Eu de Letras, ela de Irônicas escrita por Sr Devaneio


Capítulo 2
Capítulo 02 - Bem-vindo de volta!


Notas iniciais do capítulo

Galera, estou muito feliz com o resultado até agora. Obrigado mesmo por todos os comentários e acompanhamentos - 44. QUARENTA E QUATRO. COM DOIS CAPÍTULOS! É quase inacreditável!!! - e só tenho a agradecer! Sério, obrigado mesmo.
Continuando a trajetória de Andrew, eis o Capítulo 2 da nossa história - e com muito mais palavras, desta vez! Hahaha. Boa leitura! :D :
*Betagem pela grande amiga, escritora e leitora, J Stanesco! ♥



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— Olá, Piper! – falei ao chegar à recepção da MCU.

Haviam algumas pessoas sentadas nas cadeiras que enchiam o espaço. Praticamente todas tinham papeis em mãos e preenchiam seus dados conversando animadamente com os colegas ao lado. A moça sentada na cadeira de escritório à minha frente levantara seus olhos da tela do computador, onde trabalhava, e abriu um largo sorriso antes de dizer:

— Andrew! Oi, como vai? -

Dito isto, ela havia se levantado e me estendido a mão.

— Muito bem, obrigado. E você? Como foram as férias? – devolvi, apertando sua mão.

— Estou ótima, apesar do trabalho em excesso aqui. Fui a LA visitar meu namorado. Foi uma viagem maravilhosa!Descansei bastante. Porém assim que pus os pés aqui novamente, uma lista enorme de tarefas me foi dada. Volta às aulas em universidade, sabe como é...

— Sei, sim. – falei, apesar de não saber exatamente.

Piper era uma amiga. Eu a conhecia há pouco mais de um ano - quando cheguei. Foi ela quem me ajudou não só a me inscrever corretamente em meu curso, mas também a encontrar meu dormitório (ficava no Bloco B, na época), as salas de aula e foi quem respondeu pacientemente a todas as minhas dúvidas – embora depois eu descobrisse que havia uma pessoa só para isso: mostrar a universidade aos novatos e explicar como tudo funcionava.

Ela era uma ótima pessoa, alegre e gentil, além de ter um dos sorrisos mais lindos do campus.

— Você deve ter bastante trabalho por aqui... não quero tomar seu tempo, desculpe.

— Que nada! Não vou ter que trabalhar por mais duas horas depois do fim do meu expediente só por conversar por cinco minutos com um amigo. Relaxa.

Piper trabalhava e estudava na Master anteriormente. Havia conseguido uma bolsa semi-integral há três anos para Artes Plásticas lá, mas como o valor do curso ainda estava muito alto, aceitou trabalhar para o campus(já que ia ter que conseguir um emprego em algum lugar, de qualquer forma) em troca da bolsa completa do curso, estadia e alimentação.

Sorri. Ela fez uma pausa rápida e continuou:

— Se bem que você é quem deve estar precisando ir. Despedir da família, o percurso até aqui, tudo no mesmo dia fora o peso das bagagens e todo o trabalho que você ainda vai ter pra arrumar o quarto... Sei como é. Nossa, eu falo bastante! Vou parar de tomar o nosso tempo – ela riu divertida – Documentos, por favor. –acrescentou, sentando-se na cadeira novamente.

Tirei a pasta onde os havia guardado, dentro da mochila, peguei a declaração que me tinha sido enviada pela própria universidade por e-mail, meus resultados nas provas de admissão (que também foram reenviadas por e-mail), o papel com minha carga horária do ano letivo passado (que informava minha turma e quais aulas eu tinha pego) e, por último, tirei a identidade da carteira e entreguei tudo a ela, que por sua vez me entregou uma ficha para preencher com meus dados.

Enquanto ela digitava sem parar, provavelmente preenchendo minha nova matrícula, fiz uma pausa no preenchimento da ficha e notei que seu corte de cabelo estava diferente:

— Ei, você fez algo no cabelo. Cortou?

Ela parou de digitar e olhou para mim rapidamente, sorrindo:

— Sim! Optei por experimentar um corte novo. Chanel.

— Ficou muito bom!Te deu um ar mais chique... – fui sincero.

O sorriso dela se tornou ainda mais alegre.

— Ah obrigada! Você é muito gentil. Todos estão me elogiando, acho que acertei em cheio dessa vez...

— Sem dúvidas! –disse eu, deixando-a tornar a se concentrar em seu trabalho logo depois e voltando minha atenção para a ficha.

Não muito depois, mais cinco pessoas chegam e começam a formar uma fila atrás de mim. Agora que parei para pensar, tive sorte em não ter pegado nenhuma por aqui. Iria adiantar minha vida, mesmo que a diferença fosse pouca.

Terminei de preencher e confirmar todos os dados daquele monte de papeis e entreguei-os a Piper, que simultaneamente me devolveu meus documentos.

— Obrigada! Agora, a parte divertida: vamos te revelar o número de seu quarto e quem será seu novo colega! – ela disse, sem perder a animação.

Eu já havia recebido um e-mail informando o nome do cara, um tal de Chad Beckerman. Nunca tinha ouvido falar.

— Quarto 323 do Masculino. Mudança de colega solicitada. O novo se chama Chad Beckerman e seu armário é o 554.

Confirmado.

—Hum... certo.

Então, ela se abaixou e de algum lugar escondido tirou uma chave, que colocou em minhas mãos:

— Aqui está sua chave. Bloco C, terceiro andar.

—Obrigado, Piper!

— Aparece depois pra colocarmos a conversa em dia direto. Desculpe não poder ser agora... – ela me diz.

— Não, eu entendo! Muito trabalho... E sou eu quem deve pedir desculpas por atrapalhar. Depois marcamos algo, pode ser?

—Está ótimo. Sabe onde me achar, né?! – ela brincou.

Peguei minhas malas e comecei a puxá-las, saindo da fila.

— Sem dúvidas! – falei -. Até logo!

Ela me deu uma piscadinha divertida antes de se voltar para a menina que estava atrás de mim na fila e recomeça o atendimento. Dirigi-me à saída mais próxima do Bloco C, ansiando poder arrumar o quarto e finalmente me ver livre de tanta coisa!

*

Dois lances de escadas e um longo corredor cheio de portas cheias com números depois, finalmente parei em frente ao 323.

Girei a chave e a maçaneta devagar, para curtir o momento e fazer valer a pena todo o cansaço e suor que tinha adquirido na ida até ali. A porta se abriu rangendo pouco. Liguei logo o interruptor e me deixei apreciar o novo quarto. Minha nova casa.

Era quase idêntico ao antigo: paredes de um tom azul bem claro, piso de cerâmica comum e teto de gesso. Porém, diferentemente do anterior - o 447 -, este possuía duas janelas estilo guilhotina (as anteriores eram de correr), grandes, na parede atrás das cabeceiras das duas camas (uma em cada extremo do quarto); ao lado das camas, um pequeno criado-mudo com duas gavetas para se guardar pertences pessoais; logo no fim delas, escrivaninhas simples de madeira para cada ocupante (2, no caso) acompanhadas de uma cadeira. Um pouco mais atrás (ou frente, considerando minha posição de observador), duas pequenas cômodas, uma também em cada extremo do quarto, e juntas à parede do banheiro, cuja porta estava logo à minha diagonal esquerda.

E era isto. Este seria o meu novo lar pelos próximos 180 dias letivos.

Até então, eu me mantinha em pé na porta observando o ambiente. Das janelas, era possível ver algumas copas de árvores. Foi quando reparei que as mesmas estavam fechadas, e devido ao calor que fazia — a tarde havia começado excepcionalmente quente e eu já vinha de uma subida de dois lances de escada puxando duas malas enormes  – decidi que eu merecia abri-las para deixar um pouco de vento entrar. E foi o que fiz.

A brisa fresca foi como um sopro divino em meu rosto.

Estava feliz por finalmente estar ali. Mais ainda por ter chegado antes do tal Chad, podendo assim escolher meu lado do quarto (não que fizesse muita diferença, mas ainda sim era bom ter o direito de escolha). Acabei optando pelo lado direito, onde, segundo meus cálculos mentais rápidos, eu teria que dar menos passos para chegar até o banheiro.

Cansado, coloquei as duas malas sobre a cama escolhida e comecei a desfazê-las, uma por vez, guardando tudo em seus respectivos lugares: roupas na cômoda, separadas cuidadosamente por tipo, livros sobrepostos na escrivaninha, peças íntimas na última gaveta do criado-mudo e objetos diversos na superior.

Após um merecido banho gelado que melhorou visivelmente minha aparência, penteei meus cabelos negros para o lado, vesti uma roupa fresca, peguei a carteira e fui à cidade para almoçar e passar no trabalho depois para entregar uns documentos da faculdade, avisar Barney (meu chefe, dono da livraria onde eu trabalhava) formalmente de minha chegada e confirmar quando recomeçava meu expediente.

*

— Boa tarde, Ellie! - cumprimentei minha colega de trabalho, que estava em frente a um computador provavelmente pesquisando algum título para um cliente.

Ellie virou o rosto rapidamente, gesto que movimentou seu rabo de cavalo loiro com elegância no ar.

— Andrew! E aí, tudo bem? - ela sorriu e veio em minha direção para um abraço rápido.

— Estou ótimo! Animado para mais um ano... E você? – perguntei de volta, retribuindo o abraço.

— Ótima também. Boas férias?!

— Revigorantes - sorri -. E as suas?

—Hum... Relaxantes. Veio falar com Barney?!

— Sim. E entregar uns documentos – levantei a mão que segurava uma pasta amarelo-queimado -. Ele está?

— No estoque, conferindo a entrega de ontem – ela fez um gesto indicando os fundos da loja -.

— Beleza. Já nos falamos!

— Claro! - dito isto, uma moça se aproximou e ela teve de voltar sua atenção para o trabalho - ApocalipZe, não é?! Temos, sim. Me acompanhe, por favor - e saiu, com a moça atrás de si.

No estoque, Barney checava caixas abertas conferindo seu conteúdo com o que havia escrito em vários papeis sobre sua velha prancheta.

—- Toc, toc! - falei parado na entrada do depósito.

Barney levantou os olhos e sorriu ao me ver:

— Andrew, meu rapaz! Como vai? Ele veio em minha direção e me deu um aperto de mão.

—Vou bem, senhor, obrigado. E o senhor?

— Muito bem! Como foi a viagem?

— Foi ótima. Super tranquila e rápida como sempre...

— Que bom que está e chegou bem - ele sorriu amigavelmente -.

— Então, muito trabalho por aqui?

— Não muito, na verdade. Pelo menos, não agora... O novo estagiário deu conta de todas as caixas! – brincou ele.

Sorri.

— Espero que seja bastante esforçado! - entrei na brincadeira.

Após a breve pausa, ele olhou em volta e acrescentou:

— Acho que terminei por aqui. Podemos sair daqui e sentar para conversar decentemente!

E lá fomos nós, rumo à área de alimentação da loja. Sentamo-nos à primeira mesa que surgiu. Ele colocou a prancheta com os papeis sobre a mesa e começou a falar:

— Tem uma pessoa que não parou de falar de você enquanto não viajou – ele fez uma pausa rápida, observando minha reação - Consegue adivinhar quem é?

—Hum... Rashley?! - eu tinha quase certeza de que seria ela.

— A própria – confirmou -.

Eu sabia. Tinha dado um sorrido um tanto quanto desconfortável com a menção de seu nome.

Rashley era a filha de Barney. Linda, loira, rica. Porém, grudenta como só ela. Logo na primeira vez que me viu, começou uma repentina obsessão por mim; a partir daí, sempre que aparecia na loja, do nada, não me deixava trabalhar em paz até que seu pai a repreendesse. Era um ano mais nova que eu e era só isso que eu sabia a seu respeito.

—- E ela...hum... está bem? - perguntei, embora desejasse que o assunto mudasse de foco.

— Sim, sim. Resolveu ir ao Brasil com a mãe dessa vez, volta em duas semanas.

Ótimo. Duas semanas trabalhando sossegado.

— Ah, sim. Certo...

Fez-se outro momento de silêncio rápido. Então, ele pareceu se lembrar do porque da minha ida até ali:

— Bem meu jovem, acredito que tenha vindo para conversarmos a respeito de seu retorno...

— Exato senhor. E entregar aqueles documentos que o senhor pediu – estendi a pasta para ele, que logo tirou os papeis de dentro-. Começo amanhã, no mesmo horário de antes? – perguntei enquanto ele conferia a documentação.

— Suas aulas continuarão no período da manhã esse ano? – ele rebateu a pergunta, ainda concentrado nos papeis.

— Sim, senhor.

— Então, sim. Amanhã, no mesmo horário – ele tornou a olhar para mim, acrescentando logo em seguida – tudo certo aqui. Obrigado, filho.

—Eu que agradeço, senhor. Nos vemos amanhã, então!

—Exato. Já almoçou?

— Já, sim senhor. - digo, começando a me levantar.

—Certo... não quer ficar mais? - perguntou ele, por educação.

— Não, obrigado. Eu gostaria, mas ainda tenho que fazer umas coisas antes que a rotina antiga volte. - falei tentando não ser mal educado.

— Claro, claro. Bem - ele se levantou também -, foi muito bom revê-lo novamente, rapaz. Nos vemos amanhã, então – me estendeu sua mão.

—  Foi ótimo rever o senhor também, Seu Barney! Nos vemos amanhã. - afirmei em resposta, apertando a mão que ele estendeu.

Ellie não estava à vista, então não pude me despedir.

E era isso. Com essa última pendência resolvida, eu estava oficialmente de volta!


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Notas finais do capítulo

Até agora pouca coisa aconteceu, eu sei. Porém preparem-se: no próximo capítulo já teremos "ação". Prometo que valerá a pena e vejam só!: Parece que ela está chegando...
Até logo mais!