Os Laços que nos Une

Boruto e Sarada

~ & ~

Boruto não entendia muito bem como aquilo começara, mas sabia que tinha se tornado algo de grande proporção. Tão forte que o assustava. Tão intenso que o sufocava. E por estranho que pareça aquilo o deixava feliz e forte. Estar com a pessoa que causava aquilo o deixava nervoso, esperançoso, idiotamente bobo e inseguro.

Fazia quase três meses que esse relacionamento vinha se desenrolando e no caminho Boruto enfrentara e superara desafios quase inconscientemente, menos um. Esse era o mais delicado e que sempre pairava entre eles, afinal Sarada estava determinada a tornar-se Hokage. E Boruto não conseguia se ver num futuro com a Uchiha onde ela era Hokage e não tinha tempo para ele. E o que deixava o Uzumaki mais resignado era que Sarada nunca falava num nós e nem num futuro. Quando a discussão começava era Boruto que falava do nós em um futuro, Sarada apenas o escutava irritada e determinada, e dizia:

– Ser Hokage é meu sonho! Se não consegue aceitar isso, não vejo o porquê de se preocupar com nós num futuro!

A primeira vez que a Uchiha falara isso, Boruto sentiu um frio na espinha e seu coração se comprimir. Ele sempre se desculpava e ela sempre dava de ombros, soltava um suspiro e respondia de uma forma monossilábica. O Uzumaki poderia ficar com raiva, pelo o sonho dela sempre estar entre os dois, causando discussões, mas ele sempre soube desse sonho, mesmo antes de se tornarem gennins. E sabia dele quando inclinou-se para ela e selou seus lábios pela primeira vez – e em todas as vezes depois disso. E mesmo assim continuava voltando para ela, pois Sarada se tornara aos poucos e lentamente seu mundo.

Boruto se pegava pensando nela, em cada detalhe e som. Quando olhava os chouchins* iluminando as ruas de Konoha - que o lembrava do primeiro beijo; camisa gola V – pois foi com uma que Sarada o abraçou (e a Uchiha não gostava muito de abraços) enquanto se beijavam numa das ruas da vila, e fora incrível senti-la o comprimindo contra si; saias rodadas e moletons; colares – o seu em particular; rámen; chuva; músicas – sua playlist inteira; e outros detalhes de seu dia a dia. Não passavam o tempo inteiro juntos como um casal meloso, até porque havia missões – e nessas quando feita pelo o time Konohamaru, eles focavam em cumprir a missão – e havia suas famílias. Embora as mães de ambos suspeitassem (e Hinata soubesse realmente), assim como Naruto; Sasuke não sabia de nada. E nenhum dos dois sabia como o Uchiha reagiria a noticia de que seu aluno estava beijando sua filha na maior parte das noites durante quase três meses.

Obviamente não seria uma reação boa, pois Sarada resmungava baixinho e engolia em seco quando tocavam no assunto de falarem aos seus pais o que estava acontecendo entre eles.

Boruto ajeitava a camisa branca de manga longa, enquanto se olhava no espelho do quarto de seus pais. Passou uma mão em seus cabelos loiros e sorriu para seu reflexo, estava pronto para sair, ao se virar deu de cara com sua mãe o olhando feliz e preocupada. Os anos tinham sido gentis com Hinata, que estava com seus cabelos longos.

– Mãe! Não chegue de fininho assim ‘ttebasa! – Boruto fingiu um susto, rindo e parando logo em seguida ao notar a expressão preocupada da Uzumaki – O que houve?

Hinata balançou a cabeça, e foi até o filho. Os anos passavam rápidos, e para ela era difícil ver seu primogênito tão adulto e namorando, logo sairia de casa. Se Sasuke não o matasse...

– Você está muito lindo! Vai encontrar com Sarada-san? – Boruto corou e deu um sorriso sem graça concordando, ás vezes se esquecia que sua mãe sabia de tudo. – Que bom!

Ficaram em silencio por um tempo, até Hinata o quebrar dando um longo suspiro e olhando para o seu reflexo com o filho, mais alto que ela.

– Naruto contou que Sasuke-kun está voltando.

– Verdade, né?

– Boruto...

– Não se preocupe mamãe, eu dou conta! – ele abriu um largo sorriso para sua mãe, confiante – E eu e Sarada já estávamos planejando mesmo um modo de contar a ele, sei que vai entender! – continuou dando um beijo no rosto da mãe e seguindo para a porta do quarto – E temos como aliada a tia Sakura, ela sabe dobrar o marido!

Realmente a Uchiha sabia, e ainda havia Naruto. Hinata torceu silenciosamente para que realmente desse tudo certo, ambos, Boruto e Sarada, estavam felizes.

O Uzumaki caminhava despreocupadamente com as mãos nos bolsos da calça jeans escura, o movimento nas ruas de Konoha estava intenso. Casais em encontros, amigos se encontrando, ninjas voltando de missões, viajantes e os moradores entravam e saiam dos estabelecimentos noturnos. Boruto passou pelo o Ichiraku e viu Shikadai, Inojin e Chou Chou comendo, seguiu seu caminho sem incomoda-los.

Os últimos raios de sol desapareciam no horizonte, e de cima do monte dos Kages a vista de toda Konohagakure era incrível. A Uchiha estava em pé numa das pontas do cabelo do Nanadaime Hokage, observando a vila e o céu que assumia uma tonalidade azul marinho rapidamente; logo as estrelas apareceriam. A primeira já estava no céu, logo acima do sol que se ia para iluminar o outro lado do planeta. A brisa noturna balançava os cabelos negros para trás e jogava sua franja ora sobre seus olhos ora para o alto. Logo ela teria que encontrar Boruto no lugar em que marcaram e um sorriso involuntário desenhou seus lábios em que ela tratou de tirar antes de pular para o abismo, concentrando chakra em seus pés. Não demorou nem um minuto para aparecer num dos pátios que havia junto as escadarias que levava ao monte. Desceu as escadarias para um outro pátio onde havia uma enorme árvore e embaixo desta, um banco.

A árvore já era uma conhecida sua. Boruto e Sarada passavam muito tempo de seus encontros embaixo dela ou entre seus galhos; suas bochechas queimaram. Analisando o tronco da árvore perceberia um redemoinho e um leque desenhados um sobre o outro com chakra; uma ideia que o Uzumaki teve depois de dois meses juntos. Sarada passou os dedos levemente pelos símbolos antes de sentir a presença conhecida logo atrás de si. Ouviu a risada antes mesmo de se virar para fitar o loiro que chegava cheio de folga, cheio de si e totalmente convencido.

Sarada abriu a boca para perguntar o porque da risada, mas o Uzumaki foi mais rápido e selou seus lábios num beijo que tirou o fôlego da Uchiha e nublou seus pensamentos; mas Boruto não precisava saber que isso acontecia com ela. Quando se separou dela Boruto abriu um largo sorriso e seus olhos azuis brilharam.

– Saudades? – perguntou animado.

– Talvez. – Sarada respondeu com certa dificuldade para negar. Fazia três dias que não se viam.

Sarada analisou Boruto por um tempo antes de se apertar contra seu peito e sentir seu perfume, não passara seus braços ao redor da cintura do loiro, apenas encostara a cabeça no peito do rapaz porém, o Uzumaki passou os braços pela a cintura da Uchiha afundando o rosto nos cabelos negros. Passaram um tempo assim até Sarada levar uma das mãos aos cabelos loiros e senti-los meio úmidos, Boruto separou-os o suficiente para seus narizes roçarem um no outro e começarem um beijo longo e profundo. Quando o fôlego faltou, ambos se sentaram no banco.

Depois de uns minutos em silencio, Sarada falou com um olhar distante.

– Meu pai chega na sexta.

Boruto suspirou. Tinham decido contar tudo a suas famílias, mas era difícil acharem um momento adequado para isso quando o pai de Sarada, Sasuke estava sempre viajando. Era verdade que as viagens estavam mais curtas depois que o irmão de Sarada nascera, mesmo assim era difícil marcarem, afinal o pai do loiro era o Nanadaime Hokage e estava sempre ocupado.

– Então tá na hora! – Boruto disse dando um pulo extravagante do banco – Precisamos fazer isso logo.

– Verdade, mas como juntar todos...?

Boruto voltou a pensar sentando-se no banco novamente, acabou entediado e voltou seu olhar para Sarada que estava com seu polegar entre os lábios rosados, pensativa. Boruto levantou a mão e começou a passar os dedos entre os fios negros longos. Sarada vestia um moletom branco com o símbolo do clã Uchiha nas costas, uma saia rodada vermelha e uma sapatilha. Nada diferente do habitual. A intenção era não chamar atenção desnecessária para eles, e foi assim que Boruto descobrira o porque ninguém nunca saber dos relacionamentos de Sarada. Mesmo que a garota nunca tenha dito se tivera algum antes dos dois estarem juntos.

– Que tal um jantar? – Sarada falou.

– Jantar?

– Sim. Juntamos nossas famílias, na sua ou na minha casa, para um jantar – ela explicou olhando para ele – Assim damos a noticia depois da comida.

– É, ficaria um clima pesado se contássemos antes!

Sarada concordou com um maneio da cabeça, fazendo os fios negros balançarem.

– Só que tem uma coisa. – disse suspirando e ajeitando os novos óculos que Karin havia lhe mandado de presente, esses tinham um aro preto com chamas vermelhas.

– Qual? – Boruto se reconstou no banco e brincou com seu colar que tinha como pingente um parafuso.

– Não podemos simplesmente convidar, vai soar muito suspeito. Meu pai ficaria alerta e pode ser que se for surpreendido você saia vivo.

– “Pode”?

– Minha mãe faria um estardalhaço se eu pedisse, já que suspeita. E eu teria que contar tudo, não gosto de mentir ou omitir nada dela. Ela ficaria triste. – continuou Sarada sentindo-se mal por não falar com a mãe que estava saindo com Boruto, claro que a Uchiha matriarca sabia do primeiro beijo, mas apenas isso.

Manter o relacionamento em segredo não fora uma decisão aberta, fora uma decisão silenciosa. Boruto e Sarada simplesmente gostavam de se encontrarem sem ninguém saber.

– Bem, que tal minha mãe? – Boruto sugeriu.

– Hinata-san? – com um aceno o loiro confirmou.

– Meio que ela sabe que estamos juntos.

Boruto achou que Sarada faria um escândalo mas a garota deu de ombros, afinal tinha essa suspeita que a mãe do Uzumaki sabia desde que elas tinham se encontrado, um mês atrás, numa loja e a Uzumaki falara que ela e o filho estavam com expressões radiantes ultimamente.

– Ela é bem perceptiva.

– Chega a dar medo ‘ttebasa!

Acertaram os últimos detalhes, antes que pudessem iniciar uma caminhada pela vila. Parariam como de costume em algum lugar para comerem algo, depois caminhariam mais conversando, discutindo, provocando até por fim pararem numa esquina a três casas da de Sarada para namorarem devidamente.

~ ∞ ~

O jantar foi marcado por Hinata que ficou mais que satisfeita em ajudar os jovens. Naruto saiu mais cedo do trabalho deixando Shikamaru e um clone seu no escritório, Sakura trocara de plantão com outra médica e Sasuke arrumara Haru para quando Sakura chegasse não precisasse correr. Boruto passara mais tempo no banheiro que o necessário, ansioso. Sarada por sua vez preservara uma expressão neutra enquanto esperava sua mãe chegar para partirem, sabia que qualquer reação sua poderia desencadear desconfiança e preocupação de seu pai. E de sua mãe.

Boruto estava agitado quando Naruto chegou em casa. Naruto estranhou a atitude do filho que o empurrou para o quarto para se arrumar, com um sorriso Hinata o acompanhou assim que Himawari entrou na sala rindo do nervosismo do irmão. Ela tinha um carinho especial por Sarada, e sabia do relacionamento dos dois antes mesmo que ambos se dessem conta que gostavam um do outro. Seu irmão usava uma camisa preta com mangas longas e uma calça também escura, parecia que estava se preparando para um enterro (o que seria o caso). Quando tudo estava arrumado os Uchiha chegaram, foi Naruto que abriu a porta e recebeu os antigos companheiros e eternos amigos com um grande sorriso.

– Sasuke! Sakura-chan! – os cumprimentou abraçando a Uchiha e trocando um sorriso com o Uchiha.

– Tio Naruto! – Haru gritou se jogando sobre Naruto que o segurou gragalhando, sentia falta desses pulos surpresa.

– Haru, está grande! Ei, Sarada-chan! – o Hokage cumprimentou a futura Hokage com um sorriso a qual a mesma retribuiu.

O sorriso de Naruto era contagiante. Não era como o de Boruto que tinha uma provocação, o do Nanadaime parecia conter uma esperança quente, uma inocência cálida. Depois de todos se acomodarem na sala e Hinata e Sakura irem para a cozinha conversando animadamente, Sasuke e Naruto começaram a conversar sobre missões. Sarada e Boruto trocavam olhares que ficavam mais longos a cada minuto e notando isso Himawari riu cutucando Sarada e iniciando uma conversa. Boruto não prestava atenção sobre o que seu pai e seu sensei falavam, estava observando Sarada. Os cabelos negros caindo sobre seus ombros e costas, o vestido simples escuro deixava a pele alva em evidencia.

Sarada se sentia um tanto incomodado pelo o olhar de Boruto sobre si, parecia queimar sua pele não de forma desconfortável, mas era como se brasas corressem por seu corpo e desejou extingui-las colando seu corpo ao de Boruto. Embora soubesse que isso não extinguiria as chamas, só as tornaria mais intensas, mas aprecia a única maneira. Ficou um pouco aliviada por ser chamada pela mãe para preparar a mesa, mas o nervosismo que se seguiu ao pensar na noticia que daria quase a fez tremer.

Quando todos foram para mesa, Hinata estrategicamente deixou que Boruto e Sarada se sentassem um do lado do outro. E isso os relaxou quando por baixo da mesa Boruto entrelaçou os dedos com os da Uchiha e os apertou buscando algo que naquele momento Sarada parecia ser a única que poderia lhe dar.

Graças ao Nanadaime a conversa foi fluindo até os nervos do casal se acalmarem. Mas na hora da sobremesa já estavam de volta a tensão, e antes que todos comecem Boruto resolveu acabar logo com a aflição dele, de Sarada e de sua mãe. Por isso se levantou de uma vez fazendo as conversas cessarem na mesa de jantar. Posicionou-se estrategicamente, afastando a cadeira para que se precisasse correr, nada o atrapalhasse. Seu oponente naquele momento era Uchiha Sasuke, usuário do sharingan e rinnegan. Tomou fôlego e disse numa voz tensa.

– Eu tenho uma coisa a dizer... – engolindo o medo e respirando profundamente em busca de coragem abriu a boca mas antes que ele dissesse qualquer coisa, Sarada se levantou ao seu lado.

A expressão neutra só era quebrada pelos olhos ônix, que continha um enchurrada de emoções, e as mãos nervosas em sua postura ereta e confiante.

– Nós temos. – a voz de Sarada não tremeu, mas havia ali um medo compreensível da reação de seu pai.

O Uzumaki patriarca inclinou a cabeça para o lado, sem entender. O Uchiha ergueu uma sobrancelha e os olhos verdes se encontraram com os ônix da filha, e Sakura compreendeu tudo.

– Ah! – exclamou a Uchiha, atraindo a atenção do marido e do melhor amigo.

Essa foi a oportunidade de Boruto, que de uma vez lançou a noticia.

– Eu e Sarada estamos juntos, ‘ttbasa!

O Uchiha e o Uzumaki olharam para os filhos em pé. E enquanto a informação era registrada, o silencio apenas foi quebrado pelo o Hokage, uma exclamação alta. Seguida de mais uma animada. Enquanto isso Sasuke mantinha a surpresa em suas faces, que se transformaram em choque e raiva quando Naruto se levantou, juntamente de Sakura e começaram a festejar. Como se Boruto tivesse acabado de anunciar que estava... Estava...

– Moleque! – Sasuke rosnou.