Blair acordou Scarlett mais cedo naquela sexta-feira e saíram para correr pelo campus, rotina da morena desde a primeira semana de aula e, depois os frequentes atrasos por treinar à noite nas semanas anteriores, Scarlett se juntara a ela. Eram cinco da manhã e ainda estava escuro quando elas saíram do dormitório rumo ao ar fresco dos jardins. Uma hora depois, a ruiva quebrou o silêncio:

— Sei que você não gosta de falar enquanto corremos, mas posso te fazer uma pergunta?

— Fala. — Blair assentiu e desacelerou o passo para ficar lado a lado com a amiga.

— O que você acha que devemos fazer?

— Essa é a primeira festa para que somos chamadas e você está surtada porque Jason está organizando e vem te ignorando há um mês.

— Não estou não. — Scarlett parou no meio do caminho, furiosa. — Esta é a primeira festa deles que decidimos ir e eu que simplesmente sumi.

— Você está surtada. Depois do escândalo do top, ele saiu umas vezes com aquela vadia da Emma Anwhistle para todo mundo ver e ignorou totalmente que você estava super se dando bem com aquele monitor com cara de engomado... O tal do Brandon.

— Não estou. Quer dizer, estou me dando bem com o Brandon.... Mas não estou surtada.

— De qualquer forma, eu acho que devíamos ir. Também não estou feliz. Aparentemente Jason é muito influente e graças a isso não vejo meu irmão e meu melhor amigo há dias.

— Será que Jason é influente ou você não quer encarar Ethan?

— Não vou falar sobre isso.

— Não precisa ser grossa.

— Não estou sendo grossa, só tenho muitas coisas e muitos caras no meu pé para me preocupar com Ethan. Como por exemplo, o Matthew Owens. — Blair deu um sorrisinho maroto e avistou a porta de entrada da ala norte.

— Então é por isso que você some sempre depois do treino de lacrosse?

— Sim.

— Achei que era só porque você foi nomeada capitã e estava...

— Vamos, já está ficando claro e eu preciso de um banho.

♦

As aulas da manhã já haviam acabado quando os garotos se reuniram na entrada da ala sul para esperar Caleb, que estava com uma garota no dormitório.

Jason lia a lista dos convidados para a festa. Ao passar os olhos por Kyle Wright e Drake Wood riu baixo, sabendo que como ele e Hayden eram os melhores jogadores da escola, iriam tirar dinheiro deles rapidinho. Não que eles precisassem, mas era uma questão de alimentar o ego mais do que outra coisa.

Continuou analisando o resto da lista e parou no nome que não saía de sua cabeça desde o começo das aulas: Scarlett Wright.

"Vamos, Jason! Não adianta ter ignorado ela há tanto tempo e não é tão difícil assim convidar uma garota para uma festa! Ainda mais se ela for uma Wright."

Desde que começara a sair com a tal Emma Anwhistle e ignorar Scarlett, os pensamentos confusos voltaram, o deixando cada vez mais parecido com o que o pai fora: Jason estava cansado, confuso e um tanto explosivo. Estava mais magro, como se algo sugasse sua energia — que muito embora frequente, não era pelo sexo com Emma.

Tão concentrado que estava em seus pensamentos, nem viu Hayden chegar perto dele e perguntar:

— Jason... Vamos? — Hayden ficou levemente irritado pela falta de atenção do amigo, que durante a manhã toda olhara para o fundo da parede da sala de aula.

Caleb os encontrou na porta do dormitório após dispensar a morena que o acompanhava, ambos de cabelos molhados.

— Jason! — Ethan cutucou ele, impaciente. — Temos que almoçar logo. Quanto mais cedo acharmos a sala, melhor.

— Não temos aula?

— A Morgan teve um problema pessoal e o substituto não vai poder vir essa tarde.

— O que foi? — Caleb indagou, quando notou o amigo com a cabeça baixa.

— Fiquei fazendo relatórios para aquele dinossauro de física, o Kirk, até às 4 da manhã. Só estou cansado.

— Sei. E é só o Kirk mesmo? Ou tem alguma coisa a ver com a aposta? — Ethan riu seguido pelos outros em direção ao refeitório. — O tempo está acabando, sabe.

Hayden recebeu uma mensagem no celular, e escorregou na grama úmida do jardim com o susto. Começou a lê-la em meio às risadas dos amigos:

Nichols, não vou poder ir hoje, estou pedindo transferência e não posso me encrencar. Queria indicar meu primo para entrar no meu lugar. Ele é intercambista e chegou ontem. O nome dele é Frank Von Dietrich. Me avise se não puder. Valeu.

— Jason, o que você acha?

— Sei lá.... Deixa, não vai fazer a mínima diferença.

Jason não parecia muito interessado quando chegou ao refeitório, até se dar conta que seu pesadelo estava mais próximo do que imaginara: Scarlett chegara segundos antes e andava na frente deles, passos agitados em uma saia preta de couro.

— Não é estranho? Mas se você...

— Hayden. Olha para a frente e cala a boca.

— Mas por que... — Hayden parou de falar ao olhar para a ruiva. — Meu. Deus.

— E eu que sou obcecado né? — Riu Jason sentando-se e servindo-se de frango frito.

— Não tem como não ser. — Ethan olhava para a garota, sem piscar. Hayden não disse nada, deu um sorriso amarelo e concentrou-se em seu bolo de carne.

♦

As garotas acabaram de chegar ao refeitório após as aulas da manhã, em uma nuvem de perfume e um falatório discreto sobre a festa da noite. Antes mesmo de Scarlett poder se sentar, Matthew Owens a chamou em sua mesa, alto para que ela ouvisse, mas não o suficiente para que chamasse a atenção das pessoas.

— Ei! O que está rolando?

— Eu preciso da sua ajuda… Como você é amiga da Blair e tudo o mais, eu queria saber se… é… bem…

— Matt… Chora logo.

— Ok …. Ela está saindo com alguém? Digo... outra pessoa?

— Não, é claro que não. — Ela abafou o riso. — Por que a pergunta?

— Sei lá, eu estou tentando, mas ela parece tão… inatingível. E ela é tão inteligente, me sinto um asno falando com ela.

Scarlett tentou se controlar para não rir. Matthew era bem burro, afinal. Não entendia como Blair conseguia se envolver com ele, mas Matt era tão bonzinho que ela acabava ficando mal por ele. E é claro, ele era lindo.

— Pelo amor de Deus, Matt. Você não está exagerando? Quer dizer, vocês pelo menos já se beijaram? — Disfarçou como se não soubesse de nada.

— Você está de brincadeira comigo, né? É claro que sim. Tenho pego ela todos os dias depois do treino de lacrosse e vamos para o dormitório vazio no terceiro andar. Mas parece que ela não quer ser vista comigo, isso me deixa doido. Foi um parto para ela tomar café comigo hoje.

— Acho que você está sufocando ela. Você não manda mensagens né?

— Às vezes... — Ele riu. — Scarlie, fala a verdade. Eu sou feio? Ela tem vergonha de mim? — Matthew Owens, capitão do rúgbi, atleta modelo e gato, com síndrome de insegurança. Essa era uma fofoca que merecia ser contada.

— Para de ser maluco, Owens. Em vez de ficar pensando bobagens, aproveita o momento. — Scarlett deu um abraço nele e um beijo no rosto, voltando para a mesa.

— Cara, ele está realmente apaixonado. — Blair segurou uma gargalhada assim que Scarlett sentou-se ao lado dela. — Meu Deus.

— Coitado, B. Qual é a sua com ele?

— Eu tenho muitas coisas na cabeça, e pratico muitos esportes. Ele também é bom nos esportes, é engraçado… — Ela mandou um beijo para ele, que a olhava, abobalhado. — E é claro, ele é fácil, sexy para o diabo e incrível na cama. Eu preciso relaxar, oras.

— Você não presta.

♦

— Jason? — Caleb perguntou preocupado.

Jason adquiria uma gradativa cor rosada. O loiro apontou com um olhar assassino no rosto para as mesas do outro lado do refeitório e Hayden descobriu imediatamente o problema: Matthew Owens, galã em tempo integral e capitão do time de rúgbi, perigosamente próximo de Scarlett Wright em um abraço.

— Você não gosta dela, não é? Ela é uma inimiga, uma nojenta! — Caleb sabia que estava entrando em território perigoso, mas não podia perder uma chance de atazanar o loiro.

— Claro que não gosto, seu idiota! E é verdade, é uma nojenta idiota! Nem sei porque aceitei esse trato idiota! Assim que chegarmos a essa festa que vocês querem que eu convide a idiota, eu a dispenso e me viro com outra lá.... Qualquer coisa é melhor que a idiota da Wright!

— Quantos idiotas na mesma frase, Jason. — Aaron deu risada, em seu costumeiro tom zen. — Até parece que não gosta da Scarlie.

— Que intimidade é essa? Scarlie?

— Jason, nós só não saímos com elas porque você é maluco.

— Calem a boca.

— E Owens é um problema do Ethan.

— O que você quer dizer? — Ethan arregalou os olhos.

— A irmã do Aaron foi tomar café com o Owens hoje de manhã e depois saíram juntos. — Hayden deu de ombros e levantou-se. — Eu não ligaria muito, Owens é o tipo de cara que não vale a pena se importar, ele gruda demais e também pega mulheres demais, não vai durar cinco minutos com ela.

— É bom mesmo. — Caleb falou para si mesmo, encarando o rapaz que olhava apaixonadamente para Blair.

♦

Enquanto isso, Alex se forçava a uma animação estranha, que começara logo após de receber uma mensagem estranha.

— Qual é a sua, Al? — Zoe revirou os olhos para o teatro de Alex. — Não é como se você estivesse nos enganando.

— Estou mesmo animada para a festa, qual é o problema?

— Isso tudo é por causa do amigo gato do Black que está te dando um gelo? — Harriet deu risadinhas.

— O nome dele é Hayden, e ele não está me dando um gelo... Ele só é... Reservado.

— Ou ele é reservado ou você quem está correndo atrás à toa. — Scarlett disse, indiferente. — Desculpa Al, você está sendo trouxa.

Alex então olhou para Hayden, que deu um sorriso amarelo e continuou a falar com Jason, já em pé para sair do salão. Ela então parou por um segundo e lembrou-se do porque estava na de Hayden ainda.

No sábado anterior, Aaron pegara ao longe a troca de olhares, e após balançar a cabeça, rindo, para um Hayden coradíssimo enquanto ele falava alguma coisa, Aaron olhou para ela e lançou aquele olhar, aquela expressão tão conhecida dela.

"Pare com os joguinhos, Al. Você é melhor do que isso. Sempre foi cheia de atitude, vai e põe a cara para bater."

Alex podia ouvir a voz dele, calma e doce, falando isso para ela anos-luz antes, em uma festa da escola em Nova Iorque. Nada mudara.

— É, talvez você tenha razão.

— E ele é um cafajeste, amiga. — Madison suspirou, mordendo sem animação o minúsculo pedaço de frango grelhado. — Mas é estupidamente gato, e no fundo todos eles são grandes galinhas, então nunca poderia te julgar. Eu vou dar uma volta, vejo vocês mais tarde.

— Onde você vai? — Scarlett olhou, curiosa.

— Josh Vernon.

— Está saindo com ele?

— É claro que não.

— Então porq...

— Ele vai me ajudar com o relatório de química. — Ela deu de ombros e sorriu para o garoto moreno e forte do outro lado da sala, sentado na mesa dos monitores com Trent, Brandon e o monitor que Harriet passara na primeira semana de aulas, Evan.

— Está pegando fogo, não? — Zoe olhou torto quando a loira encontrou o garoto na porta e saíram do salão, conversando. — Tudo bem que Drake fez uma babaquice, mas não precisa disso.

— Madison não está saindo com Josh. Ele é monitor, mas é super inatingível, acho que namora uma universitária ou sei lá. — Scarlett cortou, seca. — E mesmo que estivesse, ela e Drake não ficaram nem uma semana juntos e duvido que ele esteja se privando.

— Eles não namoram. Nenhum deles. Brandon, Josh, Trent e Evan. — Harriet olhou para o último, concentrada nos braços negros extremamente bem-desenhados.

— Está sabendo legal, H... O que você anda aprontando?

— Evan tem assistido meus ensaios e às vezes dança comigo. Ele é um cara legal.

— Parece um ótimo plano, pelo menos ele não enche seu saco como Brandon enche o meu. — Scarlett deu um bocejo e pegou o maço de cigarros da bolsa. Ela precisava parar com aquilo, mas não conseguia: se sentia cada vez mais nervosa e impaciente sem eles. — Vocês precisam parar de se estressar.

— Mas nós não est...

— Eu vou fumar, me encontrem lá fora depois.

♦

— Já sabemos inclusive quando você terá de cumprir sua aposta. — Caleb sorriu. — O pai do Aaron comprou a Vortex.

— Sim. A reinauguração é daqui algumas semanas e ele reservou um camarote para mim e um para Blair. Está aí sua chance de convidar a Scarlett. É impossível ela não aceitar, afinal, ela já vai estar lá.

— É um bom plano. Vamos, estamos atrasados.

— Agora? — Jason olhou arrasado para a asa de frango que jazia intacta no prato.

— Sim, agora. — Hayden resmungou. Ele correu os olhos pelo salão, que se encontraram com os de Alex, e ela sorriu. Ele ficou sem graça, correspondeu ao sorriso e voltou-se à Jason, tentando disfarçar seu incômodo. — Quer saber, fica aí. Você só vai reclamar mesmo.

♦

Scarlett saía em passos apressados quando uma garota estranha esbarrou nela com uma bandeja de gelatina. A garota entrou em um pânico tão grande que parecia querer se esconder embaixo da terra.

— Me perdoe, srta. Wright! Você está bem?

— Não foi nada. — E bufou. — Me chame de Scarlett. Nem no Ministério me chamam assim.

— D-Desculpa, Scarlett. Não quis ofender. — A garota parou na frente dela e sorriu simples. Ela era bem bonita, cabelos loiros e olhos claros, embora pudesse apoiar a bandeja de gelatina na barriga, se quisesse.

— É só isso? Eu tenho algo importante para fazer.

— N-nada, falo com você depois… tudo bem?

— Quem é você mesmo? — Scarlett estava tão irritada que achou aquela conversa um tanto inquisitiva e nada era mais justo do que tomar o controle da situação.

— Minniette… Minniette Reichert. Todos me chamam de Minni.

Scarlett a mediu, ainda que involuntariamente, e deu um sorriso frio. Em seguida, saiu para os jardins, ignorando a garota Minni, que parecia querer ser invisível.

♦

Hayden saiu com os outros três e Jason observava Scarlett ao longe, até ela se encontrar com uma garota estranha e sumir de vista. Ele suspirou e discou o número da mãe quando foi interrompido por uma voz esganiçada:

— Oi Jason! — Emma sorriu, se aconchegando na cadeira ao lado dele.

Menina bonita de olhos azuis e cabelos cacheados, mas malnascida e completamente anexa àquele lugar, Emma vivia tentando se arranjar com algum popular, mas acabara caindo na roda e se transformado na garota de todos, assim como a melhor amiga, Jessica Peterson.

Como Jessica não estava à vista, era de se entender que estava acompanhada, já que elas adoravam marcar território.

— O que está fazendo aqui sozinho?

— Almoçando. O que foi?

— Liguei no seu celular a manhã inteira! Aconteceu alguma coisa?

— Como você tem o meu celular?

— Você me passou, ontem? — Ela piscou, sorridente.

— Ah, bem lembrado. — E amaldiçoou sua décima geração por ter bebido tanto e ter deixado aquela falha ocorrer. Jason nunca passava seu número para ninguém, a não ser para os amigos.

— Vai fazer alguma coisa hoje? — Perguntou, mordendo o lábio. — De noite?

— Sim. — Jason agradeceu ter a festa para ir. Não que ele realmente precisasse de um motivo para dispensá-la, mas o que Emma tinha de gostosa, tinha de habilidade em ser chata. Era uma excelente companhia de boca fechada, mas recentemente estava fazendo mais mal do que bem.

— E amanhã?

— Não sei, te ligo, ok? Tchau. — Jason saiu da mesa, deixando Emma sozinha e o almoço quase intocado.

Foi para o quarto pegar as chaves do carro. Ia aproveitar para ir até Stonefall e visitar a mãe: queria ficar longe dali pelo máximo de tempo e se tinha alguém que podia ajudá-lo, esse alguém era Alena Black.

♦

Drake e Kyle se encontraram às onze horas e foram ao campo treinar, como de costume.

Kyle estava na sua melhor forma, pronto para se tornar o novo goleiro, ao contrário de Drake, um dos melhores atacantes que decaíra e não havia feito nenhum gol naquele dia. Depois de 22 tentativas frustradas de marcar, Drake se jogou no gramado.

— Drake, vamos falar a real. — Kyle sentou do lado do amigo. — Isso tudo é por causa da Madison, não é?

— Sim.

— Por que você terminou com ela? Ou melhor, ela terminou com você, certo?

— Você não iria querer saber... E eu também não estou bom para te contar.

— Está certo! — Kyle levantou as mãos, como se mostrasse que estava desarmado. — Não está mais aqui quem falou. Quem está perdendo uma baita gostosa é você.

— Você não está com a Zoe?

— Sim e está muito difícil, vou ter que partir para um passo mais importante.

— Não sei do que você está falando e acho que não quero saber. Preciso achar uma roupa para hoje. — Drake suspirou irritado, olhando para o céu que estava levemente nublado. — Você não vai com aquele terno ridículo, né?

— É o único que eu tenho! E é um terno do Manchester United sob medida!

— Eu vou ignorar este comentário porque você não percebeu que foi uma piada animal dos seus irmãos. Vamos até a cidade agora comprar um novo.

— Boa ideia, tenho dinheiro, né?

— Como se alguém conseguiria se esquecer disso... — Revirou os olhos enquanto andava em direção ao alojamento. Na porta do dormitório, se depararam com um garoto aparentemente confuso e de olhar irritado.

— Ei, precisa de ajuda?

— Sim, sou Frank Von Dietrich. Mas podem me chamar de Frankie. — Suspirou com um carregado sotaque alemão. — Sou o novo intercambista e esse deveria ser meu quarto.

— Ah falaram de você. Eu sou Drake Wood... Este é Kyle Wright.

— Prazer.

— Então Kyle.... Você é irmão dos famosos gêmeos Wright, não é?

— Faz sentido não? — Ele olhou sarcasticamente.

— Eu queria levar alguns sketches meus.... Onde fica a sede da Lotvs?

— Em Stonefall. Estamos indo para lá agora, te damos uma carona.

— Eu agradeço! — Ele sorriu, já deixando os pertences na cama vaga. — Devo ter dado sorte, não deve ser muito agitado por aqui apesar de ter chegado em dia de festa.

— Exatamente, é hoje.... Você foi convidado? — Drake perguntou, agora mais simpático, enquanto se dirigiam à garagem.

— Na verdade meu primo foi, mas ele me colocou no lugar dele pois trocamos de escola. Vim para cá e ele está voltando para Munique.

— Então seja bem-vindo à Birchcreek! — Kyle sorriu. — Espera até conhecer a Scarlett e a gangue. — Drake apagou seu cigarro e abriu o portão.

— Quem?

— Scarlett é minha irmã. E a gangue... ah, deixa. Você vai ouvir falar muito delas.

♦

O Porsche Carrera de Jason ronronava em baixa velocidade, à medida que Jason procurava a mansão Black. Parou à porta de uma imensa construção bege, com amplas janelas de madeira e um vistoso gramado, onde ao fundo se via um enorme jardim bem cuidado.

Desceu do carro e apagou o cigarro, andando em direção à porta principal da casa, que se abriu com um estrondo: duas garotas loiras saíram correndo em direção ao garoto, que deu um sorrisinho de canto contra a vontade.

— Jaaaaaaason! — Kate e Florence pularam em cima de Jason o abraçando, felizes. — Que saudade!

— O que vocês estão fazendo aqui?

— Feriado nacional na França, dois dias. — Kate piscou. — Pensa só, todas as baladas de Stonefall só para a gente!

— Vocês só têm 16 anos. — Jason riu superior.

— Mas a gente arrumou identidades falsas! — Florence revirou os olhos, como se fosse óbvio.

— Jason? — Alena apareceu à porta. Quando viu o filho abriu um raro sorriso e dirigiu-se elegantemente até ele, o abraçando. — Ah Jason! Por que eu sinto sua falta mesmo quando você fica tão pouco tempo longe? Venha, entre, vou pedir para Brigitte preparar um suco, o que você acha?

— Não mãe, obrigado. Estou ótimo. — Ele sorriu. — Eu precisava pegar algumas coisas...

— Mesmo um bom e velho dry Martini, batido? Eu sei que você não vai recusar, Bond! — Alena sorriu, brincalhona: ela estava radiante.

Desde que seu marido morreu, Alena pôde respirar e assumir as ações da empresa — o que fazia fora do papel há 30 anos. Dessa forma, ninguém poderia questioná-la por morar com outro homem um ano após a morte do esposo.

— Greg vai ficar tão contente em te ver! — Disse ao entrar na sala. — Querido, olha quem veio nos visitar!

— Jason! — Gregor colocou a cabeça para fora da porta do escritório. Elegantíssimo em um terno escuro, os cabelos pretos e rebeldes que lhe tiravam todo o ar sério. — Que bom que veio! E então, como anda a escola? O carro tem sido útil?

— Até que sim, consigo dar umas escapadas.

— Entendi! — Kate e Florence riram em uníssono, enquanto Alena olhava com desaprovação para a cretinagem do filho.

— E os planos para hoje?

— Hoje vamos fazer uma festa. Nada demais, umas mesas de jogo, som... daqui a pouco tenho que voltar, então eu vim pegar o terno cinza que eu deixei aqui.

— Uma festa? — Greg sorriu maliciosamente. — Ilegal, suponho?

— Com certeza. — Jason correspondeu a malicia do olhar do padrasto. Por incrível que parecesse, ele via em Greg um amigo. Mesmo que ele fosse padrinho e, consequentemente, a única pessoa que Drake Wood tinha no mundo.

— Saudades de Birchcreek. Atrás do clube ou na ala oeste?

— Na verdade essa é nova. A ala Norte foi reformada e agora é um dormitório, mas Hayden descobriu um antigo salão enorme intocado, perto da biblioteca. Fácil acesso a todas as alas, e conseguimos uma maneira de absorver o som. Um dos garotos novos que está com a gente sabe fazer jogo de espelhos para segurança.

— Novos amigos, filho?

— Que garotos, Jason? — Florence sorriu maliciosa, sendo acompanhada pela gêmea. — Como o Hayden?

— Do tipo que eu não deixaria vocês chegarem perto de jeito nenhum. — Retrucou, protetor.

— Por que não? Por que são como você?

— Porque eu sei qual é a deles. — Ignorou a alfinetada da irmã e voltou para a mãe — O filho dos Jones, Caleb. O filho do magnata Green, o Aaron e o filho do General Archibald, Ethan.

— Ah o Charles, não é? Garoto adorável, me lembro dele. Foi tão atencioso quando os visitei em Nova Iorque antes de voltar para casa!

— É, Charles... — E riu maldoso. Sempre se esquecia daquela piada e fez uma nota mental para tirar sarro de Caleb assim que o visse. — Não queria perguntar dessa maneira, mas o Wood não sabe ainda não é?

— Não. Pretendo contar a ele mais tarde, assim que ele chegar... — Greg olhou cansadamente para Jason e para as filhas.

— Mãe, podemos conversar? — Jason se mexeu na cadeira, incomodado.

Alena assentiu e o levou para o escritório, voltando-se para Jason assim que fechou a porta.

— Você continua ouvindo as vozes?

— Um pouco, mas só quando...

— Quando? — Alena ficou preocupada. — Você disse que, quando voltou para Birchcreek, elas haviam parado.

— Diminuíram, mas nunca pararam. Recentemente tenho ouvido mais e isso está me derrubando. Eu preciso entender melhor o que é isso...

— Você sabe que Spencer tinha alguns costumes pouco cristãos. — Alena estremeceu ao falar o nome do falecido marido, se levantando e andando impaciente pelo escritório. — Greg acha que ele fez um trabalho com você, eu já acho que tem a ver com como ele morreu. Enquanto a investigação não for concluída, não podemos ter certeza.

— E o que eu posso fazer? Porque eu já estou de saco cheio.

— Nós estamos trabalhando nisso, Jason, mas ninguém da comunidade dele quer nos ajudar. Enquanto não encontramos ninguém, temos que supor que o que a sua avó falou antes de morrer é verdade. Quando você fizer algo que ele não faria por livre e espontânea vontade, o poder enfraquece até sumir.

— Eu ouço uma voz de mulher, às vezes. Ela geralmente... Me acalma. Você acha que é ela?

— É provável, já que foi minha querida sogrinha — Alena torceu o nariz — quem ensinou Spencer a fazer isso desde pequeno, ele só tomou o rumo errado. Mas você tem que se cuidar, Jason. Parou de tomar as porcarias do Trent?

— Parei, Hayden me fez parar.

— Pelo menos ele tem juízo! — Alena riu, tentando quebrar o gelo.

A verdade era que Jason ouvia com cada vez menos frequência a voz do pai, e sempre quando ele chegava perto de Scarlett Wright.