Invisíveis como Borboletas Azuis escrita por BeaTSam, tehkookiehosh


Capítulo 26
Verso 25: La La La


Notas iniciais do capítulo

As votações para com quem vocês torcem para a Sam ficar no final continuam essa semana! Quem não votou, corre para voltar que já vão acabar! Essa votação vai realmente decidir o rumo da fanfic e está super acirrada! Mais detalhes nas notas finais.



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Alguém deve ter esquecido uma pedra em cima de mim porque não estou sentindo as minhas costas! Meu corpo todo dói demais! Eu gostaria de acordar para saber o que está acontecendo, no entanto estou tão cansada, mas tão cansada.... Não consigo nem abrir os olhos.

— Ai! – Algo me acerta na cabeça.

— Acorda, corcunda adormecida! – Minha irmã berra no meu ouvido.

— Hã? O que está acontecendo? Me deixa descansar só mais um pouquinho... Que horas são?

— São quase 6 da manhã. Levanta logo, porra! Foi você mesma que me pediu para te acordar! Só não quero me atrasar para a aula por sua culpa. – Ela recorda. Ah é! Eu tenho que correr! O Bangtan viaja hoje! – Onde já se viu dormir em cima do notebook... – ela resmunga.

As músicas do Rap Monster! Passei a noite toda traduzindo aquelas músicas! Tenho que entregar para ele logo! Levanto-me do notebook e me endireito na cadeira. Ai! Estava tão cansada ontem que acabei dormindo na escrivaninha, nem subi para a minha cama. Eu dormi numa posição tão ruim que meus ossos vão ficar doendo como os de uma velha durante um dia ou dois. Com sorte, eu arrumo uma bengala no caminho.

Logo tiro meu celular do carregador, já abrindo o Kakao Talk. Dessa vez, a mensagem vai ser só para ele.

Sam: Você poderia ir na Big Hit antes de viajar?

Nem espero a resposta e já saio ligando o notebook. Esses arquivos têm que estar no meu celular para ontem! Enquanto transfiro as traduções, vejo a mensagem:

Rap Monster: Só eu ou o Bangtan todo?

Sam: Só você.

Quase largo o celular para começar a me arrumar, quando um barulho de pássaro entrega que tem mensagem nova.

Rap Monster: Tudo bem, mas tem que ser rápido.

Essa parte eu já entendi! Não precisa me lembrar! Largo celular na escrivaninha onde está o meu notebook e já sigo para o banheiro. Escovo os dentes, penteio o cabelo, ponho uma camisa de manga comprida e sobre ela, um casaco de moletom. Quando saio, a transferência já acabou. Então só pego o celular e enfio no bolso do casaco. Agora é só ir para a Big Hit.

Ao encostar na maçaneta, a minha irmã berra o meu nome.

— O que é?! – Respondo, já irritada. Eu quero ir para lá logo!

— Você realmente vai com a calça do pijama para a empresa?

...

.....

— Pequeno detalhe.

 

 

Devido a pequenos atrasos no percurso, chego na Big Hit um pouco mais atrasada do que eu planejava (dessa vez, com a minha calça jeans rasgada vestida). Droga, ele já está na recepção me esperando! Espero que não tenha sido por muito tempo.

— Oi!

— Ah, oi – ele se assusta com a minha chegada. Devia estar pensando em alguma coisa. – E então, o que você queria me falar?

— As músicas! Eu terminei de traduzir! – Sorrio, com o maior orgulho de mim mesma.

— Obrigado! – Ele sorri de volta.

— Me empresta o seu telefone? Vou te passar os arquivos.

— Ok – ele entrega o aparelho. – Você parece cansada. Você virou a noite fazendo isso?

— Eu já estou acostumada, não é nada demais.

— Não precisava disso tudo. Eu só falei por falar!

— Eu já disse: não é nada demais.

— Obrigado, então – ele agradece sorrindo.

Não demora muito tempo e já transfiro as traduções via bluetooth.

— Se cuida – ele se despede.

— Boa viagem!

Ele se vira para mim e acena, mas antes mesmo que eu posso gritar cuidado, ele tropeça e derruba uma lata de lixo atrás de si, espalhando papéis amassados por todo o chão.

— Parece que alguém quer chegar no aeroporto mais cedo – rio. – Pode ir que eu arrumo isso aqui.

— Valeu! – ele sai correndo, genuinamente agradecido com a minha oferta.

Assim que ele sai, passa uma garota, aquela que me ajudou no dia da cafeteria, com uma enorme mala de roupa. Parece pesado, melhor eu ir ajudar.

— Oi, unnie! Eu não sei o seu nome, então posso te chamar de unnie, né?

Ela assente com a cabeça.

— Quer que eu te ajude? – Pergunto já carregando a mala.

A unnie agradece silenciosamente com uma leve inclinação de cabeça.

— Lee Hae Won.

— Seu nome é Lee Hae Won? Hae Won unnie?

Ela ri, provavelmente por causa da minha pronúncia.

— Hae Won unnie soa legal. Obrigada por me ajudar aquele dia! Deixa que eu te ajudo a carregar essas malas!

Quantas malas esses garotos precisam? É só uma semana de viagem! E isso tudo é só roupa de show, as roupas casuais eles mesmos estão levando. Ainda bem que não estou carregando isso tudo sozinha, acho que fiz bem em ajudar.

— Você vai viajar também?

Ela balança a cabeça em negação.

Que bom, eu vou ter alguma companhia! A Stella e os garotos vão viajar, então já estava começando a me sentir solitária. Vai ser uma chance para conhecer melhor os staffs, todo mundo parece tão simpático! Bem, mais ou menos. Tem alguns que são meio ranzinzas ou apressados, não sei, mas parecem estar sempre de mal humor. Felizmente, esses são poucos.

Logo que terminamos de colocar as malas no carro, despeço-me da Hae Won. Ela está sempre atarefada e cansada, não posso tomar mais seu tempo. Acho que ela deve ajudar com o figurino ou algo assim. Pelo menos, suas roupas são bem estilosas.

— O que o você ainda está fazendo aqui? – O Senhor Agente aparece já reclamando. – Você teria que estar na aula de canto faz tempo!

— O que? Eu não sabia.

— Oops! Eu esqueci de avisar. Me desculpa – ele junta as mãos. – É que as coisas ficam uma confusão quando tem viagem.

— Não vem logo, Sejin? – Pergunta um homem que com mais alguns outros com seu passo acelerado.

— Já vou! – Ele responde. – Vou ter que me juntar aos outros agentes logo, então, Sam, prepare-se. Você vai passar uma semana com os professores mais rígidos e malucos que você já viu, mas não fale isso para o Son Sungdeuk – antes de ir embora, ele ainda vira para mim e torce por mim. – Hwaiting!

Mesmo que ele seja bem sério comigo de vez em quando, é só porque ele se importa demais com os garotos. Na verdade, ele é uma pessoa bem legal.

Ainda falta um tempo até a aula de canto começar, então apenas me sento no banco mais próximo. Uma rápida olhada no twitter e já percebo uma tag nova nos Trend Tropics: #JHopeÉPerfeito.

Algumas outras similares também se juntam a esta, todas no topo. Realmente, as A.R.M.Y.’s se esforçam bastante para vê-los felizes, espero que ele veja isso também. Tweeto uma mensagem de apoio com as hashtags, mesmo que eu saiba que ele já está bem agora (eu espero).

Sinto falta deles. É como se tudo o que passou fosse um sonho, mas agora eu acordei. Deveria ter aproveitado melhor cada segundo...

Puxo meu celular para a abrir o Kakao Talk. A primeira mensagem que eu mando é para o J-Hope.

Sam: Boa viagem!

Ele me responde com uma selca fazendo aegyo. Tão fofinho... Agora o Jimin.

Sam: Boa viagem!

Ele também me responde com uma selca no aeroporto, só que essa tem legenda:

Jimin: Estou bonito, não estou? :3 (Olha só aquelas pessoas ali atrás tirando foto de mim kkkkk)

Sam: Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonito do que eu? Kkkkkkkkkk Sim, você está bonito hoje. Você é bonito.

Jimin: Kyaaa~~~~! Socorro, mamãe! A Sam está falando coisas embaraçosas de novo! Está me fazendo ficar com vergonha!

Jimin: Aigo! O Hoseok hyung está tentando roubar o meu celular! Brigue com ele!

E logo surge mais uma selca. Dessa vez, o J-Hope posa para a foto enquanto empurra a cabeça do Jimin com a mão. Sim, eles são ídolos. Eu mesma tenho dificuldade de acreditar nisso algumas vezes.

Jimin: Annyeong~~~! Aqui é o Hobie Hobie! Essa criança já está passando dos limites, perguntando esse tipo de coisa! Todo mundo sabe que eu sou mais bonito e legal.

Sam: Sim, principalmente quando vai no cinema de terror.

Jimin: Aquilo foi um pequeno detalhe para ser esquecido no passado. Na verdade, eu só agi daquele jeito para você não se sentir sozinha por ser a única assustada. Eu só estava sendo gentil!

Sam: Aham, sei...

Meu celular apita de novo, anunciando uma nova mensagem.

J-Hope: Roubei o celular do hyung! Mwahahaha!

E apita mais uma vez.

Jimin: PARK JIMIN!!!!!!!! SEU PIRRALHO!!!!

E mais uma vez.

J-Hope: Sam! O hyung está querendo bater em mim! Socorro!

E mais uma foto surge. O Jimin tirou uma foto do J-Hope “irritado”.

Jimin: Aquele pirralho tirou uma foto minha! Pode isso? Ele vai ver só >:D

Agora são as mensagens do grupo do BTS que apitam.

Jimin: Eu sou idiota!

J-Hope: Então é assim?! Eu sou um cavalo u.u

Jimin: Eu sou rejeitado pelo Jungkook!

J-Hope: Aí já pegou pesado demais!

SUGA: Vocês dois, PAREM LOGO COM ESSA PORRA QUE EU ESTOU TENTANDO DORMIR!!!

E as mensagens do J-Hope voltam:

J-Hope: Recuperei o celular! Yay! Só que ele pegou o celular dele de volta... ;-;

Sam: Olá, aqui é a...

Sam: É a Sam mesmo. Acabei de lembrar que não tenho ninguém para roubar o celular já que vocês me abandonaram aqui.

Sam: ;-;

J-Hope: Já volto, não precisa sentir a minha falta. Agasalhe-se e não pule refeições!

Sam: Boa viagem!

Agora são as mensagens do Jimin:

Jimin: O Jimin é muito bonito!

Jimin: O Jimin dança melhor do que eu!

Jimin: As notas agudas do Jimin são as melhores!

Sam: Eu já sei que você pegou o seu celular de volta, Jimin.

Jimin: Ah, droga!

Sam: Kkkkkkkkkkkkkkkk

Jimin: Olha só esse garoto Jungkook me ignorando!

Ele me envia uma foto do maknae sentando no banco do aeroporto com o V ao seu lado.

Jimin: Ele não desgruda daquele celular!

Sam: Você também!

Jimin: Como assim? Eu só peguei o meu celular agora...

Sam: Só porque foi roubado!

Jimin: Kkkkkkkkk

Jimin: Mas isso não vem ao caso.

Jimin: Eu tento falar com ele, mas ele me ignora! Só que olha só o Taehyung abraçado com ele! Isso não é justo! Por que ele pode e eu não?!

Sam: Kkkkkkkkkkkkkk

Jimin: Deixa para lá! Se ele não me quer, há milhares de armys que queiram, não é, Sam?

Sam: *revira os olhos*

Jimin: Ei! O que você quis dizer com isso?

Jimin: Olha só o Yoongi hyung dormindo no banco:

Mais uma foto chega ao meu celular. Daqui a pouco a memória do celular vai ficar cheia só com essas brincadeiras...

Jimin: É incrível como ele pode dormir em literalmente qualquer lugar! Pena que ele não tem essa flexibilidade toda na dança (não conta isso para ele).

Jimin: Droga, ele percebeu que eu tirei foto!

Jimin: Socorro! Ele disse que vai me chutar onde mais dói se eu continuar!

Jimin: Adeus, meus futuros filhos...

Jimin: ;-;

Sam: Quer um conselho?

Sam: Talvez, se ficar quietinho, você saia inteiro dessa viagem.

Sam: Boa viagem!

Jimin: Obrigado! :3 Já vou voltar, então não se preocupe, ok?

Sam: Ok.

Depois dessa confusão toda, eu mando uma mensagem para o Suga – oops, Yoongi. Ainda vai demorar até que eu consiga me acostumar a chamá-lo assim.

Sam: Boa viagem!

Visualizado quase na mesma hora, no entanto não parece que ele vá responder tão cedo... Deve ser muito swag (e sono) para uma pessoa só. Mas não custava responder... Melhor eu mandar mensagens para outros membros enquanto isso.

Sam: Boa viagem!

Jin: Ah...

Jin: Obrigado.

Sam: O que foi?

Jin: Pensei que você viria até aqui... Fiquei esperando ;-;

Sam: Foi mal.

Sam: É que ainda é segredo que eu estou trabalhando com vocês, não posso levantar suspeitas.

Jin: Sim, eu entendo.

Jin: Essas crianças... Eles ainda não conseguiram aceitar que sou o mais bonito...

Jin: Ehrm, eu só queria dizer que já volto. Não pule refeições! Pelo o que já vi, você não se importa muito com isso, mas comida é importante! Então me promete que não vai pular nenhuma única refeição?

Sam: Claro. Comer é bom!

Jin: Então agora já posso viajar tranquilo! :D

Não sei se devo enviar mensagens para o Jungkook ou para o V. Não sou tão próxima assim deles e, de acordo com o que o Jimin disse, o Jungkook deve estar preocupado com a Stella, aliás, quem não estaria? Ela vai reencontrar sua família no Brasil! Por mais que para os outros isso soe como uma coisa legal, por aquelas mensagens, já sei que a relação deles não é muito boa. Espero que fique tudo bem com ela.

Então mando a mensagem para o líder.

Sam: Boa viagem!

Rap Monster: Cool music, bro! Thanx

Rap Monster: *sis

Estava quase respondendo quando percebi o horário no relógio. EU TENHO QUE IR PARA A AULA DE CANTO AGORA!

Chego na mesma sala que da última vez, aquela no fundo do corredor. Peço licença já entrando na sala, onde Park Yang Mi me aguarda.

— Chegou cedo, hein – ela comenta.

— Desculpa.

— Esse é o seu trabalho aqui. Você tem que aprender a cumprir horários. Nós estamos todos muito sérios aqui. Tivemos que mudar todo o cronograma para você ter essas aulas. Não sei como é lá no ocidente, mas espero que você tenha mais responsabilidade na próxima vez e não chegue atrasada.

Suas palavras pesam nas minhas costas. Eu não tinha dado tanta importância para isso, mas ela está certa. Esqueci que estou aqui a trabalho e me atrasei para um compromisso importante. Várias pessoas dependem de mim para trabalhar, fui muito irresponsável em não pensar nelas. Até tento arrumar alguma desculpa, mas nada soa plausível. O que eu fiz foi realmente errado.

— Voltando ao assunto original – ela pigarreia para chamar a minha atenção –, a partir de hoje, vamos começar realmente suas aulas de canto. Traga uma garrafa com água em temperatura natural para não perdemos tempo com você indo buscar água. E não pense que eu vou pegar leve por você ter 16 anos. Já te ouvi cantando e sei que você tem técnica, mas temos que aprimorar isso.

Mal tenho tempo de consentir quando ela se levanta e começa a alongar. Eu, tímida, apenas a imito. Aulas de canto são estranhas. Se qualquer pessoa que não estiver acostumada entrar, vai pensar que somos aliens (e não no bom sentido). Depois começam os vocalizes. Horas, horas e mais horas que vocalizes. Já está quase chegando a hora do almoço quando ela resolve desaquecer a voz.

— Eu gostei do que eu ouvi hoje – Yang Mi elogia. – Sua extensão vocálica é muito boa. Você tem um bom apoio e direcionamento de voz. Sua voz é escura, mas consegue misturar bem nos agudos. No entanto, temos que trabalhar melhor o vibrato e seu ouvido harmônico. Ah! E a sua respiração e estabilidade! Já que você vai dançar, isso vai ser muito importante!

— Dançar?

“Que história de dançar é essa? Eu sou mais desengonçada que roqueiro em bloco de carnaval!” Eu grito em minha mente.

Eu.

Não.

Danço.

— Ué, o Sejin não te avisou? Ele deveria estar enrolado como sempre... Você pelo menos sabe do show um dia antes do aniversário do Bangtan?

— É... Não.

— Aquele cara! – Ela pragueja. – Ele poderia ter avisado do show pelo menos! É o seguinte: na véspera do aniversário do BTS vai ter um show. Nós estamos planejando algo grande, com banda ao vivo. Talvez até seja gravado para virar DVD. Segundo o nosso planejamento, você só entra na última parte do show, quando vão tocar as músicas do Hwa Yang Yeon Hwa pt. 2. Que eu saiba, você só vai cantar a música que vocês estão compondo agora, mas podem acabar surgindo outras. Então, para não ficar lá parada, resolveram que você vai participar das coreografias.

— Entendi... Mas eu sou horrível dançando!

— É por isso que você vai ter aulas com o Son Sung Deuk depois do almoço. Não chegue atrasada e se esforce bastante, por que nós estamos nos esforçando também.

— Sim. Obrigada por me ajudar.

— Tudo bem – ela sorri, rendida. – Só espero que de agora em diante você entenda o peso da responsabilidade. Sung Deuk não é tão tolerante quanto eu.

— Desculpa.

— Está liberada por hoje. Pode ir almoçar.

Por mais que tenha soado um pouco rígido demais, eu fui bem irresponsável. Ela está certa em me lembrar isso. No entanto, dança! Como eu deveria aprender as coreografias do Bangtan em algumas semanas? A última vez que eu dancei foi no recital da formatura do Ensino Fundamental I. Ensino fundamental I!!!!! Ah... Isso vai ser muito difícil.

No caminho do refeitório, encontro algumas garotas amontoadas tentando espiar o que acontece dentro de uma sala. Ué, mas o BTS acabou de viajar! Será que é outro boygroup?

Aproximando-me mais do aglomerado, reconheço as colegas da Stella e algumas staffs. O que raios elas olham tanto? Espio pelo canto do olho. Para minha surpresa, a única pessoa dentro da sala é a própria Stella tocando guitarra. Não reconheço o solo, mas presumo que seja de alguma banda de rock inglesa. Bem, esse não é muito o meu estilo de música.

Pelo o que consigo entender do que as pessoas fofocam, ela vai viajar amanhã à tarde. Aquelas mensagens que eu li insistem em voltar aos meus pensamentos. Problemas em família doem mais que qualquer coisa, falo isso por experiência própria. Contudo, a julgar por aquelas mensagens, os problemas da Stella podem ser mais graves do que eu possa imaginar. Pelo o que percebi ontem, só eu e o Jungkook – o V talvez – sabemos dessa situação. E os dois viajaram. Parece que sua única confidente é a guitarra.

A melancólica melodia que cai no silêncio é a mais dolorosa para o coração.

Abro caminho entre a pequena multidão, almejando a sala de música. Não é muito diferente das outras, só que essa tem alguns instrumentos e amplificadores espalhados lá e acolá. Sua música vai desaparecendo ao perceber a presença de um intruso.

— Gritos de guerra são melhores que melodias motivacionais quando se quer extravasar – tomo o cuidado de falar em português para ninguém mais entender.

— Concordo – responde sem prestar muita atenção.

— Está nervosa por causa da viagem? Rever sua família não deve ser uma coisa fácil.

— Como você sabe? – Ela se põe na defensiva, surpresa.

— Apenas sei.

— Você é muito enxerida – ela resmunga. – Isso não é assunto seu. Só... me deixa em paz.

— Tudo bem, tudo bem. Eu concordo com você. Só que o choro da sua guitarra está tão alto que atrai abutres.

— Não as chame de abutres. – Stella observa as pessoas na porta.

— Elas estão paradas sem fazer nada. Ninguém tinha entrado até agora. Estavam esperando toda a música acabar e só sobrar os restos. Na minha visão, são abutres. Vim por que seus solos de guitarra soavam como pedidos desesperados de socorro. Estou errada.

— Já disse que não é da sua conta! Me deixa sozinha! – Grita.

— Como se feita de cristal, seus gritos só vão te rachar.

— Pare de agir como se soubesse de tudo. Nós temos a mesma idade.

— Ok, então. Mas vamos fazer uma aposta: se você voltar bem e disposta, pode me dar uma surra por ser tão intrometida; se não tiver dado muito certo lá, nós almoçamos num restaurante muito bom de frutos do mar muito bom que a minha irmã achou aqui perto, eu pago.

— Por que eu deveria aceitar isso? Você deve estar muito convencida de que não vou conseguir me resolver com a minha família para fazer uma aposta dessas. Se for para receber esse tipo de “apoio”, prefiro ficar sozinha.

— Muito pelo contrário. Sou alérgica a frutos do mar.

— Você é masoquista ou o quê? – Ela finalmente ri.

— Não... Só acho que você é bem fraquinha com esses braços de palito. Não vai nem fazer cosquinha.

— Você vai ver quem é fraquinha quando eu voltar! Vai se arrepender por ter feito essa aposta – pragueja em ameaças vãs.

— É assim que se fala!

— Você é esquisita – Stella soca de leve o meu ombro.

— Eu só não quero ver mais pessoas tristes. Cada pequeno gesto de compaixão eu sei que importa – arranco o celular do bolso ao procurar pelo Cifra Club.

— O que você está fazendo?

— Vou te dar um presente antes da viagem. Sabe tocar teclado?

— Um pouco, por quê?

— Porque eu sou uma bosta com o teclado. Só sei os acordes para quebrar um galho. Mais do que qualquer palavra, música expressa perfeitamente o que quero te dizer. É a minha maneira de dizer: eu estou aqui, eu te entendo. Vou cantar com a minha alma. Espero que ouça com a sua.

Sento-me ao teclado e ponho a cifra que quase decorei no suporte do instrumento. A música que estampa a tela do celular é Papaoutai, do Stromae.

Dites-moi d’où il vient

(Diga-me de onde ele vem)

Enfin je saurais où je vais

(Que lhe direi para onde vou)

Maman dit que lorsqu’on cherche bien

(Mamãe diz que quando você procura persistentemente)

On finit toujours par trouver

(Você sempre acabará achando)

O aglomerado lá fora se cala ao som da primeira estrofe da música. Papaoutai é tão forte, tomando-me, comendo-me, devorando-me.

Où est ton papa ?

(Onde está o seu papai?)

Dis-moi où est ton papa

( Diga-me, onde está o seu papai?)

Sans même devoir lui parler

(Sem mesmo ter que falar com ele)

Il sait ce qui ne va pas

(Ele sabe que não está indo bem)

 

Ah sacré papa

(Ah, meu amado pai)

Dis-moi où es-tu caché ?

(Diga-me, onde você está se escondendo?)

Ca doit faire au moins mille fois que j’ai compté mes doigts

(Devo ter contado meus dedos ao menos mil vezes)

As teclas arrancam um pedaço de mim toda nota. Esse sentimento, bebida tão amarga que tantos são forçados a engolir. Uma raiva sufocante que os laços familiares teimam em suprir. Todas os dias, tardes, noites esperando por um gesto de carinho. Os pesadelos dos quais esperamos ser acordados. As cantigas de ninar que esperamos que nos embalem. Mas cadê você? Cadê você, papai?

Hein ? Dites-nous qui, tiens

(Ei? Diga-nos quem, uh?)

Tout le monde sait comment on fait des bébés

(Todos sabem como fazer bebês)

Mais personne sait comment on fait des papas

(Mas ninguém sabe como fazer pais)

Monsieur  “j’sais tout”  en aurait hérité, c’est ça ?

( Senhor “sabe-tudo” teria herdado isso, não é?)

Faut l’sucer de son pouce, ou quoi

( Isso vem de chupar nossos dedões ou o que?)

Dites-nous où c’est caché, ça doit, faire au moins mille fois qu’on a bouffé nos doigts

(Diga-nos onde está Escondido, nós devemos ter comido nossos dedos ao menos mil vezes)

“Todos sabem como fazer bebês, mas ninguém sabe como fazer pais”.  Esses versos me doem de tão verdadeiros. Raiva por não estarem lá. Tristeza por precisarmos deles. Mas o amor... Ah, esse é o que dói mais. Porque continuamos amando eles apesar de tudo. Porque sabemos que se eles se arrependessem, perdoaríamos no mesmo instante.

Où t’es papa où t’es ?

(Onde você está, papai, onde você está?)

Où t’es papa où t’es ?

(Onde você está, papai, onde você está?)

Où t’es papa où t’es ?

(Onde você está, papai, onde você está?)

Où t’es où t’es où papa, où t’es ?

(Onde você está? Onde você está? Onde você está, papai, onde você está?)

Cadê você agora? Agora e sempre que a Stella precisou. Não a faça sofrer mais. O último acorde ressoa pela sala. Tudo se tornou tão quieto que o bater de asas de uma mosca é audível a todos. Da porta, surgem alguns celulares gravando. Mas, ao meu lado, Stella nem tocou no teclado. Ela apenas encara um ponto miúdo demais para os olhos humanos poderem enxergar, porém grande o suficiente para qualquer coração compreender. Mais uma nota e sua barragem desmoronaria.

— Se tiver um tempo, pesquise a tradução dessa música. Boa viagem – despeço-me.

Faltam poucos minutos para a aula de dança então só compro um sanduíche qualquer. Foi mal, Jin. Não estou cumprindo muito bem a nossa promessa.

Acabo chegando um pouco antes na sala de dança, mas só tenho tempo de atualizar algumas das minhas redes sociais antes do Son Sung Deuk chegar. Ignorei as mensagens, já sabia que não seriam elogios. Agora só me resta me esforçar na dança. Não posso desapontar todo mundo.

Stella, sou alérgica a frutos do mar. Então, volte bem do Brasil.


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Notas finais do capítulo

Ainda dá pra votar! (ctrl+c, ctrl+ v do outro capítulo pq estou com preguiça de reescrever tudo)

Peço que os votos sejam enviados por mensagem privada (MP) para mim (BeaTSam), aqui ou na página do Facebook. Não vou contar votos nos comentários. É válido todo shipp com a Sam!