Mascarade escrita por Last Mafagafo


Capítulo 14
Capítulo 14 - Eu sou má?




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Ainda com o corpo de Jared sobre os ombros, Erik caminhava pelos subterrâneos da ópera. Ele estava irritado pelo que ocorrera. Não entendia porque Blanche estava se culpando. Ela pareceu tão perdida, tão triste. Ele realmente não sabia o que deveria ter feito naquela situação. A verdade é que ele era péssimo com pessoas em geral.

Mesmo com o pensamento longe, ele pode ouvir que o seguiam, mas ele não se preocupou. Sabia exatamente quem era.

— Pode aparecer, Daroga. Já sei que está aí.

— Erik, o que você fez? - o Persa se colocou ao lado dele, visivelmente irritado.

— Nem comece. Desta vez sei que você concordará comigo. Este estrume que carrego nos ombros estava prestes a estuprar sua bailarina.

— Minha bailarina? Do que está falando? - o Persa precisou de alguns segundos para relacionar as palavras do Fantasma à Blanche - Se refere a aquela pobre menina?

— Quem mais, Daroga? Se eu não tivesse chegado este aqui teria machucado a bailarina.

— Pobre Blanche… Primeiro você e depois este homem.

— Eu? Eu a salvei, Daroga! Para você ver que não sou o vilão da história - Erik disse, abrindo as portas da fornalha.

— Erik, pelo que sei você quase matou a menina enforcada uma vez e naquela noite que a encontrei os subterrâneos ela também não estava bem por sua causa.

— Mas eu nunca a estupraria como este imbecil - disse, jogando o corpo de Jared no fogo.

— Como está a menina? - perguntou o Persa.

— Melhor, eu acho - Érik deu de ombros.

— E eu pergunto a você, o homem sem empatia! - disse Nadir, revirando os olhos - Mas pelo menos desta vez você fez bem. 

Nadir saiu da sala e voltou para a ópera com um sorriso no rosto. Erik tinha alguns momentos de humanidade, como aquele. Mesmo que tivesse feito algo questionável, havia sido suficientemente justificável para ele. Naqueles momentos, mesmo que breves, o Persa se reconfortava com a ideia de que havia valido a pena poupar a vida do Fantasma, mesmo que ele tivesse sido forçado ao exílio.

Erik, por outro lado, se deixou descansar por alguns minutos antes de voltar. Sentia-se bem pelo que fizera, mas estava preocupado com a moça. Ela havia ficado muito abalada, mais do que em qualquer outro momento em que a havia visto. Apenas para ter certeza de que ela estava bem e acalmar aquele desconforto que sentia, decidiu voltar para a ópera e ver Blanche. Ela ainda estava no camarim, olhando fixamente para o espelho. Parecia já ter se trocado e usava um robe sobre uma camisola de longas mangas e  suas ceroulas. Em sua cabeça, Blanche repassava aquele episódio como um sonho, uma peça encenada na ópera.

— Você está bem? - perguntou o Fantasma.

Ela se assustou, pois não havia percebido sua chegada, mas voltou seu olhar para ele.

— Estou sim. Obrigada, Erik - agradeceu - É que tudo parece um pouco estranho para mim. Irreal, talvez.

— Como sabe meu nome? - ele perguntou, surpreso.

— O Persa me disse - retrucou.

— Aquele Daroga…

— Por que me ajudou? - ela perguntou, olhando em seus olhos.

— Da última vez eu lhe machuquei sem que fosse minha intenção. Creio que com isto estamos quites - ele disse.

Blanche não gostou da resposta, mas achou plausível. Aquele homem não seria do tipo que faria algo por bondade, a menos que fosse para Christine.

— Você acha que sou má? - o Fantasma se surpreendeu com a pergunta.

— O que quer dizer?

— Meu pai batia em mim - ela disse, atraindo sua atenção - Em mim e em minha mãe sempre que chegava em casa. Ele estava sempre bêbado, sabe? Ele chegava e batia em mim e minha mãe vinha me proteger e ele batia nela. Às vezes era o contrário. Uma vez ele estava batendo em mim quando minha mãe se colocou em minha frente. Ela estava farta e disse que fugiria comigo. Ele ficou tão irritado e bateu tanto nela que a matou. Eu fugi e não parei de correr até chegar aqui. Mme Giry me acolheu e me ensinou a dançar. Faz quase quatro anos.

Erik ouvia calado, sem saber o que dizer..

— Meu pai morreu há um ano, afogado no Sena. Quando soube me tranquei aqui. Eu não quis admitir, mas estava feliz que ele tinha morrido. Hoje, quando vim para cá, repassei tudo o que aconteceu. Não sei se estou feliz, mas estou aliviada. Eu sou má?

Ela olhava para ele, os olhos ansiosos por uma resposta. Erik tentou se controlar, mas deixou escapar um riso. Que tipo de mulher ela era? Ele tinha certeza que a encontraria em lágrimas, devastada e ela dizia que estava aliviada! Foi então que percebeu que ela não ria, estava séria e parecia magoada também.

— Não era piada - ela disse.

— Eu sei - ele respondeu.

— E então?

— Não sou o melhor para julgar as ações de alguém, não acha? Todos me vêem como o vilão por aqui - ele olhava para ela, que corou. Ela mesma sempre o julgara como um demônio.

— Obrigada - ela agradeceu novamente - Pode pegar sua capa também, está naquele cabide.

O Fantasma se aproximou de onde ela tinha apontado e colocou a capa novamente. Daquela forma, Blanche pensou, ele parecia mais um Fantasma, um ser escuro e misterioso das sombras. Ele desapareceu em um canto escuro do camarim, deixando-a sozinha.

— Fique bem, Srta. Blanche - sua voz ecoou pelas paredes, mas ele não estava mais lá.


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