SeuSegredo. Com escrita por Panda Chan


Capítulo 19
Olhares de pena


Notas iniciais do capítulo

Olá amados bolinhos, como vocês estão?
Eu estou muito empolgada porque consegui fazer o brigadeiro perfeito (devia ter tido a ideia de por lascas de chocolate branco por cima e no meio dele há anos!).
Tenho certeza que os fãs de BillCret vão A-M-A-R esse capítulo hihi
Boa leitura e até as notas finais ♥



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As palavras têm poder e digo isso por experiência própria.

Uma frase pode acabar com uma vida ou melhorar o dia de alguém de forma inexplicável, imagine então o que uma mensagem não é capaz de fazer.

Número Bloqueado: Parece que você tem um pouco de rosa em si, espinho. Gostei da forma como expôs o popular babaca, mas vai continuar assim? Não se esqueça que foi você quem deu a popularidade a ele. Bill.

Encaro a tela do celular sem nenhuma reação pelo que parecem séculos até uma garota ruiva passar pelo meu lado e bater no ombro sem perceber.

— Desculpe – ela murmura rapidamente e olha para a tela do próprio celular.

— Tudo bem, eu sei como é se perder por causa de uma mensagem – sorrio sem graça para a estranha e bloqueio a tela do telefone.

— Mensagem, ligação, áudio... Meu namorado vive no século quinze, não te outra explicação para não atender vinte chamadas! – o celular nas mãos dela ganha vida e o nome “Alex” brilha na tela – Obrigada, Universo – ela atende a ligação e começa a xingar o garoto.

Quase tive pena dele, porém meus problemas não me permitiram pensar muito no encontro com a ruiva.

O número da Secret é “público”, as pessoas que mais me enviam fofocas o têm como agradecimento. Então não fico assustada quando números estranhos enviam mensagens para ele, mas acho que estou certa em ficar  paranoica com o Bill me enviando mensagem de novo.

Guardo o aparelho na bolsa e continuo caminhando pela rua e tomando meu refrigerante de laranja como se nada tivesse acontecido. Só que tudo aconteceu.

Lucca e eu discutimos sobre o baile e conseguimos criar o esboço do que pode ser o maior plano já arquitetado por nós. Enquanto Lucca discursava sobre as melhores táticas, minha mente devaneava pensando em Beth que foi vítima de um popular. Ou melhor, de alguém que eu tornei popular.

Jeremy não era ninguém até eu postar sobre ele no SeuSegredo há dois anos, depois disso se tornou popular e passou a namorar várias garotas.  

Droga, se eu soubesse que falar do garoto que vomitou na boca da Megan Lorvis fosse terminar desse jeito...

Pode-se dizer que a Secret o tornou popular, sempre dando ibope para os escândalos sexuais e nunca deixando que caísse no esquecimento. Eu ajudei a criar a arma que ia matar uma inocente sem saber.

Lucca disse que pensar nesse assunto mostra que a “Secret” tem humanidade, com aspas de dedo e tudo!

Ele vê como uma coisa boa minha crise de consciência mesmo que ela seja tardia e tenha sido motivada por um suicídio, acha que agora vou usar melhor o poder que tenho.

Acontece que eu não sei fazer isso, sei denegrir muito bem, mas não aprendi a usar meu “dom” para o bem.

Por impulso, responso a mensagem do garoto das rosas.

Secret: Sei muito bem o que fiz, Bill. Obrigada pelo lembrete. O que você quer me enviando essa mensagem?

Tenho certeza que esse já se livrou do número e estou quase batendo na minha testa por ser tão idiota quando o aparelho vibra.

Bill: Ajudar a acabar com os populares babacas.

Bill: Aceita?

Uma coisa é atacar um cara idiota apenas uma vez, mas atacar vários e sempre? Isso pode ter efeitos colaterais imprevisíveis.

Como salvar a vida de outras Beths.

— Anna? – a voz chama e eu me viro para ver quem é.

Clarissa está atrás de mim com uma jeans preta rasgada nos joelhos, camiseta cinza com o logotipo da banda Artic Monkeys, colete preto de malha e coturnos customizados com tachinhas que lembram espinhos. Um visual típico para a loira.

— Oi Clarissa, tudo bem? – forço um sorriso que pareça natural.

— Tudo na paz de Deus, irmã – ela une as mãos como se orasse.

— Você não é ateia?

— Ah, é mesmo – ela dá de ombros e leva um cigarro acesso aos lábios dando uma longa tragada – É difícil te encontrar fora da escola, principalmente sozinha.

— Eu cansei de morar no sofá no Lucca – coço a nuca para aliviar o nervosismo. Ninguém iria entender a relação que Lucca e eu temos.

— No sofá, sei – ela faz cara de “eu sei o que vocês fizeram” e sinto meu rosto esquentar mesmo que sem motivo – Eu queria mesmo te encontrar e perguntar como você está já que era amiga da Beth.

— Não éramos próximas – tento explicar – Era mais aquela amizade “Oi, tudo bem? Você conhece tal livro?”.

— Mas ainda eram próximas e eu sei que você se importava com ela, mesmo que negue.

Clarissa sorri tentando me incentivar a falar, mas epa! Quando foi que minha vida virou um seriado clichê dos anos 1990? Balanço a cabeça negando, não é hoje que teremos nosso momento “abra seu coração e ganhe um abraço”.

— Estou bem, Clarissa.

Ela suspira e bagunça meu cabelo como Cath fazia quando éramos pequenas.

— Se eu não fosse sua amiga, ia bater a sua cara contra a porta até o seu nariz entrar par dentro do crânio por ser tão fechada e fofa.  Até a Secret foi afetada!

— Ela foi? – finjo surpresa.

— Secret está mais humana – ela sorri pegando o próprio celular na bolsa – Eu sempre soube que a Menina Veneno tinha um lado bom e estava ansiosa para que outros o vissem também.

A matéria “Procura-se” estava aberta no celular e vários comentários anti-bullyng enchiam o rodapé da página.

MissDarkssexual:  HAHA AMEI! Secret, você acaba de ganhar mais uma fã.

Diferent00n4: Espero que todos que praticam bullyng provem de seu próprio veneno um dia. Parabéns Secret.

Esses foram os dois primeiros comentários, havia muitos depois deles.

— Não sabia que havia tanta gente contra o bullyng por aqui.

— Algumas pessoas só precisam ouvir uma voz para mostrar a sua – o celular dela toca e uma expressão irritada domina sua face ao ler a mensagem que a aguardava – Tenho que ir. Odeio compromissos em família.

— Pensei que a sua família tinha te abandonado.

— Eu também – ela revira os olhos – Até segunda, Anna.

— Tchau.

Clarissa se vai deixando um rastro de perfume doce no ar à medida que eu só consigo pensar em como ela e Lucca tem razão.

Por causa de uma postagem, Clarissa conseguiu apoio para sua gravidez indesejada e as pessoas que estão cansadas do bullyng resolveram sair de seus casulos e gritar como odeiam isso.

A revolução pode começar com apenas uma postagem.

Secret: Oferta tentadora. Como vamos fazer?

Bill: Eu sou um excelente espião, posso ficar de olho nos alunos e enviar para você os nomes dos valentões.

Secret: Como vou saber que não está mentindo?

Secret: Você pode ter algum interesse oculto.

Bill: Terá que confiar em mim, espinho.

Bill: Temos um acordo?

Olho para os lados buscando nem eu mesma sei o que antes de responder a mensagem.

Já tenho muitos espiões maravilhosos que sempre trazem novidades, preciso mesmo da ajuda do Bill?

Secret: Sim.

Guardo o celular sem esperar por outra mensagem dele e logo me livro da latinha vazia de refrigerante em uma lixeira da rua.

Sim. Três letras parecem pesar mais que uma tonelada.

Enquanto caminho para casa vejo a garota ruiva que esbarrou em mim mais cedo abraçada com um rapaz de cabelos pretos. Ela grita sobre como ele é irresponsável e devia parar de viver no século quinze enquanto o pobre garoto tenta acalma-la.

Às vezes me flagro observando casais felizes tendo seus momentos bons e ruins em público e sinto certa inveja deles, acho que eu também gostaria de viver um romance. Entretanto, com minha vida dupla isso não é possível.

Não se pode ter tudo que deseja, a voz da minha mãe ecoa. Eu tenho uma carreia de sucesso, mas não alguém que me ama. O que você vai escolher, Anna?

Nicole estava bêbada quando me disse isso e sei que não esperava uma resposta, então por que continuo questionando o que escolheria? Por que essa questão parece fundamental na minha vida?

Um skatista passa ao meu lado em uma velocidade absurda, sinto o vento levantar fios do meu cabelo que batem contra o rosto.

— Dessa vez eu consegui desviar – o sorriso confiante no rosto dele acalma algo em mim.

— Ainda bem, não aguento ser atropelada mais de uma vez pelo mesmo skatista.

Ícaro leva uma das mãos até as sobrancelhas, tentando evitar que o sol atrapalhe sua visão. Sem óculos ele fica ainda mais bonito.

— Por que o sol parece ser atraído pelos meus olhos? É tão difícil ser belo – ele faz um tom de voz convencido e termino rindo.

— Compartilho da sua dor.

Ícaro me encara por alguns segundos, quando ameaço voltar a caminhar ele vem até mim.

— Como você está?

Graças à proximidade posso ver em seus olhos o mesmo que vi em Clarissa mais cedo, preocupação. Ele também acredita que estou mal com a morte da Beth.

— Bem e você?

— Bem – ele desvia o olhar e depois me encara – Está bem mesmo?

— Uma garota que eu conhecia desde a segunda série está morta – declaro – Estou triste pela perda dela, mas não em depressão.

Dou um sorriso nervoso e inseguro acreditando que ele vá entender a minha declaração como piada.

Obviamente ele não entendeu.

— Isso não parece com algo que uma pessoa bem diria.

Ícaro ergue uma sobrancelha e sei que não vai desistir, ele quer arrancar uma confissão de mim e não vai me deixar fugir disso.

As palavras que não quero dizer.  

— Perder pessoas faz parte da vida. Estou apenas aceitando esse fato incontestável.

Dou de ombros e espero que o assunto seja encerrado

— Pode se abrir comigo.

O olhar de pena causa algo estranho nas pessoas. Primeiro, você sente seu peito se apertar como se a dor que os outros veem em você fosse real e estivesse corroendo sua alma. Depois suas pernas se transformam magicamente em gelatina e tudo que você deseja é poder cair de joelhos chorando para que a pessoa diante de ti tenha razão para sentir-se mal por você.

O olhar de pena faz um mal maior do que a razão pela qual acham que você está mal.

Resolvo fugir.

— Ícaro, você está sendo invasivo.

— Eu tenho um dom, Anna.

Encaro-o, confusa.

— Você é um X-Men?

— O que? – alguns segundos depois, parece que a ficha do loiro caiu – Não! Caramba, Anna – ele balança a cabeça para os lados – Você podia ser um pouco previsível, não acha?

— Quer que eu tenha qual reação com você falando por ai que é um X-Man?

Quero entender quando eu me tornei a culpada pelo senhor hipster achar que é o Wolverine.

— Não disse que sou um X-Man – os olhos acinzentados se reviram de forma dramática – Estou tentando oferecer meu ombro para você desabafar sobre a morte da sua amiga.

— Colega – corrijo.

— Você não pode estar bem.

Parece que as pessoas querem que eu sofra para que elas tenham alguma utilidade me consolando. Por que ele não ofereceu essa atenção para Beth?

Por que eu não insisti para saber mais sobre a Beth?

— Estou bem sim, Ícaro – respiro fundo – Quando eu era menor tinha certo fascínio por dinossauros.

As sobrancelhas dele se unem.

— Sério?

— Sim – respondo – Eu até tinha uma largatixa de estimação, achava que ela ia virar um dinossauro quando crescesse.

Ícaro ri.

— Que pensamento inocente – ele comenta – Crianças e suas crenças. Só não entendo qual a ligação disso com a morte da Beth.

— Tudo. Crianças têm a horrível mania de confiar no impossível, adolescentes não. Sempre soube que chegaria o dia em que alguém que eu conheço morreria então não estou sofrendo tanto com isso.

— Você matou sua empatia – ele não pergunta, afirma.

— Sim e se me dá licença, vou matar o restante dela enquanto leio um romance.

Não olhei para trás enquanto continuava meu caminho para casa.

Ícaro está certo, eu estou mal. Muito pior do que deixei Lucca ver, mas nem tanto quanto pensam que estou.

Acontece que eu não sei lidar com o fato da Beth ter sido tão invisível que nem o radar da Secret a encontrou. Nem mesmo um número invisível como eu pode ver o sofrimento refletido nos olhos dela.

O sofrimento sempre esteve no olhar dela e está no de milhares de outras pessoas, mesmo que não seja visto. Mesmo sem perceber, existe sofrimento em cada um de nós.

Quanto uma pessoa aguenta sofrer antes que exploda e sua dor transborde para fora? Quanto Beth aguentou?

Permito que a lágrimas escapem apenas na segurança do meu quarto.


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Notas finais do capítulo

Ai.Meu.Deus! No que será que essa "aliança" vai resultar?
Tenho certeza que o veneno da Secret vai atrapalhar tudo e agora o Bill está mais perto de descobrir quem ela é. OMG!
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Obrigada pela atenção ♥
Beijos de chocolate jovens bolinhos de morango.