O Ritual escrita por Elliot White
Notas iniciais do capítulo
Mais um capítulo dessa história que está tomando um caminho mais sombro do que eu tinha planejado.
Boa leitura.
— Deixe ele livre. - Shalia ordenou olhando para Adão, que continha o refém com as mãos e pés amarrados, o homem tinha meia idade e quase a mesma altura que o bruxo. O capanga obedeceu retirando as cordas que atavam seus membros, embora continuasse o contendo com suas mãos grandes e seus braços fortes, o prisioneiro não parecia querer fugir, estando cercado de gente e em um lugar afastado do bosque.
— Nestor! - a líder continuou, gritando o nome do rapaz em sua voz fina e irritante, que logo surgiu empurrando a cadeira de rodas de Olga pela neve grosseiramente.
A bruxa se aproximou da menina, a tocando nas longas madeixas ruivas e acariciando, com um sorriso malicioso nos lábios, sua longa capa preta atrapalhava. A pequena apenas direcionava o olhar ao chão. O irmão se remexeu, aprisionado e aborrecido.
— Agora que já descobriu que seu namoradinho é um íncubo, Becky, quem você imagina que seja o outro demônio de que precisamos? - a jovem discursou, se dirigindo a mim, que apenas a fitava cansada e com as mãos e pés doendo de estar a tanto tempo presos em cordas. - bom, quem mais seria? O sangue corre em suas veias. Isso mesmo, a pequena Olga é um súcubo. Bem, pelo menos se tornaria se fosse crescer um dia. A pirralha não aprendeu muita coisa ainda. E ainda por cima, não consegue nem andar, o que ela poderia fazer? - ela terminou, provocativa.
— Não toque nela, desgraçada! - Wendy berrou furioso.
— Se não o quê, bonitão? - no mesmo momento em que respondeu, Shalia empurrou a cadeira de rodas de Olga, a fazendo virar e a mesma cair na neve, fria e gélida, sem poder se levantar por ser paraplégica, e soltar um gemido de lamento. Agora essa miserável tinha ido longe demais.
— Não! - o irmão mais velho urrou, em desespero tentando se soltar, parecendo vencer o efeito do soro para tentar proteger a irmã.
A ruivinha permaneceu no chão sem tentar se levantar, enquanto a bruxa rasgava suas vestes e sua pele branca das costas ficou visível, assim como um par de asas negras, parecidas com as de Wendy, porém pareciam mal formadas, eram pequenas e incompletas.
— Veja como é inútil, uma súcubo que não pode voar! Nem se pode chamar isso de asas! - zombou a líder da seita, rindo da situação.
— Solte ela agora! - o moreno, ainda amarrado em um tronco de árvore do mesmo modo, que eu, agora parecia enlouquecido em assistir aquilo, eu também estava de coração partido, porém o cansaço me vencia e eu permanecia paralisada com a cena.
O que veio a seguir eu não esperava, pelo menos não de Olga, a pequena surpreendeu ao levantar-se parcialmente e direcionar seu braço direito à sua agressora, proferindo:
— Durma! - todos ficaram atentos quando a bruxa deitou de súbito e caiu em um sono profundo no chão branco e nevado; o trecho do livro que Nestor lera anteriormente dizia que súcubos e íncubos podiam fazer adversários dormirem, mas não era esperado que a irmã menor de Wendy era capaz, ainda tão jovem. Todos os membros do grupo entraram em alerta, cercando Olga, no entanto a mesma foi rápida e certeira, lançando outra magia direto onde seu irmão estava aprisionado; a rajada foi tão forte que rompeu suas amarras, o libertando.
Uma faísca de esperança surgiu em mim quando o moreno sofreu uma pequena queda da árvore atingindo a neve macia do solo, e abriu suas longas asas de morcego que estavam encolhidas e presas antes, erguendo-se no ar enquanto soltava um alto grito que aterrorizou os inimigos.
Ele não foi tão rápido. Olga logo foi detida por Adão, que a agarrou pelos braços e a levou para longe, os demais bruxos jogaram feitiços e encantamentos que brilharam no céu, dominado de coníferas secas, no entanto nenhum chegou no seu alvo, o íncubo permanecera esquivo pulando de galho em galho, em uma altura inalcançável e ele era perito em voo.
O loiro que antes fora refém da seita agora estava com uma aparência horrível e que em nada lembrava o homem acuado de antes, agora seus olhos estavam escuros, da cor da noite, tanto os glóbulos como as pupilas estavam em tons de preto. O homem agarrou a pequena pelo pescoço, com intenção de matá-la. O quê? Ele não estava lutando contra os bruxos?
Eu já estava me preocupando, Olga não tinha força alguma e era frágil comparada àquele prisioneiro. Ela não podia relutar, e a vontade dele parecia ser mesmo sacrificá-la, embora esse fosse o objetivo da seita. Outra rajada tomou conta de todo o ambiente, expulsando Chris, Nestor, Adão, Shalia ainda desacordada e o capanga negro para longe, todos uniformizados de manto preto e o capuz cor de vinho. Uma espécie de campo de proteção ou barreira se formou entre Olga e o homem loiro, impedindo qualquer aproximação.
O que se via agora dentro daquela área entre os dois foi muito confuso: uma hora a pequena súcubo estava apenas sendo agredida e enforcada pelo sujeito de olhar demoníaco, outra ela mesma se tornava como ele, com cavidades de escuridão no lugar dos globos oculares, mas ela parecia estar sofrendo muito e não existiam chances de impedir isso, apenas assistir imóvel.
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Até o próximo capítulo, comentem!