Sentei na janela do quarto, sentindo a brisa fria da noite tocar minha pele e direcionei meu olhar pra baixo, notando a altura do segundo andar da minha casa até o gramado no chão. Fechei meus olhos, respirei fundo e deixei a energia fluir pelo meu corpo, até me preencher por completo então me impulsionei e me soltei da janela, flutuando levemente até a grama, onde pus os pés. Abri as pálpebras e corri, dando início à minha fuga.

Pulei e caí em pé, literalmente como um gato, e esta era uma das vantagens de ser uma bruxa. Apertei o passo, pra deixar os extensos terrenos da minha casa e chegar o mais rápido à minha escola, mas primeiro teria que passar pela cidade. A esta hora da noite, o colégio estaria fechado, mas o que eu queria era tirar as minhas impressões de lá, no entanto a negra imagem que eu tinha em minha cabeça daquele lugar estava tão fixa que nem se eu encontrasse um palácio bafônico cheio de príncipes gatos, ela iria mudar.

Amanhã será meu primeiro dia de aulas, e eu não estava nem um pouco esperançosa com isso, afinal eu sou a droga da filha do diretor, e todo mundo sabe disso. O Sr. Darwin Kimonno, meu pai, e todos me olhariam torto e me tratariam diferente por causa deste detalhe. Tudo bem, ele não é o único diretor do colégio, até porque se fosse eu o induziria a não admitir o ingresso de gente falsa no campus.

Talvez por tédio ou por pura curiosidade, esta noite me levou aos aposentos da Academia sozinha, e tive que usar o truque de levitação novamente pra escalar o alto muro do local, mas fazer isso de novo em um tempo tão curto me cansou (eu já vim aqui a pé pra economizar energia), então preferi descer me jogando do outro lado. Deixei escapar uma exclamação de susto ao colidir com o chão, logo me levantando e me deparando com um amplo pátio arborescido tomado pela escuridão da noite.

Andei por alguns minutos e cobri muita área, mas só parei quando notei por sons e movimentações que não estava sozinha, o que me obrigou a me esconder entre arbustos e espiar o que estava acontecendo: várias pessoas dispostas em um círculo no campo aberto do colégio, enquanto uma jovem segurava um livro grande e lia em uma língua incompreensível pra mim, a voz não tão elevada, provavelmente não queria ser descoberta, mas o que me intrigava era, por que fazer isso na escola na noite antes do início das aulas? E o principal, ela não notava que seu cabelo ficava simplesmente ridículo solto?

O pessoal agora juntou as mãos e começou a fazer gestos estranhos, o que me levou a pensar que eles estivessem fazendo um culto a alguma macumba forte. Por essa eu não esperava nesta noite.

– Ai!

Soltei sem querer, topando com um graveto no chão, e todos os olhares se dirigiram a mim, a origem do som, porém escondida no escuro, entre arbustos e árvores, eles não conseguiam me ver, assim espero, no entanto os jovens já estavam se aproximando e logo eu estaria ferrada pra valer. Foi quando uma mão gelada tapou minha boca; meus olhos saltaram na hora, mas antes de ter outra reação fui puxada pelo braço e levada à força.