntar aos seus ancestrais, fez uma última prece aos deuses de Emperius. Pediu por seu filho... Pediu para que os deuses fossem bons para com ele...

... Que os deuses confortassem Landon, de quem ele não conseguira se despedir...

... E que o seu filho, seu sucessor e agora novo rei de Zardren, não tivesse o mesmo destino cruel que o pai.

“Landon...”, ele pensou. “Você será um grande rei... Mostre a Alkavampir que Zardren não cairá como eu caí...”

E, assim, o Rei Cassius de Zardren deixava o mundo dos vivos e se juntava precocemente aos seus ancestrais de sua linhagem real zardreniana. Deixava no mundo dos vivos um trono vago e um reino inteiro órfão.


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Notas finais do capítulo

CONTINUA...



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