Tentei agir rápido, correndo até Wendy deitado na neve, afastado da seita, ninguém nos veria fugir. Meus pés descalços entraram em contato com o chão frio e logo cheguei a ele, apagado e envolto pelas grandes asas escuras de morcego.

            - Wendy...acorda! – Exclamei, tentando despertá-lo. Sacudi seu corpo gélido e despido, em vão.

            A confusão continuava à nossa volta, se não saíssemos logo seria tarde demais. Adiantei-me e dei um forte tapa em seu rosto, causando reação imediata no mesmo, que se levantou me encarando, embora não parecesse muito lúcido.

            - Precisamos ir embora! Agora! – Gritei, mas não obtive resposta, o moreno apenas me fitava com um olhar distante, ele não estava bem. E eu não o culpo.

            - O meu dormitório escolar não fica muito longe daqui, vamos! Temos que fugir! – Continuei recebendo o mesmo olhar apático; teria explicado que estou sem poderes e nada posso fazer, mas não tínhamos tempo.

            Segurei em seu braço pálido e tentei fazê-lo vir, comigo, porém o íncubo continuou sentado na neve. Eu estava ficando sem opções.

            Me ajoelhei em frente ao mesmo, o solo gelado parecia cortar minha pele, e o toquei no rosto, mesmo com nossos rostos tão próximos sua atenção não parecia estar capturada, e eu precisava tirá-lo deste transe.

            Minha pele tocou na dele, e nossas bocas ficaram bem perto, eu o encarava nos olhos, mesmo sem ser retribuída. Os dois lábios finalmente se tocaram, e tive que ir em frente e continuar com isso, o beijando e explorando sua boca macia e congelada.

            “Por favor, Wendy”, pensei. Não sentia o sabor de seus lábios, talvez ainda estivesse com o gosto de Shalia na boca. Se eu fingisse que aquilo não aconteceu, esse podia ser meu primeiro beijo.

            - Becky! – Sua voz saiu rouca e embargada, mas saiu. Ele voltou!

            - Finalmente! Vamos embora! – Exclamei, agora sorrindo e mais distante de seu rosto, já me levantando e puxando sua mão, porém fui interrompida.

            - Não...não. – O moreno negou, ainda sem forças para falar e com o olhar baixo. Se ele continuasse com isso, não sairíamos dali.

            - Olha, não há tempo. Se ficarmos aqui iremos morrer! – Berrei, tentando causar algum efeito. O íncubo permaneceu em silêncio me olhando, mas finalmente se levantou. Procurei andar o mais rápido possível lado a lado com ele e chegar ao outro lado da floresta, no entanto alguém surgiu em meu campo de visão.

            Shalia estava parada a poucos metros, de pé. O feitiço de sono perdera seu efeito. Não muito longe, Nestor e seu colega observavam a confusão que ainda ocorria dentro do campo de força, distraídos.

            Um sorriso torto se formou em seu rosto, em tom irônico como sempre. Ela não nos deixaria partir tão fácil assim. Olhei para Wendy; só havia um jeito.

            - Voe! Por favor, voe! – Implorei, recebendo um olhar perdido de seu par de olhos de cores diferentes, mas o mesmo agiu rápido, agarrando-me e levantando voo pelo bosque de coníferas, alcançando o céu sem demora ao agitar suas longas e negras asas. A bruxa, ainda trajada em preto, mudou sua expressão para fúria e não deixou de lançar uma ou outra magia, as rajadas de fogo que antes que pertenciam, porém, o moreno desviou com maestria. Seus berros de frustração ecoavam pela floresta.

            Sorri, aliviada e feliz de sair daquela loucura, o frio rigoroso não me incomodava agora. Vimos o terreno da Academia de cima passar até chegar aos dormitórios dos bruxos, onde pedi para que parasse. Já era noite e estava bem escuro quando pousamos e agilmente nos escondemos no meu quarto.