A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 53
Espada de Vidro | A Escolha (Bônus)


Notas iniciais do capítulo

um século sem atualizar, mas eu não poderia deixar passar nem mais um dia, tendo em vista que eu carrego como tradição postar sempre na semana-dia do aniversário da fic, e esta fez TRÊS ANOS em 24 de setembro de 2018, data cuja infelizmente não pude atualizar porque eu estava estudando muito (e ainda estou kkkkkkkkkkk ~le eu desesperada para a prova de história antiga e filosifia da história~) masssss não pude deixar passar nem mais um dia sequer em débito com vocês, pois como eu disse antes, e volto a repetir, NÃO DESISTI E NÃO PRETENDO desistir da fic, e tenho carinho e muita consideração por todos vocês, de verdade, eu choro lendo os comentários, recomendações, eu não atualizo e não fico mais ativa aqui realmente poprque a faculdade está sugando meu corpo alma e espírito kkkkkkkkkkkk mas sem demoras, eu só tenho o que agradecer ao Senhor por ter me mostrado um amor que eu não fazia ideia que tinha, pela esccrita, pela arte, e por cada um de vocês, que patrocinam toda essa maluquice com seus comentários, favoritações, recomendações, obrigada, gente, muito obrigada. Espero que esse capítulo grande compense KKKKKKKKKK e demonstre, de uma das poucas formas que sei demonstrar amor, a gratidão que sinto, mesmo que não seja, exatamente, o objetivo do capítulo, nada disso teria sido possível sem a participação de cada um de vocês.
Que tenham uma excelente leitura, e Clara, na moral, me perdoe por estar falando que vou postar há quase uma semana, e até agora não ter postado, mas aqui vai kkkkkkkkkkkkkk



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Esperando até os demônios virem

Espere por nós para vê-los correrem

Em nossa direção

Agora eles estão olhando para nós através das árvores

Nos fazem cair de joelhos

Para nos ensinar uma lição

Então me diga

Você realmente me amou?

Você realmente me quis?

Agora que eu te vejo mais claramente

Eu me pergunto, eu realmente fui feliz?

Não tive a chance de me perguntar

Agora que eu te vejo mais claramente

Era apenas ilusão?

Oh, era apenas fumaça e espelhos?

 

Smoke and Mirrors, Demi Lovato

 

— Katniss, por favor, não me deixa, filha, aguenta firme — a voz do meu pai é fraca, baixa, pois é como se eu estivesse dentro de uma banheira. Sei que ele está correndo mais do que um dia pode ter corrido, porém é como se estivéssemos em câmera lenta. Minha cabeça dói como se martelassem nela.

Céus, meu pai está quase voando, de tanto que corre, apertando meu corpo contra o dele, para que eu não sinta tanto. Ou para que eu não sinta mais.

Ele gritava, dando ordens e mais ordens, com um braço embaixo das minhas coxas, me dando suporte, enquanto meus braços em seu pescoço, moles, sem o menor controle, seu outro braço passa por minhas costas

— Papai, o nariz da Katniss! Muito sangue! — ouvi Prim, ao mesmo tempo que eu me engasguei, nos braços de papà, vomitando, sem ver onde. — Katniss! Abre os olhos! Katniss!

Queria dar tudo o que Prim quer, sempre fui o meu melhor para ela, mas tomei tudo o que eu tinha de medicamentos, não consigo obedecê-la dessa vez. Não tenho domínio sobre meu corpo, que sinto pesar uma tonelada. Gorda, posso ouvir minha mãe me chamando, criticando com plenos pulmões, esfregando as revistas mais famosas do país e do mundo bem no meu rosto, enquanto me estapeava, por ter comido um pouco mais de algo doce na mesa. Senti algo escorrer do meu nariz, dificultando minha respiração, sangue, o mesmo com meus ouvidos, posso sentir que sai como uma cascata, e os sons são mais agudos. Uma dor excruciante, perdendo apenas para o aperto no meu peito, pela traição de Peeta.

Peeta. Grito, em um gemido bem sofrido da mais alta e aguda dor.

Só que ainda escuto Prim gritar, chorando, tentando me mexer, papai do mesmo modo, enquanto correm com meu corpo para o hospital.

Minhas pálpebras se abriram, e eu vi vultos, meus tios, Prim, muitos guardas. Não é uma invasão. É o que eu sinto que está acontecendo, eu vim longe demais.

Fechei, sentindo minha cabeça cair para a curva do pescoço do papai, e a pouca força que eu tinha, desapareceu totalmente.

Minha tia Anastacia berrou, algo diferente estava acontecendo comigo. Gosto de sangue na minha boca. Muito sangue.

Não senti mais nada.

*

Uma luz. Escuro. Luz. Escuro. Tusso, quase vomitando, e meu coração descompassado no meu peito.

— Ah, filha, que bom que você acordou — papai logo disse, identifiquei a voz, com meus olhos sensíveis, e uma médica piscando uma lâmpada sm meus olhos.

— Sente algo? — Clarice perguntou, uma das minhas neuros.

Neguei.

Vomitar — falei, completamente tonta, em um fio de voz, nem sei se ela escutou, mas talvez sim, porque eu não vomitei em mim, mas em um balde que ela logo providenciou. Saiu apenas sangue, com algo branco. — Oh, meu Deus.

Balbuciei, me jogando para trás na cama, sentindo todo meu corpo doer como se eu estivesse no inferno.

— Majestade, posso ficar uns minutos a sós com a Princesa? — ouvi ela pedir, e logo passos lentos do meu pai, então a porta se encostando. — Você sabe que dessa vez, por um minuto, você morre. Tivemos que fazer procedimentos que foram testados pouquíssimas vezes para limpar seu sangue, Katniss, você talvez possa ter lesões por conta da quantidade de remédios que você tomou e por tudo ao que foi exposta. Até onde podemos ver dos exames, isso pode ficar no seu sangue por até dez anos. Isso vai tirar as chances de você ter filhos com saúde, vai te dar uma gestação muito perigosa!

Em seu tom de voz, carregava séria preocupação com meu bem estar.

— E eu tenho o que haver com isso? E você tem o que haver com isso? Se eu tomei todos os meus remédios, e simplesmente gritei, é porque eu queria morrer. Apenas viver para ver a minha mãe arder no inferno, mas meu pai impediu. Bem, que eu visse.

Respondi, em um tom bem fraco, porém intenso.

Ela me olhou, em um olhar meio a meio.

— Katniss, o que aconteceu? Faz um tempo desde quando você fez algo assim — suspirei, piscando, mas as lágrimas logo vieram aos meus olhos.

— Eu quero meu pai — falei, chorando. — Eu só quero o meu pai. Por favor, eu preciso do meu pai.

Suspirou, frustrada e preocupada. Mas assentiu, indo chamá-lo, e logo ele entrou, com o cabelo bagunçado, sem nada de rei, só meu pai.

Em duas piscadas, a imagem dele puxando minha mãe de cima de mim, jogando ela no chão com força, em uma discussão fervorosa, me pondo no colo, quanto tio Frank e tia Anastacia seguravam ela, desesperados comigo, chamando os médicos.

Papai — balbuciei, esticando meus braços para ele, que veio correndo até onde eu estava, me envolvendo, mesmo com todos os aparelhos ligados em mim, ele deu um jeito, e me abraçou bem apertado.

— Katniss, pensei que nós tínhamos combinado que não guardaríamos segredos um do outro! Ela ia matar você!

Imagino que ele não queria dizer isso agora, mas logo desmoronou, se sentando de frente para mim na cama do hospital. Arrumou minha máscara de oxigênio, colocando certo no meu rosto.

— O senhor e meus tios chegaram à tempo dessa vez — tranquilizei-o. — Não quero falar sobre o que aconteceu. Apenas quero que você seja justo. Como rei.

Seus olhos encontram os meus. Ele está com uma aparência de alguém da sua idade, com um suéter bege, e calças simples, parece um pai como qualquer outro.

Tem uns arranhões em seu rosto, e logo em um piscar revivi a cena, minha mãe empurrando tio Frank, indo até onde meu pai estava, comigo no colo, tentando induzir o vômito, enquanto ligava para os enfermeiros.

Larga ela, Tony! Ela é a culpada pelo o que aconteceu com Prim! Você só tem olhos para ela! — Minha mãe berrou, em plenos pulmões, me atacando, mas meu pai me protegeu, e ai o tapa que era para me acertar, acertou ele, que agiu como se não fosse nada, vendo que eu não estava reagindo. Naquele momento, eu não tinha mais controle sobre meu corpo. Tinha ouvidos, olhos, mas não movimentos. Não pude sentir muita coisa.

Clara-Madelaine, você está louca! Ela é a sua filha! Para com isso! SOLTA ELA, MADELAINE! — Tio Frank gritou, segurando-a, enquanto meu pai soluçava de chorar, desesperado, até que me pegou nos braços, e saiu correndo. Eu senti meu corpo tremer, uma convulsão. — Anastacia, segura a Katniss! Segura a Katniss! Snow!

— Eu já tomei as devidas providências. Ela vai ficar na Inglaterra, depois das devidas cerimônias — papai me respondeu, arrumando meu travesseiro, fazendo carinho em meus cabelos. — E eu já entrei com os papéis do divórcio enquanto eles traziam você de volta para a gente. Não tem mais motivos para continuar com alguém que não ama quem eu mais amo. Você e Prim são tudo para mim. Ela não vai agora, porque tem todas as questões políticas, que você sabe — assenti, mas tranquila. — Todos os meios que ela tinha de poder te alcançar de alguma forma foram bloqueados. Ela vai ir para um vilarejo em Preston, e ficar por um tempo indeterminado, como uma exilada política. Nunca imaginei que pudéssemos chegar a este ponto… mas é o que eu já resolvi. Também não quero falar sobre isso. Mas saiba que com você ela nunca mais vai mexer.

Mais lágrimas vieram aos meus olhos, de pura felicidade, finalmente o que eu mais queria vai acontecer.

Fechei meus olhos, em um suspiro profundo.

— Agora, vai me dizer o que aconteceu para você ter feito o que fez antes dela entrar no quarto? — me perguntou, fazendo carinho na minha mão. — Katniss, eu sou o seu pai. Acho que você deveria me contar o que aconteceu. Sei que não é um bom momento para você, mas já me escondeu coisas demais, e não é mais hora para me deixar à deriva.

Suspirei,concordando, ele tem razão, mas lágrimas voltaram, dessa vez com dor.

— Não acho que vou me casar com o Peeta — respondi, baixo, com medo das minhas próprias palavras. Ele pareceu bem surpreso, mas logo franziu o cenho. Eu queria que fosse tudo um pesadelo infernal, onde eu acordo, e estou bem, aos seis anos de idade, indo visitar a Austrália, época onde eu me lembro do carinho que minha mãe me tratava, e toda a devoção que meu pai tinha para comigo, todo seu carinho era exclusivo meu e da minha mãe, que tinha a silhueta avantajada, naquela época, pela gestação de Prim.

— Sério? Achei que estivesse bem certa disso, por essa eu realmente não estava esperando. Mas o que aconteceu?

— Nada, apenas descobri algo que ele e Delly deveriam ter me contado, mas não contaram — falei, ainda baixo, por causa das dores de garganta e cabeça. — Eles namoraram antes da Seleção. E era por causa dela que ele não se abriu comigo no começo, por causa desse relacionamento, que acabou justamente porque foi selecionado.

Meu pai pareceu bem confuso, e mesmo que eu esteja morrendo por causa de tudo, foi inevitável não dar uma risada, embaçando ainda mais a máscara de oxigênio.

— O quê? Mas oras, se eles estavam bem, por que ele se inscreveu? E por que você desistiu, se isso foi antes? Não pensou que se eles te contassem seria estranho? Mas Katniss, Delly não é a sua melhor amiga? Mas — meu pai ficou totalmente confuso, sua expressão deixou bem clara sua confusão, e eu tive que rir, porque é totalmente espontâneo.

Mas então, com a voz ainda bem fraca, contei tudo o que aconteceu para o papai, desde a festa, até o momento que eu bati na cara do Peeta, parando para deixar ele deslizar os polegares debaixo dos meus olhos, e me abraçar, diminuindo meus soluços, pela dor que eu sinto. Por que tudo me deixa assim, no final? Tudo o que me faz feliz, me deixa miserável, no final das contas, e eu não posso suportar continuar vivendo assim.

Revivi cada momento de novo. E sofri outra vez, cinco vezes mais.

— Ah, filha… — ele murmurou, me abraçando, de lado, e eu me acomodei em seu peito, fechando meus olhos. — Não vejo maldade no Peeta e na Delly, apenas que eles não sabiam ainda como lidar com as coisas, da mesma forma que nem eu com o dobro da idade de vocês sei, entende? Apenas acho que agora você deva evitar pensar nisso, por causa de toda essa situação, e focar na sua recuperação, baby.

Assenti, lentamente, fungando, já longe da máscara de oxigênio.

— Não me sinto no dever de opinar em nada desse tipo na sua vida, mas, bem, se você quiser então escolher o Gale, vai estar ao lado de alguém que daria o mundo por você também — ele disse, então, depois de um tempo. — Vou apoiar seja qual for sua escolha. Qualquer um dos dois que você escolher, vai estar escolhendo alguém que ama você.

Me apertei mais contra meu pai, como se alguém fosse roubá-lo de mim. Mas ninguém vai. Nem mesmo minha mãe. Ele é meu pai e de Prim, nada pode mudar isso. E eu sou feliz.

Não estou, nesse momento, por causa de tudo, mas saber que tenho ele ao meu lado, já me alivia muita coisa.

— Eu amo o senhor, pai — falei, para ele escutar, antes que eu dormisse.

— Também amo você, baby — sorri, e sabia que ele iria me apoiar em qual caminho eu seguisse. E isso foi animador.

Mas meus pensamentos não me permitiram descansar. Eu revivi tudo de novo, até o momento do beijo de Gale.

 

Três dias antes.

 

— Essa roupa está digna — Madge disse, enquanto eu fechava o zíper da saia vermelha, em um modelo que fica bom em mim. — Katniss, nossa.

— Está maravilhosa mesmo — Johanna disse, com um sorriso torto, com uma mão sob sua barriga bem grande, na reta final. Ela não é mais obrigada a ficar aqui, porém fica porque me ama, é claro. Ri com meu próprio pensamento.

— Vossa alteza gostaria de colocar uma de suas tiaras? — Sara perguntou, gentilmente, com um sorriso torto, sendo oficialmente uma das substitutas de Johanna. — Tem uma bem para a ocasião.

— Acho… ah, eu não sei, fui apenas em uma, quando tinha uns oito anos, não me lembro como é — respondi, brincando com um leque. — E eu me chamou Katniss, Sara!

Ela corou, assentindo.

— Vou buscar uma para ver o que acha — ela avisou, saindo para meu closet.

— Gente, cadê a Delly com o batom rosa? Esse que você está passando ficou ótimo, Kat — Madge perguntou, e logo a agora loira de novo entrou no quarto, com uma bolsa transparente, cheia de batons e maquiagens, mas não foi isso o que chamou a atenção. Foi sua aliança na mão esquerda e seu sorriso enorme. — Ah meu Deus, Delly.

Madge disse por todas nós, e ela assentiu, mostrando a aliança.

— Eu simplesmente não esperava acontecer o que aconteceu — começou, colocando alguns batons na minha penteadeira, e Johanna se aproximou. — Ontem ele me pediu em casamento, tipo, literalmente. Eu não estou dando conta.

Ela se sentou na beira da minha cama, enquanto ouvíamos contar o momento que Stefan pediu sua mão, e Madge aplicava o batom rosê em mim. Foi inevitável não rir do jeito que Sol estava, com um sorriso que não desgrudava de si, com um pé no colchão, o rosto sobre seu joelho.

— Mas então eu vou ficar sobrando mesmo? — Madge brincou, enquanto Sara apareceu com uma tiara simples, mas com uma flor, colorida, que combinava muito bem com minha roupa e penteado, todo solto, bem natural, já que faz bastante frio hoje.

— Possivelmente sim, já que o Sebastian você não quis — Johanna brincou.

— Porque ele me disse que tinha uma outra garota que ele estava esperando em casa! Não foi porque eu quis! Apenas não gostaria que fosse o contrário, se fosse eu a garota!

— Ok. Agora você passa a vergonha de estar sozinha, já que ele disse que está sem compromisso com a jovem!

— Não é bem assim!

— É bem assim sim, ele estava paquerando algumas criadas na semana passada, eu vi — Sara se envolveu, arrumando a tiara em mim. Madge ficou boquiaberta, e todas nós rimos. — Sinto muito.

— Caramba, ai, viu? Talvez fosse melhor dar bola para o Cristian, que te deu um presente de natal bem fofo — eu aconselhei, cruzando as pernas, já pronta, mas sem nenhuma pressa por causa do horário.

— Ele foi bem fofo mesmo, mas é loiro, e tem sardas, eu quero alguém moreno! Ele é lindo, e tudo mais, mas ah, não, chega de loiro! Meus sobrinhos são loiros, com olhos claros! Quero uma filha morena, com o cabelo preto e olho castanho! Tipo como você, Kat, mas sem esses olhos cinzas que ficam mudando de cor.

A gente caiu na risada, sem entender todo o drama dela.

— Madge, o garoto está te dando bola! Dá pelo menos uma chance!

— Não! Eu estou super decidida a encontrar alguém moreno! Você escolheu muito bem o Peeta, e tudo mais, mas eu acho o Gale bem mais sei lá, aquele cabelo cor de chocolate me faz querer dar um abraço nele.

Falar sobre os rapazes da Seleção, mesmo na reta final, é bem bizarro. Ainda mais quando é Gale ou Peeta. Madge falar nele me deu um ciúme enorme, acelerou meu coração. Pensei nas minhas mãos em seus cabelos, na tarde em que fomos para seu quarto. Engoli em seco, arrumando minha blusa, tomada pelo constrangimento. Gale é a minha grande segunda opção, e se Peeta não estivesse na equação,

Por sorte nenhuma notou.

— Eu nunca fiz nenhum perfil de namorado, só tive dois, meu ex e o Stefan. São totais opostos em aparência. As coisas simplesmente acontecem, Mad. Dá uma chance para o Cristian.

Ficamos, então, rindo de Madge, que pegou o Smarter e mandou uma mensagem para o garoto, que na mesma hora respondeu, dizendo que adoraria ir a festa com ela, ainda perguntando se gostaria de alguma coisa.

— Mas e você, Sara?! — perguntei, sorrindo para a moça morena, com os cabelos em duas tranças boxeadoras. Ela deu um meio sorriso.

— Eu namoro, meu namorado é um Seis também, trabalha na cozinha. Nos conhecemos em casa, em San Diego.

— Isso pode dar em casamento? Tenho interesse em comer! — rimos de Johanna.

— Eu não sei, eu tenho apenas dezesseis anos, gente, e ele dezoito. Não acho que saia um matrimônio nos próximos três ou quatro anos, principalmente porque nós somos bem religiosos. Mas como podemos, talvez, caso ele peça minha mão, nos casarmos em um ano.

A conversa foi desenvolvida, até que Delly disse que está na nossa hora.

Johanna, Sara e Madge vão também, já que meu vestido está pronto desde a semana passada, assim como o da dança e coisas semelhantes. Tenho quatro roupas programadas para o dia. Adiantaram os desenhos, e minhas costureiras já fizeram, minha próxima prova é em uma semana.

Fomos juntas, e eu nada levei além de uma bolsa com meu relógio, apenas para meu pai saber onde estou.

Elas estavam conversando, mas meu coração está totalmente na mão, com um sentimento completamente indescritível. É como se essa noite fosse ser a melhor. As luzes parecem, inclusive, mais brilhantes, mais vivas.

— Katniss, melhor descer sozinha — Delly sugeriu, depois que ela e as meninas trocaram um olhar sugestivo para seu Smarter. — Eu e as garotas temos que trocar de roupa mesmo, principalmente que hoje temos vários fotógrafos presentes!

Assenti, dando de ombros, apenas pedindo instruções para descer no elevador, bem estranho, em comparação ao meu. Este é três vezes maior, com um pequeno sofá, e muitos botões. É preciso que aperte dois para que ele feche as portas, já que também vai para os lados. A1, foi o que pressionei. Primeiro a letra, depois o número, ou posso parar do outro lado do palácio.

Levou em média um minuto, e eu retocava meu batom, vendo a mim mesma nervosa, ansiosa, na verdade, sentindo frio na barriga. Céus.

Quando se abriram, as portas, puxei o ar, deslumbrada com toda a organização natalina. Sai, e olhei para o lado, bem no momento que Peeta saia do outro, como se estivesse combinado.

Agora entendi, pensei.

Meu sorriso foi ainda maior, vendo-o se aproximar, cumprimentando com um abraço, depois de elogiar minha roupa.

— Eu não sabia que princesas eram convidadas para andarem com os plebeus, vossa alteza — brincou, antes de nos enturmarmos. — Fico feliz que esteja mesmo aqui.

— Ah, eu não poderia deixar de curtir pelo menos um pouco antes da coroação — falei, com um sorriso. — Sabe-se lá, realmente, quando vamos poder aproveitar uma festa como essas. E nem vem com esse papo. Se eu não puder vir me divertir, você também não vai poder!

Ele riu, com seu jeito de sempre, encaixando espontaneamente seu braço no meu, e eu no dele. Ficamos assim enquanto cumprimentávamos as pessoas que conhecíamos, e foi incrível, porque é como se fossem outras pessoas, sem os seus deveres e obrigações. Quero dizer, hoje elas tinham, mas de se divertirem como se não houvesse trabalho amanhã.

Não tinha nada alcoólico, já que há muitas crianças, e jovens, mas eu achei excelente, já que jurei para mim mesma nunca mais beber na minha vida. Quero me lembrar de tudo.

Depois, nem fomos nos sentar, ele nos puxou para a pista de dança, depois de um aquecimento com dois copos de puro refrigerante, e dois cachorro-quente.

— Vamos, vamos! Não tem ninguém da realeza aqui! — ele exclamou, me dando um empurrãozinho, nos misturando no meio das pessoas que pulavam e dançavam, mesmo com as luzes bem claras e acesas, é totalmente divertido.

Aaaaaaahhhhh! — exclamei, rindo, balançando meu cabelo e o corpo, de maneira casta, assim como todos. Bem, pelo menos a maioria. — Olha ali, a Wanda — sussurrei para Peeta, nos aproximando um pouco mais, e ele começou a rir.

Wanda é casada, é uma das costureiras, têm no máximo vinte e três anos, assim como seu marido, e mesmo em plenas nove da noite, eles estão se beijando como se ninguém estivesse vendo, embaixo do visco.

— Aí, deixe-os em paz, aproveitando a noite! — brincou, segurando minha cintura, com um sorriso contagiante. Peeta é contagiante. Mas é necessário conhecê-lo de perto, para poder ver isso, é fascinante, com todas as letras. E eu sou apaixonada por ele. Estou bem certa de que Peeta é o amor da minha vida.

Talvez tenha algo no refrigerante. Não consigo parar de sorrir. Ou talvez seja só eu sendo feliz. A sensação arde diferente no peito, causando um formigamento no corpo.

Continuamos, até que em um momento, tudo tão, tão animado, ficou ainda mais, quando puxaram um tremzinho, com direito a jogarem glitter e confetes em nós. Meu coração não podia se conter de alegrias, minhas bochechas ardem demais, com os risos fáceis.

Vi Johanna sentada rindo, com Troy acariciando a barriga dela, os dois com roupas comuns, e estavam felizes. Me senti feliz por eles. Céus, Vivian vai ser muito amada. Bem, pelo menos acho que vá se chamar Vivian. Toda semana é um nome diferente.

Uma hora depois, as crianças começaram a “sumir”, e a música ficar mais lenta.

— Vamos nos sentar um pouco, você parece bem cansada — Peeta notou, pondo um braço sobre meus ombros, de uma forma bem protetora.

Já tínhamos comido, e nos sentado, mas agora aparentemente era para termos um momento mais nosso, já que até aposta ele fez com cinco guardas, tendo saído vencedor, de quem bebia um litro de refrigerante mais depressa. Ri comigo mesma, tentando assobiar, enquanto nos sentávamos, em uma mesa bem no canto, mas com a visão perfeita do palco, assim como de outras mesas, inclusive a que Delly estava com Stefan e suas irmãs, que assim como minha amiga, gargalhavam bem alto de algo que ele havia dito.

— Pedi alguns brioches, mas eu realmente não consigo comer muita coisa além — falei, pondo o pote na nossa frente. Ele riu. — E ainda vamos ter bolo, não é?

— Sim, vão servir bolo, mais algumas tortas, e mais algumas outras comidas. Isso vai até às duas da manhã, tem que ter comida. E já que a madame não aguenta, pode me passar um pouco aí. Tenho me acostumado a comer mais que alguma coisinha depois do almoço.

Ele pegou um, e eu ri, acompanhando-o também, já que não estou tão cheia assim.

Conversamos um pouco sobre a festa, até que ficamos em silêncio, um abraçado ao outro, e Stefan, seu criado e amigo, foi para o palco com Delly, e começaram a tocar uma música, de uma forma perfeitamente sincronizada, e com um guarda tocando no piano.

 

Algumas pessoas vivem para a fortuna

Algumas pessoas vivem apenas para a fama

Algumas pessoas vivem para o poder, yeah

Algumas pessoas vivem apenas para jogar o jogo

Algumas pessoas pensam que as coisas materiais

Definem o que elas são por dentro

Eu já me senti assim antes

Mas a vida era sem graça

Tão cheia de coisas superficiais

 

Delly, mesmo afirmando que não sabia cantar, e que não gostava, se saia muito bem, pelo menos para essa música, como se fosse algo dela. Mas Stefan, no saxofone, tomou aplausos, com a introdução solo.

— Caramba, esse é o meu amigo! — Peeta gritou, fazendo algumas pessoas rirem, desconcentrando o moreno no palco, que também deu uma risada, mas logo voltou a tocar, e Delly cantando tão, mas tão bem.

 

Algumas pessoas querem tudo

Mas eu não quero absolutamente nada

Se não for você, querido

Se eu não tiver você, querido

Algumas pessoas querem anéis de diamante

Algumas apenas querem tudo

Mas tudo não significa nada

Se eu não tiver você, yeah

 

Alguns casais foram para a pista, então, apenas com um olhar, do qual eu não poderia colocar em palavras, e um sorriso, que fez todo meu corpo perder os sentidos, meus pulmões perderem o ar, meu coração bater como uma escola, até que Peeta pegou na minha mão.

Tudo ficou normal. Me senti segura. E sim, tudo em um piscar de olhos, sem explicação.

— Quer dançar? — perguntou, se inclinando para se levantar, mas eu sabia que, minha resposta sendo negativa, voltaria a se sentar, e nós continuaríamos juntos, em uma bolha particular.

Mas eu também não queria perder a oportunidade de estar com ele no meio de todo mundo, para que vissem que eu achei o amor.

— Tem certas coisas que você me pede e eu não conseguiria dizer não — riu, quase me pegando no colo, tamanha gentileza e carinho.

Nós nos misturamos entre os casais, e eu nem me lembrei de que sou princesa. Fui como o Peeta. Plebeu, como qualquer uma dessas outras pessoas.

Com nossos corpos bem pertos um do outro, ele começou a cantar no meu ouvido. Fechei os olhos, abraçando-o ainda mais, enquanto dançávamos lentamente.

Some people want it all, but I don't want nothing at all if it ain't you, baby — ele cantou, em uma voz que eu sequer poderia colocar em palavras o som. Era como se ele me levasse até um coral particular. — If I ain’t got you, baby.

Até cheguei a deixar algumas simples lágrimas escorrerem pelo meu rosto, mas não deixei que percebesse, para que não tivéssemos que nos separar. Apaixonante.

Gale canta melhor, no sentido de que tem muito mais experiência, e nasceu para isso, no entanto, escutar Peeta, dessa forma, é diferente, porque… é recíproco.

Imendaram outra música romântica, I don’t wanna miss a thing, tenho certeza, quando Peeta separou um pouco, mas apenas para poder olhar em meus olhos. Agora, apenas iluminados por pisca-piscas azuis e brancos, por todo o ambiente, em um ar completamente intimista. Senti apenas como se tivéssemos nós dois e a música.

 

Eu poderia ficar acordado

Só pra te ouvir respirar

Te ver sorrir enquanto dorme

Enquanto estás longe e sonhando

 

Ele tirou uma mecha de cabelo que caia no meu rosto, gentilmente, e passou os dedos por minha bochecha, enquanto cantavam.

Eu poderia passar a minha vida

Nesta doce rendição

Eu poderia ficar perdido neste momento pra sempre

Cada instante que passo com você

É um momento que eu valorizo

 

E nossos rostos, foram se aproximando, meus cinzas em seus tons de azul. Viramos um caleidoscópio de amor.

 

Eu não quero fechar meus olhos

Eu não quero adormecer

Porque eu estaria te deixando, amor

E eu não quero perder nada

 

E sim, eu não quero fechar meus olhos, ou adormecer, mas quando seus lábios tocaram os meus, eu não pude evitar, e definitivamente, era como se fizéssemos uma viagem interestelar, no meio das estrelas, e tudo o que eu duvidava sobre mim, minha aparência, desaparecia, ele não permitia que eu me sentisse dessa forma perto dele, e todas as vezes que eu me sentia mal, sem podermos ter contato, o pensamento me faz me sentir bem. Ele me beija como se eu fosse de cristal e pedras preciosas, respeitando todos os meus limites, mas ao mesmo tempo, invadindo todos eles.

Nós nos juntamos, como dois planetas em colisão.

 

Porque mesmo que eu sonhe com você

O sonho mais doce não serviria

Eu estaria te deixando, amor

E eu não quero perder nada

 

É, eu não quero perder nada, e sinto que nem ele, que fez um carinho em minhas costas, assim como na minha nuca, gentilmente.

Não queria que esse momento terminasse.

— Estou memorizando esse momento — confessou, em um sussurro, comigo ainda mantendo meus olhos fechados. — Quero congelar tudo isso, e viver apenas com você. Todos os dias da minha vida. Até não poder fazer mais nada além de pensar no dia de hoje.

— Se quer um segredo, eu também estou — sussurrei de volta. Mesmo que a música estivesse no microfone, e tivesse algumas outras vozes, ainda éramos dois sussurros, e um casal comum, como qualquer outro.

— Eu sou apaixonado por você — disse, simplesmente, quando Stefan começou um solo no saxofone e eu queria aplaudir, sinceramente. Ele é bom demais nisso. Peeta me deixou sem fôlego.

— O quê? — perguntei, mas de maneira um tanto retórica, completamente fora de mim,  dando um sorriso que mal podia caber no meu rosto. — O que disse, Peeta?

Riu, gostosamente, beijando rapidamente meus lábios.

— Não espere que eu repita. Não quero que sejamos normais. Não precisamos disso. Sem contar que você ouviu muito bem o que eu disse, senhorita Katniss Everdeen.

Suspirei, entre a decepção de saber que ele não vai repetir, mas de amores por saber verbalmente o que ele sente. Não que eu necessariamente precisasse escutar isso. Peeta é como uma chuva. Você simplesmente sente.

Na verdade, é como uma tempestade.

Dançamos, por mais duas músicas, até que entre um beijo e outro, ele me fez uma pergunta.

— A festa está muito boa, mas o que acha de irmos para o meu quarto? Você pode dormir lá se quiser.

Assenti, sem nada além. Seu tom não passava segundas intenções, e eu realmente estou me sentindo cansada, embora mal possa contar a alegria dessa noite no meu coração.

Beirava meia noite e meia, quando entramos em seu quarto, corri para a cama, deixando meus sapatos em qualquer lugar.

— Ah, poxa, eu estava pensando em pularmos na cama de uma forma sincronizada, Katniss! — exclamou, e eu ri, deslizando para ficar no meio da cama, então, de lado para ele, com um sorriso torto, e esperto. — Que cara é essa?

Perguntou, mas estava da mesma forma. Meu coração bateu mais forte. Inclinei-me, alcançando seus lábios, e ele me trouxe para mais perto de si. Por que neguei isso dentro de mim por tanto tempo? Peeta é minha pessoa.

— Não quero ultrapassar nada — murmurou, fazendo carinho nas minhas costas.

— Nem eu. Principalmente tão perto — respondi, mas estava em uma corda bamba. Minha respiração está bem acelerada. — Mas se incomoda se eu tirar a minha blusa? Porque eu realmente não posso cometer a gafe de aparecer amarrotada, e correr o risco do meu pai aparecer. Ficamos mal falados por aí por causa do esconderijo.

Ele gargalhou, se afastando um pouco, para eu poder ter liberdade para tirar a blusa. Não tive vergonha, porque mesmo que minha mãe tenha deixado uma marca, estou com uma blusa fina que cobre, então ele nem percebeu. Saí da cama, tirando a saia, da mesma forma que ele tirou a blusa, e colocou uma calça de moletom.

Deitamos, e ele me abraçou, bem apertado, no silêncio escuro de seu quarto.

— Vai ser muito bom poder dormir assim com você todas as noites — sussurrou, afagando meus cabelos.

— Diz isso porque não tivemos a experiência de nos vermos sem nada no sangue de manhã bem cedo, com bafo, ou algo do tipo — riu, assim como eu. — Só mais três semanas.

— Espero que passem rápido — disse. — Sério. Não por nada. Apenas quero poder dormir na certeza de que vou acordar e você vai estar aqui. Comigo.

Em seus olhos, olhando bem nos meus, não desviando por um segundo, acelerou ainda mais meu coração, apressada. Eu amo tanto ele.

— Só vamos dormir — respondi, com um sorriso. Mesmo sendo certa sobre meus sentimentos, eu não quero que vamos além do que beijos, principalmente tão perto de estarmos juntos até sabe-se lá quando.

Mas não me impede de deixar que me deixasse. Gentilmente, Peeta me beijou calorosamente, aproximando nossos corpos, nos deixando envolvidos pela brisa bem gelada que entrava da varanda de seu quarto. Quis que nós tirássemos tudo o que nos impedia, porém não deixei.

Seus beijos foram escorregando, literalmente, para meu pescoço, descendo um pouco a alça da blusa, me deixando ofegante. Céus, Peeta.

Não fiquei parada, somente. Beijei ele outra vez, nos fazendo rolar um pouco na cama, me deixando por cima, com um edredom entre nós, por eu sentir mais frio. Suas mãos caíram da minha cintura para as minhas pernas, e instintivamente as minhas tiraram sua blusa.

Nós dois muito ofegantes.

Onde vamos parar? Você sabe bem, Katniss.

No instante seguinte, entre os sorrisos, beijos, e palavras doces, e outros muitos beijos, minha blusa foi fazer companhia a sua, revelando meu corpo.

— Katniss… — Peeta falou, underneath his breath.

— Peeta… — respondi, quase inconsciente das minhas atitudes. — Por que não fala aquelas três palavras?

Perguntei, tirando o edredom do nosso meio, podendo ver o quanto nós afetamos um ao outro. Se sentou, como sobre si, sobre suas coxas, com uma das mãos na minha cintura, e outra castamente na minha coxa.

— Porque você não precisa delas, Katniss — beijou minha clavícula esquerda, respirando lentamente, enquanto suas mãos faziam massagem na minha pele arrepiada pelo frio e por nossa condição. Este lugar nunca esteve tão quente, por sua respiração e minha, mas ao mesmo tempo, nunca esteve tão frio, pelo vento que uivava lá fora.

— Eu ficaria feliz em ouvi-las — sussurrei, vendo que se arrepiou fortemente. Sorri, me aproximando mais, fazendo com que seu rosto ficasse um pouco abaixo dos meus ombros, mas outros pontos de nós se tocaram. — Ah.

Fechei os olhos, recebendo um beijo entre meus seios. E depois outro, até entender que trilhava até minha boca, invertendo nossas posições, mas não deixando seu peso sobre mim.

— Não vou dizer o que já sabe, madame. Se eu desconfiasse que não soubesse, eu falaria todos os dias — respondeu, sorrindo. — Katniss, eu estou falando sério. Você duvida de mim? Do que eu sinto por você?

Em um suspiro, sorri. Sua mão estava subindo devagar da minha cintura.

— Não — respondi, fazendo-o sorrir, descendo a mão, tirando do meu corpo, acendendo, então, o abajur, se sentando na cama.

— Então, não preciso te falar. Você sabe.

— Mas e quando eu duvidar? — perguntei, tocando seu rosto, sentindo a barba que não era permitido que tivesse, ou nenhum outro Selecionado.

— Vou ter que lembrar você — respondeu, simplesmente.

— Como?

Sorriu,  se inclinando, beijando minha bochecha de forma casta.

— Assim.

Senti minhas bochechas ficarem mais vermelhas, mas dessa vez não senti vergonha, necessariamente. Sorri.

— Vamos dormir…

Me pondo para mais perto, eu simplesmente apaguei, sem sonhos, mas dormindo muito bem.

 

Hoje.

 

— Katniss, você precisa comer alguma coisa — Madge disse, em um suspiro, mexendo em meus cabelos. — Pelo menos tentar.

— Não quero comer nada, estou enjoada — respondi, virando o rosto para o outro lado, para esconder as novas lágrimas que se formam em meus olhos.

Seis meses com Peeta parecem ter sido seis horas. Que foram destruídas em segundos, com suas confissões.

— Deixa ela, deixa… o soro está ajudando, é melhor não forçar, quando ela quiser e se sentir bem — Maggs defendeu, fazendo um carinho no meu pé. Cobri meu rosto com o braço, aborrecida, deixando claro que não quero e nem preciso da pena de ninguém.

— Vamos sair, mais tarde voltamos, Katniss… — Minha amiga avisou, em um suspiro triste.

Fecharam a porta, então, pude puxar meu Smarter de debaixo do travesseiro, e encarar com a tela de desbloqueio, eu e Peeta sorrindo, mais uma vez não sabíamos dos fotógrafos, em uma caminhada habitual pelo palácio. Essa foto é de antes do nosso beijo, tenho certeza, pela cor de seus cabelos, estavam mais escuros. No mesmo final de semana, fizeram novas luzes, e ele pareceu ser ruivo, debaixo de outras cores.

Engoli em seco, me forçando a sentir ódio dele. Não consegui. Mas sim de suas mentiras. O lugar onde eu estive, ele esteve com Delly, que era minha amiga. Encarreguei-me de que ela fosse desligada do palácio, mas sei que ainda está aqui por conta de seu noivo.

Pisquei, nervosamente, largando o Smarter ao lado da minha cama de hospital, virando-me para o outro lado, cautelosamente, pelas agulhas espalhadas por meu corpo.

— Querida — meu pai chamou, entrando do quarto, segurando dois pratos de sopa. — Madge disse que não quer comer.

— Não quero — falei, dando de ombros, chorando silenciosamente. — Como está Prim?

— Bem mal, porque a ocupei com aulas de matemática — ri, balançando a cabeça.

— Que crueldade, pai.

— Quer que eu a chame? — assenti. — Mas primeiro, ponha a máscara.

Suspirei, irritada, mas botei, aliviada por terem me ajudado a escovar os dentes mais cedoreclamando com ele.

— Agora eu vou chamá-la.

Saiu, enquanto eu fiquei ali, deitada, sem nada para fazer. Seria tão bom se Peeta aparecesse aqui de surpresa, e viesse me pedir outras e novas desculpas…

Tenha foco, Katniss.

Peguei meu Smarter, decidida, para mudar a foto de desbloqueio.

— Atualizar foto — ordenei.

— Qual foto gostaria, Alteza? — O aparelho perguntou, com uma voz suave, com áudios pré-selecionados.

— A foto onde está eu, meu pai, e minha irmã Prim, na festa de Natal — pedi, e logo apareceu um holograma, com o sinal de que estava carregando.

— Mudança realizada com sucesso.

— Obrigada. — Peguei o aparelho outra vez, na palma da minha mão, e suspirei, em um meio termo, vendo a foto tão bonita, eu no sofá, jogada, rindo muito feliz, no colo do meu pai, e Prim de bruços no encosto do sofá, sorrindo, tranquila. Dei um meio sorriso para a imagem.

Quando sou surpreendida por um buquê de flores, de margaridas, me dando um susto, mas logo vem a vontade de chorar (outra vez), de alegria e pura surpresa, ao ver Gale.

— Oi… eu desconfiei que você não estava bem, chamei o seu pai, mas depois eu não consegui passar pela pilha de gente que ficou guardando a porta do seu quarto aqui no hospital, agora que eu consegui driblar alguns através de uns contatos — deu uma piscadinha, me fazendo rir sincera, muito feliz dele estar aqui. Mas então seu rosto mudou, e tomou um ar verdadeiramente preocupado. — Como você está?

Dei um sorriso torto para ele, e meu coração, que estava agitado, se acalmou. Bati levemente na cama, e ele se sentou, de frente para mim, de forma confortável, já que como é pra mim, é gigante, pedindo para alguém se deitar ali, e dá para mim e ele tranquilamente.

Contei que eu me sinto melhor, e que ainda têm exames sendo feitos, por causa de todas as questões que eu tenho.

Ele o tempo todo prestou atenção, fazendo carinho na minha mão, e no meu cabelo. Como eu quero amar ele. Se eu ficar olhando no fundo dos olhos dele, não vai levar duas semanas para isso.

— Obrigada por vim me visitar. É arriscado para você, inclusive. Obrigada.

Deu um de seus sorrisos tortos, que me deixam tão acelerada. Ele vai governar tão bem, sendo escolhido. Vai ser o meu total apoio para cuidar das pessoas, de ir aonde ninguém foi, e também vai querer fazer isso por atitudes próprias.

Em seus olhos, é impossível encontrar alguma maldade. Gale é Gale.

— Katniss, você sabe que não precisa me agradecer. Eu gosto de você de verdade, faço isso por me preocupar. Eu me importo com você.

— Ah… — tirei a máscara assim que eu o vi, então facilitou para eu me sentar, com sua ajuda, mas o surpreendi com um abraço apertado, beijando rapidamente seus lábios, me escondendo em seu pescoço. — Eu gosto tanto de você. Não sabe o quão especial é para mim. Você ajudou a salvar a minha vida.

Suspirou, enfim me cercando com seus braços, bem apertado, bem carinhoso, como ele sempre é comigo.

— Eu só quero você bem.

— Eu sei — sussurrei, em resposta, muito emocionada. Mas me desvencilhei só um pouco, para olhar em seus olhos outra vez, vendo o ar triste que carregam. O beijei.

Aproveitei por estar com os dentes escovados, e o cabelo penteado, pelo menos, mesmo embora arrasada por dois dias incessantes no hospital, entre a vida e a morte.

O beijei não por pena, não por compaixão, mas porque eu gosto tanto dele, e de toda a segurança que ultrapassa meus entendimentos. Eu nunca sinto medo. Ele não me dá motivos para temer que do nada fique aborrecido, ou coisa do tipo.

Pediu permissão para aprofundar o beijo, e eu cedi, sentindo o sorriso que deu, me fazendo sorrir suspirando, tocando em sua nuca, o arrepiando, me arrepiando.

Nos separamos no que pareceu uma eternidade depois, senti minhas bochechas bem vermelhas, com o rubor que surgiu. As dele estão da mesma forma, claro.

Eu não quero machucá-lo. Já é suficiente para eu querer me afastar. Porém não sei. E agora?

Como se soubesse tudo o que estou pensando, beijou minha bochecha, deitando a cabeça em meu ombro.

— Calma, você têm uma semana ainda. E eu todo o tempo do mundo.

Ri, descansando minha cabeça sobre a sua, afagando seus cabelos. Fechei os olhos, suspirando. Se eu pudesse escolher quem eu queria amar, sempre escolheria Gale.

Peeta é bem provavelmente o que já posso chamar de amor da minha vida. Mas será que posso amar Gale? Será que estou sendo precipitada? O que estou fazendo?

Quem eu sou?

Quem é Katniss Everdeen?

São perguntas que não tenho resposta, infelizmente. Não tenho a menor ideia do que possa significar. Com Peeta, sou apenas eu. Enquanto com Gale… eu também sou eu.

Nos afastamos devagar, ele mexendo carinhosamente em meus pulsos, ajeitando os curativos, que enfaixou a medida de quatro dedos. Gale curiosamente sabe. Eu contei, logo no início da Seleção, pouco depois do ocorrido com Peeta, eu contei, por estar nervosa, e ele ser a pessoa que na época eu gostava, mas não tinha intimidade. Eu pensava que ele era um bom ouvinte. E realmente, eu não estava errada.

Gale entendeu. Também me contou de seu diagnóstico de depressão, ansiedade, e foi a coisa mais reconfortante e também triste, já que eu não queria ninguém passando pelo mesmo que eu, mas saber que ele também passa por isso, é reconfortante por eu saber que poderia ter alguém que realmente soubesse o que eu estava enfrentando naquele momento tão complicado.

— Acho melhor chamar uma enfermeira — comentei, vendo que meus curativos estavam vazando um pouco de sangue. Me senti constrangida, mas nem tanto. Gale é completamente sereno.

— Quer que eu as chame? Posso trocar para você, se quiser. Tenho irmãos caçulas, já fiz curativos bem piores — sorri, assentindo, aceitando sua ajuda.

Pegou uma tesoura sem ponta, em um kit que tinha na outra ponta do quarto, o qual eu não poderia alcançar estando tão debilitada, abriu o curativo, então limpou, fechou, e cuidou. Ficou bem melhor.

Agradeci, com a voz fraca, ainda. E agora por cansaço.

— Vêm, pode ir deitando — disse, fazendo carinho em minha bochecha.

Deitei, sorrindo, me esquecendo por um segundo o que estava acontecendo. Ele veio junto comigo, acatando meus pedidos, mas não apoiou-se na cama, apenas sentou-se melhor ao meu lado.

Quando Prim entrou com meu pai, pulando feito um sapinho, me dando um susto, mas depois cair na risada, pondo a máscara de oxigênio.

Meu pai riu, assim como Gale, e dei graças a Deus por terem chegado depois do beijo, conosco não tendo dado a entender que estávamos nos beijando. Já basta meu pai não acreditar que eu ainda sou moça, depois do evento dos Sulistas.

Eu já passei vergonha o bastante por toda uma geração.

Eles se cumprimentaram, e posso ver o quanto meu pai e Prim se dão bem com Gale, assim como posso sentir uma certa amizade entre meu pai e ele. Acredito que papai tenha feito amizade com ele e Peeta, por também não confiar no meu senso de escolha.

Sem querer foi engatada uma conversa sobre um livro que Prim ama, e de toda uma sequência, que os irmãos mais novos gostam muito.

Ela pediu para ele ler, e foi muito engraçado, pois o livro é sobre crianças espiãs, em um mundo com super-poderes. Gale se sentou do meu lado oposto, pegando em minha mão espontaneamente, em gesto de carinho, e meu pai aos meus pés, enquanto Prim trançava e destrançava meus cabelos outra vez castanhos escuros, mas com bastantes mechas em castanho claro.

Passei mal de rir, assim como Primrose e Papà, com suas imitações dos personagens. Ele leu apenas um capítulo, mas foi suficiente para me fazer quase passar mal, por forçar meu corpo, meu estômago em recuperação, ardeu ainda mais. Porém estou bem. Não há nada melhor do que isso, passar mal em um momento de felicidade.

— Bem, eu infelizmente só fui permitida de vir ver você — Primrose começou todo um drama, bem feito para uma criança de quase 13 anos. — Porém eu estarei voltando em breve. Bem, breve eu quero dizer amanhã. De manhã. Bem cedo. Depois que eu acordar.

— Até parece que você vai vim ver sua irmã antes das onze da manhã de terça-feira, tão perto da virada de ano. — Papai a colocou em seu devido lugar, fazendo com que ela virasse a cara, cheia de raiva.

— O senhor é muito engraçadinho, né?! Só por causa disso, eu vou dormir no quarto do senhor, e vou te acordar cedo!

— Querida, eu acordo seis e meia da manhã. Quero ver você me acordar.

— Eu só acordo depois das nove, não estou entendendo o motivo dessa discussão — me intrometi, causando uma gargalhada em Gale.

— Misericórdia… — o moreno murmurou, rindo, e todos nós também.

— Francamente, francamente! — Prim exclamou. — Vocês só me passam nervoso!

— O quê?! Você da última vez que dormiu comigo quebrou meu Smarter, rachou a minha xícara que sua irmã fez para mim quando tinha quatro anos, e de brinde, recortou a minha camiseta favorita para fazer arte! E isso foi na semana retrasada! — Papai reclamou. Eu me lembro dele no almoço resmungando, chateado com a lourinha, que riu, sem jeito. — E Katniss me deixa com dor nas costas, de tanto que fica chutando.

— Ai mas que ultraje falar de mim dessa forma com um Selecionado bem aqui do meu lado, pai… — falei, com os olhos semicerrados, vendo que condeno ele falando de mim, mas apoio “dimafar” Primrose.

Ela é um amor, mas mesmo que vá fazer 13 anos em pouco tempo, é uma criança, estraga as coisas, sem nem sentir, com suas peripécias.

— Ai, ai! Eu não preciso do senhor me fazendo companhia também! Eu tenho o tio Frank, e a esposa dele! Vou ir chamar a tia, e pedir para eu dormir com a Emily! Katniss, você passe bem aí. Beijos apenas para você, Gale!

Pouco tempo depois, Gale e meu pai também saíram, porque pela tarde eu seria liberada.

Então, veio toda a minha frustração e depressão, sozinha nesse quarto gélido de hospital.

Olho meus braços machucados, e suspiro. O que eu estou fazendo?

Senti minhas forças logo irem embora, por causa dos remédios, programados para entrarem em minha corrente sanguínea a cada quatro horas.

 

*Dois dias atrás*

 

Depois de passar a tarde com Peeta, eu sabia que tinha que voltar para meus compromissos, então assim o fiz, porém logo me esbarrei em Gale, que me deu um abraço apertado, me tirando do chão, causando uma gargalhada em mim.

— Para onde pensa que está indo com tanta pressa?

— Minha avó me chama, mas eu estou correndo mesmo porque recebi uma notificação, e vai ter torta de limão agora de tarde. Quer ir comigo? — perguntei, completamente empolgada. Gale abriu seus sinceros sorrisos.

— Só se for agora, estou passando mal de tanta fome — ri, abraçando-o bem sincera por sua cintura. Gale é simplesmente adorável. — Oh, não, eu esqueci meu Smarter no quarto do Peeta, vou lá buscar.

— Não quer que eu vá? — perguntou. Eu o contei sobre minha decisão, e chorei muito quando o fiz. Também o amo. Mas não como é com Peeta.

— Não precisa, Delly está lá, é só buscar, vamos lá comigo — o puxei pela mão, fazendo-o rir sinceramente por minha infantilidade. Sentirei falta dele, de Cato, Blane, Calvin… acabei desenvolvendo grande amizade com cada um deles, vão fazer falta demais.

Mas quando abri a porta, Peeta e Delly estavam abraçados, abraçados demais. O tipo de abraço que se dá antes ou depois de um beijo.

Vejo vultos, os dois me notando, Peeta pedindo licença para Gale, Delly saindo, depois de eu me conter para não socar seu olho.

Peeta pede desculpas. Eu choro. Ele chora. Eu choro ainda mais. Ele chora mais ainda.

— Só me deixe em paz. — pedi, olhando em seus olhos. — Por favor, Peeta. Você deve isso a mim. Me deixa… em paz.

Falei, como se cuspisse as palavras, entre meus soluços. Eu posso sofrer, ser amassada nas cinzas por minha própria mãe, mas isso de Peeta, que ele e Delly pudessem ter namorado, ficado, se tornado “adultos” em minha própria casa, é completamente a medida que tinha para me transbordar.

Peeta tentou se aproximar, mas não deixei. Seu olhar é magoado, mas tenho certeza de que o meu carrega duas vezes mais o que qualquer coisa que ele possa sentir.

Vultos, vultos, Gale segurando minha mão, eu segurando a dele, mas solto, sem saber o motivo, acho que agi de modo rude, mas ele pareceu não se importar. Saiu correndo na direção oposta. Vi minha mãe ao longe, Gale parou para falar com ela. Entro no quarto, tranco a porta, apertando a chave até a palma das minhas mãos sangrarem.

Caminho até o banheiro, a banheira cheia de água, como está programada para estar. Sorrio, de forma desnaturada.

Desfaço os cachos naturais com meus próprios dedos, e troco o casaco por uma blusa fina e simples e pijama, que estava na cabeceira da banheira, e peguei o copo de água limpa que aguardava, ao lado de todos os meus remédios. Sorri para meu próprio reflexo. Tão linda, com todo o rosto manchado pelas lágrimas e o cabelo desordenado.

Ao tocar em minha caixa menor de medicamentos, eu senti que tudo em mim se desligou.

Katniss! Minha mãe grita. Engulo tudo de uma só vez, quase engasgando quando ela puxa meus cabelos longos. Puxa sem dó nem piedade. Bota isso para fora agora! Ela berra, me jogando no chão. Mal sinto minha cabeça bater quase em um estalo no chão branco do banheiro.

— Me deixa pelo menos morrer em silêncio — balbucio entre soluços, pela soca meu corpo, louca, nem eu consigo entender o motivo disso. — Pelo menos explica… por quê, mãe?

Encaro seus olhos azuis, furiosos.

— Você nasceu com os mesmo problemas que eu. Não quero você viva para passar por tudo o que eu passo — disse, apertando com força minha garganta, trazendo vômito, mas não consegui muito além de me engasgar, por não conseguir sequer respirar.

Choro. Choro. Choro. A última coisa que verei será os olhos azuis da minha mãe, cruel, que sequer consegue se explicar.

Eu queria apenas ter paz.

Sinto meu corpo ser arrastado, quero reagir, mas peso demais, todos os calmantes estão surtindo efeito, rápido demais. O desespero não permite que eu respire quando ela afoga minha cabeça na banheira, jogando meu corpo.

— KATNISS! — o berro do meu pai, ultrapassa tudo. Mesmo sendo afogada pela minha própria mãe, morrendo aos poucos por remédios, posso ouví-lo. — KATNISS! MADELAINE, O QUE VOCÊ PENSA ESTAR FAZENDO?! FRANK! FRANK!

Meu corpo é tirado das águas, logo vomito em meu tio, que chama minha tia.

— Ela está sangrando pelos ouvidos! Katniss, você… oh, meu Deus. Oh, meu Deus.

Corre, sinto meu corpo ser deitado na cama, pelo menos seis mãos tocam meu corpo, não sei, não tenho forças para abrir os olhos.

Minha mãe grita tão forte, tão alto. Quero ela longe de mim, mas sua voz se aproxima, se aproxima. Meu pai e tio Frank gritam, gritam.

Só sinto meu corpo ser derrubado, nunca ouvi tantos gritos em toda a minha vida, quase quebrei um dente. Prim, essa chora inconsolável.

— Pega a Katniss, Antoine, e induza ela a botar tudo para fora! — Tio Frank pediu, gritando desesperado, pude ver ele segurando minha mãe, possessa. Tia Anastacia mantinha Prim na beira da cama.

— Minha irmã, papai! O que foi que aconteceu com ela?! Katniss! Katniss! — Prim grita, grita e grita.

— Deixe que ela morra! — Minha mãe fala, mais alto que todos, calando a voz dos guardas, que pareciam sem nenhuma defesa, por não saberem o que fazer dadas circunstâncias. Mas, realmente, o que lhes restava fazer?

— Filha, por favor — papai pedia, chorando, afastando meus fios molhados do rosto. Não tenho forças. Nem para olhar seus olhos iguais aos meus uma última vez.

Mas sinto algo, em algum lugar do corpo, e consigo vomitar, mas apenas sangue, pelo o que posso escutar. Minha mãe continua berrando.

— Para o hospital, agora! — Daí, era algo que não vinha mais de mim. Tudo se repete.

Infelizmente, falhei miseravelmente uma outra vez, na tentativa de tirar minha vida. Um alívio, ou mais uma derrota em minha lista de fracassos?

 

Hoje.

 

— O que acha do seu novo quarto? — Madge pergunta, logo assim que me sento na nova cama, em um quarto menor que o anterior, que está em reforma, depois de todos os acontecimentos. Fiquei somente três dias no hospital, porque eu não queria mais ficar presa lá. Aqui, sigo em “cativeiro”, mas ao menos nao tem cheiro de morte.

Dou de ombros, ignorando. Agora, eu apenas não quero conversar. Mas faço uma pergunta.

— Gale está vindo mesmo? —  Olho para a loira, minha amiga. Assente, em um tom culpado. Suspiro.

— Katniss, como eu posso te ajudar?

— Só deixa a janela aberta, por favor. Obrigada, Madge. Pode sair.

Ela apenas assentiu, concordando, afastando-se.

Deitei na cama, suspirando. Há uma câmera nesse quarto também. Sou monitorada todo instante, e não é como se eu estivesse debaixo do direito de poder criticar meu pai, uma vez que eu ainda esteja em recuperação.

Vi Gale entrar, serenamente, com uma calça de moletom cinza escura, uma blusa preta, e o cabelo normal, sem um penteado ao certo. Ele parece ser até mais novo do que realmente é. Parece ter uns 16, no máximo, quando não está usando terno, penteados sociais.

— Para você — avisou, deixando um envelope na mesa ao lado da cama, junto com uma margarida, a minha flor favorita. Simplesmente se deitou na cama, e eu me aproximei, deitando com a cabeça em seu peito, suspirando profundamente.

Ouvir seus batimentos cardíacos serenos, embora um pouco acelerado, de vez em quando, é o que faz os meus se acalmarem também.

— Obrigada por vir — contei, em um sussurro. — Obrigada, Gale. Eu não mereço isso.

Ele suspirou.

— Katniss, você merece muito mais. Sabe que eu faria qualquer coisa que pudesse por você. Não faço porque sou só eu. Não é, e nunca foi, para mim, um fardo estar com você, ou investir meu tempo com você.

Quis falar algo. Mas ele quem não deixou. Passou um braço sobre meus ombros, e de maneira infantil, passou uma perna sobre as minhas, me prendendo a si. Ri, me deixando ser envolvida pelo momento.

— Não fale nada, Katniss. Eu estou aqui porque quero estar, porque eu quero fazer algo por você com todo o meu coração, e se for para acompanhar você, que assim o seja. Ok?

Assenti, olhando para seus olhos claros. São tão inocentes. São como olhos castanhos escuros.

Deixei que Gale Hawthorne me abraçasse, mesmo que meu corpo, alma e espírito chamassem por Peeta Mellark. Eu não posso ficar insistindo em algo que eu sei que não me fará bem. Os médicos disseram que meu caso de depressão pode ser reversível, e não existe ninguém nesse mundo que possa fazer algo, a não ser eu mesma.

Não acho que exista algo pior para escutar, depois de uma tentativa de suicídio, que o único jeito é você reagir, e querer que a mudança de fato ocorra. Porém eu disse para mim mesma que começaria a me esforçar, que não dependeria de remédios.

— Você está febril — Gale nota, pelo menos meia hora depois, nós dois em completo silêncio. — Katniss?

Meu peito está apertado. Soa errado tê-lo aqui. Mas eu sei que esse mesmo coração o quer aqui, por saber que ele será melhor para a minha recuperação, e o resto da minha vida. Eu preciso ser forte, mesmo quando quero ser fraca. Quando preciso ser fraca.

— Só quero que você fique aqui — pedi, baixo. — Por favor. Só fica aqui.

Ele assentiu, e não disse nada, mas me senti preenchida pelas batidas de seu coração.

Eu sei que Gale vai ficar, independente da circunstância. Mas penso se o mal que estou fazendo não é ainda pior por saber que não é ele quem eu realmente quero ao meu lado na cama, mas um loiro de olhos azuis, proibido de sequer passar na minha frente, e retido, inclusive, de estar nos mesmos lugares do que eu, por ordens de meu pai, mesmo que esteja contrariado em ter tal decisão.

Ainda quero morrer. Ainda quero que eu feche os olhos, e seja a última vez, porém eu me prometi que me esforçaria. Eu vou conseguir, mas fico me questionando, conseguir o quê, Katniss? Viver. Viver é muito mais do que só existir.

Mas e se eu me esqueci do significado?

— Hey, eu estou aqui — Gale me lembrou, do nada, me fazendo perceber que estou chorando. — Vem, vamos sair daqui.

Pegou na minha mão, depois que por dentro fiquei triste por termos saído da posição onde ele me abraça totalmente.

— Meu pai vai reclamar se não formos para onde ele possa monitorar — ele sorriu, tranquilo. Nada é forçado com ele também. É meu amigo.

— Você não vai receber uma bronca, está comigo. E relaxa, está tudo bem.

Continuamos andando pelo último andar do corredor dos quartos reais, até alcançarmos uma porta de vidro, que eu pouco passo.

Seguindo a trilha agradável, com vista panorâmica pelo terraço do palácio, subimos cinco pequenos degraus até chegarmos em uma segunda estufa, que praticamente ninguém usa.

— Como você sabia desse lugar? Nem eu venho aqui — ele riu, esperto, me lançando um olhar de que sabe muito mais do que isso.

— Tenho  umas fontes, e gosto de ficar testando as passagens secretas espalhadas pelo palácio — dei um meio sorriso, olhando em seus olhos, azulados por causa do dia nublado. Faz frio em Angeles, o bastante para usar uma calça de pijama, mas ainda não o suficiente para um casaco.

Mas um vento frio nos cercou, fazendo as flores, todas tulipas vermelhas, presente do pai de Nicolau, há uns dois anos, juntamente com algumas pequenas árvores e nossos cabelos voarem um pouco, me causando uma sensação de paz que não se pode descrever com palavras ou gestos, mas Gale se esforçou para passar para mim o que sentia, e conseguiu, do modo mais casto possível.

— Sei que geralmente conversamos sobre músicas, políticas, quando você quer reclamar, mas hoje, eu sei que precisamos falar no silêncio. Não te cobro nada. Quero apenas que fique confortável. E se quiser que eu vá embora, eu vou. Mas eu não quero ir.

Sentou-se ao meu lado, pegando com muita leveza na minha mão. Eu sei que o disseram o que fiz contra minha vida, pois ontem descobri que ele estava no quarto quando meu pai me encontrou. Gale viu tudo, e ainda sim, permanece, sem me olhar com pena, ou tenta demonstrar algum tipo de interesse oculto, como se eu carregasse uma coroa invisível. Esqueci-me de Peeta totalmente nesse momento.

— Eu não quero que você vá.

Fechei meus olhos, com a proximidade de seu rosto, e o encostar dos nossos lábios, no jardim secreto.

— Nunca vou ir embora. E você não precisa, e sequer deve me dar alguma satisfação ou resposta hoje, agora. Tudo no seu tempo.

Sabia da veracidade de suas palavras, e sabia que nós dois sairíamos mal no final dessa história, mas deixei as emoções me conduzirem, a medida que eu sentia que deveriam.

No final, as coisas vão dar certo. Mas eu primeiro tenho que estar bem, e sei que Gale vai me ajudar nisso, assim como meu pai, Prim. Por que então me sentir mal agora?

Mas ainda me questiono, quem sou eu. Quem é Katniss Everdeen? Será um longo caminho até eu conseguir responder, mas espero que eu ache logo um mapa, porque preciso de respostas, urgentemente, pois em quatro semanas, eu estarei sendo coroada rainha de Panem, e ao meu lado está alguém com quem passarei o resto de meus dias ao lado.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu estou correndo contra o tempo, mas gente, espero muito que tenham gostado, mesmo que esteja muito confuso, eu garanto que isto tudo fará sentido nos próximos capítulos.
Não quero me estender, para responder todos os comentários que ainda faltam, mas digo que gente, cada opinião que vocês me dão é extremamente importante, eu leio tudo, amo demais, demais, choro lendo, gente, vocês não sabem o quão especial são, e o tanto de coisa que eu deixo de lado apenas para poder dar o melhor de mim para vocês, muito, mas muito obrigada por tudo.
Estarei atualizando no dia 12 de outubro, não é sacanagem nenhuma kkkkkkkkkkkk não vou deixar spoilers, mas estou trabalhando muito pesado.
É sto, minha gente, amo muito vocês, obrigada por terem salvado esses últimos três anos, e que Deus abençoe cada um de vocês, porque infelizmente eu não posso fazer muita coisa, a não ser me apegar às palavras, é tudo o que eu tenho, mas é tudo o que estou oferecendo à vocês. Obrigada. Obrigada. Paz, amor, e muitas alegrias. Obrigada, gente.



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