A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 63
Um dia após o outro | A Escolha


Notas iniciais do capítulo

Gente, qusse três anos mas eu voltei. E isso por slguns motivos, mas o principal foi o novo filme de Jogos Vorazes, me emocionei tanto. Assisti Em Chamas com 13 anos, e há 10 anos eu também fiz essa conta aqui no Nyah!, que saudade. Assisti dia 15/11, saí da minha cidade e peguei um ônibus de 21 reais pra Niterói só para assistir na pré-estreia e garantir o combo com pôster, copo e broche, me emocionei tanto. Não parava de chorar até em cenas horríveis de luta. Também assisti, no dia 13/11, no telão do cinema, o primeiro filme de Jogos Vorazes, no UCI! Também me emocionei numa sala horrível do Norte Shopping kkkkkkkkkkk

Quero que saibam que eu nunca parei de escrever. Nunca. Na verdade, criei outras histórias, mas não achei que nenhuma estava suficientemente boa pra vir aqui e contar o resto para vocês, eu peço desculpas.

Hoje eu tenho 23 anos (quase 24), e sou uma pessoa absurdamente diferente de quando tinha 15, que foi quando comecei a escrever e postar essa aqui. Fracassei muito. Tantas coisas aconteceram. No último capítulo que postei, no meu aniversário de 21, eu dizia que tinha borderline, que mentira kkkkkkkk a psiquiatra na primeira consulta me diagnosticou, e isso é errado e antiético. Eu tenho depressão severa e algumas crises de pânico e ansiedade, apenas, e isso me deixou muito travada de vir aqui. Não tenho condições de arcar financeiramente com o tratamento, então eu tento sobreviver como dá, com algumas tentativas que infelizmente não deram certo nesses últimos tempos. A mais recente tentativa não tem dois meses. Esse natal foi difícil, perdi dois dos meus três cachorros, e os que eu perdi, o mais velho tinha 13 e o mais novo ainda ia fazer 10. Tem sido muito difícil.

Bem, hoje venho publicar os capítulos que ficaram faltando e dar o devido encerramento que esse casal merece (estou planejando ir postando até a virada do ano). Eu amo tanto vocês. Eu amo tanto Jogos Vorazes. Às vezes acho que essas são as únicas coisas que eu realmente amo nessa vida, mais do que qualquer hobbie e pessoa. Investi os últimos 5 anos e meio em uma graduação que me faz profundamente infeliz, não tive um relacionamento amoroso durante toda minha vida e não tenho um emprego. Achava que era especial, mas na escola que fiz estágio nem meus alunos sabem meu nome, ainda que eu tenha me esforçado TANTO, e colocado tudo de mim em algo que eu nem gostava, apenas para tornar o dia deles mais fácil.

Sou responsável por cuidar da minha mãe, que se tornou inválida em 2020 (essa realmente tem bipolaridade e depressão severa recorrente com psicose, e esse mês ela teve um princípio de infarto), e é muito triste como as coisas saem do nosso controle às vezes, sabe? Minha irmã caçula conseguiu um jovem aprendiz; e eu acho incrível. Mas então todo o resto de funções na casa e na vida ficaram ainda mais nas minhas costas, já que ela nunca me ajudou muito com isso e nem faz questão. Daí tenho que escutar alguns desaforos. Tenho estado muito triste. Ajudei a fazer os doces da ceia de natal, ceiei, chorei e vim para o meu canto no quarto da minha mãe (que é onde eu tenho que dormir agora, pela saúde dela e não termos ar condicionado, então fico molhando ela de noite) para publicar esses capítulos.

A única coisa que eu verdadeiramente gosto é escrever. Eu amo escrever, me comunicar. Quando eu falo em casa, reclamam que eu estou falando demais, que eu reclamo demais. Mas não é por mal. Sinto que também incomodo meus amigos e as pessoas ao meu redor, o que me deixa tão triste também. Todos estão seguindo em frente mas eu fiquei por aqui, igual a garota de Right Where You Left Me, da Taylor Swift. Por isso que gosto mais de escrever. Não tenho qualquer esperança no meu futuro, não consigo construir nada, porque fico muito triste, e por outros motivos, mas escrever me deixa menos infeliz. Mesmo com nenhum comentário nesses capítulos, eu ainda me realizo.

Obrigada por tudo, espero que vocês gostem



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Eu faço o que todos eles ao seu redor têm medo de fazer, eu não estou
Enquanto você estiver se virando por mim, eu tenho isso
Mobbin', schemin', lootin', escondendo corpos
Enquanto você estiver sonhando comigo, não há problema
Eu não tenho ninguém, só com você agora

Diga a verdade, eu fico melhor sob você

Eu não posso perder quando estou com você

Como posso cochilar e perder o momento?
Você é simplesmente muito importante
Ninguém faz o corpo como você faz
Eu não posso perder quando estou com você
Eu não posso apenas cochilar e perder o momento
Você é simplesmente muito importante
Ninguém faz o corpo como você faz, você faz

— Snooze (REMIX) Feat. Justin Bieber, SZA

NOTA: Peeta e Katniss tem a mesma idade. Quando a Seleção começou, ambos tinham 18 anos, eu - autora -, dei uma enlouquecida nos últimos capítulos. Bem, daqui em diante vocês sabem: agora se passa alguns anos no futuro, eles estão com 25/26. 

Tiro a bola da mão de Stuart e o acerto jogando em cheio na sua testa. Ele cai para trás em um barulho mudo.  

— Qual é o seu problema, Peeta?! — grita, caído. Lhe dou um chute na coxa e me afasto, o encarando se levantar.

— É verdade que você colocou a Prim para chorar? Seu idiota — ele suspira, negando. — O que foi que aconteceu? Acha que vou jogar basquete com você e agir como se não tivesse visto a minha cunhada chorar por três horas murmurando seu nome e contando as coisas para Katniss?

— Eu já tenho 22 anos, Peeta! A Prim tem 20! Você não precisa ficar se metendo, sabe? Nem você e nem a Katniss! — joga a bola pra mim, tentando me acertar, mas eu consigo segurar. — Eu pedi ela em casamento, e ela negou. Quem está triste aqui sou eu!

A notícia me pega de surpresa. De surpresa mesmo. Embora eu já soubesse que eles namoram há… sei lá, desde que Prim tem 16? Acho que é isso. Faz um bom tempo. Sei que ela o fez deixar as coisas em Angeles e ir morar com ela em Londres, no ano passado, e estão morando na mesma casa desde então. 

Na minha época, não poderíamos fazer isso. Tudo era um escândalo. Mas os irmãos mais novos sempre podem fazer de tudo. Que saco, e tudo me cabe resolver.  

— Mas por que diabos ela recusaria, seu idiota? Você não largou tudo aqui para ficar com ela? — dá de ombros, em um suspiro. Às vezes eu me sinto um pouco sobrecarregado quando estou com ele, porque nossas semelhanças aumentaram na medida que ficamos mais velhos. 

Hoje o que nos diferencia fisicamente mesmo é o corte de cabelo mais arrumado que eu preciso ter por causa do cargo, meus olhos azuis e sardas, também sou um pouco mais alto. Ele anda com o cabelo bagunçado, olhos esverdeados e sem sardas. Até o porte físico temos parecido. Mas as semelhanças acabam aí.  

Stuart é um homem agora, comunicativo,  extrovertido, expansivo da melhor maneira, e um engenheiro mecânico renomado. Em Angeles ou em Londres, ele brilha entre os melhores, graças aos recursos de ser irmão do rei consorte de Panem. 

— Eu marquei essa conversa e jogo com você por ter em mente a expectativa que você já saberia de alguma coisa.  

Nego, um pouco chocado. Eu até me incomodo com a forma como eles conduziram o relacionamento deles. O aconselhei não irem morar juntos no ano passado. Até Amélia que não se envolve mais nos dramas dos nossos irmãos mais novos pediu para ele não fazer isso também. 

— Ela só chora. Faz um tempo — respondi, pensando que fui injusto com ele. Realmente eu fui. Conheço Prim muito bem, mas conheço meu irmão muito melhor. — Achei que você tinha dado um pé na bunda dela.  

Suspira, e se senta no banco, parecendo cansado. Fico em pé na frente dele, esperando que desenvolva o tópico. 

— A gente estava bem… estamos bem. Eu não sei a razão pra ela negar meu pedido, sempre conversamos sobre tudo. Somos melhores amigos.  E ela surtou, começou a chorar e saiu do nosso quarto. O resto é história. Algum conselho, depois de já ter acabado comigo? 

— Claro que não sei o que dizer. Mulher faz isso uma vez e outra mesmo — ele suspira, parecendo muito triste e cansado. — Vai lá, tenta falar com ela. Uma hora vai ter alguma resposta. 

(…) 

Katniss tenta jogar três maçãs para cima, intercalando cada uma delas, mas uma acerta em cheio sua testa, fazendo um perfeito “tuc” e eu rio de bruços na mesa de jantar, até ficar quente e suado, ainda que estejamos entrando no inverno e o palácio esteja frio.

Ela acaba rindo junto, e me dando um empurrão, mas só me faz rir mais dessa idiotice. Os dois guardas que estavam de frente para a cena começam a rir também. 

— Imagina no dia que tivermos filhos, você vai ficar rindo deles começando a andar? — Assinto, tirando lágrimas dos olhos, e a olhando com um sorriso enorme e sincero. Sua testa está vermelha, assim como suas bochechas suadas por causa da risada que dividimos agora, mas não acho que vai ficar algum hematoma. — Você vai ser um pai terrível, Peeta. 

— Mas muito engraçado. Olha eu te ajudando colocando minha taça na sua testa vermelha. Não sou tão ruim assim — afasto a taça quando trazem um saco de gelo, agradeço e seguro por ela em sua testa. Ela está muito bonita, com apenas uma leve maquiagem. Passamos o dia no quarto, deixando que Prim e Stuart resolvessem seus problemas. Amanhã temos trabalho apenas pela tarde, o que significa que Amélia em breve chega com meus sobrinhos.  

Estamos tentando ter um bebê, há um tempo. Temos que lidar com exames constantes, cobranças e coisas chatas, mas estamos lidando relativamente bem. Algumas vezes é mais difícil. Amélia teve gêmeos, um ano depois de casar — e ela se casou um pouco menos de 8 meses depois que eu me casei –, Stacey teve Jane há dois anos, e Amanda teve Annabeth há apenas 3 semanas.  

Temos tentado encarar os sobrinhos como uma forma de cuidarmos de crianças e irmos treinando, nos acostumando. Amélia pediu a noite livre para curtir com Dean, e demos prontamente. Sky e Angelo são o segundo melhor par de gêmeos, perdendo apenas para eu e ela mesma. Com seus quase 7 anos, conseguem nos assustar com muita coisa, mas tem ficado mais divertido. 

Nunca houve uma perda gestacional para nós, ao menos não sabemos. Estamos tentando há quase 4 anos. Não é fácil aceitar, mas nós vamos tentando. Os médicos explicaram que geneticamente, não temos problemas, e que embora pareça simples, engravidar não é tão descomplicado assim. Acredito que estamos sempre melhorando como pessoas, e quando chegar a hora, seremos os melhores pais que pudermos ser. Não falamos na possibilidade de não acontecer um dia. 

— Acho que já melhorou. Pode deixar — ela diz, no seu tom suave de sempre. — Obrigada. 

Agradece, quando deixo a bolsa na mesa, e terminamos a sobremesa. Ela ri quando coloco um dos pés na cadeira que estou sentado, e amasso todo o pedaço de torta de limão no prato para comer. Desmonto todos os pratos que posso quando estamos sozinhos, só para me sentir um pouco normal. Não aceito comermos de coroas quando estamos a sós também. 

Quando estamos terminando, somos avisados por um guarda que meus sobrinhos chegaram. Amélia deve tê-los deixado na recepção e desaparecido, como sempre faz. Isso sempre me faz rir, porque eles até se comportam bem para duas crianças. São relativamente mimados, por serem os primeiros netos do meu pai, os primeiros sobrinhos da família, porém minha irmã os coloca no lugar deles. Como tio, me sinto na obrigação de desfazer uma parte de seus avanços todas vezes que os vejo. 

Os olhos de Katniss brilham quando Sky se joga em seus braços. As duas são próximas, e ela cumpre as vontades da menina com apenas um estalar de dedos. Sky disse que de todas as tias, ela é sua favorita, o que deixou Amanda com muita indignação, por dar todos os doces que eles pedem. Angelo é um pouco mais discreto que a irmã, preferindo dar um breve abraço em nós dois e pedir logo para assistir um filme na sala enorme de cinema. Já sei de cor o nome de vários personagens, enredos de filmes infantis.  

Por estar de noite, na metade do filme, com um balde enorme de pipoca já vazio no colo. Os dois se parecem com Dean, mas digo para Amélia que são idênticos a ela — Sky ao menos tem boa parte de sua personalidade, e o jeito que faz as coisas. Um dia, quando eu tiver meus filhos, espero que realmente se pareçam com Katniss. 

Não falo muito a respeito diretamente, para não pressioná-la. Sei que a maior cobrança é sempre em cima dela. Qualquer erro que eu cometa — e são muitos, ainda que me esforce muito —, volta para ela em perguntas agressivas sobre sua capacidade de governar e tomar as melhores decisões para Panem. Sendo assim, tudo o que posso fazer para evitar ser um problema, eu evito. 

Olho para o lado e ela está com Sky agarrada em seu colo, dormindo serenamente. Katniss assiste o filme com um sorriso no rosto, então percebe que estou encarando com um pequeno sorriso e admiração, o que a faz rir. 

— Eu amo você — digo, baixo, tocando seu rosto e deslizando o polegar. Amo mais do que quando nos casamos. Amo hoje menos do que no futuro.  

— Cale a boca, seu idiota — murmura com um sorriso, abraçando Sky, que nem se mexe, apenas suspira profundamente. — Acha melhor eles dormirem aqui? 

Olho de novo para Angelo, que é um bagunceiro silencioso. Embora tenham um quarto que dividam de frente para o nosso, raramente dormem lá, preferem ficar conosco. Se eu der um passo falso, embora consiga carregá-lo sem problemas para o quarto, ele ficará acordado até 20 minutos antes de Amélia chegar. 

— Aqui a gente consegue deitar eles com cuidado — sussurro e ela assente. Abaixo o volume da TV aos poucos, até desligar. Tiro o balde das mãos de Angelo e limpo suas mãos com lenços umedecidos que Katniss sempre lembra de ter por perto. O acomodo melhor no sofá, então peço para dois guardas trazerem um colchão para cá. Avisei que mesmo depois que meus sobrinhos forem embora, quero deixar aqui justamente por ocasiões como essa. 

Tiro Sky do colo de Katniss, e a menina se enrosca em mim como se eu fosse um tanque de oxigênio. Temos que segurar uma boa risada disso. Acho que ela tira uma foto e manda para Amélia. Quando deito a menina, ela se enrosca no travesseiro, e fica com o rosto virado para o sofá, onde seu irmão está. Solta um suspiro fundo e longo, e mais uma vez damos uma risada silenciosa. É sempre engraçado olhar eles.  

Deito com Katniss no colchão enorme que trouxeram, já todo equipado com lençóis e edredons, dando um bom espaço de distância de Sky. Ela coloca uma perna entre as minhas e deita a cabeça no meu braço, com um olhar esperto. Seus olhos cinzentos brilham quando estão iluminados apenas pela luz de led azul nas laterais da sala de cinema do palácio. 

— Você sabe a razão de Prim ter negado o pedido de Stuart? — pergunta, bem baixinho. Nego, fazendo um carinho casto em suas costas, cobertas por um grosso suéter marrom escuro, já que estamos no inverno e a sala de cinema é muito gelada. 

— Ela achou que estava grávida, e deu um pequeno surto — fico boquiaberto s ela ri, se virando um pouco para cima, encarando o teto, depois me olha. — Eles já se acertaram. Foi só um alarme super falso, estão ótimos agora. E ela aceitou. 

Rio, e ela se aproxima mais de mim, mas de uma forma não-indecente, pois somos dois adultos de bom-senso e caráter. Seu rosto está mais adulto agora, assim como o meu, mas ela está linda. Perdeu o semblante de adolescente, mas está com um ar jovem. Morar longe de seu pai e sua irmã tiveram um efeito bem mais positivo do que pareceu que seria, a princípio. Ela tem feito as próprias decisões, mudou alguns gostos. Tomei um susto quando a vi trocar várias roupas do armário, sob a alegação de que não se identificava mais. Às quartas-feiras nós dois usamos calça jeans. Ela mudou alguns gostos do que comia, e até como ocupava seu tempo nas horas vagas. Acho que me assustei com medo que eu fosse ser descartado por ela no meio de tantas mudanças, e isso me fez sentir inseguro, o auge foi quando há dois anos atrás ela cortou o cabelo ondulado na altura do queixo. Mas com sua confiança em dia, assim como acompanhamento psicológico de verdade, tivemos boas conversas. Permanecemos juntos, e até mais fortes e unidos do que antes. 

Sempre gostei de seu pai e Prim, porém ela vivia para agradá-los, inconscientemente, principalmente por conta do que aconteceu com sua mãe. Ela decidiu não falar sobre quem deu o tiro final, e eu nunca comentei a respeito por saber que não é a minha história para contar.

 Katniss sente que já deveria ser mãe nessa altura, porém não verbaliza muito sobre isso. Há alguns meses ela me disse, depois que cuidamos de Sky e Angelo em uma noite como essa, que acha que ainda tem muito o que aprender mesmo, e que a possibilidade de gerar ainda a assusta muito. Eu entendi, porque também fico com medo, na mesma proporção que gostaria que acontecesse. 

Não temos tabela, além de tentar quando estamos com vontade, pois a médica disse que colocar muitas expectativas é ruim e pode gerar outros problemas. Acho que a maior crise que ela teve foi quando Delly engravidou, bem no início do nosso segundo ano oficialmente tentando. 

Minha amiga guardou por um tempo, até estar de cinco meses e não poder esconder. Sei que foi por zelo à saúde de Katniss. Minha esposa chorou muito, por uns quatro dias. Eu só consegui animá-la de novo quando Nicolau foi nos visitar, trazendo seu filho recém-nascido junto. É estranho ver todos seus amigos tendo filhos em uma idade parecida, porque faz parecer que você é fracassado. Mas quando estamos juntos, meus dedos se enlaçam com os dela e eu sinto que somos maiores que todas as outras incertezas. Eu caio no sono, mas sei que estou bem. 

(…)  

Abro meus olhos devagar, sentindo algo quente na minha barriga e quadril, embaixo dessa região. Katniss não está do meu lado, mas um tufo de cabelo cacheado escuro. Sky. 

 Estou encharcado de xixi da minha sobrinha, que está agarrada em mim, e o short molhado. Isso é tão engraçado que eu começo a rir sinceramente, botando uma mão na testa. A menina acorda no susto, o rosto marcado com os fios de cabelo, e quando percebe, faz careta de choro.

 — Desculpa, tio Peeta… — eu me sento (todo molhado mesmo), e a olho com muita tranquilidade. 

— Está tudo bem, meu anjo, sua mãe fez xixi em mim até… os 12 anos, eu acho — ela segue com um bico de choro, mas pisca algumas vezes e as lágrimas somem. É verdade, Amélia fez xixi na cama por um bom tempo. 

— Minha mãe? — assinto, realmente despreocupado. — Que mentira! Ela disse que era você! 

Isso me faz rir de novo. Eu amo ficar com crianças. Mas estar com meus sobrinhos é algo mais divertido, porque posso entregar meus irmãos. 

— Ben nunca te contou que ele fez cocô enquanto dormia? Aos quatro anos de idade. Graças a Deus ele estava dormindo com Amanda. Pode perguntar — ela desfaz a careta e deu uma risadinha banguela. Ela é muito bonita, e herdou os olhos castanhos claros de Amélia. Acho surpreendente que nenhum sobrinho meu tenha olhos azuis ainda. — Cadê sua tia Katnip? 

Pergunto com o apelido que ela e Angelo acabaram dando para minha esposa, pois olho em volta e não encontro nenhum dos dois. A menina dá de ombros. 

— Vem, vou te colocar no banheiro, você troca de roupa, enquanto eu tento achá-los, tudo bem? — assente, em um bocejo. Pede colo, e eu dou de bom-grado. Ela deita a cabeça no meu ombro, e passa as pernas curtas pela minha barriga, me abraçando. Nunca vi uma pessoa tão fisicamente afetuosa como essa garotinha. 

Cubro suas costas com uma manta seca que estava dobrada, embora seja normal de vez em quando crianças dessa idade fazerem xixi. Não me importo com minha roupa, porque ninguém ousaria fazer qualquer comentário. Quando abro a porta do quarto designado para eles, acabo encontrando Katniss sentada na cama de Angelo, enquanto escuto o menino cantar alto no banheiro. 

— Finalmente vocês acordaram! Dois preguiçosos! — Ela brinca e Sky dá um gritinho, animada, e pula na cama para abraçar a tia, que a agarra com beijos e abraços. Percebo que ela percebe que ela está com xixi, porém não comenta, mesmo quando a menina se senta em seu colo. Katniss acabou de sair de um banho, está com roupas mogno, é literalmente rainha de um país enorme, porém não se incomoda com uma criança mijada em seus braços contando sobre um sonho sem pé nem cabeça que teve agora pouco. 

Ela é o amor da minha vida. Quero todos os filhos que ela quiser ter. Eu beijaria o chão que ela pisa se me pedisse. Todo santo dia. 

Ainda que houver a possibilidade de nunca termos filhos, ela seguirá sendo o amor da minha vida, e eu vou continuar louvando aos céus, à Deus, por ela simplesmente existir, e sua única versão ser minha. 

— Angelo, vamos, saia logo para sua irmã tomar banho! — eu digo, abrindo um pouco a porta do banheiro decorado exclusivamente para os dois. 

— Pode deixarrrr, tio! — força seu sotaque sulista e me faz segurar uma risada. — Acabei! 

Ele se veste no banheiro mesmo, e quando sai, Katniss entra com Sky. Elas conversam, e dou privacidade. 

— Vou tomar meu banho no meu quarto, você fique bem comportado aí, garoto — digo para Angelo, que mostra todos os dentes brancos e pequenos. Ele definitivamente não vai se comportar. — Anda, passa. Você vai ficar esperando no meu quarto. Conheço essa cara de maluco. 

Ele finge estar chateado, então eu o jogo pelos meus ombros e ele grita dando risada, segurando um caminhão de brinquedo. Deixo que ele mexa nas minhas coisas de jardinagem no meu quarto, porque sei que não tem nada afiado e que ele possa se machucar. Meu banho é rápido, e escolho uma blusa de manga longa, com uma boa calça jeans clara. Deixo meu cabelo sem penteado, e até o bagunço depois que me arrumo. Vou pedir para ficar de folga até amanhã, não quero saber. 

Quando volto, sorrio vendo Angelo fazer carinho em uma pétala da pequena roseira que tenho na varanda do quarto. 

— Vamos, fique bem bonita para eu comer as suas pétalas — escuto ele sussurrando alto, porque não sabe sussurrar de verdade ainda.  

— Vai fazer o que com as minhas flores? — ele toma um susto, mas começa a rir e descaradamente arranca um bocado e bota na boca. — MEU DEUS, ANGELO! 

Grito ficando desesperado, correndo até ele, abrindo sua boca, mas ele continua rindo, e mastigando, até mordendo meu dedo com força. Não parece machucado. Quem saiu ferido fui eu.

 — Você ficou doido?! — Nega, e se estica para pegar mais, porém o afasto e dou um empurrãozinho nele. A vontade que eu tenho é de acertar um tapa, pelo susto que ele me deu.

 

— Tia Katnip diz que gosta de comer — bufo, lembrando que eu quem ensinei ela, e ela ensinou a eles. — Estou comendo há muito mais tempo. Por isso essa não cresce. 

Eu fico com a mão na cintura, encarando a miniatura do meu cunhado. O garoto é muito espertinho.  

— Anda, vai, vai, passa para tomar café. Eu não sei nem o que te dizer agora, vou contar para a sua mãe. 

Ele dá de ombros, completamente nem aí para mim, e sai andando. Encaro o vazio, como se quebrasse a quarta parede.  

… 

O café acaba sendo no chão do quarto de Katniss, jogamos travesseiros ao redor das três bandejas que trouxeram. Os dois brigam o tempo todo, e se dão bem ao mesmo tempo. Eu e Katniss passamos nervosos diferentes, quando derrubam o suco e depois o suporte com cupcakes, mas conseguimos limpar se dar trabalho para os novos contratados do palácio.  

Depois, os levo para a estufa, e ficamos plantando pequenas mudas do lado de fora da mesma, como sempre faço quando vem aqui. Ao final, já estão sujos e cansados, embora muito felizes. Quando Amélia me avisa que está vindo, supervisiono de longe o banho dos dois, enquanto Katniss precisou resolver algumas coisas de última hora e conseguir só essa noite livre para nós dois. 

Sky dorme em meu colo, depois que fiz uma trança embutida em seus cabelos cacheados como de Amanda, enquanto Angelo veste a jaqueta que Katniss deu de presente hoje mais cedo. Fico me sentindo triste quando me levanto com ela no colo, e um guarda auxilia com a bolsa deles, já que Angelo pega na minha mão que não mantém Sky ancorada em minha cintura. 

Katniss chega quando estou esperando o elevador, e Angelo me descarta em um empurrão para pedir carona nos braços dela, que ri, o segurando com os antebraços, como se ele fosse um bebezinho. Mas logo o solta, porque ele é um pouco mais pesado que Sky mesmo.  

— Consegui o resto da tarde pra gente. Demos muita sorte — sorrio, concordando. — Eles deram trabalho? 

— Eu comi um monte de frutinha diferente lá na estufa, e ainda tem terra embaixo dos meus dedos. Olha, tia — Katniss ri, junto comigo. Realmente, os dedos dele ainda estão um pouco sujos. Já cansei de ensinar como se limpa os dedos depois de ficar mexendo com jardinagem. 

Ela tira uma lixa de unha do bolso do vestido e se abaixa para ficar na altura dele. Delicadamente tira a sujeira, e ele sorri, agradecendo. É uma cena muito simples, muito comum, mas é extraordinária também. 

Dean está rodando Amélia, e meu pai está sentado assistindo, balançando a cabeça negativamente, enquanto Ben (ainda me assusto que ele tenha quase a mesma idade de Stuart quando me casei com Katniss) dança sozinho numa valsa imaginária, murmurando alto uma música. Angelo vai correndo, e Dean o recebe com um riso, jogando em seus ombros, enquanto Ames vem buscar Sky, que abre os olhos preguiçosamente, então suspira fundo e dorme de novo. 

— O que é tudo isso? — pergunto, e Ben abre a jaqueta, revelando uma blusa escrita “Dinner Club”. — E o que é isso

— Acabamos de vir de uma espécie de matinê — meu pai diz, cansado, mas dando um sorriso quando recebe o abraço e beijo de Angelo.  

— Meu Deus, pai, como o senhor é insuportável. Viemos de uma feirinha que está tendo aqui perto. Acabou de acabar, comprei esse blusa, Ames umas coisas de velha e o Dean um colar pra ela. Esse aqui ficou só sentado no meio fio. 

Rio porque meu pai tenta acompanhar Ben, mas é difícil. Cada dia ele está mais velho e meu irmão com mais energia. São apenas os dois em casa, mesmo que venham com frequência para cá ou recebam visita de Stacy que mora na rua deles. 

 

— Já estamos indo, Ben vai ficar com a gente nessa semana — Dean diz, me cumprimentando com um toque simples. Amélia e ele se casaram e foram morar longe, gerando uma certa mágoa do meu pai, ainda que desejasse a felicidade da minha irmã mais do que qualquer um de nós. Ames é a favorita, é quem faz tudo funcionar. Mesmo Dean sendo o melhor dos cunhados, e um dos meus melhores amigos, mantemos a imagem que também tenho mágoa – quando não tenho. 

— Obrigada, meu amor. Você é o melhor — Amélia agradece em um sussurro. 

 Meu pai me dá um abraço, e vai na frente, sem dar muita corda para os pedidos de Angelo para que fosse colocado nos ombros, o que sobra para Ben fazer. Katniss segura meu braço rindo, e seguimos de braços dados até retornarmos para o meu quarto. 

— Fico feliz quando as crianças vem. Mas não sei como pode ser isso o tempo inteiro — eu confesso, e ela imediatamente concorda. Nós dois suspiramos, fechando a porta do quarto. Tem uma pilha de novos documentos na mesa do meu escritório, vi quando passamos e um guarda deixava outra pilha. É muito trabalhoso mesmo ser rei de um país enorme. Responsabilidades e mais responsabilidades. Mas eu não quero saber de nada agora. Ela vai para a varanda, depois de tirar os sapatos, tirar o blazer e deixar na beira da minha cama. 

Sigo-a, fielmente, me deitando junto com ela na rede. Blll 

— Não está com frio? — pergunto, a embolando em meus braços, e ela ri, negando. — Então eu não vou tentar esquentar você com os meus beijos e outras coisas.  

— De repente, estou morrendo de frio. Ó, céus… vou desmaiar — brinca, e joga metade do corpo para fora da rede, me fazendo rir. Beijo seu rosto de brincadeira, mas em algum momento, fica sério, e o riso para, dando lugar para outra coisa.  — Me leva para dentro. 

 Pede, num suspiro difícil, tentando não soar ofegante, quando deixo uma marca na altura da sua costela. Nego, embora seja meu plano, vou me aproveitar um pouco do conforto da rede, me servindo de seus seios maravilhosos. De repente, não tenho ideia de onde estejam nossas camisas. 

 Ela puxa ar, quando minha boca encontra seio direito, da forma como sei que gosta. Não consigo me cansar dela, em qualquer lugar, em qualquer idade. Só consigo pensar como tenho sorte da pessoa com quem me casei.  

Meus dedos dedilham sua cintura enquanto faço isso. Uma de suas mãos se embolam nos meus cabelos, insistindo que eu continue. E eu obedeço. Repito com o outro, e desço outra vez meus beijos. Um vento frio faz com que eu sinta um arrepio na minha coluna, nela também, então vamos para o meu quarto. Ela sai na frente, com um sorriso torto confiante, soltando de uma vez o cabelo que estava em um coque, e senta na beira da cama, segurando um dos seios nas mãos, apertando.  

Sorrio, sabendo exatamente o que ela quer que eu faça. Fico de joelhos aos seus pés, tirando com cuidado as roupas que ainda faltavam, jogando por cima dos ombros e fazendo o que eu gosto de imaginar, uma das melhores coisas que eu sei fazer. Um hobby único, praticado apenas com ela nas horas vagas que achamos entre nossas obrigações, em qualquer lugar que sei que não seremos interrompidos — ou talvez possamos, depende se tem tranca na porta —, que me coloquei disposto para aprender com muita dedicação desde que nos casamos. 

Ela cai de costas na cama, com uma das pernas sobre meus ombros. Não tem como descrever. Saber que ela pode ver estrelas com a minha boca entre suas pernas, eu me sinto suficiente para muitas coisas impossíveis. Nada pode me derrubar desse lugar que eu estou.  

Reconheço seus sinais, paro por um instante para tirar o que faltava da minha roupa, e me passa por dois segundos uma preocupação que podem escutar, ou qualquer um entrar sem permissão, mas esqueço quando nos juntamos como uma só pessoa. Nada mais é relevante. O mundo pode explodir e tudo estar bem dentro desse quarto. Que morram todos, eu só quero saber dela.

Estremeço, apertando seu quadril com força, enquanto ela envolve suas pernas ao meu redor. Afundo nós dois na cama, em movimentos que nós dois já somos acostumados, mas sempre é como se fosse diferente. Não paro até que nós dois consigamos o que queremos. Ninguém liga para o suor ou a possibilidade de alguém escutar. A beijo profundamente, sorrindo, e ela também.  

Seguro seu quadril com uma mão, mas a outra atrás de sua nuca, a trazendo para mim, porque sei que ela gosta que eu faça isso. Sinto seu sorriso, as vibrações de sua garganta, e isso é refletido em mim também.  

— Eu sou tão seu, que eu nem poderia me encontrar em outro lugar que não seja em você — digo, quando depois de uma normalizada rápida de respiração ela monta sobre mim sem piedade, com um gesto confiante.  

— É como eu me sinto também, você bem sabe — responde, em um gesto que nos une de novo, mas com ela sobre controle. Me apaixono outra vez. E outra vez. Seu quadril se movimenta com certeza e propósito sobre o meu, enquanto me encara com coragem e selvageria. Seu corpo é como uma escultura em nascimento sob minhas mãos, toco como se fosse extensão do meu, sentindo tudo quente. Me apaixono de novo a cada movimento que faz, quando mexe seu quadril, quando mexe no cabelo, a prancha desfeita pelo suor, quando sorri, quando chama meu nome.

 Katniss é como Nefertiti diante de mim. Sobre mim. Seu corpo ondulando em cima do meu, como se tivesse nascido exclusivamente para isso. Seu olhar é poderoso sobre mim e eu completamente de acordo.  

Mantemos esse contato de olhar, e é uma das melhores coisas do mundo. Sorrio, sem fôlego, ela também. Escorrego minhas mãos para cima de seu corpo, quando ela se inclina para se apoiar em mim e continuar com seus gestos, até alcançar seus seios. Não tenho dúvida de que estão maiores, mas eu não ligo. Na verdade, acho ótimo. Muito ótimo.  

Pegar um com minha boca de novo, e ela faz sons que fazem nós dois alcançar o Nirvana. Mas continuamos. A tarde toda estaremos livres, então temos um tempo ainda. 

Katniss se desfaz sobre mim, e eu sinto paz. Murmuro uma palavra de total admiração, porque mantém seus movimentos certeiros, lentos, até que eu também me desfaça dentro dela. Parece que eu vou enlouquecer, mas não é o que acontece. Tudo é real. Sua voz no meu ouvido chamando meu nome, e eu chamando o seu. Tudo é real. 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem, me desculpem qualquer coisa, feliz natal ♥️



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