A sua irritação não solucionará problema algum...
As suas contrariedades não alteram a natureza das coisas...
Os seus desapontamentos não fazem o trabalho que só o tempo conseguirá realizar.
O seu mau humor não modifica a vida...
A sua dor não impedirá que o sol brilhe amanhã sobre os bons e os maus...
A sua tristeza não iluminará os caminhos...
O seu desânimo não edificará ninguém...
As suas lágrimas não substituem o suor que você deve verter em benefício da sua própria felicidade...
As suas reclamações, ainda mesmo afetivas, jamais acrescentarão nos outros um só grama de simpatia por você...
Não estrague o seu dia.
Aprenda a sabedoria divina,
A desculpar infinitamente, construindo e reconstruindo sempre...
Para o infinito bem!

– Chico Xavier

— As luzes estão ligadas ainda... — notou meu pai, caminhando ao meu lado, com uma expressão preocupada — Deve ter acontecido algo sério.

— Talvez seja porque é sexta-feira. Mamãe gosta de ficar assistindo aos filmes com as crianças. — assentiu

— Mas por que as luzes ligadas? Ela é a que mais economiza. — mordi o lábio inferior — Vamos apressar o passo, pois isso não é normal. — em passos mais largos, logo estávamos na frente da porta de madeira extremamente improvisada, mas não nos preocupávamos se com um chute forte a derrubaria, pois somos Sete, os mais pobres e miseráveis, perdendo apenas para os Oito. Pobre não rouba pobre.

— Carta pra você, Geminho. — Amélia disse, saltitante, com os olhos castanhos brilhando em expectativa e eu franzi o cenho, cansado, depois de mais um dia exaustivo de trabalho e pura humilhação pelos Distritos superiores.

— Pensei que as cartas só vinham em meu nome... — papai disse espionando por cima do meu ombro, e vi que sua expressão preocupada se fora. Agora era bem curiosa.

— Tem o símbolo da bandeira. É a carta do governo. — minha mãe disse com Ben no colo, mexendo em seus cabelos loiros como o Sol, fazendo-a rir, brincando com ele e eu suspirei, pegando o envelope macio e dourado para ir para o quarto que divido com todos meus irmãos.

Isso nem pode ser considerado um quarto, usado por cinco pessoas. Às vezes seis, quando Ben, o caçula de quatro anos, não pode dormir com nossos pais. Só tem uma cama de casal em um canto, um colchão surrado, e cobertores grossos feitos a mão por nossa mãe, onde eu durmo em cima, e para não ficar com problemas nas costas antecipadamente, opto sentir frio no inverno, para que absolutamente nada falte para meus irmãos. Eu posso passar frio, sentir dores nas costas. Eles não.

Isso daqui é um quadrado abafado, com uma janela bem grande e paredes laranjas, por causa da cor do tijolo, e a deixa como um a completa estufa, ou como um pedaço do antigo Alasca.

Parei de pensar na minha vida miserável e cansativa, para começar a ler a carta que fora anunciado que chegaria as casas com homens entre 16 e 20 anos. Infelizmente, estou entre eles, com 18, recém completados no mês passado.

Caro senhor Peeta Mellark,

Todo o homem legível de Panem, entre 16 e 20 anos, voluntariamente, poderá competir pela mão da futura rainha de Panem, a princesa Katniss Everdeen Snow, de Angeles.

Trinta e seis rapazes terão a oportunidade de conhecer a futura rainha, e competir por sua mão para ajudá-la a governar nosso incrível e grande país.

Anexo a esta carta, há as fichas de inscrição para serem totalmente preenchidas, cada pergunta deverá ser respondida sem mentiras. Seja você mesmo.

Caso opte por participar, após responder ao questionário, basta entregar a carta no cartório de sua província e aguardar o sorteio.

Esperamos que opte ser um Selecionado, e mesmo que não o faça... que a sorte esteja sempre ao seu favor.

Atenciosamente,

Sua Majestade.

— Ah, minha majestade você não é nem aqui! — eu disse rasgando a carta, e o envelope, lamentando o fato da ficha não estar ali — Nem no inferno! — lancei com fúria o que restou pela janela — Principalmente lá! Rei idiota! Babaca! Tem uma filha tão certa e perfeita que precisa tirar os homens de dentro de suas casas para competir por ela e suas coroas brilhantes!

— Peeta! — minha mãe repreendeu-me severamente, entrando no quarto — Ficou maluco, garoto? É a sua chance de tentar!

— Eu não! Vocês quem devem ter ficado ao pensar que eu cogitaria a ideia de participar disso! — não estava gritando, mas eu estava a beira de fazer isso — Que maluquice! Eles acham que eu sou propriedade privada deles?! A princesa que se dane! Fique sozinha! E eu quero as fichas também, mãe! Sei muitíssimo bem que a senhora escondeu elas, pois sabia que eu nunca cogitaria essa ideia, e rasgaria tudo. E eu vou rasgar! — ela ia brigar comigo, dizer o quanto eu estava sendo egoísta – talvez eu esteja sendo, porém é um grande talvez – mas meu pai entrou no quarto, e a tirou de lá, então Amélia entrou.

— Está sendo precipitado, querido... — ela disse em um tom calmo — Como sempre. Deixa de ser besta. — disse minha gêmea, mas que não se parecia muito comigo, só herdamos a pele clara e traços do rosto, como nariz e boca.

— Eu não vou entrar nisso. — olhei em seus olhos — Não vou mais dizer nada, e também não quero que comentem sobre. Eu, Peeta Ryan Mellark, nunca vou entrar para a seleção e me casar com a herdeira do trono. Nem ao menos tentar. — me joguei na cama, extremamente cansado — Dá pra me deixar sozinho?

— Como quiser... — disse suavemente, mas eu sabia que esse autocontrole estava sendo forçado.

Qualquer um que seja "sincero" e mande eu seguir o que eu quero depois de uma oportunidade dessas está sendo forçado. — Quinze minutos. Eu e os meninos precisamos dormir. E isso inclui você. — assenti, com um braço cobrindo-me os olhos, querendo pelo menos uma hora, mas não posso discutir sobre. Nunca posso, mas sobre A Seleção, se alguém conversar disso comigo, eu vou ser obrigado a partir para a ignorância, coisa que sempre evito.

Mais rápido que eu imaginava, ou mais cedo que o combinado, meus irmãos entraram no quarto, em uma euforia da qual eu não conseguia partilhar — Você será rei! — Amanda disse, batendo palmas

— O melhor rei que Panem já viu! — Stuart concordou

— Aí você e a princesa Katniss viverão em um “Felizes Para Sempre”! — Stacy ousou em dizer

— Eu não vou me inscrever, droga. — falei sério, me sentando, e olhando para todos eles, todos meus cinco irmãos — Por favor, me desculpem a grosseria, mas eu não quero, e não vou participar. Não quero me afastar de vocês. — essa é a verdade. Amo minha família mais que tudo, e sou 100% submisso a eles — Tentem entender meu lado.

Amanda sorriu e disse — Você mudará de ideia, sei que vai. — beijou minha bochecha, como se não tivesse ouvido minhas palavras e não entendido minha grosseria e insatisfação com aquela animação toda deles — Vem, gente. Dormiremos na sala hoje! — todos riram para mim, como se soubessem de algo que não sei e saíram do quarto. Dessa vez, estou definitivamente sozinho pelo resto da noite, mas não da minha consciência e pensamentos.