My Girl. escrita por Dark Lipstick


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Yay! Não tenho muito o que dizer, então apenas desfrutem da leitura!~~



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O aroma doce das flores no jardim invadiam minhas narinas a cada vez que meus pulmões se enchiam de ar. Olhei em volta, vários casais andando de mãos dadas sobre a luz morna do dia, as árvores floridas balançavam deixando pétalas e folhas caídas pelo asfalto que seguia por entre o parque.

Os vendedores ambulantes de Pretzels, Cupcakes, Maçãs do Amor, Pães do Amor, entre outras iguarias, faziam o meu estômago despertar com o cheiro delicioso que estava no ar.

Eu estava ali, sentada no banco de madeira frio ao lado de um grande Ipê Rosa florido, tomando coca-cola e escutando músicas no último volume.

Minhas preocupações e pensamentos estavam longes, bem longe, as batidas rítmicas do Artic Monkeys entravam em meus tímpanos e soavam em meu coração embalando meus batimentos.

O tempo estava perfeito, a atmosfera perfeita, o aroma perfeito, só faltava o sentimento. Aquele sentimento que não pude aproveitar no inverno passado, quando as férias de Junho/Julho chegaram com exatidão, porém, no meu peito o eterno inverno (simbólico) estava impregnado.

Meu natal e ano novo tinha sido desanimador, tenho que admitir que não posso usar “novo” como adjetivo para 2015, pois estava sendo igual a 2014. Porém, algo mínimo havia mudado e estava florescendo pouco a pouco em meu íntimo e meses atrás não pude notar com minha tolice monótona.

Biquínis, praias, hits e sorvetes estranhos criados especialmente para aquele inverno abrasileirado, e claro, tédio. Eu não podia simplesmente sair na rua com um short curto e uma mini-blusa fingindo que sou uma garota “normal” ao sol escaldante de São Paulo.

Durante quase dois meses me mantive trancada em casa apenas observando todas aquelas pessoas na rua com seus sorrisos perfeitos e auto-estima em alta. Não porque eu quis, mas meus problemas respiratórios impediam que eu fizesse qualquer tipo de comunicação cara-a-cara.

Na televisão apenas programações chatas sobre falta d'água, mortes e mais tipos de desgraças que ocorrem no mundo. Musicas nacionais despejavam letras e ritmos mais e mais ridículos, o que me salvava daquele tédio era o meu querido MPB e meu (tão querido) Indie/rock tanto nacional quanto internacional.

Quando o inverno, que parecia mais verão, acabou me senti um pouco aliviada, pois junto com ele se foi também o calor. Porém, as tão não esperada volta às aulas chegaram.

Por um momento tinha me esquecido de tudo o que me fazia acordar cedo e ir para a maldita escola. Era aquele sorriso doce e cativante, seu perfume doce e inconfundível, suas roupas, seu jeito de andar, seu olhar, seus lábios e claro, todo aquele seu jeitinho meigo de falar.

Então, quando coloquei os pés dentro daquela maldita escola só pude enxergar uma coisa, apenas uma pessoa, tudo havia ficado preto e branco, e lá estava ela balançando seus longos cabelos cor-de-rosa, como se o universo estivesse focado apenas em nós naquele momento, pois assim que olhei pra ela, a mesma se virou em minha direção.

Corri na direção da garota brilhante e ela abriu os braços me acolhendo em um abraço. Mergulhei naquele oceano desconhecido qual a costa onde as ondas quebravam era o meu lugar preferido. Em um minuto e meio pude ir aos céus e voltar sem tirar os pés do chão. Como pude ter me esquecido de tal sentimento?

Uma voz masculina, um tanto grossa, quebrou em pedaços aquele momento mágico. Ela logo me soltou e se afastou de um modo desgostoso, ainda podia sentir aquele calor aconchegante em meu corpo.

Olhei na direção da voz e lá estava um cara vestido com uma touca preta e um cabelo ridículo. Ele havia agarrado no braço dela e parecia que não soltaria por nada, pude notar a expressão de dor no rosto dela então logo me pronunciei.

—Quem é, Annie?

O indivíduo, sem nem deixá-la falar, respondeu ríspido como se minha presença o incomodasse.

—Sou o namorado dela, por quê?

Meu coração parou no momento e um frio congelante se estabeleceu em minha espinha. Namorado? Olhei para ela e a mesma expressão desconfortante permanecia em sua face rosada.

—Annie, desde quando? Porquê não me contou?

Ela gesticulou um pouco e olhou para ele como se pedisse permissão para se pronunciar.

—Nicky… Desde abril… Eu iria te falar… —antes mesmo que ela terminasse ele a puxa com força em direção ao grupinho estúpido dele.

Eu estava ali paralisada, não com o fato em si de que minha melhor amiga durante dez anos da minha vida estava namorando a cinco meses e não havia me dito absolutamente nada, mas sim pelo fato de que o cara com qual ela estava namorando é um completo estúpido.

Havia tantas perguntas que eu queria fazer, tantas coisas que eu queria contar, tantos sentimentos que eu não compreendia e aquela sensação de que eu já tinha visto aquele cara martelava na minha mente… O sinal da entrada soou então cortando minha linha de pensamentos. Olhei novamente para Annie, ela estava de cabeça baixa com a mão no braço onde ele havia apertado, enquanto o otário gargalhava alto na rodinha.

Cerrei os meus punhos e subi as escadas em um ritmo rápido empurrando todos que estavam em minha frente. Ana Carolina, mais conhecida por Annie, é uma garota muito frágil e sensível, por anos tive que pensar duas vezes antes de fazer algo ou dizer para não correr o risco de magoá-la ou machucá-la. Agora ela está andando com um brutamonte cheio de marra.

Me sentei na minha habitual carteira no canto isolado da sala, na área dos nerds. Preferi ali do que no fundão onde só há funkeiros que não estão nem ai com a vida. Annie me acompanhou nessa escolha também, então a quase dois anos estamos sentadas uma ao lado da outra com vista privilegiada da lousa.

Joguei minha mochila na carteira vazia atrás da minha e observei a porta. Lá estava o otário gritando com ela, então tive um dejavú. Logo que Annie me vê, abaixa a cabeça e puxa seu braço na mão do cara e entra na sala de cabeça baixa.

—Annie? —a chamei e não obtive resposta então percebi que ela estava chorando. —Ana Carolina!

Me levantei assustada e me abaixei ao lado da mesa dela colocando minhas mãos em seus cabelos tingidos.

—Hey… me diz o que está havendo… —sussurrei enquanto fazia cafuné.

Ela então levantou a cabeça e me olhou com a maquiagem levemente borrada. Estava soluçando como nunca.

—Me desculpe, Nicky… Ele não quer que a gente se fale mais… —ela soluça e desaba novamente.

Quase automaticamente me levantei e a puxei para os meus braços, eu estava perplexa e confusa. Ele não podia fazer isso, ele não tinha o direito!

—Annie… Calma. Não vou deixar ele fazer isso! —a abracei mais fortemente como se pudesse conter suas lágrimas com meu calor. —Vem… vamos matar essa primeira aula, você não tá legal.

Levantei o seu rosto e limpei suas lágrimas, ela sorriu bem fracamente e assentiu. Peguei minha bolsa e a dela indo em direção a saída da escola de mãos dadas com ela.

Ao chegar ao portão o empurrei de vagar ao notar que a inspetora estava fumando sua erva matinal, com certeza nem notaria se alguém saísse.

Sorri e peguei meu skate “escondido” em um buraco no muro da lateral da escola, entre alguns matos e arbustos altos.

—Ainda sabe onde está o seu? —perguntei subindo em cima do meu esperando a resposta da garota colorida.

—Claro! —ela sorri do seu jeito especial e pula o suporte de cimento onde ficava o relógio de água da escola, então quando volta apresenta seu lindo skate rabiscado e um tanto velho, igual ao meu. —Vamos?

Sorrio e já começo a pegar velocidade. Aquela sensação de liberdade estava tomando conta de mim como o fogo consome a madeira. Annie estava sorrindo, como eu havia previsto, nada a faz sorrir do que uma ladeira extensa e um skate.

Ainda não havia entendido aquilo tudo, aquela sensação efervescente no começo e a fúria, depois um estalo forte e angustia, agora estava feliz e totalmente liberta de qualquer sentimento ruim. Ela parecia se sentir da mesma forma, notei que alguns momentos no percurso ela fechou os olhos e abriu bem os braços como se a qualquer momento ela pudesse criar asas e voar alto, bem alto, pra longe de tudo de ruim.

Cinco minutos depois estávamos nós duas ofegantes sentadas no banco de madeira do parque “esquecido” naquela época do ano, todos estavam trabalhando ou em suas escolas. Tínhamos tudo aquilo em nossas mãos.

—Deita aqui. —coloco minha bolsa no espaço vazio do meu lado e bato duas vezes no meu colo, ela sorri e suspira se deitando me olhando com aqueles seus lindos olhos castanhos. —O que fez nestas férias?

Ela pensou um pouco fazendo aquele seu bico fofo e então respondeu.

—Fui à praia, comi muito churrasco, —ela riu ao ver minha expressão de “eca, que nojo, carne” e suspirou completando com desanimo. —fui muitas vezes arrastada pelo Richard a lugares estranhos.

Minha cara fechou na hora ao ouvir o nome do sujeito. Na minha mente se passou milhões de situações qual Annie deveria ter passado por causa desse imbecil.

—Hum… —revirei os olhos.

Ela riu e colocou as suas mãos no meu rosto gelado o acariciando.

—Está com ciúmes, Nicolly Silva? —ela levanta uma sobrancelha sorrindo.

Novamente um grande estalo corre pelo meu corpo e sinto minhas bochechas corarem com um sorriso. Aquilo era ciúmes? Não, não podia ser. Não olhava Annie com aqueles olhos, ou olhava?

Sim, de fato sempre notei muito nela, seus cortes de cabelo, suas roupas, seu corpo… Mas nunca com esse tom de malícia, não que tenha percebido. Annie sempre me deixava com vergonha facilmente e despertava sentimentos quentes dentro de mim.

—Não… —menti sem pensar duas vezes. —Claro que não!

Senti o clima mudar entre nós, uma ponta de decepção talvez? Logo completei.

—Quero dizer… Não admito que você saia por ai com outras pessoas e se divirta mais do que se divertiria comigo. —disse sorrindo.

Ela então sorriu comigo levantando o astral novamente.

—Claro que não me diverti, moça. —Annie diz em um tom tão sincero que chegou a me assustar. —Impossível se divertir com aquele cara.

Um lapso de memória vem a minha mente. Richard… Aquele cara sempre aparecia do nada e a puxava pra longe de mim nos meses passados, como nunca tinha relacionado essas coisas?! Ele sempre me quis longe dela, sempre me impedia de se divertir com ela, ora jogava coisas em mim, ora gritava ela no meio do pátio chamando a atenção de todos.

—Annie… Eu tenho que te dizer uma coisa… —digo com um sorriso triste então ela entende que o assunto é sério e se senta.

Eu respiro fundo a ponto de confessar tudo o que estava sentindo naquele momento. Coloco minhas mãos em seu rosto e sorrio me aproximando.

—Eu senti muito a sua falta… —dei uma pausa a olhando nos olhos. —Annie… eu realmente sinto algo por você…

Antes que eu pudesse dizer algo mais, vejo Annie ser puxada pelos cabelos por Richard. Meu coração acelera e a adrenalina corre pelas minhas veias.

Olho para o chão e a primeira coisa que eu vejo é meu skate, o pego e me viro em direção a Richard. Quando noto que o mesmo está de costas para mim bato com o skate o mais forte o possível na cabeça do mesmo o fazendo cair no chão.

Em um reflexo, quando o mesmo cai no chão, começo a esmurrá-lo com toda a minha força despejando todo o ódio e fúria sobre o tal garoto. Todos os pensamentos ruins que tive ao pensar que a minha garota estava se deitando com esse cara, todas as situações constrangedoras que o mesmo já a fez passar, todas as vezes que ele ousou encostar suas mãos podres no seu corpo. Todos os anos que passei ao seu lado e não tinha notado nada, tinha sido uma completa idiota, meus sentimentos eram diferentes a de uma amiga, despejei o ódio que estava sentindo de mim mesma em Richard.

Annie segura as minhas mãos e então eu saio daquele transe notando que o mesmo estava desmaiado com o rosto desfigurado.

—Nicky!! —ela me envolve em seus braços com lágrimas escorrendo sem sessar.

Aos prantos, digo em voz alta segurando seus rosto com minhas mãos sujas de sangue.

—Annie… —eu soluço sorrindo enquanto as lágrimas não paravam de rolar. —Eu te amo! Eu te amo, Annie! Te amo, te amo!

Repito várias vezes enquanto tentava recuperar meu folego, então a garota sorri e me beija intensamente. Naquele momento tudo havia parado novamente e quase pude ouvir uma trilha sonora rolar ao fundo. Meu corpo estremeceu e depois de quase cinquenta segundos separamos nossos lábios e ela se pronunciou sessando o choro.

—Também te amo, Nicky! Te amo muito… —ela ri e me beija novamente agora um beijo pra valer unindo os nossos universos que antes estavam separados por um único fio.

Olhei no meu celular, quatro da tarde, a qualquer momento ela chegaria. Tirei meus fones deixando o barulho dos passos calmos dos casais, dos vendedores anunciando seus produtos, das folhas balançando ao vento e os poucos animais que disputavam espaço com as pessoas invadirem meus tímpanos me trazendo de volta a realidade. Me levantei ajeitando minha blusa e então notei que Annie estava chegando com seus longos cabelos rosa pastel balançarem no ar e seu sorriso misterioso atraindo atenção.

—Vamos, meu amor? —ela me dá um selinho e pega na minha mão.

—Vamos. —sorri ignorando todos aqueles olhares negativos e repulsivos em nossa direção, nosso amor vale mais do que qualquer critica popular, nosso amor depende apenas de nós e nada pode nos separar enquanto tivermos em mente que tudo o que importa é a nossa felicidade.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Comentem ai o que acharam e se verem algum erro me contatem, please! Obrigada por terem lido ♥ ♥



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