SeuSegredo. Com escrita por Panda Chan


Capítulo 5
As santas também pecam


Notas iniciais do capítulo

Olá bolinhos, estão venenosos hoje?
Eu estou bem cansada, tive que fazer algumas visitas em ONGs para falar sobre o preconceito racial (trabalhos de faculdade me ferram) e isso roubou mais tempo do que gostaria.
Caso alguém tenha interesse, a história possui um grupo no WhatsApp e a única regra é que não pode nudes q
Todo mundo lá é bem legal, então quem quiser participar pode mandar o número por MP ou em mensagem na fanpage.
Avisem sobre qualquer erro de digitação, por favor.
Boa leitura.



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É impressionante como a minha pequena cidade parece gigante quando tenho que andar pelas ruas dela a pé visitando cada floricultura existente.

Resolvi que preciso fazer algo sobre o Bill e logo e a melhor forma de fazer isso é descobrir se alguma entrega gigante de flores foi agendada em uma das floriculturas da cidade. Talvez eu não estivesse tão irritada em fazer isso se o meu melhor amigo não tivesse me abandonado alegando que “ele não é um ajudante da Secret”. Pergunto-me quem disse que o Lucca tem a opção de fugir quando eu preciso dele, deve ser contra o código de melhores amigos.

Meu telefone vibra e eu o pego enquanto uma atendente loira olha os registros dos pedidos buscando alguma informação.

Lucca: Alguma pista?

Anna: Não, mas acho que estou desenvolvendo alergia ao pólen.

Lucca: Ainda bem que você tem um trono de espinhos e não de flores então.

Anna: HAHA.

— Marina – a atendente chama pelo falso nome que criei.

— Sim? – sorrio da forma mais simpática que consigo.

— Infelizmente, não temos nenhum pedido de rosas programado. Talvez o seu namorado tenha encomendado em outra floricultura.

— Ah, isso é tão a cara dele – dou uma risada nervosa e sem graça. Posso sentir meus pés reclamando sobre a caminhada que terão que fazer até a próxima loja – Caso alguém faça uma grande encomenda, pode me telefonar.

— Claro, querida – a loira sorri e acena enquanto eu saio da loja.

Do lado de fora, um furacão se forma. Admito que exagerei, mas o vento forte faz com que uma mecha do meu cabelo entre na garganta e começo a tossir enquanto caminho.

Demoro muito tempo para me livrar do cabelo na cara e quando consigo, me deparo com uma garotinha ruiva com um sorvete na mão apontando para mim e rindo.

— Moça, cabelo não é de comer – ela diz mostrando a “janelinha” em seus dentes da frente.

— Sério? – pergunto irônica e depois suspiro alto. Ser grossa com uma criança deve ser pecado.

Xim — ela balança a cabeça confirmando sua resposta – Eu já tentei, pensei que o meu era de molango.

Não consigo conter e começo a rir da pequena garota de cabelos avermelhados. Ela dá de ombros e sai correndo, talvez esteja atrás de seus pais.

Em breve deve chover, o melhor é ir para casa me abrigar e tomar chocolate quente.

Bill deve ter algum fornecedor para conseguir as pétalas de rosas que usa no dia dos namorados. Talvez as flores venham de Sparks, a cidade vizinha, e eu não tenho problema nenhum em ir até lá atrás dele.

— Anna! – ouço meu nome e me viro para ver quem o chama.

Icaro corre em minha direção com o skate na mão, o que me alivia imensamente.

— Oi.

— Oi – ele sorri. Acho que esse garoto nasceu com um sorriso colado no rosto – Eu estava mesmo querendo te ver, preciso me desculpar por hoje mais cedo.

Demoro um pouco para associar o momento que “hoje mais cedo” significa. Para ser bem sincera, mal pensei sobre como fui arrastada por Lucca quando o loiro me convidou para sair até agora.

— Não precisa se desculpar – o vento faz com que meu cabelo bata no rosto e termino cerrando os olhos e parecendo uma fuinha – Eu não estou mais tão brava pela tela do celular.

— Isso é bom, mas estou falando sobre ter irritado seu namorado – abro os olhos pelo susto e logo me arrependo porque o cabelo bate neles.

— Lucca é meu melhor amigo, não namorado – digo lutando para segurar o cabelo bem longe do meu rosto.

Por que o vento só fica forte quando eu estou sem meus prendedores de cabelo?

— E ele sabe que vocês não namoram?

Estou repensando seriamente sobre ser muito grossa com ele agora.

— É claro que ele sabe que não namoramos – as palavras saem ríspidas e meu cabelo tenta entrar novamente na minha boca.

— Tira a mão dai, vou te ajudar.

Icaro junta meu cabelo e prende uma parte dele com um elástico que estava em seu pulso, depois arruma a minha franja deixando meus olhos livres dos fios indesejados.

— Obrigada – seguro a pequena tira de elástico que ele usou para prender o meu cabelo e depois ergo o olhar para ele – Essa é sua forma de se redimir pela tela do celular?

— É um começo – ele sorri e coloca as mãos nos bolsos.

— É um bom começo – murmuro.

Não sei se ele ouviu e me arrependo de ter dito as palavras em voz alta. Certos tipos de pensamentos devem ser guardados para nós mesmos, principalmente os que envolvem como essa cena foi clichê de filme romântico.

O toque do celular dele me desperta do momento pós-cena clichê, Icaro faz um sinal pedindo para que eu espere enquanto fala com alguém no aparelho.

É estranho observá-lo falando no telefone, parece que ele é alguém familiar e ao mesmo tempo não. Ele guarda o aparelho no bolso e se vira para mim.

— Odeio atender ligações quando estou com alguém, desculpe.

— Tudo bem, sei que algumas mães são bem protetoras – brinco.

Icaro sorri sem graça e diz:

— Minha mãe morreu.

Parabéns Anna, você deu uma super mancada com o garoto. Cadê o buraco mágico de avestruz para que eu me esconda nele quando preciso?

— Meus pêsames – murmuro – Tenho certeza que seu pai te ligou para cuidar de você por ela.

— Ham – ele coça a cabeça por cima da touca – Meu pai também morreu.

Jesus, me leva! Cansei de me humilhar. Estou quase erguendo as mãos e gritando isso para o céu.

— Seu irmão mais velho...? – deixo a frase no ar para que ele perceba que eu preciso provar que não sou uma imbecil completa.

— Minha tia pedindo para que eu vá para casa – ele arruma os óculos – Meus pais morreram e eu moro com ela. Por favor, não fique com pena de mim como todo mundo.

Minha vontade é dizer para Icaro que estou envergonhada demais por ser burra para sentir pena dele, mas vejo como isso pode soar rude e resolvo mudar o rumo da conversa.

— Tudo bem, você gosta de ervilhas?

Sabe quando você diz algo e só depois percebe que foi uma grande besteira? Bem, demorei dez segundos para perceber que minha tentativa não foi sutil e conseguiu atingir uma nova marca no nível de péssima.

— Odeio ervilhas – Icaro fez uma careta engraçada – Elas não tem gosto de nada e são horríveis de pegar. Você está indo para casa agora?

Lembrei que moramos para o mesmo lado e de como fui rude com ele ontem.

— Estou, me acompanha?

— Com todo prazer.

Icaro se mostrou uma boa companhia para caminhar, o que significa que ele fala pouco e completa suas frases me dando a chance de descansar sem ter que argumentar nada.

— Está gostando da cidade? – pergunto quando ele termina de falar sobre uma banda indie de nome estranho.

— Bastante, só não gostei muito das pessoas.

— Normal, eu também não gosto – ouço a risada dele e fico contente – Tem algum motivo especial para não gostar?

Ele pensa na resposta, parece ponderar se é ou não uma boa ideia dizer para mim o que pensa.

— Todos seguem um blog que fala mal de todos e acreditam em tudo que é postado nele, acham normal que assuntos privados sejam públicos e que alguém entregue flores nos dias dos namorados e seja ameaçado pelo diretor por isso.

— Falando assim, é bem horrível – minto.

A verdade é que acho que o caráter péssimo de alguns habitantes deve ser exposto. A Secret não “fala mal” de quem não foi hipócrita ou fez por merecer.

— Eu não acessei o blog de fofocas da cidade – Icaro arruma os óculos novamente – E depois de ver o grafite que fizeram da tal Secret, estou com medo do que pode ter nele.

Bem fofocas básicas sobre um casal adultero, uma professora viciada em canabis e um garoto com muitos hormônios que trai a namorada. Nada de assustador.

— São só fofocas de alguém que não tem o que fazer.

Icaro fica contente com a minha resposta superficial. Chegamos até uma interseção de ruas, seu que se seguir reto sairei na minha casa e graças a uma placa cheia de pichações sei que a outra rua é sem saída.

— Vou por aqui – Icaro diz, caminhando na direção da rua sem saída – Espero vê-la amanhã, Anna.

— Vou ser a garota meio morta no corredor – aceno para ele e vou embora, sem observar enquanto ele caminha para longe de mim.

Assim que passo pela porta de casa, suspiro aliviada por não encontrar minha mãe e configuro o celular que Lucca me deu para ser usado como o da Secret. Não demora nada para que ele apite loucamente com milhares de mensagens quando termino de configurar.

As mensagens falam sobre o grafite que Bill fez para mim e perguntam qual atitude vou tomar, algumas dizem que a Secret já foi mais malvada e agora está frouxa demais. Não consigo ignorar essas últimas. Se é maldade que o povo quer, é maldade que o povo terá.

Meus informantes me enviaram notícias sobre alunos, todas bem fracas. Pego a melhor e resolvo escrever sobre ela.

Tenho certeza que essa noticia vai provar que a Secret não deixou de ser má, nem poderosa.

“ As santas também pecam.

Adoro a bíblia, sem dúvidas está entre os meus livros favoritos. Está assustado com essa informação? Bem, acredito que a bíblia tem muitas lições para nos ensinar mesmo quando você não é religioso.

Minha parte favorita da bíblia é o Velho Testamento. Sinceramente, alguém consegue não gostar de Deus vendo como o cara castigou naquela época? AMO!

Também gosto da história da Maria Madalena, a prostituta que Jesus ajudou. Afinal, quem nunca pecou que atire a primeira pedra.

E é com todo esse rodeio que chego onde desejo. Você conhece a Malvina Quirino?

Malvina é a filha do pastor, um amor de menina. Anda sempre com as blusas fechadas até o último botão e gosta de entregar panfletos sobre sua religião aos domingos de manhã. Malvina é uma santa que gosta e julgar suas colegas dizendo sempre que “Fornicação transforma a mulher em uma meretriz”.

Malvina é um amor, não acham?

Ninguém imaginaria que essa santa transa toda quinta-feira no altar da igreja com um garoto de Sparks. Temos fotos e a nossa santinha está no nível de uma atriz pornô.

Malvina, espero que você distribua autógrafos quando sua carreira pornô der certo. Vou até deixar uma foto para te ajudar.

Sejam venenosos.

Beijinhos, Secret.”

Nove anos atrás

Ouço as vozes dos meus pais, eles gritam um com o outro sem se importar se posso ou não ouvir.

Eles não se importam mais comigo.

Algo se quebra.

Meu pai grita.

Encaro a cama vazia onde esperava encontrar minha irmã, mas Caterina saiu sem me avisar e não está aqui para me ajudar a lidar com os gritos.

Aperto meu sapo de pelúcia com mais força contra o peito acionando sem querer o botão que faz ele dizer “I love you”.

Meu pai diz que minha mãe é uma puta mal amada.

A janela do quarto de Cath se abre e ela entra com a destreza de um gato. Minha irmã mais velha tem os cabelos castanhos como os meus e os olhos da mesma cor como os da minha mãe. Ela sempre mantém o cabelo curto como se isso a deixasse parecendo mais velha e elegante.

— Eles estão brigando há quanto tempo? – ela pergunta.

Cath não está perto e não precisa para que eu sinta o cheiro de bebida e cigarro vindo dela.

— Não sei – respondo. Mesmo aos oito anos tenho dificuldade em ler os ponteiros dos relógios.

— Espero que você não queira ficar no meu quarto hoje – ela diz enquanto tira a roupa – Estou esperando alguém essa noite.

Nunca entendi porque Cath recebia visitas de madrugada e não quero entender. Aos oito anos, só queria um refugio da Guerra Fria que acontecia entre meus pais.

— Cath – minha voz sai chorosa – Promete me levar embora com você quando sair daqui?

Cath me olha como seu tivesse dito uma barbaridade.

— Por que faria isso?

— Eu não aguento mais ouvir o papai e a mamãe discutindo.

Cath me olha e por um instante sinto que ela me compreende e vai me ajudar, ela se aproxima de mim e coloca a mão em meus cabelos.

— Não sou sua mãe, Nicole. Sou sua irmã. Você não é minha filha, é deles e deve ficar com um deles. Não se preocupe Nic, essas brigas não vão durar muito.

Três meses depois, meus pais se divorciaram.


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Notas finais do capítulo

Gostaram do capítulo? Eu estava louca para mostrar um pouco do passado da Anna para vocês, tenho certeza que devem odiar a irmã dela agora, mas calma que ainda vai piorar kkkk
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Não deixem de me dar o feedback de vocês, nem tenham medo de enviar críticas. Amo ler as opiniões dos meus bolinhos ♥
A história da nossa "santinha" foi inspirada em uma One-Shot MARAVILHOSA aqui do Nyah: https://fanfiction.com.br/historia/635827/One-ShotComeoutVirginia . Recomendo muito a leitura ♥
Até o próximo capítulo,
Beijos jovens bolinhos de chocomenta.