Abstinência escrita por Jibrille_chan


Capítulo 1
Abstinência




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Abstinência = faculdade de se abster, privação voluntária, jejum.


X X X


Sorri contra o pescoço de Uruha. Eu estava ali, encostado no balcão da cozinha, com o guitarrista mais novo nos braços, pouco me importando com a presença de Kai na cozinha de nosso apartamento. O loiro estava um pouco sem jeito, virado de frente para o baterista. Kai sorriu, sua covinhas aparecendo.


- Aoi, já tentou não colocar as mãos no Uruha o tempo todo?


- Pra quê? – apertei mais meus braços entorno da cintura do loiro, possessivo.


- Nee, Aoi... Aposto que você não consegue ficar um mês seguido sem tocar no Takashima.


Ergui uma sobrancelha. Kai estava apelando pra um golpe baixo: apostas. Sabia que eu detestava fugir de um desafio.


- É uma aposta, Kai?


Uruha só nos observava, um sorriso mínimo em seus lábios.


- Hm... E por que não? Se você conseguir ficar um mês sem tocar no Uruha aqui, eu cozinho pra vocês por dois meses.


- Mas, se eu perder...


- Se você perder, vai me dar a sua moto.


Ergui as duas sobrancelhas, incrédulo.


- A minha moto?!


- Você acha que eu valho menos que uma moto, Aoi?


A voz de Uruha soou dura. E eu não gostei nada daquele tom. Claro que Uruha valia mais do que qualquer coisa pra mim, mas... eu tinha certeza que ia perder. E... aquela moto era de estimação.


- Uru, é claro que você vale mais do que a moto...


- Então aceita.


- Mas é que...


- Mas é que o quê, Shiroyama? Não consegue controlar o que tem no meio das pernas, homem?


Suspirei, pesadamente, cedendo. Como eu sempre fazia com Kouyou.


- Tudo bem, eu aceito a aposta – ele imediatamente desfez o abraço, e eu senti falta de seu corpo contra o meu.


Kai se levantou, me estendendo a mão.


- Então, está apostado... Por um mês você não pode pôr as mãos em Uruha com segundas intenções. Independente da hora ou local... Não toque no Takashima.


Apertei a mão de Kai, me arrependendo. Maldita hora em que eu havia aceitado aquela aposta.


X X X


Estava mau humorado. Muito mau humorado. Eu geralmente já acordo mau humorado normalmente, mas desde que havia me mudado pro apartamento de Uruha, mas dormir no sofá, depois de ter me acostumado com aquela cama de casal – e com Uruha do lado... Suspirei pela enésima vez.


O ensaio até rendeu bem, com poucos erros. Nem fiquei reparando muito no Uru. Talvez eu até conseguisse passar por esse mês que com certeza seria infernal. Fiquei feliz em chegar em casa, me sentando no sofá, me esparramando. Uruha sorriu com a visão, como sempre fazia, e fui rumando até a cozinha.


- Yuu? Quer alguma coisa pra jantar?


- Ah, sei lá... Liga e pede uma pizza, Kou.


- De quê?


- Qualquer coisa que você escolher ta bom, Kou.


Ouvi sua risada da cozinha, e não sei porquê, mas não tive um bom pressentimento quanto a isso.


X X X


- Essa é pra sobremesa, Yuu! Nem tente assaltar!


O guitarrista mais novo arrancou a caixa da pizza de brigadeiro das minhas mãos, indo colocá-la no forno, pra que não esfriasse. Nem vi do que era a pizza que eu comia, de olho na pizza de brigadeiro.


- Yuu, se demorasse mais um pouco, você seria uma formiga.


Olhei não muito amigável para o loiro sorridente à minha frente, e não pude deixar de sorrir. Maldito fosse o poder de Uruha sobre mim.


- Não tenho culpa de ser viciado em chocolate.


Ele riu adoravelmente, indo até o forno e finalmente pegando a pizza de chocolate. Dispensei os pratos que ele fez menção de pegar, puxando o meu pedaço com a mão mesmo. Levei o pedaço à boca, pronto para me deliciar com o brigadeiro... mas parei no meio do caminho com o que vi.


Uruha. Com o dedo sujo de brigadeiro. Lambendo esse bendito dedo, me olhando com um brilho tão predatório no olhar que fez um arrepio percorrer pelo meu corpo. Depois ele vem, passa o dedo roubando brigadeiro do meu pedaço, lambendo seu dedo com lentidão.


- Bom, ne Yuu?


Okkay. É meu namorado. Eu amo ele. Mas eu queria bater tanto nele. Porque eu sabia perfeitamente que ele estava fazendo aquilo de propósito. Semana passada tínhamos pedido uma pizza de brigadeiro e não teve nada dessa história de "bom, ne Yuu?". Respirei fundo, retomando o meu auto-controle. Ou qualquer coisa que me fizesse ignorar aquele incômodo no meio das pernas, droga.


- É, Kou, a pizza é boa.


Ele riu, aquele brilho predatório que me dizia que ele poderia a qualquer momento me jogar naquela mesa e me devorar. Aí ele levanta e vai lavar a louça. Respirei fundo mais uma vez, começando a comer a pizza de chocolate. O que eu havia dito mesmo sobre conseguir passar o mês?


X X X


Uma semana. Uma semana e eu já estava entrando em paranóia. Depois do episódio da pizza, Uruha não havia mais me atentado. Mas mesmo assim, eu ainda tinha a impressão de que Uruha estava indo aos ensaios com calças cada vez mais justas. Sem contar que as minhas costas doíam de dormir no sofá; não podia tocar em Uruha, mas não ia deixar ele dormir no sofá, ne?


Bem que ele merecia depois daquela pizza. Da língua dele percorrendo o dedo dele como se fosse... Ta, preciso me concentrar mais na música, na música, droga! E... infernos. Arrebentei a corda da guitarra. Demônios; cortei meu dedo.


O ensaio parou completamente, Uruha vindo em meu socorro. Entregou a guitarra para Ruki, incumbindo-o de colocar uma corda nova, enquanto ia comigo até uma pequena cozinha procurar algo para estancar o sangramento. Engraçado como cortes pequenos podem gerar tanto sangue, ne? O loiro se virou pra mim, vendo meu sangue escorrer pelo meu dedo.


Eu parei, estático, apenas assistindo a língua quente de Uruha percorrer a extensão do meu dedo, e depois colocar apenas a ponta em sua boca, sugando. Ele tirou meu dedo da sua boca, sorrindo nada inocente.


- Melhor que o brigadeiro, Yuu...


- Uruhaseudesgraçadoquermematar?


Ele começou a rir, sua mão deslizando pelo meu tórax, parando perigosamente perto do cós da minha calça.


- Nee, Yuu... Você não pode me tocar. Mas ninguém disse nada quanto a eu te tocar...


Olhei pra ele, incrédulo. E às portas de um orgasmo. Soltei a respiração que eu nem tinha percebido que havia prendido.


- Uruha... você quer que eu perca o controle, não quer? Eu ainda vou te dar uns tapas na cara por isso...


- E eu vou gemer se você fizer isso...


E lá estava eu, correndo pro banheiro mais próximo.


X X X


Duas semanas. E eu não estava começando a ficar louco. Eu estava louco. E minha vontade de bater em Uruha só aumentava. A cada vez que ele passava pela sala com o pijama aberto, cada vez que ele roçava sua pele em mim quando tinha acabado de sair do banho. Já estava considerando seriamente em comprar uma moto nova.

Por outro lado, eu até estava feliz descobrindo esse lado mais... provocante de Uruha. E eu podia gemer só com a junção de "provocante" e "Uruha" na mesma frase. Deitei no sofá de bruços, a cara enfiada no travesseiro e tentando não pensar em... uma mão no meu traseiro?


Me virei, olhando curioso para Uruha, que depois de ter me "abordado" daquela forma, virou de costas ligando o som. Colocou um CD que de imediato eu não reconheci, só percebi depois que ele havia colocado no rádio e a música começou a tocar.

Eletrônico. Mas não um eletrônico comum... Uruha era muito exigente com esse tipo de coisa. Os eletrônicos que Uruha era viciado eram eletrônicos mais ritmados, mais balançados... eram alemães, se eu não estava enganado. Sentei no sofá, me estapeando mentalmente por eu nem sequer tentar ignorá-lo.


Seu quadril ondulava conforme o ritmo da música. Suas mãos deslizavam pelo seu pescoço, expondo-o, enquanto ele se virava de frente pra mim, os olhos fechados. Suas mãos deslizaram por baixo da sua camisa, eu gemi sem perceber. Via milímetro por milímetro daquela pele tão clara sendo descoberta, e quando suas mãos chegaram em seus mamilos, ele gemeu. E eu quase tive um orgasmo.


- Kouyou... Eu compro uma moto nova, inferno.


Minhas mãos voaram em sua direção, minha boca quase violentando a sua, tamanha era aminha urgência. E eu saciava a minha sede por ele, depois de duas semanas proibido de tocá-lo e dele me provocando. Segurei suas coxas, suspendendo-o no ar, e suas pernas logo entrelaçaram minha cintura.


Joguei-o no sofá, tendo plena consciência de que não ia conseguir chegar até o quarto. Arranquei sua roupa, tirando a minha no processo, numa velocidade inacreditável. E ele tinha aquele olhar predatório de novo, nos lábios um sorriso que era pura malícia. Meus lábios colaram-se em seu pescoço, explorando-o, enquanto minha mão passeava por sua coxa, marcando-a. E ele ainda vem sussurrar no meu ouvido, com aquela voz já rouca.


- Me fode...


Não pensei. Apenas penetrei em Uruha sem muita delicadeza, num afobamento que não era meu. Em geral eu iria com calma, mas eu estava descontrolado. E quando ele gemeu mais alto, eu senti que sanidade era algo muito remoto e distante.

Minha mão voou para o membro do loiro, massageando-o, e sentindo os dentes do mais novo nos meus ombros. Cara, meus hormônios.¹ Eu o estocava com mais força à medida que o volume de seus gemidos aumentava.


Ele se agarrou ao meu corpo, suas unhas deixando marcas vermelhas nas minhas costas. E quando ele gritou o meu nome, eu me senti desfazer dentro do loiro, e ele se desfazendo na minha mão, quase simultaneamente. Deitei por cima dele, cansado. Depois de um tempo, ouvi sua risada.


- Acho que o Kai ganhou uma moto.


- Dane-se a moto. Nunca mais me deixe entrar em apostas desse tipo, entendeu?


Ele riu novamente e, com algum esforço, conseguimos inverter as posições, o loiro ficando aninhado sobre mim.


- Mas vai dizer que não foi divertido, Yuu?


- Divertido? Da próxima vez fica no meu lugar.


Ele riu de novo, me acariciando.


- Ne Yuu... Não precisa dar sua moto pro Kai.


- Como não? E a aposta?


- Ah... bem, não podemos dizer que tenha sido algo exatamente justo, já que eu tinha combinado com ele... eu tinha certeza de que você não ia conseguir agüentar um mês. Eu ia garantir que não.


- Cretino.


- Uhum, e você me ama por isso. Foi lindo te ver tão descontrolado, Yuu.


- Te odeio.


- Também te amo, Yuu.


Fim

¹ créditos da Beru, porque essa frase é dela. Não exatamente essa, mas muito semelhante. 8D


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