All Alone With You escrita por aoibara


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Esta é uma songfic. A música que usei é All Alone With You, de EGOIST, um dos endings do anime.

Espero que gostem, boa leitura!



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Aquela seria a nossa vitória, apesar de tudo. Makishima Shogo seria a nossa vingança por aqueles que nos foram tirados, que nem mesmo Sibyl pode trazer de volta. Pelo contrário, Sibyl foi feita para tirar, apagar, silenciar, separar... Ainda assim, não posso negar a importância que Sibyl tem sobre a sociedade atual. Desta forma, não me resta outra opção a não ser continuar a ser a inspetora que admiras.

Com todas as mudanças que sofri depois da tua partida, ainda sou uma inspetora digna da tua admiração…

…Kogami-san?

- Tsunemori, estás bem?

- Hai, Ginoza-san! Desculpe, mas estava a dizer exatamente o quê sobre o novo assassinato?

Ginoza Nobuchika manteve o olhar sério sobre Akane enquanto pousava os papéis sobre a mesa de vidro que os separava. Apenas um cinzeiro e um cigarro aceso, localizados perto da inspetora, jaziam sobre a mesma.

- Não é comum perderes-te sabe-se lá em quê durante a análise de um caso.

Silenciou-se por breves momentos, levando a sua mão até ao cigarro e pressionou-o contra o fundo do cinzeiro, apagando-o. Por fim largou-o entre as imensas cinzas, denunciando o quanto Akane recorria a eles nas últimas semanas. O fumo do cigarro dissipou-se no ar, tal como o leve aroma que o acompanhava.

- Além disso – retomou Nobuchika num tom mais brando, carregando uma leve preocupação no olhar que novamente lançava para a jovem de cabelos curtos e acastanhados na sua frente – não estarás a abusar dos cigarros? Nem no caso do Makishima Shogo recorreste a eles…

Akane baixou o olhar em direção ao cinzeiro, deixando-se perder por instantes nos restos de cigarro cinzentos e vazios. Deslizou os olhos castanhos, de seguida, ligeiramente para a direita, encarando o reflexo do seu rosto pálido no vidro da mesa. Não se questionou sobre aquilo pois já sabia bem o porquê de, ainda que não fumasse, acender aqueles cigarros.

Nobuchika imediatamente percebeu a origem de tudo, assim como o seu erro. E a sua confirmação veio quando viu nos olhos de Akane um misto de tristeza e raiva.

- Desculpa, toquei em assuntos que não são agradáveis, não é?

A inspetora passou a mão esquerda pelos seus cabelos enquanto se recostava pesadamente no encosto do sofá enegrecido, deixando um suspiro quase imperceptível escapar pelos seus lábios.

- O que devo fazer, Ginoza-san?

O silêncio ficou; Nobuchika não se pronunciou. Na verdade, não sabia o que lhe dizer.

Por fim, Akane abandonou o sofá daquele que um dia foi o quarto de Kogami Shinya, o justiceiro desaparecido após o caso Makishima Shogo ter sido encerrado. Kogami Shinya em tempos foi um inspetor tal como Akane e Nobuchika, porém teve o seu Psycho-Pass manchado e isso o rebaixou para justiceiro – também esse foi o destino de Nobuchika, igualmente rebaixado a justiceiro após a morte do seu pai. Porém, isso não incapacitou Kogami Shinya de ajudar Akane quando ela se juntou à equipa. Ele, que fora o pilar e companheiro de Akane, deixou-a sem quaisquer notícias até àquele dia.

Após desabafar parte do que a incomodava, Akane continuou:

- Tanto nós como a Divisão 2 já tiveram em mãos a missão de procurar o Kogami-san e ambos falhamos. Makishima Shogo também desapareceu. – Akane voltou-se para Nobuchika novamente, após caminhar calmamente em volta dos sofás – Kogami-san não morreria até caçar o Makishima-san.

- Depois de quatro anos sem qualquer caso com ligação a Makishima Shogo, é certo que ele esteja morto – concluiu Nobuchika.

Akane limitou-se a balançar a cabeça afirmativamente. A inspetora, com todas as suas forças, queria acreditar naquela afirmação de Nobuchika pois dela vinha a esperança de que Kogami Shinya estava ainda vivo, respirando o mesmo ar que Akane, olhando o mesmo céu que Akane.

- O que te preocupa realmente, Tsunemori? É a falta de notícias por parte do Kogami?

A jovem encheu os pulmões de ar, ponderando se havia ou não de vocalizar a resposta para aquela pergunta. Para Akane, era muito mais do que a falta de notícias.

Para a sua salvação, Karanomori Shion interrompeu aquele assunto, solicitando a presença de ambos para os atualizar sobre o caso que tinham em mãos. Entrando novamente na pele de inspetores, recolheram os seus pertences e as informações sobre o caso impressas nos papéis sobre a mesa de vidro e abandonaram o quarto. Uma vez mais o quarto com cheiro de cigarro foi inundado pela escuridão, pelo negro que tudo esconde.

~✡~

Chegando à sala onde se encontrava Shion, depararam-se com as várias informações sobre o caso espalhadas pelos vários monitores que ocupavam toda a parede paralela à porta. Comodamente sentada na cadeira negra estava Shion na sua habitual bata branca; entre os lábios carregados de batom vermelho estava o habitual cigarro aceso. O olhar castanho e sedutor bailava entre os justiceiros Kunizuka Yayoi e Hinakawa Shou e a inspetora Shimotsuki Mika.

- Oh, chegaram! – Exclamou Shion logo que Nobuchika e Akane entraram no seu campo de visão.

Ambos juntaram-se à restante Divisão 1 sem qualquer comentário ou questão que não fosse relacionada com aquele caso e o novo suspeito do assassinato de duas mulheres.

O suspeito era um justiceiro que tinha encontrado a sua oportunidade para fugir dos inspetores. Contudo, dentro do Japão governado por Sibyl ou se é especial ou não há forma de escapar, principalmente cometendo crimes.

- Sendo ele o verdadeiro culpado, precisamos encontra-lo e julga-lo – sentenciou Mika após Shion terminar de expor os resultados das suas pesquisas e das conclusões a que havia chegado.

- Então não temos tempo a perder. Onde ele está, Karanomori-san? – Questionou Akane.

Recebidas as indicações, a Divisão 1 saiu ao encontro do criminoso para aplicar a justiça ditada por Sibyl. Por Sibyl, apenas; não a verdadeira justiça. Uma vez mais Akane sentia nos seus ombros a responsabilidade de liderar mais um caso sobre um justiceiro que fugia dos olhos de Sibyl.

- Um dia chegará a vez do Kogami-san…? – Sussurrou Akane para si própria enquanto revia na sua mente toda a informação sobre o caso.

- Kogami tem noção da situação onde se encontra. Se ele for inteligente não volta – e baixando o tom, Nobuchika continuou – a não ser que tenha um bom motivo para tal.

Desde o desaparecimento de Kogami Shinya que outros justiceiros sentiram-se encorajados a fugir dos olhos de Sibyl com esperanças de serem bem-sucedidos tal como ele foi. Porém, até àquele momento, nenhum conseguiu manter o anonimato. Assim, todos aqueles que foram encontrados foram eliminados. Aquele também era o destino que Sibyl reservava para Kogami Shinya.

~✡~

Logo que chegaram ao prédio onde foi localizado o justiceiro, as inspetoras e os seus subordinados dirigiram-se para o interior do edifício, fazendo-se acompanharem das suas respetivas Dominators. Segundo as informações da assistente Shion, naquele prédio, construído numa área mais isolada, estava a nova residência do fugitivo, assim como das suas duas vítimas. Naquele momento, a Divisão 1 esperava poder travar a terceira morte.

Subiram até ao décimo terceiro andar pelo elevador e deslocaram-se para o terceiro apartamento. Sem demoras, arrombaram a porta e entraram no apartamento. As duas inspetoras e dois justiceiros dividiram-se pelo apartamento para encontrarem o seu alvo, enquanto Hinakawa Shou ficava a guardar a saída para evitar a fuga do criminoso.

Por não ser um apartamento muito grande, o fugitivo foi facilmente localizado pela equipa, mais precisamente por Mika e Yayoi. Porém, a Divisão 1 chegou tarde de mais para salvar a vítima. A mulher já se encontrava morta sobre a cama, com o ventre rasgado, os pulsos e tornozelos amarrados e várias facas cravadas na barriga. Era a terceira vez que viam uma mulher tratada daquela forma. O seu rosto pálido ainda estava húmido pelas lágrimas, intensificando a revolta de Mika, Yayoi e os restantes três que já estavam naquele quarto.

- Kunizuka-san, dispare! – Ordenou Mika.

Imediatamente Yayoi levantou a Dominator e apontou para o homem sentado no chão, do lado da cama. A voz de Sibyl imediatamente ecoou na mente de Yayoi:

- Coeficiente criminal acima de 300. O alvo deve ser eliminado. O gatilho será destravado. – A Dominator que se assemelhava a uma pistola normal, mas com um cano mais comprido, modificou o seu cano para um tipo mais largo –Modo de eliminador letal. Mire o alvo com cuidado e aperte o gatilho.

Akane permaneceu inexpressiva perante o que via. Assim, viu mais um justiceiro ser desfeito diante dos seus olhos, restando apenas o seu sangue espalhado pelo chão e salpicos na secretária do lado da cama.

- O resto é com os drones – disse Akane depois de voltar as costas para a sua equipa e, por fim, saiu do quarto.

- O que se passa com ela? Primeiro rejeitou a entrada de mais um justiceiro para a nossa divisão e agora vira as costas para o trabalho? – Protestou Mika enquanto abandonava o apartamento com os companheiros. De seguida, enquanto entrava no elevador, reportou a situação para Shion.

- A inspetora Tsunemori não está a ter problemas com o Psycho-Pass dela, pois não? – Questionou Hinakawa Shou quando apercebeu-se de que o silêncio no interior do elevador iria permanecer.

- Quanto a isso, é a última preocupação que alguém pode ter sobre a Tsunemori-san – respondeu-lhe Yayoi.

Sobre aquele assunto, Nobuchika nada disse, pois não tinha mais quaisquer dúvidas acerca das razões por detrás das ações de Akane. Contudo, não revelaria nada sem a permissão da inspetora.

- Como já está tudo desvendado, o melhor seria ires para casa descansar – sugeriu Nobuchika quando se reuniram a Akane no exterior do prédio.

- Parece que… – Akane suspirou – desta vez terei que aceitar. Não tenho sido uma boa ajuda, pois não, Ginoza-san? – Por fim, um sorriso rápido e pequeno surgiu nos lábios da inspetora.

- Acredito que apenas precises de umas horas extras de descanso para colocares a ideias em ordem, Tsunemori.

- Sendo assim, estou de saída. Obrigada, Ginoza-san!

Antes de se afastar e se dirigir ao seu automóvel, Akane desculpou-se com a sua equipa e reverenciou-se diversas vezes. Mesmo sabendo que nenhum daqueles gestos a fizesse mais digna de ser desculpada, a sua boa educação a fazia ser assim.

Logo que recostou-se no banco do lado do condutor do carro, sentiu os músculos relaxarem. Fechou os olhos e permitiu-se ser embalada naquele momento breve de paz e silêncio.

- O melhor é ir para casa… – comentou consigo mesma quando viu que poderia adormecer ali mesmo. Naquele momento sentiu o quanto se privou do descanso nas últimas semanas, desde que o caso sobre os justiceiros começou.

Decidido o destino daquela viagem, colocou o cinto de segurança e deixou que o carro a levasse até casa enquanto apreciava a movimentação da cidade dos domínios Sibyl.

Estou novamente a perder o foco daquilo que é importante… Contudo, depois de todos estes casos sobre justiceiros que desobedeceram aos seus inspetores, é inevitável pensar sobre a tarefa que tenho a executar quando estivermos frente-a-frente. Eu não acredito que tenhas seguido o mesmo destino que o Makishima Shogo. E se fosse o caso de não ter sido ele a morrer, mas teres sido tu… Acredito que voltarias dos mortos para o levares contigo. Porém, essa possibilidade não existe para mim porque eu não acredito que tenhas morrido.

Então… Por onde andas, Kogami-san? Se tivesses voltado com o Makishima Shogo em tua posse, tudo voltaria ao normal. E mesmo que não voltasse, eu teria garantido a tua segurança.

Então… Por que foste embora, Kogami-san? Mesmo sendo um justiceiro aos olhos de Sibyl, na verdade eras um inspetor tal como eu; tal como Ginoza-san…

Então… Por que deixaste tudo para trás?

Sem saber exatamente quando o automóvel estacionou em frente ao prédio em que vivia, Akane permaneceu sentada exatamente onde estava abraçando as pernas encolhidas contra o seu peito.

«Aishite hoshii, watashi no koto»

Somente despertou dos seus pensamentos, repletos de perguntas sem respostas, quando ouviu a porta do lado oposto da sua abrir-se. Alarmada, imediatamente lançou o olhar para o invasor, um homem de capacete. Contudo, não era um capacete qualquer. Já fazia algum tempo que não via aquele capacete capaz de mascarar o Psycho-Pass do usuário; e só uma pessoa o poderia estar a usar.

- Kogami-san? – Chamou num sussurro.

- Tsunemori – respondeu-lhe a voz masculina depois de afastar o capacete da cabeça e revelar o rosto de pele branca e traços masculinos e os seus inconfundíveis olhos azuis.

Shinya deixou o capacete descansar sobre as suas pernas enquanto dedicava-se a observar e a reavaliar a mulher à sua frente que praticamente não mudara. Sentia-se de volta a casa ao olhar para Akane e ver que, mesmo depois de tantos anos, os seus cabelos se mantinham pequenos tal como o seu rosto redondo e de bochechas gorduchas.

Dentro de Shinya havia um misto de alívio por vê-la e uma revolta e medo dentro de si. Estava novamente frente-a-frente à mulher que precisou deixar para trás, aquela que conheceu o melhor e o pior de si e por quem arriscava no momento a sua liberdade; e o risco era realmente elevado. Sabia que assim que fosse encontrado, que a morte o esperava. Mas Akane valia tudo aquilo e talvez muito mais para Shinya.

Porém, enquanto se ocupava com aquela batalha interior de sentimentos, não esperava acordar com o estalo provocado pela mão de Akane contra a sua bochecha, deixando-a rapidamente avermelhada. Na verdade, não era uma situação para se admirar. Akane fê-lo como punição por todos aqueles anos sem dar-lhe um único sinal de vida.

Voltando novamente o olhar azul para os olhos castanhos da inspetora, Shinya viu-as afundarem-se em lágrimas que em poucos segundos já deslizavam pelo seu rosto.

Só agora eu pude perceber o quanto da minha dor se transformou em ódio; e quanto do meu ódio se transformou em amor. Foi preciso estarmos frente-a-frente novamente para tudo começar a fazer sentido.

- Tsunemori – chamou-a novamente mas mais uma vez foi interrompido.

- Sai do carro, Kogami Shinya! – Ordenou Akane num tom frio e ríspido, sem qualquer margem para hesitações. Shinya não obedeceu e levou a mão direita em direção à inspetora, rodeando o pulso dela com cuidado. – É uma ordem, Kogami-san!

- Eu não sou mais um justiceiro, por isso não tenho ordens a seguir, nem mesmo as tuas, Tsunemori – disse-lhe calmamente, aproveitando a distração dela para lhe dedicar um leve carinho sobre o pulso fino ainda entre os seus longos dedos.

- Sai imediatamente. Eu não quero usar a Dominator contra ti.

- Não seria nada que já não tenhas feito antes. Lembras-te? – Largou o pulso de Akane e subiu para a cintura fina dela, deslizando de seguida a mão pelas costas, obrigando-a desta forma a aproximar-se de si. De imediato, ambas as mãos da inspetora voaram para o peito de Shinya, coberto por um colete negro e uma t-shirt branca, tentando inutilmente mantê-lo afastado de si.

- Se usar agora sabes que será para te matar… – Murmurou quando finalmente cedeu ao abraço imposto por Shinya. – É esta a ordem que nos foi dada.

E o silêncio instalou-se, sendo apenas quebrado pelas respirações compassadas e baixas de ambos.

Procurando na sua mente a pergunta mais adequada para lhe fazer, Akane mexeu-se nervosamente sobre o seu assento. Furou as mãos por baixo dos braços de Shinya e rumou para as costas dele, voltando a subir para os ombros dele onde estacionou as suas mãos, espalmadas e trémulas.

- Porque voltaste? – Por fim, Akane perguntou-lhe.

- Há algo que eu preciso fazer.

- Então vai! Não me voltes a procurar, Kogami-san.

Aproveitando a ocasião, Akane desfez o abraço e retornou ao seu banco, ficando devidamente sentada novamente. Virou o rosto para a janela da sua porta e não se voltou mais para Shinya; nem sequer o olhou – pelo menos não diretamente, pois ainda era capaz de vê-lo no reflexo sobre o vidro.

Entendendo o recado, o justiceiro deixou um sorriso discreto apoderar-se dos seus lábios junto com um suspiro. Akane não ia voltar atrás e Shinya sabia disso. Apesar das palavras afiadas da inspetora, ele estava descansado. Entendia as suas razões e era isso que procurava naquele encontro com ela.

Assim, antes de sair do automóvel de capacete a cobrir-lhe a cabeça, pousou a mão sobre os cabelos lisos de Akane e permitiu-se afagá-los.

- Vemo-nos em breve, Akane.

Deixando a promessa nas mãos da inspetora, Shinya seguiu o seu caminho.

A mulher de cabelos curtos respirou fundo, a fim de tentar produzir algum som para terminar, mesmo que por momentos, com o silêncio assombroso que se instalou no carro depois que Shinya bateu a porta.

Deixou a cabeça tombar para a frente, batendo com a testa no volante onde pousou pesadamente os seus braços, primeiro o direito e depois o esquerdo.

- Não devias ter vindo… – balbuciou, repetindo a frase mais algumas vezes.

Até ser interrompida.

- Akane-chan? – Chamou Shion após ter a sua chamada aceite mas sem qualquer resposta.

- Hai! Tsunemori desu – respondeu enquanto se endireitava novamente no banco.

- É possível vires até à minha sala? Gino-san disse que foste mais cedo para casa mas é importante que voltes.

- Não tem problema, Karanomori-san. Estou a caminho.

Terminou a chamada sem esperar qualquer confirmação por parte de Shion. Secou as restantes lágrimas e fez-se uma vez mais à estrada.

Kogami-san, porquê? Realmente queres que use novamente a Dominator contra ti?Espero que tenhas ideia que desta vez será diferente; desta vez será a última. Então, não sejas idiota. Não voltes, mesmo que isso signifique quebrares a tua promessa.

~✡~

- Akane-chan, aquele justiceiro não era o verdadeiro autor dos crimes – informou Shion, mostrando o estado de mais uma vítima que estava no apartamento através de uma fotografia.

- Isso significa que ele foi uma distração. – Akane levou o olhar para o monitor que mostrava as fotografias das quatro vítimas encontradas até àquele momento.

- Todos os justiceiros até agora encontrados estão de alguma forma relacionados com estes casos. – Continuou Shion.

- Devem estar a tentar enfraquecer-nos ao afastarem os justiceiros de nós. O alvo é Sibyl.

- E porquê apenas mulheres? – Questionou Nobuchika que entrava naquele momento na sala com os restantes colegas de trabalho.

- As mulheres é que trazem a vida. Se não existirem vidas, não há sociedade. Sibyl não pode existir sem uma sociedade que a sustente. – Fez uma breve pausa para olhar o grupo. – O alvo destes assassinos é Sibyl, tenho a certeza.

- Não estará a exagerar, inspetora Tsunemori?! – Questionou Mika, parecendo chocada com as afirmações de Akane que se mantinha séria e mais sombria que o habitual. – O autor dos crimes apenas tem atingido as mulheres daquele prédio. Talvez haja uma outra relação que faça mais sentido.

- Mas faz sentido o raciocínio da inspetora Tsunemori – defendeu Yayoi, surpreendendo também Mika que endureceu a postura – Estariam as vítimas grávidas?

- É um bom começo. Podemos pesquisar por aí – Shion deslizou a cadeira pelo chão em direção à secretária do seu lado. Imediatamente pousou as mãos sobre o teclado e digitou as palavras-chave em busca de algum registo que comprovasse que as vítimas estavam grávidas. – Não há nada. Mas há uma mulher ainda viva e essa, sim, está grávida. Seria melhor mantê-la debaixo de olho.

- Tanto faz – Mika deu de ombros – Podemos dividir-nos e mantê-la segura, embora eu não esteja confiante de que seja essa a razão.

Antes de saírem da sala e colocarem mãos à obra, recolheram os dados sobre a mulher e decidiram quem deveria fazer a guarda da mesma. Mika e Shou foram os escolhidos após uma breve troca de palavras sem qualquer alarido. Assim, encaminharam-se para a sala pertencente à Divisão 1.

- Hinakawa-san, vamos ao trabalho! – Sentenciou Mika, adiantando-se para a saída, porém foi interrompida por um homem parado junto ao arco da porta. – E quem é o senhor?

- Kogami! O que raio fazes aqui? – Perguntou Nobuchika alarmado.

Shinya aproximou-se, dizendo:

- Aquele que vocês estão à procura já está a caminho do seu objetivo. Tal como Makishima Shogo, ele conhece a verdadeira Sibyl. Não deve demorar até que o encontrem. O melhor é fazerem o mesmo, se acharem que é o melhor.

- Não me digas que tu…!

- Gino-san, eu apenas vim fazer o que está correto. Se um justiceiro desobedecer a um inspetor deve ser punido, não é verdade? – Shinya imediatamente deitou o olhar sobre Akane que não esboçou qualquer reação perante a presença e as palavras do justiceiro, até vê-lo sair por onde entrou.

- Kogami-san! – Akane seguiu-o, começando a correr pelos corredores quando Shinya fez o mesmo.

Atrás deles vinham os drones com o objetivo de caçar o justiceiro fugitivo e mais afastados vinham os inspetores e justiceiros para auxiliarem na aplicação da justiça segundo Sibyl.

Em poucos segundos, os corredores foram preenchidos pelos sons das passadas e vozes de um lado e de outro, passando a mensagem de que Kogami Shinya estava no prédio, desvalorizando as palavras dele sobre o verdadeiro autor dos crimes estar no prédio.

Era visível o quão bem treinado estava Shinya em comparação com Akane. Enquanto ele ainda tinha forças para correr quantos corredores fossem necessários, Akane já estava a sentir-se no limite depois de tantas curvas dobrar e tantas escadas subir e descer.

A verdade é que Shinya queria ganhar tempo antes do espetáculo final.

Porém, para sua sorte – ou talvez não – o justiceiro foi cercado pelos drones, sendo desta forma obrigado a terminar a corrida. Contudo, os problemas não terminavam ali: quando o círculo formado pelos drones começou a fechar, Joshu Kasei surgiu atrás deles segurando uma Dominator apontada para Shinya, pronta para disparar assim que fosse dada a ordem.

- Kogami Shinya-kun, finalmente estás de volta. Espero que saibas o que Sibyl escolheu para ti – disse a chefe enquanto abria caminho entre os drones para se aproximar do homem que ainda tentava regularizar a sua respiração.

Shinya sorriu; um sorriso amargo da derrota. Mas se inevitavelmente a morte esperava-o, pretendia modificar algo naquela sociedade pois sabia que existia alguém que estava próximo de terminar o que Makishima Shogo tinha começado. A discórdia já estava lançada lá fora, apenas faltava trazê-la para dentro de Sibyl.

O dedo pálido de Kasei deslizou pelo gatilho até finalmente o puxar.

- Shinya! – Gritou Akane quando finalmente encontrou um espaço entre os drones que permitiu que invadisse o círculo que mantinha Shinya preso.

Sem sequer pensar sobre o que realmente estava a fazer e os riscos que corria, lançou-se sobre Shinya e deixou que a sorte ditasse o seu destino.

Aconteceu tudo muito rápido. Talvez rápido de mais para entendê-lo naquele momento. Tudo o que me dominava era aquela dor horrível, aquela dor de quando se perde alguém muito importante para nós.

Kogami-san sentiu isso quando viu Sasayama-san morto; eu senti isso quando vi a minha melhor amiga a ser morta diante dos meus olhos; Ginoza-san sentiu isso quando viu o seu pai, Masaoka-san, morrer para o proteger.

Eu não queria senti-la novamente e por isso tentei afastar Kogami-san da mira daquela Dominator. Seguido a esse tiro, ainda senti entre os meus braços o corpo dele inteiro e quente e isso deixou-me brevemente feliz. Até que outro tiro soou e ecoou pelo corredor e na minha cabeça; e não tinha sido uma Dominator. O corpo dele pressionou-se contra o meu e eu não sabia se seria por um tiro que recebeu ou por uma bala que lançou.

E por isso essa dor voltou e dominou-me de tal forma que não me deixou abrir os olhos e encarar a verdadeira realidade.

- Akane…

Ele chamou-me num tom baixinho e eu mergulhei o rosto nas costas dele, implorando mudamente para que ele ficasse ali comigo; que aquele não fosse o último sussurro de alguém pronto para dizer adeus. Eu não estava pronta e talvez nunca venha a estar.

Tudo o que veio de seguida é uma avalanche de memórias entrecortadas e confusas.

Mas de algo eu tenho a certeza… Quem me levou daquele caos não foi ninguém além de Kogami-san. As voltas que demos para o fazer… Eu não as sei dizer exatamente. Mas elas importam?


«​You'll never walk alone
Anata to yuku
Donna tsumi mo
Seotte ageru
Michinaki michi wo
Aruiteku no
Anata to»

O vento entrou suavemente pela tenda adentro, acarinhando o rosto sereno de Akane ainda de olhos fechados. Contudo, o que a despertou foi o suave beijo na sua bochecha esquerda, a única alcançável já que a outra estava afundada no travesseiro – que na verdade era um amontoado de roupas. Akane inspirou profundamente e abriu os olhos com calma para que se acostumassem com a luz sem se ferirem. À sua frente estava a alvorada amena e acolhedora, onde o sol subia vagarosamente entre a cadeia de montanhas. Atrás de si estava o seu novo mundo; o seu novo recomeço.

- Bom dia Akane – murmurou a voz masculina junto à sua orelha que recebeu uma mordida leve sem qualquer malícia.

- Bom dia, Shinya.

Akane espreguiçou-se de seguida e Shinya abandonou a cama improvisada dentro da tenda. Avançou por cima das pernas de Akane e parou frente à entrada da tenda, obrigando a sua sombra a deitar-se perpendicularmente sobre a mulher que agora o observava.

- Hoje também vai ser um longo dia. Espero que estejas preparada.

- Para mais um dia fora do mundo, eu estarei sempre preparada. – Akane deixou um risinho divertido escapar.

Shinya levantou a sobrancelha esquerda e rodou o trono até poder ter a pequena mulher dentro do seu campo de visão.

- Espero que esse bom humor dure até ao crepúsculo. Eu quero ver o amanhecer daquelas montanhas – apontou para as montanhas que cobriam três quartos do sol – ainda esta semana.

- Shinya, temos todo o tempo do mundo e ninguém para nos controlar. – Rapidamente levantou-se e saltitou em direção do homem que automaticamente enlaçou a cintura da mulher assim que ficou ao seu alcance.

Longe vai o tempo em que estavam sob os domínios de Sibyl. Bom, nem tão longe assim. Nem mesmo Sibyl estava extinta. Porém, Kogami Shinya tinha feito a sua parte. E Akane… Concluiu que viver para a sociedade talvez não seja o que mais combina com ela.


«I will stay with you
Anata no te de
Dakishimete yo
Omoikkiri
Nozomenai mono wa
Nani mo nai kara
Anata to futari de»


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