Simplesmente Acontece escrita por Maria Vitoria Mikaelson


Capítulo 9
Capítulo 8 - Desejo




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CASTIEL

Nesses últimos dias tenho a sensação de ter sido inserido em uma comédia romântica ruim repleta de coincidências, momentos inesperados e cenas propositais. Como posso explicar que logo na primeira aula do ano que decidi dar a honra da minha presença Brigg estaria lá, e pior se moveria pela sala como se estivesse em um filme indie. Até o visual era como um. Os cabelos longos balançavam com o vento da janela enquanto o vestido florido e leve que alcançava os joelhos se esvoaçava, tudo aquilo complementado com um par de all stars brancos, parecia uma cena silenciosa na metade do enredo onde tudo só acontecia para demonstrar uma carga dramática.  A carga era o seguinte: o cara olha para a garota que ria completamente encantado então ela o fita de volta e seus olhos brilham pelo reflexo da luz do sol em suas íris. 

A realidade só não era totalmente fiel porque Brigg rascunhava um desenho no caderno enquanto com irritação tentava colocar seus fios loiros no lugar e eu, bem eu apenas fazia uma careta tentando entender porque estava prestando atenção. Tenho pensado demais nela desde o episódio do beijo, pensando em porque ela fez aquilo, pensando em qual razão me fez retribuir, pensando em como enquanto alcançava sua boca consegui ignorar completamente quem ela era, pensando em como me diverti na manhã seguinte com seu embaraço e notei que ela talvez não fossem quem eu achava, pensando no bar e seu desabafo.

Pensando de uma maneira que eu nunca penso em ninguém.

Porque não me importo.

E não é que me importe com ela é só que Briggite despertou minha curiosidade.

— Castiel estou vendo que está sem dupla, no entanto me lembro perfeitamente de estipular que não queria que ninguém fizesse esse trabalho sozinho. — Patrick captura minha atenção ao me repreender. Reviro os olhos mais para mim mesmo do que para ele. Por que escolhi vir assistir essa aula hoje?

— Eu escutei, só ignorei, é o que faço na maior parte do tempo. — porque não queria ninguém me irritando com sua presença. Patrick suspira como se já estivesse cansado e Brigitte murmura um "típico" antes de sorrir amarelo ao ver que estou a observando. 

Não sou o único a notar sua ação Patrick também detecta a implicância.

— A senhorita Dilaurentis parece mais do que disposta a ser sua dupla. — olho para ele sem acreditar e Brigitte está prestes a protestar com avidez, mas ele a interrompe. — Seu rendimento não está o dos melhores com Rosalya, te vi desenhando tudo nesse caderno menos o que pedi. — usar seu desempenho parece controlá-la, ela solta uma risadinha de deboche e se levanta praticamente se arrastando até a cadeira ao meu lado e se esparramando por ela.

Patrick sorri satisfeito e quando se vira para falar algo para Armin Brigitte é a mais madura das adolescentes ao dar língua para ele. 

Quando nota que estou julgando se encolhe um pouco e aperta sua caneta passando a se concentrar na sua tarefa.

— Não tinha como ser mais clichê que isso, certo? Nós dois como dupla, ridículo. — quando se vira para me falar aquilo com o olhar de desconforto, me sinto incomodado na mesma medida, não pelos motivos dela, mas porque está tão perto que seu perfume ressoa pelo ambiente. Me afasto discretamente e pigarreio.

— Seria mais se eu me sentasse com a novata. Até preferível. — retruco me lembrando da garota que me olhou fixamente na entrada da sala de aula, sei lá porque a citei, sei lá porque quis de alguma forma fazer Brigitte achar que prestei atenção nela. Não prestei. Porque essa cena foi só um relance, a que durou mais naquele momento fui eu na soleira da porta olhando Brigitte procurando um lugar longe dos holofotes. 

O efeito não é bem sucedido, porque Brigitte simplesmente ri.

— Não. Porque você teria que ser sociável com ela e você odeia ser sociável com qualquer um, comigo você não tem que fingir que presta, ao menos nem tenta. — é atrevida ao falar aquilo mostrando uma de suas covinhas, se inclina em direção ao meu rosto e me provoca. — Nem acho que se tentasse conseguiria. — tudo parece um disfarce, ela se esforça para manter a hostilidade entre nós. 

— É? — retribuiu mandando a hesitação para o espaço e também chegando perto, quase encostando meu nariz no dela, que não foge.

— É. — responde de volta balançando a cabeça e estalando a língua no céu da boca.

Ficamos em silêncio depois disso, imersos no olhar um do outro, e odeio como não consigo parar, odeio como me concentro nela e em sua boca e como meu corpo quer cortar mais a distância, odeio como sinto partes de mim formigando ao pensar naquele beijo e como queria repeti-lo.

— Então, que pecado vamos escolher para representar? — me viro para meu caderno após um tempo recuperando meu bom senso e Brigitte também volta a si ao engolir a seco. Me refiro ao trabalho que Patrick passou. — Devemos desenhar seu rosto que é a própria imagem da luxúria? Brigitte a caçadora de homens, ela os agarra na sombra da noite. — debocho também me sentindo  bem em manter o comum. Brigitte sorri de lado.

— Também faço isso de dia e faço bem. — a maneira como pisca me faz desejar tirar prova, mas jogo ela tira esses pensamentos de mim. — Talvez devemos fazer o seu rosto. — sugere de modo provocativo.

— Perfeição não é um pecado, Brigitte. — a informo mantendo firmeza em minha personalidade. Brigitte ri sem se preocupar.

— Eu estava falando sobre a representação da preguiça. A sua de não ser suportável pelo menos as vezes, sabe? Se bem que vaidade e orgulho te caem bem. — por que gosto dessa situação? Por que gosto dessa troca de farpas?

— Vamos falar da ira. Constantemente nós dois usamos dela. — opto por essa e de alguma forma parece que Brigitte parece cair em um mar de lembranças que não dizem respeito a mim.

— Sim, posso desenhar sobre a ira. — ela parece conhecê-la bem.

Não me sinto indiferente como de costume ao notar que enquanto faz traz escuros no caderno Brigitte parece melancólica, como se seus sentimentos geralmente não fosse bons, com se experimentasse algo não muito feliz em sua vida agora.

— Então sobre a parte que também agarra os caras de dia? — puxo a conversa para esse tópico para distraí-la e Brigitte ergue a cabeça esperando que eu continue. — Com quantos ficou nessas férias? — droga, eu não quero saber, por que estou perguntando? droga essa informação não vai acrescentar nada na minha vida. Brigitte gargalha baixo e só não me arrependo mais do que fiz porque ela não parece mais tão desconfortável.

— Com quantas você ficou? — retruca para minha surpresa. Faço uma careta não acreditando que ela está me tratando como se fossemos íntimos. — Não me fale que aquele beijo babado foi sua única experiência das férias? . — olho para ela incrédulo, não foi um beijo babado, foi um beijo okay, como assim babado? Eu tenho certeza que quando retribui fiz aquilo ser memorável. Estou tão focado em me sentir ofendido e nem noto que ela vê isso como uma resposta. — Foi? — agora parece assustada.

— Não. — afirmo e não minto, me envolvi com uma garota nas férias, ela frequentava o bar que Brigitte que me viu tocando. Brigitte não parece convencida.

— Certo, tem certeza que não está inventando só para comprovar sua masculinidade? — questiona divertida.

— Que tipo de idiota tem que ficar gritando para os quatros cantos que ficou com alguém para se auto provar? A garota não é um troféu ou uma coisa que comprei para me gabar. Só porque não falo não quer dizer que não fiz. Nós nos beijamos, mas não contei para ninguém depois e não porque foi uma merda ficar justamente com você, que não é minha pessoa favorita mas porque não ganho nada falando sobre você. — devolvo me sentindo surpreso que ela me julgue um babaca.

Brigitte respira sem pressa.

— Então, só uma? — arqueia uma sobrancelha. Assinto sem dar muita importância e depois fico chocado.

— Só? Por que só? Isso é uma comparação ou competição? — questiono ávido. Brigitte considera continuar com as reflexões e continua.

— Só beijos ou... Você sabe. — como é que acabamos tendo essa conversa? Reviro os olhos.

— A coisa completa. — resumo e ela se segura para não rir. Tento entender e ela coloca a mão sobre a boca para se controlar, demora algum tempo para falar.

— Cinco. — não compreendo de primeira, mas quando o faço quase caio da cadeira. —  Três a coisa completa e dois a metade. — não entendo porque ela continua falando.

— O que seria a metade? — pergunto só por curiosidade. Brigitte morde os lábios.

— Línguas em muitos lugares, eu acho. — ela não parece ter um pingo de vergonha de admitir. — E agora você está pensando que a minha fama faz sentido. — se auto julga.

— Na verdade estou impressionado. — ela não espera algo assim então sorri. — Garota virgens não são especiais e garotas experientes não são rodadas. São só caixas estúpidas que garotos criam. Vai por mim Brigitte Dilaurentis ninguém criou ainda uma caixa a qual você pertença. — aquele é meu melhor comportamento com ela.

— Essa conversa é bem melhor que a do meu sonho. — parece que as palavras escapam, porque ela fica corada.

— Você sonhou comigo? — pergunto arqueando uma sobrancelha.

— Não... Eu... Sonhando com você... Não... Não... Eu...Castiel. Eu? Não. Falei de sonho no sentindo de... Querer que algo saia de uma forma... Tipo eu não queria que nossa conversa pós beijo pós manhã discussão pós bar fosse estranha... O que eu fiz foi sonh...querer que fosse menos...Estranha? Eu estou fazendo sentido? — faço algo que nenhum dos dois espera eu gargalho, gargalho pela primeira vez nesse ano e Brigitte me acompanha. Como Patrick não nos percebeu? Não me preocupo, nem olho para ele.

— Você usou a palavra metade para se referir a uma oral, é, foi estranha. — lhe afirmo mas ninguém parece incomodado.

— Me desculpe. — não entendo. — Por não agradecer direito quando me ajudou, tem razão não tinha porque cuidar de mim e você cuidou... Não soube reagir porque... Ninguém nunca cuidou... — e de repente não é mais tão engraçado.

Fecho a cara odiando que isso se torne pessoal e finalmente olho em volta.

Percebendo que acabou. Que todos foram embora.

Passei tanto tempo rindo com Brigitte que não vi o tempo passar. Olho para o quadro e talvez encontro a resposta para o porque de Patrick não ter no interrompido.

Há um desenho meu e de Briggite lá, nós dois nos encarando na primeira troca de olhares. Brigitte também o nota mas como eu fica de pé e não se importa em se despedir. Porque nós sabemos que aquele desenho vai se apagar na próxima aula assim como esse momento.

...

Observo os caras lutarem para fazerem cestas como se o universo dependesse disso e só não os julgo porque sinto essa mesma paixão pela minha guitarra. Estou assistindo o jogo de basquete para fingir que me importo com o esporte da Sweet Amoris. Lysandre ao meu lado nem disfarça que não liga a mínima escreve em seu bloco de notas enquanto resisto a vontade de acender um cigarro.

Estou prestes a convidá-lo para ir para o porão ensaiar quando arranjo uma coisa melhor do que jogadores suados e correndo para observar. Brigitte entra na quadra porque o jogo feminino é o próximo, está prendendo o cabelo em um rabo de cavalo enquanto desfila com as pernas nuas para quem quiser ver naquele short curto em conjunto a blusa apertada e o tão característico dela all star super branco. Ela não faz de propósito, ela não rebola os quadris ou ajeita o cós da peça de baixo por provocação, é só que Brigitte tem um ima, desde sempre teve, não importa se há um milhão de pessoa em um lugar, é certeza que ela vai ser notada. Ambre sempre se esforçou para ser a rainha, a mais invejada só que é Brigitte que ganhou esse título, desde que me entendo por gente a vejo por ai conquistando a todos, bebendo em festas como se não quisesse uma boa reputação ou ficando com qualquer um como se não se importasse com ninguém. Ela é má só para sustentar a fama de má, ela quebra as expectativas de propósito.

Na infância não me aproximei porque odiava sua pose de nariz em pé. No começo da adolescência não me aproximei porque Debrah a odiava. Agora não me aproximo porque sei que Brigitte é perigosa para minhas proteções. Se eu me interessar por ela eu ferro tudo.

Lysandre falou algo, eu sei que falou, mas não o escutei, ainda estou focado nela que agora conversa com Ambre repleta de diversão, sem perceber que estou ali ela caminha com a irmã ainda conversando com ela, estou no canto da quadra e por isso tenho a visão perfeita do que acontecerá a seguir, e ela está tão perto e eu tenho esse reflexo. Então eu faço. Antes que a bola a acerte cubro seu corpo com o meu e a puxo para o lado de modo que a protejo do objeto que acerta minhas costas com força, como ela se assustou tenho que segurar sua cintura para que não se estabane no chão e seguindo instintos ela se segura em meus braços e se equilibra. Nossas respirações estão fora de controle logo que nos olhamos e uma multidão se reúne a nossa volta enquanto continuo a mantendo apoiada em mim. Tem alguma merda acontecendo aqui, eu sei que tem, entre nós, há algo entre nós.

E ter essa conclusão leva a segunda pior situação, eu me distraio e não noto que Ambre me puxou com alguma espécie de ciume solicitando que eu a soltasse, porque eu fiz isso mesmo, eu soltei, e fui junto com ela. Brigitte e eu caímos no chão e por sorte ainda conseguir a abraçar de lado para que o impacto nela fosse menor.

Droga.

Me olhando Brigitte respira várias vezes então sorri forçadamente.

— Eu salvei você. — a lembro antes dela começar a surtar. —  De novo. — afirmo enquanto ela parece prestes a explodir. — E eu não sou um príncipe e você uau está bem longe de ser uma princesa, então paramos isso aqui. — Brigitte quer me bater eu sei que quer.

—  Você me salvou de uma bola. Seu idiota. De uma bola. E depois se jogou contra mim. — quando sinaliza para nossos corpos colados dou um jeito de me levar com dor e a puxo para cima. — Eu só... Foi uma bola. — bagunço meus cabelos e concordo também achando tudo isso idiota. Então me afasto confuso e saio.

Estou no pátio rumo ao meu banco quando ouço Brigitte gritando meu nome. Giro os calcanhares um tanto irritado e espero que ela fale.

— Eu sei, foi uma bola, uma idiota bola, eu só pensei que você ia se machucar e se você se machucasse eu ficaria com raiva porque você se machucou, então fiquei com raiva porque ficaria com raiva e te salvei para não ficar com raiva. — explico ainda que não faça o menor sentido, ela acha que vou desatar a falar e realmente vou. — É sua culpa, porque ficou bêbada, porque me fez ajudar você e agora eu continuo fazendo isso porque você despertou minha consciência naquele dia e agora ela vai com sua cara. — isso me confunde e confunde ela.

— Não acho que foi sua consciência que despertei naquele dia. — sussurra chegando mais perto e quase se chocando em meu peitoral. — Eu menti sobre o sonho, eu realmente sonhei com você e sabe como acabou?... Acabou com eu frustrada porque acordei, você estava a centímetros de mim e você ia me beijar de novo e eu não fugi, porque eu queria, eu quero agora, mas aqui está o fato...Se acontecer, vai ser só um momento, uma transa sem comprometimentos, sem ninguém saber, uma falha que nossos corpos querem cometer. E caso esteja hesitante sobre aceitar só veja isso com eu retribuindo o favor pelo salvamento da bola. —  ela pisca mais uma vez e sei que estou condenado.

...

Se alguém me pedir para explicar como de uma jogada de basquete acabei em um armário do zelador com Brigitte Dilaurentis eu não saberia explicar. Ela esmagou a boca dela na minha como se quisesse com certeza lembrar disso amanhã, gemi e retribui o beijo, machucando meus lábios com a força que insisti naquela caricia, ela empurrou a língua em minha boca como se quisesse me falar que eu era dela, só dela. Enroscou suas mãos atrás da minha nuca e apoiei suas costas em uma parede mal pintada, seu toque atingia minha pele e meus ossos e eu só queria continuar, enquanto ela arfava descia as mãos por minhas costas alisando minhas costas por baixo da camisa, eu ia continuar, o melhor nós íamos, chegaríamos ao fim mas ambos paramos ao mesmo tempo e nos olhando convictos, cada um dando um passo para trás e tentando se recompor.

— Não vai ser só uma transa. E eu me recuso a me envolver com você, porque não suporto seus irmãos, me irrito com seu comportamento e não estou pronto para um relacionamento. — sou sincero.

— E teria prazo de validade porque eu vou embora, e eu não vou ficar na França por ninguém. — aquela parte eu não sabia mas também aceitei sua sinceridade.

— Nós dois estamos tentando justificar porque não devemos transar ou inventando motivos para fingir que não queremos isso? — tento entender.

— Você quer amar alguém que não vai te escolher, que vai preferir seu destino mesmo que ele não te inclua como Debrah fez? — ela me faz ouvir isso. — Porque não quero amar alguém que vai me amar e me odiar ao mesmo tempo, a vida toda o único amor que experimentei foi mistura com rejeição e não o aceito. Não agora. — Brigitte não olha para trás quando me abandona.

Acho que ela simplesmente sempre vai continuar sem precisar da minha opinião.


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