Liars and Killers escrita por A Lovely Lonely Girl


Capítulo 29
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas. Muito obrigada por continuarem a ler "Liars and Killers", espero que estejam gostando. Enfim, vamos começar a mexer com a narrativa, deixá-la mais apressada, porque ainda tem muita coisa pra acontecer. Obrigada a quem votou, comentou e leu a minha história, vocês estão no S2. Espero que vocês gostem desse capítulo, beijoss



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< Katherine Adams Kohls >

 

Fechei a porta do carro de Luke assim que o sinal tocou. Por motivos pessoais – e dolorosos -, ambos concordamos em ficar no carro e esperar o sinal da entrada tocar para que não esbarrássemos em nenhuma cheerleader imbecil ou em algum idiota. Luke era todo o apoio que eu tinha naquele inferno, e, sinceramente, era só dele que eu precisava mesmo. O resto dos meus amigos não estavam ali – Henry já havia se formado, Dylan estudava em outra escola, e provavelmente já tinha se formado também, já que o IPC tinha uma série a mais, focada principalmente em preparar os alunos para o mercado de trabalho. Cece morava na França e Mikhail, na Rússia. O pessoal da The Wild Hunters também já haviam se formado.

— Kate. – Luke chamou, pouco antes de entrarmos na sala de aula. Ele segurou o meu braço de maneira firme, sem chegar ao ponto de me ferir. Seus olhos azuis se fixaram nos meus. – Eu estou contigo, okay? Sempre que precisar. – Eu assenti.

— Estamos nessa juntos. – Ele sorriu e então abriu a porta. Ele entrou na minha frente, colocou uma máscara de indiferença em seu rosto em meio à todos aqueles adolescentes que fediam à hormônios e esteroides. Respirei fundo e segui logo atrás dele, não fazendo contato visual com ninguém. Melody, o clone falsificado de Jennifer, riu escandalosamente e colocou o pé na minha frente para que eu tropeçasse, porém, o pulei sem problemas.

— A princesinha acha que pode matar aula sem ter consequências, é? – Me sentei na última carteira, Luke se sentou na carteira ao lado da minha. Revirei os olhos e comecei a tirar o material da mochila.

— Ela tá se achando a dona do pedaço agora que tá dando praquele Vingador. – Disse Dominic, um dos jogadores mais escrotos do time. Seu comentário fez com que a sala toda gargalhasse, Luke e eu éramos exceções. Me perguntei como eles poderiam saber disso, porém me lembrei que a mídia estava constantemente focada em acompanhar o dia a dia dos Vingadores, não deveria estar surpresa por saberem do meu encontro com Pietro ou do nosso beijo.

— Pelo menos ela mira alto, não é como vocês cheerleaders, que abrem as pernas para o primeiro babaca que aparece. – Disse uma voz familiar. Foi então que notei que Dylan estava sentada duas filas longe da gente. Eu sorri para ela, que piscou pra mim. Ela trajava roupas totalmente pretas, tipicamente góticas. Contive minha curiosidade de lhe perguntar se aquele espartilho de renda não a deixava sem ar. Ela quase parecia uma vampira de época, seu cabelo estava preso em um coque, usava uma gargantilha preta, luvas de renda, uma calça legging preta com uma volumosa minissaia de tule preta. Claro, o look não seria completo sem botas cano longo de salto plataforma. Seus acessórios eram prateados, sua maquiagem era pesada, considerando que ainda era dia. E, pela sua aparência um tanto intimidadora, ninguém da classe ousou responder seu comentário ofensivo.

Fiquei feliz ao notar que Dylan havia sido transferida para o IPC. Era bom ter amigos por perto, facilitaria bastante a convivência com os seres intelectualmente inferiores que eu era obrigada a aturar naquele inferno.

Um garoto apareceu na porta, não o reconhecia, então era obviamente um transferido. Ele era loiro, de olhos claros e meio pálido. Usava uma calça jeans, sapatênis, uma camisa social azul clara e óculos com armação fina e lentes grandes quadradas. No começo, pensei que ele fosse o típico nerd inseguro, porém, ele me surpreendeu quando resolveu se apresentar:

— Meu nome é Oswald Richter, sou o novo intercambista da Alemanha. – Sua face era impassível, seu sotaque era muito forte. – Não tenho o mínimo interesse em relacionamentos, flertes ou ficadas, pois tenho um problema neurológico e, por isso, sou totalmente desligado de meu campo emocional. – Aquilo me fez sorrir. Seria interessante ver como as putas reagiriam à ele. Provavelmente fariam apostas para ver quem o conquistaria primeiro. Seria um circo completo. - Não me interesso por esportes, sou focado em meus estudos e em breve me tornarei um grande cientista. – Olhei de soslaio para Luke, que estava ocultando um sorriso. Ele, assim como eu, parecia interessado no garoto novo. Oswald passou de cabeça erguida até a mesa em frente à minha e se sentou, em seguida começou a arrumar calmamente seu material na carteira.

Um instante depois, um homem entrou na sala, deixou sua bolsa na mesa do professor. Usava uma calça jeans, uma camiseta preta com caveiras, camisa de flanela xadrez preta e vermelha e coturnos pretos. Seus cabelos eram intensamente negros, como os meus. Ele pegou uma caneta preta, seguiu até a lousa branca e escreveu algumas palavras.

 

EX NIHILO NIHIL, EM NIHILUM POSSE REVERTI

 

— Alguém pode me dizer o que isso significa? – Encarei a lousa, completamente atenta. Meus instintos me diziam que eu sabia traduzir aquilo, porém, meu cérebro não conseguia raciocinar direito. Como eu poderia saber e não saber uma coisa ao mesmo tempo?

— Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma? – Chutou Dylan.

— Quase isso. Como a senhorita se chama?

— Dylan. – O professor checou a lista de chamadas.

— Senhorita Peterson, gostei do seu interesse por Lavoisier, entretanto, não será essa vertente que estudaremos.

— Essa não era pra ser aula de História? Cadê a senhora Cole? – Questionou Drake. O homem o ignorou e continuou sua explicação.

— Na verdade, metade dessa frase será inútil para explanar o que quero. – Ele apagou algumas das palavras da lousa e escreveu “fit” no final.

 

EX NIHILO NIHIL FIT

 

Sem hesitar, senti adrenalina subir pelo meu corpo quando ergui a mão e disse, com clareza:

— Nada surge do nada, ou nada se cria do nada. – Pisquei, me sentindo chocada. Abaixei a mão apressadamente. Como eu sabia o que aquelas palavras significavam? Eu jamais havia estudado latim em toda a minha vida, jamais tivera contato com a língua. E por que havia sentido tanta urgência em responder?

— Exatamente. – Os olhos do homem se direcionaram à mim, eu não tinha reparado que eles eram cor de mel. – Como a senhorita se chama? – O observei por alguns segundos, em silêncio. Eu senti que o conhecia, ou que já o vira anteriormente. Sua voz, principalmente, era muito familiar. Quem era aquele cara? Ele ergueu uma sobrancelha. – Um gato comeu a sua língua, garota?

— Meu nome é Katherine Adams Kohls. – Respondi, antes que algum imbecil começasse a me zoar. Um meio sorriso surgiu nos lábios do professor.

— Muito prazer em conhecê-la, senhorita Kohls. Eu sou Adam Lee Sanders, seu novo professor de História, Moral e Ética.

— Não tem nada de Moral nem Ética no nosso horário. – Reclamou Jennifer. O sorriso do homem que fora dirigido à mim desapareceu ao olhar para ela.

— Sua cabeça é tão limitada ao ponto de se prender a um horário escolar? Você tem uma rotina fixa para tudo? E se houver um imprevisto, como você lida com isso? – Ele se sentou na mesa do professor e começou a brincar com a caneta da lousa em seus dedos.

— Eu sei lidar muito bem com imprevistos, não sou uma louca por rotina como você quer fazer parecer, professor. – Ela parecia irritada. O homem soltou uma risadinha debochada.

— Claro, claro... Digamos que acredito em você...

— Você ainda não esclareceu minha dúvida. A gente vai ter mais matérias do que no horário? Eu vou falar com a coordenadora sobre isso. – Ele começou a equilibrar a caneta com o indicador, não se dando ao trabalho de olhar para a cheerleader.

— Reclamar. – Disse Sanders. Jennifer franziu o cenho:

— O quê? – Ele parou de brincar com a caneta e olhou para ela:

— Você não vai simplesmente falar com a coordenadora, isso é o que eu faço. Você só quer um motivo para reclamar. Tenho nojo de pessoas assim. – Sorri. Parecia que eu gostaria dele, afinal.

— Que tipo de conduta é essa, professor? Eu sou sua aluna, você não tem o direito...

— Tenho todo o direito de fazer a porra que eu quiser, porque a autoridade máxima nessa sala sou eu. – Ele disse, um tom mais sério. Os jogadores riram baixo, alguns zoaram com a cara dela. – Mas, já que você invocou de encher o meu saco, vou responder, patricinha. – Adam se levantou. – Moral e Ética são duas coisas que devem, eu repito, devem ser estudadas, discutidas e principalmente praticadas constantemente. Afinal, como você pretende se tornar um profissional de sucesso sem ter um pingo de ética no trabalho? Quais são os seus princípios morais para com suas relações sociais e para com a sociedade? O que você seria capaz de fazer? Você seria honesto? Você tem caráter ou não? Você colocaria seus desejos egoístas de lado para um bem maior? Você tem escrúpulos? - Assim que ele começou a falar, toda a classe ficou em silêncio, hipnotizados por seu monólogo. – Minha função aqui é prepará-los para o mundo lá fora, e começarei expondo a vocês sua própria mediocridade. Se continuarem medíocres, daqui a alguns anos, não vão ser nada mais do que um indivíduo cujo potencial foi desperdiçado. Os egos de vocês devem ser muralhas gigantes para que vocês não enxerguem isso. – Depois de uma pausa silenciosa e desconfortável, Adam continuou. – Agora, voltando ao que nos interessa, utilizei a expressão “nada surge do nada” porque quero um trabalho de pesquisa. Como nada pode surgir do nada, ou ser criado do nada, quero que me mostrem de onde vocês surgiram, quero que pesquisem de maneira aprofundada suas raízes, até onde vão suas origens; quero que cavem fundo, o máximo que puderem. Afinal, como pretendem estudar História sem conhecer a sua própria? – Lindsay ergueu a mão.

— Quanto vai valer esse trabalho? – Adam sorriu.

— Como o sistema de avaliação daqui são provas mensais, bimestrais e dois trabalhos extras... – Ele disse enquanto rabiscava na lousa.

 

Prova Mensal + Trabalho Mensal + Prova Bimestral + Trabalho Bimestral

 

— Esse vai ser contado como trabalho mensal ou bimestral? Qual será a data de entrega? – Continuou Lindsay.

— Eu quero que me entreguem no final do bimestre. E, quanto ao valor, será dos dois trabalhos e da prova mensal juntos. – Arregalei os olhos.

Quê?— Exclamaram alguns alunos. Adam sorriu descaradamente.

— É, isso aí. Acredito que eu tenha sido claro o suficiente. Sugiro que pesquisem muito bem, quero a linhagem de vocês em detalhes, incluindo as ocupações de seus ancestrais, tradições de família, lemas, brasões, enfim, curiosidades. Quero que vocês façam uma análise detalhada sobre sua linhagem. Deixo claro que quero informações daqueles que têm os nomes em suas certidões de nascimento, a não ser que alguém aqui tenha pais adotivos, nesse caso, o trabalho deve ser sobre seus ancestrais adotivos. O seminário será na última semana do bimestre, quero que me enviem o documento escrito e slides da apresentação no meu e-mail. Em caso de dúvidas, podem falar comigo, mas, por favor, me poupem de reclamações e perguntas idiotas.– Ele apagou a lousa e se sentou na cadeira do professor. - Estão dispensados, agora caiam fora da minha sala.

— Nós mal tivemos meia hora de aula. - Reclamou George. Sanders apontou para ele:

— De você, quero um trabalho individual, um resumo de vinte e cinco páginas sobre a influência da Igreja Católica desde seu surgimento aos dias de hoje. Para semana que vem. - George arregalou os olhos:

— M-Mas você não pode fazer isso! - Adam sorriu:

— Eu posso, sim. - Em seguida, falou em tom mais alto, para que toda a classe ouvisse. - Mais algum bebê chorão vai ficar reclamando? Posso ficar passando trabalhos individuais o dia todo.

— Não senhor, professor. - Tyler falou pela turma atordoada.

— Ótimo. Agora dêem o fora daqui. Só fica quem tiver dúvidas relevantes. - Gradativamente, os alunos arrumaram suas mochilas e foram embora. Pedi ao Luke que fosse na frente pois precisava tirar uma dúvida com o professor. Logo, eu e o garoto novo fomos os únicos que ficaram para esclarecer dúvidas.

— Professor, eu gostaria de confirmar com o senhor os aspectos que deseja que abordemos no trabalho; trata-se de curiosidades, árvore genealógica, antigos costumes familiares, profissões e posição social de nossos antepassados? Caso haja alguma descoberta relevante, podemos adicionar ao trabalho também?

— Sim, tudo o que for possível, senhor Richter. - Adam olhou para mim e sorriu. - Hey, a nossa especialista em latim, senhorita Kohls... Qual é a sua dúvida, querida?

— Bem, eu... - Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha. - Eu nunca conheci o meu pai, ele morreu. E não tenho contato com meus avôs e avós biológicos. Será que eu poderia fazer o trabalho sobre a família do meu padrasto? Foi ele que me criou, para mim, ele é meu verdadeiro pai. - Sanders assentiu brevemente.

— Compreendo, senhorita Kohls... Assuntos de família podem ser realmente complicados. Porém - ele suspirou-, propus este trabalho justamente para promover o autoconhecimento dos meus alunos. Isso significa que quero saber quem é você. - Suas íris cor de mel se fixaram em mim, um meio sorriso surgiu em seus lábios. Naquele momento pude perceber sua paixão pelo conhecimento, por ser professor. - Eu quero que você descubra coisas sobre si mesma. Quero que o seu passado me diga quem você é. E, já que você não tem nenhuma base, para você, será mais interessante ainda. Imagine as possibilidades! - Coloquei a mão em minha nuca e exalei, derrotada. A angústia em meu peito só crescia, a ansiedade, aumentava.

— Então, professor, o problema é que eu não sei por onde começar, porque meu pai era alemão. Eu tenho medo de trazer informações erradas para o senhor, seria catastrófico. - Adam riu:

— Não seja por isso, querida. - Ele sorriu, tranquilo. - Oswald pode te ajudar, caso precise. Aliás, vocês dois podem trabalhar juntos e se ajudarem com seus trabalhos. - Oswald ergueu as sobrancelhas e me encarou por um momento, sem deixar tranparecer seus pensamentos.

— Eu desenvolvi uma interface de pesquisa, ajuda a filtrar os resultados, deixando os mais absurdos de fora. - O alemão disse. Ergui as sobrancelhas, ele sorriu de lado. - Desculpe, esqueci de mencionar que sou um gênio prodígio. - Meus instintos me diziam que o garoto estava dizendo a verdade. O loiro ergueu sua mão, logo, apertamos as mãos. - Sou Oswald Richter, mas pode me chamar de Walden.

— Katherine Adams Kohls, mas pode me chamar de Kate.

 

{...}

 

Peguei a chave da minha mochila, coloquei na fechadura e destranquei a porta. Conseguia sentir de longe o cheiro da comida de Sage. Fechei a porta.

— Oi, Sage, cheguei. - Segui direto para o meu quarto, deixei a mochila na cadeira da minha escrivaninha e me joguei na cama em seguida, afundando a cabeça nos travesseiros. Segurei bem forte os travesseiros em meu rosto e gritei o mais alto que consegui, sentindo a tensão deixar o meu corpo. Quando me senti melhor, levantei o rosto dos travesseiros. - PUTA QUE PARIU! - Dei um pulo de susto e rolei da cama, caindo de cara no chão. - Que merda... - Ergui a cabeça e me levantei, fitando o motivo do meu susto. Loki devia ter achado que eu estava em perigo pelos meus gritos, então ele havia se teletransportado para o meu quarto com uma de suas adagas em sua mão.

— Er... Desculpe por entrar em seus aposentos, apenas o fiz porque pensei que estivesse em perigo. - Sentei em minha cama, tentando ajeitar o cabelo bagunçado pela queda.

— Eu imaginei que fosse isso. Desculpe por esse alarme falso. Mas obrigada por aparecer. - Sorri para ele. Loki fez a adaga sumir e observou em volta.

— Então... Até mais, Katherine. - Ele começou a caminhar para fora do meu quarto.

— Espera. - Pedi. Ele parou de andar imediatamente e ergueu uma sobrancelha. - Eu quero falar com você. - O deus se virou para mim.

— Estou ouvindo.

— É sobre... - Engoli em seco. - Um... Problema meu. Pode fechar a porta, por favor? - A porta se fechou sem que Loki se movesse. - Você... Podemos conversar como ontem? - Um sorriso zombeteiro surgiu em seus lábios:

— Está me convidando para sua cama? - Ao invés de me envergonhar, retruquei sua provocação:

— Estou, por quê? Por acaso esse convite te assusta? - Ele riu levemente, o que me fez sorrir. Loki raramente sorria ou ria, o que fazia com que aqueles momentos fossem muito preciosos para mim. O deus se sentou em minha cama.

— Seu convite não me assusta, apenas me intriga, Katherine. - Surgiu um sorriso sedutor em seus lábios. - Agora que já estou aqui, o que pretende fazer comigo?

Eu me aproximei dele, deixando nossos rostos próximos. Se ele queria me provocar, eu responderia à altura.

— Não sei ao certo... - Fixei meu olhar no seu e sussurrei, com a voz num tom controlado para ser sedutor. Desviei o olhar para seus lábios por um segundo, mordi meu lábio inferior e voltei a olhar em seus olhos. - O que você quer fazer?

Conseguia ver de perto suas pupilas se dilatando, a boca aberta em surpresa se tornou um meio sorriso, seus olhos brilhavam com malícia. Eu sabia que tudo o que ele dizia e fazia era para me provocar, para que eu me sentisse envergonhada; porém, eu não me renderia tão facilmente. Loki se aproximou ainda mais de mim, colocou meu cabelo atrás de meu ombro e aproximou seus lábios do meu ouvido:

— Você quer que eu tire as suas roupas ou prefere fazer isso você mesma? - Sua voz rouca sussurrando em meu ouvido foi demais, eu senti um calafrio atravessar a minha espinha, arrepiou até os pelos dos meus braços. Eu senti o calor em minhas bochechas e imediatamente o afastei com uma mão, com o rosto emburrado:

— Okay, okay, você venceu. - Me afastei dele até que nossas mãos ficassem uns 30 centímetros uma da outra. Ele sorriu com desdém.

— Estou impressionado com suas tentativas de revidar minhas provocações. Gostei.

Fiquei em silêncio por um tempo antes de começar. Logo, os sorrisos despareceram.

— Loki... Sobre o que eu queria te falar... - Eu estava hesitante, irremediavelmente nervosa. Depois do dia anterior, quando senti que poderíamos trabalhar juntos, havia decidido contar a ele sobre Kitty. Afinal, ele era um deus e um feiticeiro, talvez ele pudesse me ajudar. - Eu... Não sei se isso pode ter alguma ligação com Asgard, ou em como eu posso te ajudar, mas... - Suspirei. Aquilo estava sendo mais difícil do que eu havia previsto. - Eu sofri um acidente de moto há alguns anos, e acabei em coma por um tempo. Quando acordei, eu estava bem, me lembrava da minha vida, não tive amnésia nem efeitos colaterais... A única coisa que mudou foi que... Bem, eu comecei a ter pesadelos muito ruins. No começo, eu pensava que era alguma coisa relacionada à estresse pós-traumático, mas todos os médicos, inclusive neurologistas e psicólogos, diziam que eu estava bem. Não tinha muito o que fazer, então me prescreveram sedativos e remédios para dormir, mas nada disso ajudava com os pesadelos. Às vezes, ficava até pior, porque eu tinha ataques de pânico e paralisia do sono com frequência. - Loki ergueu as sobrancelhas, surpreso. - A simples ideia de voltar a dormir me aterrorizava. Eu não aguentava mais, até que... Bom, era como se eu houvesse me tornado outra pessoa.

— Acha que alguém entrou em sua mente e tentou te controlar? - Questionou Loki. Fiquei feliz por ver que ele se importava e que ele acreditava em mim, ele estava realmente me ouvindo.

— Eu não sei como explicar... Desde o acidente, eu tenho sonhos ruins, todos eles envolvem uma versão minha, mais cruel e má do que eu. - Olhei em seus olhos, que estavam focados em mim. - Eu não entendo como isso pode ser possível, os sonhos com ela só pararam depois que eu parei de tentar ter o controle de mim mesma. - Inconscientemente, abracei o meu corpo. - É como se tivessem duas pessoas dentro da minha cabeça lutando para ficarem no controle. Quando eu parei de lutar, ela começou a viver a minha vida. Eu me lembro de conseguir apenas olhar o que acontecia, sem poder fazer nada. Durante um tempo, era ela quem tomava as decisões.

— Sua mente pode ter dividido sua personalidade em duas depois do acidente. - Ele suspirou, olhando fundo nos meus olhos. - Escute, eu quero ajudar. Nós dois precisamos estar preparados para quando o Destino nos convocar. Isso significa que eu devo contribuir para que você consiga resolver esse tipo de problema. - Ele estendeu sua mão, eu a segurei, o deus entrelaçou seus dedos nos meus. Eu sentia meu coração acelerar dentro do peito, eu estava lutando para não chorar de alívio por finalmente falar com alguém sobre Kitty. - Então, no outro dia, quando você estava chorando no ombro de Lucas falando sobre uma Kitty... Foi o nome que você deu à essa sua “outra parte”?

— Eu preciso da sua ajuda, Loki. - Pedi, segurando sua mão entre as minhas. - Eu nunca contei nada para Sigyn porque ela está muito envolvida, e não quero que ela se frustre caso não consiga me ajudar. Não quero que ela tenha pena de mim. Não suporto a ideia de ser tratada como uma coitadinha. Eu sou forte, sei que sou. - Olhei para o deus, que assentiu, me encorajando a continuar. - Mas estou cansada de ter que ser forte o tempo todo, de ter que lutar o tempo todo. Principalmente contra minha própria mente. - Suspirei.

— Entendo como se sente, Kate. Estou familiarizado com esse sentimento, porque minha situação é muito semelhante à sua. Minha mente tenta me trapacear algumas vezes também, então tenho de estar sempre alerta. - Ele soltou nossas mãos. - E é exatamente por saber como você se sente que farei de tudo para ajudá-la. Usarei todo o poder ao meu alcance para que você não acabe como eu. - Ele colocou suavemente a palma de sua mão em minha bochecha, seus olhos estavam fixos nos meus. - Você tem a minha palavra.

Eu assenti firmemente e sorri aliviada para ele. Era revigorante saber que eu poderia tê-lo como aliado, que ele tentaria me ajudar.

— Muito obrigada, de verdade. - Ele retirou a mão do meu rosto. - Eu... Eu vou treinar para ficar mais forte, assim vou poder te ajudar mais, Loki! - Sorri. Ele ergueu uma sobrancelha:

— Você quer me proteger, então? Mesmo sabendo que tem um exército atrás de mim?

— Eu disse que vou te ajudar. - Sorri de canto. - Se está tentando me assustar, está perdendo o seu tempo. Para mim, isso é só um incentivo para que eu treine ainda mais. - Ele me observou por um momento, fitando detalhadamente o meu rosto.

— Você é, sem dúvida, uma criatura peculiar.

Eu ri.

 

{...}

 

— Kohls, mais rápido! - Gritou Natasha. Luke e eu estávamos correndo por uma pista de obstáculos, dentro de uma enorme sala vazia, projetada pelo Stark, que, com a ajuda de hologramas e nanotecnologia, conseguia projetar qualquer cenário possível para treinamento. Obviamente, Luke estava bem mais à minha frente, considerando que ele estava mais acostumado com exercícios do que eu. Eu sentia meus pulmões arderem, meus pés doíam pelo impacto no chão, eu arfava em busca de ar enquanto tentava ir cada vez mais rápido.

— Bom trabalho, Lucas. Katherine, a sua respiração durante a corrida está totalmente errada. - Disse Steve. Ele e Natasha estavam nos observando, no centro da sala. Rogers tinha um cronômetro em mãos, ficava constantemente checando nossas voltas. - Mais cinco centímetros, Sexta-Feira. - As barras de obstáculos ficaram maiores, consequentemente, tínhamos que pular mais alto. Consegui acompanhar, só uns dois segundos mais lenta, enquanto que para o Luke não fez diferença. - Mais quinze centímetros.

Lucas parou diante de um obstáculo, voltou um pouco para dar impulso e pulou uma barra. Foi então que percebi que poderia virar o jogo. Foquei em manter meu ritmo de corrida, porém, quando chegava perto de um obstáculo, conseguia ultrapassar graças ao treinamento das cheerleaders. Em alguns, virei estrelas, em outros, virei piruetas, e em outros, passei por baixo, abrindo quase que espacates completos. Luke não conseguiu manter o ritmo porque ele sempre voltava um pouco para pegar impulso, enquanto que eu não precisava muito disso.

Quando eu finalmente consegui ultrapassar a linha de chegada com o Luke, tudo sumiu, deixando apenas Natasha e Steve com seu cronômetro em mãos. Steve soprou um apito.

— Muito bem, podem descansar por enquanto. Katherine, tem que trabalhar melhor essa respiração, mas gostei do empenho. - Eu e Luke estávamos arfantes, enquanto ele foi beber água, eu deitei no chão e fechei os olhos.

— Parece que alguém está tentando impressionar. - Ouvi um sotaque familiar. Abri os olhos e sorri ao encontrar Pietro me observando. Me sentei e estralei meu pescoço, que fez um som alto. - Nossa. - Ele riu. - Você está bem? Vai acabar quebrando o pescoço desse jeito.

— Consequências de se ter ansiedade: noites de insônia, crises de choro e meu corpo é pura tensão. - Dei de ombros. - Não que faça alguma diferença.

— Pensa rápido. - Ouvi Luke falar antes de jogar uma garrafa de água lacrada para mim. A peguei no ar. - Foi uma boa corrida, já pode se candidatar para o circo. - Fiz uma careta mostrando a língua para ele, que riu.

— Vocês dois estão indo bem, para dois iniciantes. - Comentou o Maximoff, de braços cruzados. - Os dois têm habilidades diferentes, ver vocês dois aqui é um entretenimento e tanto.

— Não vou mentir, me senti um ratinho de laboratório agora. - Lucas respondeu. Sorri.

— É isso aí, Pinky. Nós vamos continuar fazendo a mesma coisa que fazemos todas as noites: tentar conquistar o mundo. - Lucas revirou os olhos e eu ri. Abri a garrafa de água e bebi alguns goles, em seguida a fechei.

— Katherine, eu gostaria de falar com você lá fora. - Disse Pietro, indicando a porta da sala. - É meio importante. - Suspirei.

— Se for sobre a imprensa, eu já sei. - Afirmei, e Pietro ergueu as sobrancelhas.

— Eu devo me desculpar, afinal, não me ocorreu que eles... - Ergui a mão, interrompendo-o:

— Está tudo bem, Pietro. Afinal, vocês todos são figuras públicas, não me admira que todas as câmeras estejam apontadas para vocês. - Abaixei minha mão. - Além do mais, estou acostumada a lidar com isso. Eu cresci tendo que aprender a me comportar na frente das câmeras, por causa dos meus pais e de alguns amigos meus. - Sorri, esperando tranquilizá-lo. - Está tudo bem. - Steve se aproximou e estendeu a mão para mim.

— Vamos? A pausa para descanso acabou. Vamos continuar o treinamento de boxe. - Assenti e aceitei sua mão, logo me levantei sem problemas.

— Até mais, Pietro. Tchau, Pinky. - Luke mostrou o dedo do meio para mim. Rogers e eu fomos até sala de boxe.

— Já foi até Pandora? - O loiro perguntou, enquanto enfaixava suas mãos com bandagens.

— Ainda não. - Disse, enquanto tentava imitá-lo. Estava quase sendo aceitável. O Vingador logo me ajudou a terminar de enfaixar e colocar as luvas de boxe rosa-choque. - Estou esperando a minha rotina se estabelecer um pouco. Sabe? Inferno, almoço, SHIELD e jantar. - Ele riu.

— O colégio é tão ruim assim para você?

— Bom, não muito. Agora não é mais só eu e o Luke, uma amiga minha se transferiu para a minha escola. E tem um professor novo também. Ele tem uns parafusos a menos, mas parece ser legal. - O Capitão sorriu. Nós subimos no ringue, ele segurou o saco de areia para mim e eu comecei a me aquecer com alguns socos.

— Não tem nada melhor do que ter os amigos por perto. Aproveite enquanto puder, Katherine. Um dia, todos esses momentos não passarão de uma saudosa memória. - Dava para sentir o peso de suas palavras, elas refletiam como ele se sentia.

— Eu faço de tudo para aproveitar o presente ao máximo. Meus amigos, então... Eu sei que daria a minha vida por eles, sem hesitar. - Rogers sorriu:

— É admirável a naturalidade com que você diz isso, Kate. Só mostra o quanto é corajosa.

— É... - Meu sorriso mais parecia uma careta. - Eu não tenho muita escolha, na verdade. Eu sei que tenho que ser forte. É por isso que os protejo, aos meus amigos e à minha família; sinto como se eles me ajudassem com isso.

— Não é raro que a sua força venha das pessoas que te cercam. É uma espécie de “força altruísta”. Os herois de verdade têm isso. - Ele me dirigiu um sorriso gentil. - Certo... Agora vamos ver o que faremos em relação à sua postura... - Ele foi até um armário, tirou algo de dentro dele e voltou até mim. Parecia um cinto elástico dividido em dois, como o que se usa em escaladas. - Você vai usar isso aqui em suas costas para ajustar a postura. - Ele se aproximou de mim, me ajudou a colocar aquela coisa e regulou de uma forma que eu não tinha muita escolha a não ser olhar para frente ao invés de encarar os meus próprios pés. - Use isso com frequência, quanto mais usar, mais rápidos serão os resultados. Aposto que se sentirá muito melhor quando tiver uma postura correta.

— Tudo bem, Capitão. - Disse assentindo e respirando devagar. Eu meio que me sentia um robô com aquele negócio, mas pelo menos não era tão descconfortável quanto eu achei que seria.

— Muito bem, agora vamos continuar com a sequência de socos...

Depois de treinar com o Steve e trocar de roupa, Pietro me encontrou no saguão.

— Oi... - Ele sorriu.

— Oi. - Coloquei a cabeça levemente para o lado, observando-o. - Me desculpe se eu fui muito direta mais cedo. É só... Que acho que foi um deslize pela minha parte. Eu acabei me deixando levar e me esqueci de conter meus afetos em público. - Sorri fracamente. O sorriso dele sumiu de sua face.

— Então... Você não gostou que fôssemos vistos juntos? - Ergui as sobrancelhas. Sua pergunta havia me pego desprevinida.

— Eu... Não esperava que essa fosse uma de suas preocupações... - Franzi o cenho. - Quero dizer, eu esperava ter que assinar um pedido de desculpas ao Fury pela indiscrição ou algo assim... - O platinado explodiu em risadas, o que foi um tremendo alívio.

— Não acho que o diretor da SHIELD esteja interessado em com quem eu saio, Katherine. Agora... - Ele se aproximou de mim, até ficar perto ao ponto de eu só poder focar em seus olhos azuis. E, mais uma vez, me sentia ansiosa, nervosa, intrigada, preocupada... - Você não respondeu à minha pergunta.

— Eu não esperava que fosse tão cedo. - As palavras escaparam. - Eu não sei o que você espera que eu responda, você me pergunta como se eu só me importasse com o fato de que fomos vistos juntos, e sinceramente, esse não é um assunto que me chame a atenção. - Ele analisava meticulosamente o meu rosto, como se esperasse sinais de que eu estivesse mentindo. - Você é o assunto que me interessa, não o fato de terem nos visto juntos. Sair com você foi bem mais divertido e empolgante do que...

Um selinho. Seguido de outro. E outro. E, de repente, eu havia me esquecido totalmente do que eu estava falando. Pietro delicadamente segurou meu rosto em suas mãos, eu conseguia sentir meu rosto em chamas. Ele tinha um sorriso maroto nos lábios pela minha reação envergonhada.

— Eu posso te beijar agora? - Eu assenti, impossibilitada de fazer mais do que isso. Parecia haver uma névoa na minha mente, principalmente quando ele fazia algo ousado ou quando ele era direto comigo. Era por isso que eu o admirava e gostava dele; não havia joguinhos ou falsas impressões, era apenas ele e o que ele queria. Ele deixava bem claro isso.

Seus lábios se encontraram com os meus, eu sentia meu coração acelerar cada vez que o sentia perto de mim. Seu perfume me embriagou enquanto abrimos nossas bocas e nos beijamos com calma, um se acostumando ao outro. Suas mãos seguiram até o meu cabelo e o seguraram sem muita força. Eu segurei a gola de sua camisa como um porto seguro para que ele não me soltasse, não ainda. Sentia o frescor de sua boca na minha, era a melhor sensação do mundo. Quando paramos, ele me deu alguns selinhos e distribuiu beijos pelo meu rosto, o que me fez rir.

Sorrimos um para o outro, pouco antes de nos separarmos e seguirmos para a porta de saída do prédio da SHIELD.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam do capítulo? Gostaram do professor Adam Lee Sanders? Por favor, comentem! Beijos e até o próximo capítulo



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