Reviravolta escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 1
Percalço


Notas iniciais do capítulo

Olá! Trago mais uma história para plataforma. O pessoal mais me conhece pelas minhas comédias. Pois bem, Reviravolta é o texto mais dramático que escrevi. Ela foi publicada primeiramente em meu blog pessoal: http://historiagata.blogspot.com.br/ em agosto de 2010.
Espero que você goste. Vamos lá?



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Sim, eu tenho plena consciência do que estou fazendo e acredito que ele também. Não é a primeira vez e tão pouco a última, mas por algum motivo este ato possui um significado especial. Talvez por estarmos em um país distante, em uma cidade com padrões culturais tão diferentes dos nossos e que nos fez ficarmos mais juntos, mais íntimos.

Não consigo raciocinar com as suas mãos firmes e sedentas percorrendo o meu corpo enquanto me mexo acompanhando os movimentos e o ritmo dele. A maciez dos cabelos negros e volumosos, seu sorriso sapeca e seus beijos incessantes me deixam tão inebriada que é quase insuportável o prazer que sinto.

As luzes de neon que entram pela janela parecem curiosas para saberem o que ocorre neste quarto. Em algum canto da mente algo me diz: "esse momento é especial, é para isso que viemos para cá".

E do outro lado do mundo, algo assombroso ocorre...

Para chegarmos até aqui, precisamos voltar no tempo, digamos que um período de mais de um ano...

São Paulo, março, sexta-feira, 7:30 da manhã

Estou a caminho de uma entrevista com uma senhora autora de romances infantojuvenis, vencedora de um prêmio especial de literatura. Ela detesta atrasos, por isso, o meu objetivo é chegar antes do horário previsto, algo que Avenida Pacaembu me impede de fazer. Lotada, não há muitas alternativas, mas com auxílio de um serviço de uma emissora de rádio, descubro um atalho que facilita chegar ao meu destino.

Cruzo a rua com tranquilidade, afinal é a minha preferencial, quando de repente sou pega de surpresa. O meu carro é arrastado com violência e rapidez. A primeira sensação é de pânico. O barulho da freada dos pneus e o estrondo são assustadores. Aos poucos, volto à realidade e sou surpreendida por uma voz masculina que vem da janela do passageiro.

— Você está bem?

A cabeça e o pescoço doem e um zunido insiste no ouvido. E a voz volta a perguntar:

— Você está bem?

Viro a cabeça para janela e aí o vejo: um homem de estatura mediana, cabelos negros e lisos, olhos amendoados, mas com uma expressão tensa e assustada como que esperasse que a minha resposta fosse positiva.

— Acredito que sim - respondo.

— Vou chamar o resgate!

— Não precisa! Olha... vou sair do carro e...

— Moça, não se mexa!! Vou chamar o resgate!!

Nesse momento percebo que se reúnem vários curiosos. Dá para perceber que ele não é o único com celular na mão ligando para a emergência.

Me movimento aos pouquinhos e aparentemente está tudo em ordem. A dor é provavelmente devido ao estresse e susto.

Para a surpresa do homem pulo pela porta do passageiro para fora do carro.

— Moça, a senhora não pode ficar se mexendo assim... vai saber se quebrou algum braço. – me repreende. E ele continua: - Olha, realmente não a vi, estou atrasado para reunião com um cliente importante e entrei sem ver.

— Foi o que percebi. – digo irônica.

— Moça, eu fui errado na história. Vou pagar os estragos.

— É bom mesmo... Caramba, há menos de um mês que comprei o carro!

— Mil desculpas! Olha, vamos fazer um boletim de ocorrência e vou chamar o seguro.

*****

.— Mil perdões... nunca pensei que fosse prejudicar alguém hoje... poxa... não tenho como se desculpar. – e é enésima vez que pede desculpas.

— Bem, essas coisas acontecem. Eu mesmo já cometi deslizes. – confesso. E revelo: - Uma vez, em um dia de chuva, quando voltava de uma entrevista, assustei-me com um motoboy que seguia muito perto do meu carro. Não sei o que me deu, acelerei. Logo à frente, deparei com uma rotatória e não a fiz, acabei me chocando com um veículo de uma mulher que falava ao celular... e o que pior...ainda era aniversário dela.

Ele ri e diz:

— Pelo jeito não sou o único azarado.

— Mas acho que você não reparou um detalhe...

— Qual?

— Acho que má educação não se apresentar. - digo sorrindo timidamente. - Bem, meu nome é Catarina.

— É verdade - responde concordando com a cabeça.

Ele estende a mão e se pronuncia:

— Prazer, ou melhor, não sei se é um prazer, meu nome é Giovanni.

Durante a conversa, ele me conta que é proprietário de uma editora de revistas de saúde e medicina. O cliente importante, o presidente de uma indústria de medicamentos genéricos.

— Você é jornalista? – indago.

— Digamos que sou um jornalista frustrado – me revela com um sorriso amarelo. – Sou um daqueles exemplos onde toda família é preparada para assumir a empresa criada pelo patrono... e como sou o filho mais velho, sobrou a responsabilidade em minhas costas. Formei-me em Administração, mas na verdade, queria ter cursado Jornalismo.

Um tempo depois, com boletim feito, ele entra em contato com a seguradora. Trocamos os telefones. E quando estamos nos despedindo....

— Aceita tomar um café? Comer alguma coisa?

— Não, obrigada!

— Por favor, Catarina. Pelo menos me deixe sentir menos culpado.

— Tudo bem.

*****

Mesmo trabalhando como uma repórter freelancer fixa em uma revista de cultura, as contas continuam chegando e o cartão de crédito prestes a estourar. E com todos esses problemas, procuro mais freelancers para fazer.

Entro em contato com o meu networking para ver se obtenho algum trabalho em reportagens ou mesmo de revisão.

— Olha, Kika, acredito que posso ajudá-la. – me informa Daisy. - Mas é frila na área de farmácia. Você toparia?

— Claro que topo! – respondo sem hesitar.

— Beleza, como está a sua quinta?

— Hum... Lotada! Preciso entregar duas matérias e tenho uma entrevista com um figurão da música.

— Então deixamos para sexta? Vou estar em fechamento, mas fica fria que aviso a Marta que você irá lá. Ela é gente finíssima. Uma das melhores editoras-chefes que já trabalhei.

— Oba, Daisy!! Que horas, então?

— Pode ser às catorze e trinta?

— Combinado! Me passa o endereço!

****

Chego na editora mais cedo do que previsto. Na recepção, sou atendida por uma moça simpática que anuncia a minha chegada à editora-chefe. Sento-me em um sofá macio e logo apanho uma revista para conhecer mais sobre as publicações da empresa, mesmo tendo visitado o site.

Enquanto folheio as páginas, lá está ele, um homem sorridente, com alguns cabelos grisalhos que dão um charme ainda maior à sua figura. Realmente, além de bonito, ele é fotogênico. Giovanni é o presidente da empresa e, por sinal, assina o editorial.

Mas, a minha atenção é atrapalhada pelos barulhos dos saltos de um sapato que tinha um andar persistente e confiante. Levanto meus olhos e vejo uma mulher magra, alta e de cabelos negros e bem lisos. Olhos sorrateiros e ar triunfante. Tão bonita, quanto antipática, bem-maquiada e vestida.

— Onde está a minha correspondência? Você checou que horas sai o meu voo? Ah, sim, por favor, traga água sem gás, e sem gelo! – as ordens são rápidas, uma atrás da outra.

Ela caminha para escada e para antes de subir para dizer:

— E não se esqueça de colocar uma rodela de limão!!

As únicas respostas da recepcionista é “sim, senhora”, “sim, senhora”. E aí ouço:

— Catarina? Sou Marta! Boa-tarde! – e me estende a mão. E continua: - Vamos lá?

A sigo para uma sala onde ela faz uma entrevista. Analisa meus textos, os elogia. E depois ela me propõe:

— Topa fazer algumas matérias urgentes para a revista carro-chefe da empresa?

E respondo sem hesitar:

— Sim!


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Notas finais do capítulo

O conto tem 7 capítulos e será postado aos sábados e quartas. Então a gente se vê na próxima quarta-feira. Beijos e até lá! E por favor, deixe um comentário. É bacana um feed back do público, viu?



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