Eu escolho Paris escrita por nana


Capítulo 3
Eu escolho Paris - parte III


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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...

Quando acordou na manhã seguinte, Emily mal podia abrir os olhos, inchados pelo rio de lágrimas que havia chorado durante a madrugada. Seu corpo ainda ardia naquele calor infernal que o sonho íntimo com Alison havia deixado. Impregnado em sua pele, assim como aquele amor. Levantou-se, pois não havia mais o que fazer e tampouco tinha uma desculpa decente para não descer para tomar café com seus pais.

Dirigiu-se ao banheiro sentindo-se suja, pois não tomara banho na noite anterior, mas, ao mesmo tempo, seu corpo relutava em banhar-se. Afinal de contas, ali estavam resquícios dela, bom, de um sonho com Alison, mas ainda assim, era o mais próximo que Emily tinha de sentir Alison sua, daquela forma tão íntima, tão crua, tão forte.

Surpreendeu-se ao perceber que enquanto a água fria escorria por seu corpo quente, parecia começar a sentir-se melhor, quem sabe um pouco menos triste, ou um pouco menos angustiada. Talvez fosse seu coração dizendo que alimentar-se de devaneios só destrói pouco a pouco quem disso vive. E Emily não queria devaneios. Não queria sonhos que, ao despertar-se, pareciam pesadelos; não queria sonhos que se desfaziam quando ela abria os olhos e a traziam para a crua, fria e dura realidade. Alison não estava com ela. E talvez nunca estaria.

Juntou-se com seus pais para o café da manhã quase uma hora depois. Pam, sua mãe, já havia chamado pelo nome dela umas 5 vezes quando a morena realmente decidiu descer as escadas e dirigir-se à mesa já posta pela mãe.

– Emily, eu chamei diversas vezes – reclamou Pam.

– Pam, está tudo bem – falou o Sr. Fields acariciando a mão da esposa – Emily não é mais uma adolescente. Dormiu bem, meu anjo?

– Na verdade, não. Mas vou ficar bem. Obrigada, papai.

O senhor e a senhora Fields pensaram e tentaram algumas vezes abordar qualquer assunto na mesa do café da manhã, mas a única coisa que conseguiram foi que Emily comentasse alguma notícia que havia passado no jornal numa das últimas manhãs. Eles queriam saber como a filha estava, queriam que ela lhes contasse um pouco de todos esses anos na faculdade, das experiências, do que aprendeu, de seus relacionamentos. Mas não sabiam como conversar sobre isso, pois não sabiam se Emily estava aberta e disposta a conversar sobre qualquer coisa.

Comeram mais ou menos em silêncio. A mãe de Emily passava ovos e bacon para lá e para cá, no entanto, ela apenas provou um pouco de cada coisa, nada que se pudesse considerar uma refeição, mais parecido a um cumprimento de protocolo: a refeição da manhã.

Deveria estar com fome, pensou Emily consigo mesma. Não comia desde o dia anterior. Na verdade, desde a manhã do dia anterior. Deveria esta faminta. Mas não estava. Só sentia um enorme cansaço de uma noite mal dormida e uma vontade enorme de desistir, porque, de verdade, para todo canto que olhava não parecia haver nenhuma brecha, uma gaveta entreaberta, um baú destrancado, onde pudesse abrir e encontrar a alegria que há tanto havia perdido.

O telefone da sala de estar tocou, mas Emily não pareceu notar, não até que sua mãe cutucou seu ombro.

– Ela ligou para seu celular, mas creio que você deve ter deixado no quarto.

Emily sacudiu a cabeça.

– Me ligou? Quem?

– Alison. Ela está na linha, esperando para falar com você.

Emily deu um pulo da cadeira, chocando suas pernas contra a mesa da cozinha, fazendo-a balançar e quase derramando as xícaras de café que os três estavam tomando.

Enquanto Em corria em direção ao telefone, Pam encarou o esposo com uma expressão de profunda preocupação em seu rosto.

– Não é possível que ela ainda esteja apaixonada por aquela garota – sussurrou ela – 5 anos se passaram!

– Pam – o marido falou calmamente – elas não são mais garotas. Elas são mulheres agora. E se Emily ainda tiver os mesmos sentimentos por Alison, isso só significa que esse sentimento não tem nada de coisa de garotas. É um sentimento real, maduro e adulto, que perdurou apesar do tempo, da distância e de tantas outras dificuldades.

– Não me entenda mal, meu amor. Não é que não entenda os sentimentos de Emily por Alison ou por qualquer outra mulher. Mas Alison está casada, querido! Em é uma mulher, sim, mas ainda é a minha menina – seu rosto se contorceu em uma careta de tristeza.

Wayne levantou-se e deu a volta na mesa para abraçar a esposa.

– Está a ponto de casar-se – corrigiu ele - eu lhe entendo e acredite, se fosse por mim, gostaria de esconder Emily em algum lugar seguro, onde nada nunca mais pudesse fazê-la sentir mal ou triste ou decepcionada. Mas não é como quando ela tinha 12 anos e podíamos dizer-lhe que se corresse rápido demais na bicicleta, iria machucar-se e a mandávamos guardar a bike. Emily já tem 23 anos, o tempo passou e agora, mesmo que quiséssemos que fosse diferente, não pode ser, querida, ela é uma mulher e sempre terá nosso apoio, mas antes de tudo, chegou o momento em que ela está por conta própria. Ela nos buscará sempre que precisar de nós. Eu sei disso.

Enquanto seus pais permaneciam abraçados e conversavam, encostados à mesa da cozinha onde tomavam o café da manhã, Emily estava pendurada no telefone da sala. Apenas conseguira dizer “olá” para Alison e, com a respiração pesada e nervosa esperava o que Alison tinha a dizer.

– Em, deu tudo certo na entrega do convite de vocês? – Emily balbuciou um “a-ha” – ok, pedi que deixassem em sua casa com seus pais, pois você não me ligou para dizer a que horas chegaria.

– Eu não sabia – falou – que horas chegaria. Exatamente.

– Ok! Tudo bem! Spencer acaba de chegar aqui em casa, vamos almoçar juntas, você gostaria de vir? Daqui a pouco, Hanna deve estar chegando e Aria disse que não terá como chegar para o almoço, mas chega para um café no fim da tarde.

– Seremos só nós?

– Eu, você, Spencer, Hanna e Aria, como sempre – Emily podia sentir a vibração do sorriso de Alison através da linha telefônica – meu noivo só chegará no fim da tarde.

Emily primeiro sentia-se nas nuvens. Quando Ali falara que seriam apenas elas e as demais meninas parecia que nem haviam crescido, que eram apenas aquele grupo de amigas que, apesar das brigas e segredos que mais destruíam do que agregavam, sempre estariam juntas e presentes umas pelas outras. Mas... “ela está casada”, lembrou das palavras de Toby. É. Elas haviam crescido mesmo. “Meu noivo só chegará no fim da tarde”, o comentário de Alison havia entrado rasgando Emily por dentro como uma faca afiada. A diferença é que a faca a mataria e acabaria com aquilo tudo. E seus sentimentos por Alison a mantinham viva, em sofrimento.

– Minha mãe – balbuciou – ela precisa de mim hoje para... umas coisas.

– Ah, ok – Alison respondeu sem saber realmente o que dizer – mas amanhã, você estará aqui, certo?

– Foi para isso que vim – respondeu com a voz firme pela primeira vez naquela conversa – seu casamento.

...


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Notas finais do capítulo

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