A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 24
Pessoas ajudam pessoas (Bônus) | A Elite


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal, como estão? Eu estou muito envergonhada de estar vindo aqui postar depois de quase dois meses sem ter atualizado, e ainda mais por estar com esse capítulo pronto desde domingo, mas eu entrei em uma bad, na verdade, minha vida tem estado bem bad, mesmo que o meu visto tenha sido aprovado _ Eita, mãe, pense em uma carioca favelada lá no consulado rindo quando o cara disse "boa viagem", e um pai na mesma emoção. Fiu eu e meu pai, não nego_, mas ponte que caiu, amanhã tem prova de física, e quem estuda em colégio estadual sabe que existe uma prova idiota e desnecessária chamada OBMEP, onde eu fiz, cagando e andando, até porque eu não tenho interesse em nada de exatas, mas ai o professor disse que quem acertasse 15 questões levaria um ponto.
De repente me pareceu uma prova tão importante, né? E eu estou assim: acabada. Por mais que eu gaste muito no snap, whatsapp, twitter (esse lugar tem sido minha segunda casa, meu Deus, e o Snap é o quarto), eu tô muito cansada, e com a fic nova (mas que vai acabar em três capítulos, o que vai me deixar livre para me dedicar a esta fic), e foi mais difícil do que eu esperava escrever esse capítulo, pois são muitos fatos para narrar.
Mas bem, aqui está, e com todo meu coração eu agradeço a todos/todas que comentaram e favoritaram a fic, eu mais uma vez fiquei extremamente emocionada e muito agradecida por todos eles, dando a certeza absoluta de que eu responderei todos os comentários dos últimos cinco capítulos e mais alguns do ano passado (que eu consegui responder mais de vinte, graças a Deus), e olhem... como eu sou grata a todos vocês que comentam e me apoiam. Isso é tão importante para mim, que nem pode caber aqui!
A fc nesse meio tempo recebeu mais duas lindíssimas recomendações, da Everdeen Mellark e Brigadeiro de Panela, assim como eu recebi uma mensagem adorável da Dany, e meninas, dedico este capítulo em especial para todas, mas espero de todo o coração que todos aproveitem o capítulo, sabendo um pouco mais do que se passa na casa da família do Peeta.
Beijos, muito obrigada a todos que acompanham, e saibam que fazem meu dia muito mais feliz e empolgante com um simples "continua".
Ps: há um momento do texto que a música fica melhor, então coloquei um link em uma parte que indica espaço de tempo e logo no começo, como sempre faço, ai quem quiser :)
Vou deixar o link nesse aqui >>> ^+^



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Deus sabe o que está se escondendo

Naqueles fracos e afundados olhos

Uma multidão ardente de anjos silenciados

Dando amor e recebendo nada de volta

 

Oh, pessoas ajudam as pessoas

E se você tem saudades de casa

Me dê a mão e eu vou segurá-la

Pessoas ajudam as pessoas

Nada vai te deixar pra baixo

Oh, e se eu tivesse um cérebro

Oh, e se eu tivesse um cérebro

Eu seria frio como uma pedra e rico como o tolo

Que fez todos os corações bons embora

 

Deus sabe o que está se escondendo

Nesse mundo de poucas consequências

Por trás das lágrimas, dentro das mentiras

Mil sóis morrendo lentamente.

Deus sabe o que está se escondendo

Naqueles fracos e embriagados corações

E acho que a solidão veio bater

Ninguém precisa ficar sozinho, oh, cantando

— People Help The People, Bird

— Stuart! Stuart! — Imediatamente larguei as coisas de mecânica e fui atrás da voz de Amélia, encontrando-a segurando as lágrimas, na porta da cozinha. Passei as mãos na bermuda jeans bem gasta na intenção de tirar a maior parte do óleo das minhas mãos.

— O que aconteceu? — perguntei, preocupado. Ela anda muito estranha ultimamente. Na verdade, todos nós, mas principalmente ela. Seus olhos são foscos como uma parede coberta por clara de ovo, passando algum rastro de brilho apenas quando Peeta aparecia na TV ou mandava cartas.

Mas o que esperar se é ela e o papai que seguram a barra toda aqui em casa?

— Eu preciso sair um pouco de casa, eu vou para a feira no Quatro, trazer algumas frutas... — desviou os olhos castanhos, olhando para o alto, passando as mãos nas bochechas, para tirar o rastro das lágrimas, então, voltou a me olhar. — Pode dar contar da mãe enquanto isso? Ela está em um dia mal.

Estava explicado suas lágrimas. Era a quarta semana que mamãe não apresentava melhora. Amélia e meu pai sempre estavam na linha de frente com Stacy - que dedicava o dia e a vida para cuidar da mamãe, dar remédios e fazer as comidas com tudo o que é necessário, e parece ter envelhecido uns bons cinco anos com tudo isso, com os olhos totalmente foscos e sempre fora de órbita -, então, eu ficava encarregado de desviar toda a atenção de Amanda e Ben, mesmo que Mandy fosse mais velha do que eu, ela era a mais sensível.

— Não precisa nem me pedir isso, cara — eu disse, suspirando. Stacy foi levar Ben para a escola, junto com Amanda. Estou sem professores, então tenho passado mais tempo em casa. — Pode trazer um biscoito de maizena? — pedi.

Ela abriu um meio sorriso. Com a beleza que tinha, era quase um pecado vê-la tão devastada assim.

— Estava esperando você me pedir isso — falou, com a voz baixa. — Vou tentar voltar antes do pai chegar. Não vou demorar.

Balancei a cabeça concordando, sentindo ela deixar um beijo no alto da minha cabeça, para então pegar sua bolsa, arrumar a blusa bege e calça jeans para sair na rua, com uma expressão abatida, e eu não me surpreenderia se soubesse que chorou durante todo o percurso.

Que ela não cumpra a promessa e volte um pouco mais tarde, pensei. Eu me sentia um idiota por não conseguir fazer as coisas melhorarem. Amélia estava sendo nossa mãe agora, com apenas 18 anos. Ben estava, na semana passada, com dor de estômago, vomitando direto, com muita febre e dor de cabeça.

Para não atrapalhar nosso pai — e até mesmo a gente —, ela cuidou de tudo sozinha, mesmo que para isso significasse não conseguir dormir.

Peeta? — Quando aproximei-me da minha mãe, eu a enxergava completamente. Mas assim que falava, eu não a reconhecia. Não era a minha mãe, era uma completa estranha, no entanto, que eu ainda amava.

— Não, mãe — respondi, segurando suas mãos, mas como o previsto, ela se esquivou, assustada. — Calma, sou eu, Stuart. Irmão do Peeta e da Amélia. Sou um dos seus filhos.

Por mais doloroso que era fazer isso, e por mais raiva que eu sentisse, às vezes, quando era confundido com uma frequência absurda com Peeta, não conseguia de forma alguma ser rude com ela. Infelizmente, o amor e o carinho não curavam as pessoas, mas evitavam problemas para nós mesmos. Amar é mais fácil que odiar, e cuidar é mais fácil que não perdoar. Já estamos sujeitos à tanta coisa, porque não evitar mais doenças?

— Filhos? Eu tenho filhos? — perguntou, confusa. Eram quase sempre as mesmas perguntas todos os dias, e era chato ter que respondê-las, mas eu o fazia de bom grado. No final, sempre conseguíamos um sorriso, e talvez, um abraço, em seus melhores dias.

— Sim, mamãe, a senhora tem — eu disse, segurando em sua mão, de modo que ela não saísse dali. Segurei em sua mão como se eu fosse perdê-la para sempre. — Seis filhos. Amélia e Peeta são gêmeos, depois, Stacy, Amanda, eu, que me chamo Stuart, e o mais novo se chama Benjamin, mas o chamamos de Ben.

— Minha mãe desaprovaria tudo isso — ela disse para mim, séria, olhando-me dentro dos olhos. — Eu não sou casada.

Papai ficava arrasado quando a ouvia dizer isso, e nós também, pois seus olhos brilhavam quando ele chegava em casa e vice-versa. Isso não faziam três meses.

— Sim, a senhora é, com o meu pai. Samuel Mellark, se casaram quando tinham 20 anos, olhe aqui a foto — Por estarmos na sala, o álbum de fotografias estava na mesinha de centro com frequência, já que era o lugar que ela mais ficava. O médico aconselhou que provássemos as coisas com fotos ou objetos, então, porta-retratos foram espalhados pela casa.

— Oh... — ela balbuciou, admirada com a foto. Eu também sorria para a foto dela e do meu pai, com suas melhores roupas, sorrindo abraçados, próximos à prefeitura onde tinham oficializado o casamento.

— Sim, esse é ele, que não mudou muito — garanti, com um sorriso torto.

— Sam... — falou, com os olhos cheios de lágrimas. — Onde ele está, Stuart? Me prometeu que iríamos ao cinema.

Fiquei confuso.

— Ele está no trabalho, mãe, e não há mais nenhum cinema em Sant Cloud — respondi, fazendo carinho em suas mãos um pouco calejadas, mas apenas aquelas mãos faziam a melhor comida do mundo, faziam o carinho e o afago mais gostoso que o universo poderia um dia imaginar.

— Ah... — disse vagamente, esfregando os olhos. — Meu nome é Alicia. Verdadeiro ou falso?

O médico dela conversou com todos nós, e pediu para, em momentos dos quais ela se sentir confusa ou algo parecido, podemos sugerir o Verdadeiro ou Falso, depois que ela faz uma afirmação. Eu particularmente adoro brincar assim, pois se eu colocar na seriedade sempre, um dia vamos nos estressar, sendo que a minha mãe não tem culpa dessa doença.

Verdadeiro. Alicia Lawrence Mellark.

— Minha profissão é artista. Verdadeiro ou falso? — Eu sempre sentia vontade de chorar quando ela errava as coisas sobre si. Qualquer um poderia notar de bem longe a sua sinceridade.

— Falso, mãe. A senhora cozinheira. Seus doces são os melhores do mundo.

— Eu sei fazer torta de morango... E você gosta. Verdadeiro ou falso? — Sorri.

— Verdadeiro. Bolos e tortas são sua especialidade, e eu e Amélia amamos.

— Você poderia me ajudar a fazer um bolo? Lembrei de uma receita, mas estou confusa... — indicou que iria se levantar, e eu a ajudei. Ela não era mais alta que eu.

— Claro, mãe, mas a senhora não pode mexer no fogão. Espere na sala, mas me conte a receita, está bem? — Meu pai aconselhou a todos nós que não deixássemos ela sozinha por muito tempo, e nem ficasse próxima ao fogão, porque ela pode se queimar, se machucar, e se tem uma coisa que o meu pai preza é as nossas vidas, e não muda quando falamos da minha mãe.

— Ah... — seus olhos marejaram. — Eu me lembro de cozinhar para vocês. Hoje vocês são obrigados à cozinharem para mim...

— Mãe, não chore — passei meus polegares com cuidado por debaixo dos seus olhos. — Nós todos amamos a senhora, e só estamos retribuindo todos os seus esforços.

— Mas é minha obrigação! Eu sou sua mãe, Stuart! — Senti meus olhos lacrimejarem, pois eu não escuto ela dizer algo semelhante fazem mais de três meses. Ela sempre confunde meu nome com o de Peeta, e diz que é minha tia, geralmente.

— Sim, mãe, você tem responsabilidades sobre mim, no entanto, deixe que eu te ajudo — nos guiei para a cozinha, fazendo-a se sentar na sala, e deixei a tv ligada em um canal que lhe agradasse.

Desde que Peeta nos envia dinheiro — que em um mês é o que levamos nove meses para ganhar —, podemos comprar comidas melhores e deixar que nossa mãe seja cuidada no melhor centro médico de Sant Cloud, mas ainda sobra bastante dinheiro.

Amélia deixou pronto uma torta de frutas vermelhas, então tirei um pedaço para mim e para mamãe, buscando duas colheres e dois potes pequenos para comermos. Guardei tudo no lugar, então fui para a sala, encontrando minha mãe dormindo deitada no sofá, mas sorri com isso. Coloquei nossos potes na mesa e fui até ela, beijando o alto de sua cabeça, cobrindo seu corpo esguio com uma manta que já estava ali, e também fechei a janela, já que estava entrando um ar bem frio, indicando a proximidade do inverno.

Suspirei, derrotado. Era sempre a época mais difícil do ano, por não termos como nos protegermos do frio, mas agora temos, no entanto... E as pessoas que não tiveram indiretamente a mesma sorte que tivemos? Peeta é o Distrito mais baixo, e o mais "próximo" dele é o Selecionado Gale Hawthorne, que é do Cinco.

Mas antes Cinco do que Sete.

Sentei no chão da sala, depois de pegar os potes com torta, comendo enquanto assistia um documentário qualquer. Sem nem pegar algo para me cobrir, dormi ali mesmo no tapete felpudo.

~^~

— Bença pai — pedi, sorrindo para meu pai, que acabou de chegar do trabalho, com uma expressão bem cansada.

— Deus te abençoe — respondeu, com um simples aceno para todos nós, indo para o quarto.

Todos nós nos entreolhamos. Peeta saberia como lidar com isso, provavelmente. Amanda estava cansada de nos animar. Suspiramos.

— Stuart, você lava a louça hoje? — Stacy perguntou com Ben no colo, dando na boca do nosso irmão mais novo, que estava com um pouco de febre. — Amélia já foi dormir.

— Eu cuidei da mamãe de tarde, mas tudo bem — respondi.

— Não, eu lavo, não tenho nada pra fazer — Amanda disse, já se levantando, pegando os pratos, com exceção do de Ben.

— Quelo ajudá — o caçulinha disse. — Por favor.

— Não, Ben — respondemos juntos, e ele bufou, revirando os olhinhos azuis-turquesa.

— Vou contar p-pro Peeta — ameaçou, com a boca cheia de purê de batata e salchicha. Todos rimos.

— Stuart, a Amélia está acordada? — Meu pai perguntou, com o cenho franzido, olhando para um papel diferente.

— Já está dormindo... É uma carta do Palácio? — O olhar de todos foram para papai.

— Sim... Ao que parece, iremos ver o Peeta novamente.

O clima ficou tenso. Ele havia saído?

— ... Juntamente com toda a família Real — e o sorriso que quase nunca vemos, com exceção de de quando ele e mamãe juntos relembravam de momentos importantes, brilhou em seu rosto, animando a todos nós, até Ben, que parecia um pouco alienado as coisas.

— Peeta vai ser rei, papai? — o moreno caçula perguntou. Stacy riu.

— Ao que parece... Sim — Meu pai respondeu, sorrindo, meio sem acreditar. Eu também não estava acreditando, embora já esperasse isso desde o começo. — Todas as famílias de todos os Selecionados foram convocados, mas aqui solicita a minha presença, da Ali e a de Amélia no escritório da Princesa. Talvez signifique algo. Foi a mesma quem assinou, olhem — e entregou a carta para Amanda, que riu, emocionada. Ben gritou e bateu palmas de animação, assim como Stacy, nos fazendo rir.

— Ai meu Deus! Vou acordar a Amélia! — exclamei, correndo para o nosso quarto. Tudo estava mais confortável agora, mas a gente tinha que ter um pouco de cuidado ainda, ainda mais que Amélia dormia com Ben na cama que estava junto da parede, onde foram instaladas duas bicamas, e uma cama box de solteiro, ou seja: dormimos melhor do que um dia poderíamos imaginar.

— Mel! Mel! Acorda! — falei, balançando ela, que dormia na cama debaixo e eu na de cima.

— Que foi, insuportável? — perguntou, rouca pelo sono, esfregando preguiçosamente os olhos. Cruzes, ela e Peeta até isso tinham em comum: amor exagerado pelo sono.

— Carta do palácio! Vamos ver o Peeta em dois dias, cara! — ela abriu os olhos, me encarou, semicerrando os olhos castanhos claros, então no segundo seguinte correu feito louca em busca da carta.

Cadê?! — perguntou em voz alta, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo com os próprios fios.

— Aqui, Mel — Amanda disse, sorrindo, passando a carta para a primogênita, que tomou como se aquilo fosse sua máscara de oxigênio. Se fossem em outras circunstâncias, e Peeta quem estivesse aqui e ela lá, em uma Seleção para se casar com o príncipe, seria a mesma reação. Eles nem sentem que são tão iguais, mas quem vê de fora sim, e nos assustamos muitas vezes. Como podem sentir a dor um do outro de tão longe? Eu sou irmão dele, e é inegável nossas semelhanças físicas, exceto pelo fato de que meus olhos são como os da mamãe, castanhos claros, e tenho sardas, mas eu não fico doente quando Peeta também fica, nem Ben ou Stacy ou Amanda.

Mamãe diz que eles dois são unidos desde quando estavam na barriga dela, e nas ultrassonografias, embora não fossem da mesma placenta, sempre estavam acordados juntos, chutavam juntos, e é assim até hoje. Era engraçado acordar e vê-los dormindo em lugares diferentes mas na mesma posição ou algo assim. Mais ainda era quando dormiam na mesma cama, geralmente quando Ben dormia com nossos pais, eles ficam totalmente abraçados, um com uma perna em cima do outro, enquanto eu não suporto que me abracem.

Eles tem as almas interligadas.

— Não acredito que vou ver ele... Ai meu Deus... — e começou a chorar, sentando-se no sofá da sala, com uma mão na boca. Troquei olhar com meu pai, que guardava suas lágrimas, eu podia enxergar por trás de seus olhos azuis, que ultimamente estão tão pensativos e foscos. Olhei para minhas irmãs, que olhavam para mim. Não é para elas virem até aqui e fazerem alguma coisa por Amélia? Eu nunca sei o que fazer. Sou um idiota total.

Mas antes que elas pudessem vim, sentei-me ao lado da minha irmã mais velha.

— Posso fazer alguma coisa por você? — ela negou com a cabeça, ainda deixando que lágrimas escorressem por seus olhos tão bonitos. — Certeza? Posso fazer alguma coisa para você na cozinha. Sou melhor que o Peeta na cozinha, você sabe.

Riu, balançando a cabeça.

— Obrigada, Stuart. Só em ter vindo falar comigo vale, Meu Bem — agradeceu, abrindo um sorriso torto sofrido. — É só saudades. Não acho que vamos vê-lo até realmente estar lá.

— É... Acho que é a mesma coisa. Não está algo diferente acontecendo? — perguntei mais baixo. As meninas lavavam a louça enquanto papai pegou Ben para colocá-lo para dormir conosco.

— Sim. Não sei o que é exatamente, por enquanto — respondeu, fungando, no mesmo tempo. — Mas eu sei que Peeta está bem. Você também não sente? Sei que o Palácio exala proteção e algo assim, mas... — suspirou, fechando os olhos. — Ele está bem. Por que a gente não fica também?

Fiquei em silêncio, endireitando a postura, um pouco, franzindo o cenho. Era verdade o que ela dizia.

— Ele sente pra caramba por não poder ajudar a mãe pessoalmente, e se sente um idiota por não estar dando o suporte para a gente, estando aqui e falando pessoalmente que tudo vai ficar bem, mas não é o mesmo que estar aqui. Bom, você sabe muito melhor de como Peeta é. Acho que não ficamos bem porque ele de algum modo é a vida da casa.

— Ele tem uma áurea só dele, não é? — falou, sorrindo como "solucionamos o problema", relaxando as costas no sofá surrado, que seria mudado na semana que vem.

— Com certeza... talvez seja por isso que seja o único que a mamãe se lembra — assentiu. — Às vezes eu gostaria que ela se lembrasse de todos nós, sabe? Dói muito ouvir ela perguntar onde estão meus olhos azuis, mas... é o Peeta. Não podemos ficar incomodados, necessariamente.

Ela riu.

— A princesa é uma idiota se não escolher ele — afirmou e eu concordei 101%. — Não porque todos nos tornaremos Um, na verdade, posso conviver com Peeta no Palácio e eu aqui, a questão é que ele é muito mais do que pensa sobre si mesmo.

— Ah, mas se ele fosse modesto como eu não teria chegado onde chegou. É o meu irmão, não sou gay e tudo mais, mas ele é muito bonito — dei ênfase no muito, fazendo-a rir gostosamente.

— Pode parecer incesto, mas é um gato mesmo, maravilhoso. Mal educado? Sim, mas... — comecei a rir, e ela também. — Precisamos encontrar um raio de Sol dentro de nós e deixarmos brilhar, como ele e Ben conseguem fazer — refletiu.

— Acho que não encontramos ou conseguimos fazer isso porque nos preocupamos com isso, não? Sou péssimo com essas coisas, ah, prefiro números e exercícios por causa disso! Você é muito filo... Filo... Qual é a palavra mesmo? — riu, emocionada mais uma vez por uma razão desconhecida. Acho que é por conta do fim do mês.

Filosófica, Stuart. Filosófica — bufei, revirando os olhos. — Obrigada.

Me levantei do sofá, dando um passo na direção dos quartos, então sorri para ela.

— Vou fazer brigadeiro — falei, e ela assentiu, sorrindo.

— Obrigada.

^+^

Eu estava no décimo sono quando ouvi barulhos de panelas, que me fizeram levantar a cabeça, tentando enxergar alguma coisa na escuridão do quarto, com poucos fios da luz da Lua que penetravam a janela na outra ponta do quarto. Ben ressonava um pouco inquieto no abraço de Stacy, que dormia serenamente, assim como Mandy. Amélia não estava dormindo mais, provavelmente acordou por causa do barulho.

Nós dois somos os mais fáceis de acordar, enquanto Peeta e Amanda os mais difíceis, verdadeiras pedras de aço.

— O que acha que está acontecendo? — perguntei, rouco.

— Não tenho ideia... Vou ir lá, não se preocupe.

E se levantou, indo em passos delicados para a porta, espiando por uma pequena fresta que abriu. Logo saiu do quarto.

Mãe! — exclamou, fazendo minhas pernas serem mais rápidas que os pensamentos, saltando da cama, abrindo a porta rapidamente.

Entreabri os lábios, levando as mãos na boca, assustado com a visão da cozinha com todos os comprimidos do remédio mais forte no chão, misturados as panelas.

— PAI! PAI! — Amélia berrou, chorando, segurando minha mão nos braços, desacordada, com as bochechas rosadas e as mãos cheias de sangue. Junto com as panelas, um copo de vidro estava no chão e um pote pequeno de remédios. Meu Deus. Meu. Deus.

— PAI! — Consegui gritar, indo para o corredor dos quartos, mas logo ele já estava aqui, como sempre, assustado por ter acordado do nada, no entanto, desperto.

— O que... — A cor de seu rosto branco sumiu mais. Não sei como ele aguenta todas essas coisas. — Alícia, amor — falou, sentando no chão da cozinha, pegando minha mãe nos braços, como se ela fosse de porcelana.

Ela parecia uma boneca, ainda mais com os olhos fechados e vestido de dormir que lhe cobria perfeitamente o corpo. Não é porque é minha mãe, mas ela é linda demais, mesmo que já tivesse determinada idade. O cabelo loiro estava ainda mais bonito, por causa da inclusão de novas vitaminas na alimentação, saídas nos horários adequados para pegar Sol a tornaram mais linda, e as mãos mais delicadas do que nunca em seus momentos de lucidez. Mas essa visão toda calma e perfeita era preocupante demais.

— Ela está respirando? — perguntei, dando um passo na direção da cozinha. Amélia estava de pé ao meu lado, prestes a cair, assim como eu.

— Sim, mas bem pouco — papai respondeu, ainda sem se recuperar. — Vou com ela no médico. O que aconteceu?

Olhou para nós dois. Amélia apenas levantou o pote de remédios. Calmantes.

— Só não sei se ela chegou a tomar algum, pai — respondeu, baixo, quase não saindo nada, segurando o choro. Eu podia sentir na alma o nó que se formava em sua garganta, assim como na minha. Será que não podemos ter paz?

Em um piscar de olhos, meu pai já estava de pé com minha mãe nos braços, com todo o amor que ele tinha a oferecer, mas ainda sim, eu não fazia ideia de onde ele tirava forças para continuar. Parecia mais velho do que era com essas situações, claro, mas ele se levantava todos os dias e era o melhor pai que eu poderia um dia imaginar para mim e meus irmãos.

Ele e mamãe radiavam quando estavam juntos, cumprindo perfeitamente o juramente perante Deus que fizeram sobre ficarem juntos até que a morte os separasse.

— Vou com ela para o hospital no Distrito Três, Stuart, pega a pasta com os documentos, e Amélia, minha carteira, por favor.

Não precisou olhar para a gente para que fôssemos fazer o que pediu. Ainda peguei casaco para os dois, pois a noite estava bem fria.

Logo meu pai saia, com minha mãe totalmente desacordada nos braços. Amélia caiu no sofá, começando a soluçar, com as mãos cobrindo seu rosto tão bonito.

— Que droga, parece que quanto mais pedimos e fazemos o nosso melhor, mais a vida, essa droga da vida, anda pra trás! Ela tentou se suicidar! Suicidar!

Não sei por qual razão, mas eu muito dificilmente choro, no entanto, as lágrimas ficam engasgadas na minha garganta quando vejo alguém assim.

Me sentei no chão, ao lado do sofá, e segurei no braço da minha irmã mais velha. Peeta a abraçaria, aninhando-a em seu colo, como faria com qualquer um de nós, porém, mesmo que eu seja sempre confundidos pela nossa mãe, tenhamos aparências semelhantes, não somos a mesma pessoa, e ele sempre nos disse para não sermos sombra de ninguém.

— Estou aqui com você, estamos todos juntos nessa, e vai ficar tudo bem no final, Amélia. Não precisa ficar assim... Estamos todos juntos.

A minha voz não saiu alta como eu esperava, mas ela ouviu, ficando de lado no sofá, fungando, olhando em meus olhos, segurando na minha mão, talvez em busca da certeza das minhas palavras, quando ouvimos um soluço. Olhamos juntos na direção do corredor dos quartos, e lá estava a última pessoa que poderia saber do que estava acontecendo: Ben.

Ele segurava um travesseiro, com uma blusa maior que o que deveria, de fralda, por não conseguir ir no banheiro de noite, e os olhos idênticos ao do papai e de Peeta, intensos por causa das lágrimas.

— Quando vochês vão entender que eu entendo? Eu sei que não tem nada bem, e o Peeta está longe! — disse, tentando manter o choro ordenado. — Papai chola de vez em quando, Saulinho quase não binca mais e Mandy não sorri! Vochês também mudalam! Não estamos juntos se vochês não são sinceros! Não estamos juntos! Estamos sepalados!

Aquelas palavras doíam o coração, pois o mínimo que eu estava suposto para fazer é proteger ele.

— O que está acontecendo? — perguntou, fungando.

— Ben, não tem nada bem — Amélia disse, se sentando, começando a chorar mais uma vez. — A mamãe está péssima, e todos nós também. Eu sinto muito, Ben. Eu sinto muito.

Algumas lágrimas escorreram pelo meu rosto também, eu estava mantendo-me forte por eles dois, mas estava cada vez mais difícil. Eu sou o suporte de todas as minhas irmãs, que ficam muito mais com a minha mãe, arrumam a casa, fazem a comida, enquanto eu dificilmente tenho que cuidar do Ben, pois fico na minha bolha, apenas não fazendo bagunça e não atrapalhando o que elas faziam. Porém... A cada dia que se passava, eu sentia a realidade me comprimindo no chão frio. Não sei por quanto tempo mais poderemos evitar que algum de nós tome mesmo algum remédio para "dormir".

Sinto que nenhum já fez isso por saber que é a única morte que nos envia diretamente para o inferno, que não é um lugar muito interessante para a gente.

— Vem aqui, pequeno — chamei, abrindo os braços para o caçula, que pela primeira vez se abriu sobre o que vinha acontecendo em casa. Ben veio correndo, abraçando-me apertado. — Me desculpe. Eu deveria ser melhor.

Comecei a chorar silenciosamente também, arrasado. Então era isso o que Peeta sentia depois de um dia de trabalho, nós descontávamos nele nossa raiva das nossas vidas e situação financeira. Essa era a culpa que ele carregava todos os dias, porém, a gente nunca sentia quando a coisa piorava — como acontece agora —, pois ele sabia como lidar com tudo.

Sou um grande idiota.

Em algum momento, Ben dormiu, com os olhos um pouco inchados por causa do choro, e eu o deixei na cama com Stacy mais uma vez, que ainda dormia, assim como Amanda — não fiz qualquer barulho, pois trabalhavam bem mais do que eu —, voltando para a sala novamente, com um edredom na mão. Cobri Amélia, que parecia ter a minha idade dormindo, mesmo que com as bochechas avermelhadas e os olhos um pouco inchados, continuava linda, com os melhores traços da nossa mãe e pai, assim como Peeta.

Voltei para o quarto, com o sentimento de derrota. Eu poderia ter sido melhor e evitado tudo isso.

Pensei que fosse conseguir dormir, pois meus olhos queimavam de cansaço e pressão emocional, mesmo que eu tenha chorado, eu precisava de descanso, mas não consegui, pensando na atitude da mamãe. Como ela conseguiu fazer isso?

E lá fui eu mais uma vez para a cozinha, calçando meus chinelos para não machucar os pés, e comecei a guardar tudo silenciosamente. Limpei tudo, passei pano, guardei a louça do jantar que estava no escorredor, preparei um chá de camomila para quando o papai chegasse, pudesse tomar, ou mesmo as meninas.

Algo faltava, e a ideia não entrava na minha cabeça da minha mãe Alícia ter tentado tirar a própria vida. Ela estava lúcida ao fazer isso ou em um ataque de pânico? O que realmente aconteceu? Céus, o que aconteceu?

Perguntas gritavam em meus pensamentos, como se me chutassem com força, causando-me dor de cabeça. Deitei na cama de Amélia mesmo, suspirando, cobrindo os olhos com o antebraço, fazendo uma prece habitual em silêncio, pedindo em súplicas para Deus não deixar que a gente fique louco, que Ele cuide de tudo, porque só Ele sabe de todas as coisas, não é mesmo?

De algum modo, ao me virar para ao outro lado da cama, tudo em mim desligou, e eu dormi, sem sonhos ou pesadelos, apenas desejando que esses dois dias se passem sem mais preocupações e sustos, que tudo fique bem com a mamãe, e principalmente com o papai, que está totalmente consciente do que está acontecendo. Peeta sempre falou para a gente nunca se separar, independentemente do que aconteça. Bom, na verdade, ele nunca chegou a dizer isso, sempre demonstrando em suas atitudes.

Ah... e que tudo fique bem com a gente também, que somos crianças, mas nem nos lembramos disso, apenas de que se não estivermos juntos, não podemos recorrer à ninguém, pois não há que se importe. Pessoas não cuidam das outras pessoas.

Como estaríamos nós se seguíssemos o que nos dá vontade de fazer, isolando-nos em nossas bolhas? Se não nos víssemos como melhores amigos e irmãos, com certeza a situação estaria muito pior. E se há uma coisa que não precisamos...é que essa situação piore.


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Notas finais do capítulo

Everdeen Mellark, Brigadeiro de Panela, Dany, mais uma vez, um super obrigada, meninas! ♥
Bem, pessoal, é isso, espero que tenham gostado do capítulo, mais uma vez peço perdão por ter demorado tanto assim para postar novamente, de verdade, eu deveria ter aproveitado melhor o meu tempo, mas acontece que está tudo tão apressado, que quando tenho tempo vago, não minto, eu acabo aproveitando para dormir um pouco. Mas agora vai melhorar, porque no dia 12 eu venho com uma atualização maravilhosa para vocês já que eu não vou prestar vestibular para a UERJ esse ano, só no ano que vem mesmo para saber como é e etc, e o capítulo está totalmente pronto, basta eu corrigir o que a Lê sinalizou, então venho atualizar. Estarei tentando fazer com o mesmo com TAM, e já estou com 75% do capítulo pronto, e assim como esse, está com bastante gifs (só que bem mais do que esse) e diversas fotos.
Hm... *pensativa, coçando a nuca* Ah! Lembrei! *sorrindo, recuperando a memória*
Infelizmente eu me esqueci de quem me sugeriu um capítulo narrado pelo Stuart. Procurei, procurei, mas não achei de novo o comentário, no entanto, estou com muita atenção respondendo novos comentários e os antigos também, aí quando eu achar, agradeço mais uma vez a essa pessoa, que se sabe que é você, identifique-se! *risos* Mas bem, é isso, peço mais uma vez perdão por estar demorando tanto para respondê-los, mas estou com provas, trabalhos e testes do meu pescoço para me sufocar. Os professores ainda estão de greve, nem sei como vai ser quando eles voltarem! *arfando, desesperada* Mesmo que sejam quatro deles, a situação está séria na minha escola, e quase que ocuparam...
Bem, isso é tudo, pessoal. Vejo vocês no domingo, se Deus quiser, e só peço para vocês sugestões para os próximos bônus, ai vocês me dão os nomes para quem pode ser os próximos contadores que eu já vou escrevendo. Amo interagir com vocês. Beijos! bEIJOS! ♥ Senti muitas saudades de vocês... ♥
Para o próximo bônus pensei na Katniss, mas vocês quem sabem.