Meses atrás a vida de Sebastian tinha dado uma reviravolta. Por causa de uma noiva arrependida por uma bobagem que aconteceu séculos atrás, toda sua pequena cidade natal estava contra ele. E sua própria noiva tinha terminado com ele. Isso nem era problema, já que de que adianta a opinião daqueles caipiras? E Amanda... Amanda era bonita e podia ajudá-lo em sua carreira, mas... Bom, tudo bem. Ele já estava bem colocado nas Indústrias Hammer. Só que ai as Indústrias Hammer foram compradas pelas Indústrias Stark e sua boa colocação virou apenas uma garantia de que nenhum funcionário seria dispensado sem passar por um processo de avaliação. E Sebastian, vendo diversos funcionários em um cargo abaixo do seu permanecendo em seus empregos, estava certo de uma promoção. Principalmente porque Stark andava fazendo algumas coisas bem peculiares: tinha acabado de promover sua assistente pessoal a CEO das indústrias (uma tal de Pepper, sério, quem chama Pepper?) e estava por ai brincando de super-herói. Cara, como Sebastian queria por as mãos naquela armadura. E com ele nas Indústrias Stark e na equipe de engenheiros, com certeza ele teria a oportunidade, pelo menos de ver alguns dos componentes. Um protótipo daqueles, a equipe de engenharia devia ser enorme... Quem sabe ele não podia até arrumar um jeito de participar de um dos testes? Aquilo ia mostrar para os perdedores de sua cidade... Não que a opinião deles importasse.

Nesse momento, apesar de inconveniente, era a opinião do sr. Stark que importava. Talvez a da tal Pepper (ele tinha que se controlar para não rir do nome na frente dela), mas principalmente a do sr. Stark, já que apesar de não ser o CEO da empresa, ainda era o principal engenheiro e playboy de primeira. Assim que ele visse o currículo de Sebastian e o conhecesse, estava certo de que o sr. Stark o contrataria para sua equipe pessoal. Esse era o salto da carreira de Sebastian que ele estava esperando! E o sr. Stark, o próprio sr. Stark, tinha convocado Sebastian para uma reunião. Sebastian só ficou sabendo de outros 3 engenheiros das indústrias Hammer a serem convocados pessoalmente pelo bilionário e não por sua assistente (segura o riso!) e todos estavam em cargos muito mais altos que o dele. Aquilo seria grande, era seu momento de brilhar!

.

.

.

Pepper já estava falando a alguns dias sobre o remanejamento dos engenheiros provindos das Indústrias Hammer, que agora Tony chamava de "Dummies". Toda vez que Tony falava isso, Dummy parava o que estava fazendo para girar sua garra de forma inquiridora para seu criador, quase que se perguntando se ele faria mais robôs. E apesar dos protestos de sua namorada sobre a forma como ele tratava os funcionários, Tony não dava a mínima. Acontece que Tony queria mais espaço para projetar próteses para soldados feridos e as instalações das falidas Indústrias Hammer serviriam muito bem - e tiraria uma indústria de armas do mercado, o que era sempre um bônus, apesar de nada funcionar ali. E Pepper achava que era um ato desprezível deixar todos os funcionários desempregados. Tony até concordava com aquilo. E reduzir drasticamente os salários? Eles tinham um padrão de vida para manter... Tudo bem Pepper, mas você precisa de uma mesa de diretoria nova? A das Indústrias Stark já não dá trabalho o suficiente? E então ela desistiria dos membros da diretoria para falar dos engenheiros. Porque as Indústrias Stark nunca tem engenheiros o suficiente.

Correção, as Indústrias Stark nunca tem engenheiros COMPETENTES o suficiente. O que era um grande problema de se conseguir, porque na definição de Tony ele era o padrão de um engenheiro competente. Pela capacidade de inovação, não pela responsabilidade ou por trabalhar no horário. E sério, quem estava no mesmo patamar que Tony nesse quesito? Bom, ele andava com um coleguinha de laboratório bem simpático que às vezes virava um monstro verde de cinco metros, mas isso não vem ao caso, já que o dr. Banner não era um engenheiro.

No final, Tony resolveu montar uma equipe de testes das próteses (já que cada pessoa tende a achar uma coisa diferente desconfortável) e os engenheiros da Hammer estavam bem no ponto para sofrerem uma lavagem cerebral e aprenderem o novo emprego. Se eles quisessem, é claro. Tony só se recusava a demitir Pepper. De resto, eles que fossem para onde quisessem. E era por isso que Pepper estava conversando com os tais engenheiros um a um. E de vez em quando, Tony dava uns saltos na conversa e dizia que conhecia um ou outro e que ele queria participar da entrevista para por o papo em dia (que nunca tinha nada a ver com engenharia).

E foi numa dessas conversas, enquanto listava o nome das reuniões da semana, que o nome de Sebastian apareceu. Tony estava tão entretido pintando uma ferrari vermelha de dourado (um sacrilégio, mas Tony achava tudo válido quando era para pintar as coisas nas cores do Homem de Ferro) que só percebeu o que Pepper estava falando quando ela parou de falar, esperando a resposta dele.

– Hum?

–Temos que decidir se ele continua na empresa!

– Ele quem? - Tony perguntou, pintando o vidro do carro por acidente. Ops.

– Sebastian. - Pepper continuou.

– Que empresa? - Tony perguntou, para não perguntar que Sebastian.

– Tony! Você não ouviu nada do que eu estava falando? - Pepper perguntou, irritada.

– Pelo contrário minha bela donzela, eu ouvi tudo o que você estava falando. Só que se você estiver falando das Indústrias Stark eu me recuso a colocar Sebastian no contexto.

Alguns segundos de pausa, e então:

– Então é pra eu dispensar o Sebastian na reunião que temos com ele na sexta?

– Não.

– Não?

–Não.

–...

–...

– Por que não?

– Porque apesar de tudo o que aconteceu, você vai ficar com peso na consciência depois se demiti-lo.

Pepper chegou a abrir a boca para argumentar, mas Tony a interrompeu:

– Eu vou demitir Sebastian na sexta.

E sexta-feira realmente chegou. E Tony estava tão animado com a ideia de demitir Sebastian que não dormiu na noite anterior e depois de ter que resolver um monte coisas na empresa, estava cansado, estava inquieto e com um começo de dor de cabeça. Ele não conseguia mais trabalhar, não conseguia se concentrar, então chamou Pepper para que eles pudessem conversar um pouco. Pepper percebeu a situação do namorado, ligou o youtube para colocar uma música. Lá pelas tantas a lista mudou e uma música extremamente suave começou a tocar. E ambos se esqueceram do tempo, dançando no escritório de Tony, em um ataque de bobeira. Abraçados, não ouviram as batidas na porta e nem perceberam a entrada de Sebastian.

.

.

.

Tudo bem, Sebastian sabia que Tony Stark era excêntrico, só aja como se fosse normal estar dançando com sua assistente no escritório no meio da tarde. Ela está rindo dele, bom bom, sinal que ele aceita bem uma certa intimidade com seus funcionários... Bom, funcionária nesse caso. Opa... Aquilo é um beijo? Ha! Está explicado porque ele teria uma assistente chamada Pepper... Mas ela até que deve ser competente, porque Tony Stark é o tipo de homem que pode ter a mulher que quiser... Inclusive a...

– GINNY?

Quando reconheceu os cabelos ruivos de sua ex, Sebastian ficou tão atordoado que deixou o nome escapar em voz alta, chamando a atenção do casal dançando a sua frente. Ambos pararam imediatamente de dançar, com Ginny se virando para olhá-lo, parecendo finalmente perceber que ele estava na sala. Ela parecia um pouco corada, mas não parecia haver desespero em sua postura por ter sido flagrada beijando o seu chefe (Ginny que mal satisfazia as vontades dele próprio quando ainda estavam em um relacionamento, e agora estava envolvida com o chefe? Tony Stark, lembre-se). Ah, assim que ele recebesse sua promoção ele ia conversar com ela. Será que ela ainda estava com aquele perdedor do Ed? Ele certamente iria ganhar o dia ao ver a cara dele quando ele contasse sobre a traição da namorada com um dos maiores play boys da Terra e... Espera, aquele ao lado dela, de cavanhaque, é o... Ed? Ele trabalha nas indústrias Stark? Ele veio ao trabalho de jeans e camiseta?

– Ed? - Ele perguntou com certo asco. - O que estão fazendo na sala do sr. Stark? Digo, eu tenho uma reunião muito importante com ele agora e se não se importam, gostaria mesmo de saber onde ele...

E ele observou, atônito, quando Ginny e Ed trocaram olhares como se Sebastian fosse completamente louco. Será que... Não, é impossível...

– Sr. Mulroney? - Perguntou Ginny, enquanto Ed se afastava dela para se sentar na cadeira do presidente das Industrias Stark.

– Você é o Ed, não é? Seu nome é Edward, não é?

E Ed acenou com a cabeça, pegando um papel sobre a mesa que Sebastian teve certeza de que ela seu currículo.

– Como veio até aqui sem ser anunciado, achei que minha apresentação fosse irrelevante. Anthony Edward Stark. E se você for Sebastian Wilbur Mulroney, realmente temos uma reunião, para a qual você está adiantado quinze minutos.

– Sr. Stark eu...

– Pepper, você por acaso sabe onde estão os relatórios do senhor Mulroney?

E Ginny, não, Pepper, suspirou, virou os olhos e se debruçou sobre Ed, sobre Tony Stark, para pegar mais alguns papeis que estavam na gaveta dele, obviamente mais próximos dele do que dela.

– Mais alguma coisa, sr. Stark?

E aquilo fez Tony Stark sorrir. O Tony Stark. O Homem de Ferro.

– Não srta. Potts. Deseja acompanhar a reunião?

– O que o senhor prefere, sr. Stark?

– Sempre sua companhia, srta. Potts. Geralmente com menos roupas e mais contato mas...

– TONY! - Ela esbravejou, dando um belo de um tapa no ombro dele. Ginny, batendo em Tony Stark, no Homem de Ferro.

E Tony Stark... Riu. Riu, fez um "ops" que não retratava nenhum tipo de lamento pela ação e murmurou:

– Sério Pepper. Você quer participar da reunião?

E ela fez um pequeno não com a cabeça. Pequeno, contido. Um não que fez o estômago de Sebastian revirar.

– Então vá arrumar suas coisas. É o meu último compromisso do dia e eu realmente gostaria de voltar para casa.

A ruiva acenou com a cabeça. Ao passar por Sebastian, dirigiu-lhe um olhar de profundo pesar e saiu da sala, fechando a porta atrás de si.

– Sr. Stark... Tony, eu sei que começamos com o pé esquerdo mas, certamente tendo em vista as minhas qualidades profissionais... - Sebastian começou, mas foi interrompido.

– Sebastian, eu vou por um momento, esquecer que eu conheço você e o que você fez com a Pepper. Vou fingir que você não é um canalha e não estou nem ai para como você me tratou. Eu estou com o seu currículo em mãos e os relatórios feitos nas indústrias Hammer, e vou avaliá-los como CEO das Industrias Stark agora, se me permite.

Sebastian engoliu em seco e acenou com a cabeça. Ele não estava gostando nada daquilo. E sério, considerando que a CEO das indústrias Stark era a Ginny, melhor deixar esse cargo temporariamente nas mãos de, arg, Ed.

– Você ficou mais de dez anos nas Industrias Hammer e apesar de ser muito bem recomendado por seus superiores, tudo o que vejo vindo de você são ideias de como modificar produtos produzidos por outras empresas e como vendê-los, para que pareçam melhores do que os originais. Vejo também uma longa lista de negociações bem feitas com o exército e governo, sendo que me parece que sua principal função nas Industrias Hammer era fazer as propostas iniciais da venda de novas armas para que seus superiores fechassem o negócio em seguida. Acontece, Sebastian, que as Industrias Stark não produzem mais armas e definitivamente não precisamos de profissionais para a área de negociação, administração ou de marketing. Tendo em vista a sua formação, caso deseje concorrer a uma vaga de auxiliar para alguma das equipes de produção, estamos com vagas abertas. Mas devemos salientar que damos preferência para prodígios universitários, estagiando ou recém formados, então acho que suas chances são mínimas. Também temos vagas para trabalhar na equipe de limpeza, mas nesse caso, seu diploma não fará diferença alguma.

– Então, estou sendo demitido?

– De forma alguma Sebastian. Não foi sequer contratado, como pode ser demitido?

E com essas palavras, Tony Stark sorriu. Tony Stark, Ed que trabalhava com computadores na Califórnia. E Sebastian, impotente, disse a única coisa que conseguiu:

– Pra você ganhar ou perder aquela aposta nem fazia diferença... Você nos deixou pensar que era um ninguém, se apresentou como um qualquer... Achou que era piada? Aquele carro, aquela vida... Era tudo o que eu tinha e...

– Eu sempre me apresentei exatamente por quem eu sou. Vocês que foram pretensiosos e burros o bastante para, ao me verem ao lado de uma das mulheres mais fabulosas do mundo, achar que eu era outra pessoa. Aliás, Sebastian, como super-herói, acho que é meu dever lhe dizer uma coisa: você não é melhor que aqueles que estão a sua volta. Pode ser mais inteligente, mais rico, mais esperto, mais qualquer adjetivo que você acredite. Mas nada disso te faz ser melhor que alguém, porque o valor de uma vida não se mede pelo diploma ou pelo dinheiro. Eu sou um dos caras mais inteligentes e ricos do mundo, mas só me senti uma pessoa de valor quando conquistei a admiração da Pepper. E isso não se compra com festas, favores ou influência, se é que essa informação entra na sua cabeça. Eu acho, sinceramente, que você deve uma série de desculpas para Pepper, Amanda, Adrian e Lisa. Não será o suficiente, mas pode ser um bom começo.

– Sr. Stark, eu...

– Você está de saída, espero. Afinal, eu estou.

E com essas palavras, o Homem de Ferro, Tony Stark, pegou seu celular e carteira de cima da mesa e saiu de seu escritório. Sebastian viu, pela porta, um dos homens mais poderosos do mundo, vestindo jeans e camiseta, se debruçar sobre a mesa de uma das secretarias e perguntar "E ae Susie, você sabe por onde anda a minha exuberante namorada?", mas não ouviu a resposta dela. Apenas que ele sorriu, pegou um pirulito de um pote de doces que parecia o de uma recepção, e saiu pelo elevador, provavelmente indo encontrar Pepper. Pepper, Ginny, que se tornou também uma das mulheres mais poderosas do mundo, mesmo não sendo a mais bonita, a mais atraente ou a mais divertida.

Sebastian ficou alguns minutos parado na sala de Tony Stark, até que uma das secretárias, não a Susie, veio lhe trazer alguns documentos, justificando a dispensa do cargo que ocupava nas Industrias Hammer. Entre eles, não havia carta de recomendação. Havia, no entanto, um convite para um evento de gala em gratidão ao trabalhos do bombeiros de Malibu, promovido por Anthony Edward Stark e Virgínia Potts. Um evento para o qual Sebastian não tinha roupas adequadas e nem dinheiro para comprar. Um evento que ele sonhou a vida toda participar, mas que agora não haveria como. Sebastian saiu do prédio, foi para seu apartamento, comeu as sobras do almoço e colocou o convite para vender no ebay. No dia seguinte, começou a reescrever seu currículo. Quatro meses depois, quando o dinheiro do convite acabou, aceitou um emprego como técnico de máquinas de produção em uma empresa que fabricava pasta de dente. Um ano depois, reencontrou Amanda na rua e lhe pediu desculpas. Por ela ficou sabendo do casamento de Tony e Pepper, na cidade da casa de barcos. Voltou para seu apartamento decadente, comer as sobras da pizza que pediu no dia anterior, sozinho.