Point Of View - Scorpius

Eu abri os olhos e vi apenas árvores. No início eu me assustei, mas, quando vi que estava apenas na Epping Forest, com toda aquela folhagem de sempre a minha volta, relaxei. Eu não estava no lugar em si. Era como se eu assistisse a algo em 3D. Não ventava muito forte, apenas uma brisa de uma noite comum de verão. De longe, pude ver a grande lua cheia no fundo da paisagem, em meio as árvores. Era como aqueles filmes de terror, em uma típica floresta de árvores altas, tapando qualquer tipo de luz que pudéssemos ter contato. Um barulho me chamou a atenção e vi um precipício, mais alto que as árvores. Parecia um animal, mas, não conseguia ver direito porque a imagem começou a se contorcer e a única coisa que eu consegui ouvir foi um uivo alto.

Eu ainda estava na Epping Forest, mas, ao invés de estar apenas assistindo de longe, finalmente estava o meu corpo dentro do local, com os meus pés descalços tocando a terra misturadas com folhas no chão. Só que eu não estava em pé. Minhas costas estavam encostadas desconfortavelmente em uma daquelas árvores gigantes, e meus braços presos para trás em volta dela. Uma corda prendia o meu tronco também. Naquela floresta, apesar das árvores serem altíssimas, elas eram razoavelmente finas. Comecei a tentar me soltar da árvore, mas, cada vez que eu me mexia mais as cordas queimavam a minha pele por baixo da camiseta, então optei por ficar parado. Relaxei o máximo que a dor me permitia, e fechei os olhos. Eu ouvia apenas a minha respiração fraca, por causa da dor, mas, logo os som calmo foi substituído por gritos altos, aparentemente de uma mulher, que foram ficando mais perto a cada segundo. Olhei para o lado, procurando por alguém, e consegui ver os gigantes portões do hospício The Shrieking Shack e todo o resto da construção. Quando os gritos começaram a ficar cada vez mais altos, o que acontecia a cada segundo, tentei me soltar novamente, e as minhas mão continuaram a queimar e a dor começou a ficar lancinante, mas, eu não conseguia parar de tentar me soltar, os gritos estavam começando a me perturbar. E foi então que a dona daqueles gritos entrou em meu campo de visão, e eu soube quem era.

Reconheceria os cabelos ruivos de qualquer lugar.

Assim que vi aqueles dois caras levando a minha melhor amiga para dentro do manicômio, o meu desespero dobrou. Quanto mais ela gritava, mais eu tentava me soltar e mais me machucava. Cada vez mais eles estavam perto da porta de madeira, já dentro dos portões, e eu já podia sentir o sangue nas minhas mãos.

Os gritos foram completamente abafados assim que entraram na construção assustadora, e finalmente consegui me soltar. Eu cai na grama, e a minha cabeça começou a doer, e o sangue que saia das minhas mãos começou a formar uma grande poça embaixo de mim, e eu apaguei.

Então dei um salto. Tudo isso não poderia ser real. Não comigo, não com a Rose… na verdade, é algo quase impossível acontecer alguma coisa assim com ela, a pessoa mais sã que eu conheço. Passei a mão no cabelo em um gesto nervoso e me levantei da cama. Vesti os sapatos e um casaco, e fui até a sala, tomando o máximo de cuidado para os meus pais não acordarem. Eu precisava de explicações para isso, esse sonho tem me perseguido a dias, será que… há algo errado comigo? Afastei esses pensamentos antes que eu ficasse mais perturbado ainda. Peguei as chaves do carro em cima da mesa de vidro, e fui até a garagem. Tirei o carro o mais cuidadosamente possível e finalmente, dei partida. Aonde ir e o que fazer, acho que estou ficando maluco de vez, soltei uma risada sem o mínimo sinal de vida nela. Parei em um sinal vermelho, a qual eu achava totalmente desnecessário as 3 horas da madrugada.

Quando eu saí de casa, a minha intenção era ir até a casa de Rose ver se ela estava bem, o que é ridículo, já que esse foi só mais um dos vários pesadelos que eu venho tendo, mas, se eu aparecer a uma hora dessas na casa dela, o pai dela é capaz de me dar um soco, já que ele não aprova muito a nossa amizade. Então eu segui reto, e dobrei na rua da floresta a qual sonhei. O que foi, definitivamente, uma ideia idiota. Desci do carro, e o vento cortante bateu no meu rosto, fazendo eu me arrepender de sair da minha casa. Respirei fundo e entrei na floresta.

Normalmente, nos filmes de terror, tudo acontece na floresta, de noite, quando um garoto idiota entre 15 e 18 anos começa a passear por ela, e a imagem de eu sendo assassinado me dava calafrios. Isso tudo porque eu não tenho nem um terço da coragem de Rose ou do otimismo de Albus. E agora seu idiota, bela hora para perder a vida. Eu sabia que a melhor e única escolha que eu tinha era entrar no carro e ir direto pra casa, mas, algo me dizia que era ali naquela floresta onde tudo se esclareceria e eu descansaria dessa confusão, então eu continuei o caminho que estava seguindo.

E praticamente entrei em choque quando acabei parando exatamente onde meu sonho aconteceu. Agora tudo parecia real, em todos os sentidos. Eu precisava verificar se Rose realmente estava bem. E estava seguindo o meu caminho quando senti alguém me seguindo. Olhei para os lados, e antes de tentar voltar para o carro, ouvi um uivo igual ao do meu sonho, e parei no mesmo lugar. Ouvi passos, e uma respiração ofegante perto de mim. Provavelmente Rose me diria para não fazer nenhum movimento brusco, mas, o meu extinto de emergência me disse para correr e foi o que eu fiz.

Era evidente que qualquer que seja a coisa que estava me observando corria bem atrás de mim, tentando me alcançar. Eu consegui correr bem até metade do caminho, mas, o meu coração disparou e o meu pulmão começou a doer, e a asma atacou como não acontecia a 2 anos. Eu tentei manter o ritmo correndo, mas, minha falta de atenção e a insuportável dor nos pulmões me fez tropeçar em uma pedra e me fui ladeira abaixo. Foi terrível, notei que estava sendo atacado, quando de repente perdi todas minhas forças, então esse “monstro” atacou meu braço e acabei gritando, e o arrependimento de ter saído de casa me fez ter vontade de chorar. A falta de ar estava se tornando cada vez mais insuportável. Abri os olhos rápido, focalizando apenas um par de olhos vermelhos, e logo após ouvi alguns passos rápidos se afastando, então finalmente eu estava sozinho. A dor estava terrível, me fazendo ter vontade de arrancar o braço. Arranquei um pedaço de tecido da minha camiseta e amarrei no meu braço, onde saia uma quantidade excessiva de sangue, soltei um urro de dor quando senti o pano apertar o meu machucado. Eu estava ciente que aquele animal poderia voltar a qualquer momento, porém agora eu não tinha mais forças pra lutar.

Me levantei e segurei aquela parte do meu braço enquanto fazia o possível para ir o mais rápido que eu podia para o carro, o que era um pouco complicado por causa da falta de ar, como se meu pulmão estivesse se rasgando aos poucos. Assim que encontrei-o, procurei o mais rápido a bombinha, sacudi e inalei o medicamento. Quando consegui estabilizar a minha respiração, bati a porta do carro e arranquei com ele o mais rápido que pude, eu necessitava ver a gravidade do meu ferimento. A dor ainda era horrível mas, quanto mais rápido chegasse em casa, mais rápido toda essa loucura passaria.

Cheguei, e então fui aquecido pelo meu lugar favorito no mundo. Peguei a caixa de primeiros socorros no banheiro e corri para o meu quarto, sem me importar em quanto barulho eu faria. Tirei o pedaço de tecido do meu braço e fiz um curativo. Me enfiei debaixo das cobertas, mesmo que depois de tudo isso não conseguiria fechar os meus olhos tão cedo sem me lembrar das íris vermelho sangue que eu vi na floresta.