"Por que você se esforça esses dias?

Por que você está tentando ganhar graça?

Por que você está chorando?

Deixe-me levantar o seu rosto,

Só não vire as costas."

•♦•♦•♦•

Wanda não conseguia parar de balançar as pernas, suas unhas indo e vindo de encontro com o dente a cada tic-tac do relógio. Há quanto tempo ele estava ali? Um dia? Dois? Parecia uma eternidade.

O fator de cura de Pietro era tão rápido. Por que ele não acordava logo? Será que ele havia desistido? Não. Ele não podia desistir de viver. Não podia desistir dela, podia?

Wanda tentava inutilmente conter as lágrimas, no entanto, sempre que olhava para o irmão deitado a sua frente, sentia seus olhos transbordarem em tanta água.

Acabou se virando de costas. Não podia ficar olhando-o ali. Tentou prestar atenção nos detalhes da porta a sua frente, mas não conseguia. Seja forte, pediu a si mesma.

Após chegarem à sede da SHIELD, eles puseram Pietro no berço regenerador da Dra. Cho e esperaram. Apesar dos danos feitos por Thor, Stark junto de outros cientistas conseguiram arrumar o berço á tempo para Pietro e estavam confiantes.

Ela ainda odiava Tony Stark, mas se Pietro vivesse, com certeza ela o abraçaria por isso.

— Por favor... acorde. – Pediu quase como uma oração silenciosa. – Eu só tenho você...

Pietro.

Vê-lo dentro da capsula... Sua pele continuava pálida, e ela podia ver a marca do sangue -já seco- em sua camisa. Sentiu falta do sorriso debochado que ele mandava para as pessoas, sim, aquele que a irritava tanto quanto amava. Ela daria tudo para ver aquilo de novo.

E pensar que quando pequenos, viviam brigando. Que ele não largava de seu pé, arranjando encrencas, cortando o cabelo de sua boneca, e tantos outros motivos fúteis que estouravam em brigas.

Achava que brigariam para sempre...

E então o míssil atingiu a casa em que moravam.

Ainda podia ouvir claramente seus pais gritando enquanto caiam pelo buraco formado no meio da sala. Se lembrava bem dela escorregando com eles, e também de sentir seu braço formigar pelo modo que Pietro a puxou antes que fosse levada para baixo. Do modo que a abraçou, ficando ao seu lado e dizendo palavras confortantes. 

Sozinhos no mundo.

Só com um ao outro, mais ninguém.

E Pietro jurou protege-la de tudo.

"– Eu não vou deixar você.

— Eu posso cuidar disso."

Sentiu seu corpo tremendo, e cobriu a cabeça com as mãos.

Estava doendo.

E se ele morresse? O que seria dela? Wanda não teria ninguém.

Sem seu gêmeo. Sem uma parte sua.

Incompleta.

— Wanda. – Uma voz soou a despertando de sua bolha de tristeza.

— Visão? – Sua voz saíra fraca, e só assim para notar o quanto sua garganta estava seca.

— Como ele está?

— Apresentou algumas melhoras, mas... ainda não acordou, eu não- Eu não sei o que está acontecendo.

— Por que não tenta entrar na mente dele? Pode descobrir algo.

— Não consigo fazer isso. – Sua voz carregada de sotaque soou falha. – Eu... E-eu tenho medo de entrar na mente dele... E-eu não...

— Medo? – O androide questionou.

— E se eu não encontrar nada? Is-Isso significaria... – Wanda tentava controlar as lágrimas. – É irônico não é? – Ela riu amargamente, ressentida consigo mesma. – Eu fiz os Vingadores verem seus medos, mas foi o meu... F-f-foi o meu... O meu que se...

E ela não conseguiu terminar a frase. Enterrou o rosto nas mãos, chorando novamente. Não queria ser fraca, mas não conseguia ser forte.

Não como Pietro.

Ele sim era forte, sempre preparado para tudo, enquanto ela se mantinha afastada da confusão como uma menina medrosa.

— Não pense no que pode acontecer, Wanda. Pense no que já aconteceu. - Visão dizia, mas de alguma maneira, suas palavras não faziam sentido pra ela. – Ele os salvou. Seu irmão salvou a vida de muitas pessoas. Ele foi um herói, Wanda. Um Vingador.

A mulher balançou a cabeça, suspirando.

Visão continuou, o tom se sua voz cauteloso:

— E você é tão forte. Precisa começar a ter em mente que ele pode... não acordar.

"– Wanda... Vai acabar morta. Se ficar.

— Eu já estou."

Pietro, a sua âncora. Sem ele, ela enlouqueceria enquanto tentava entender os próprios poderes. Strucker e Dr. List os mantiveram separados por tanto tempo, em receio de perdê-los para um descontrole, mas Pietro continuava com ela. Em sua mente, conectados. A acalmando e ajudando com sua telepatia mesmo trancado na cela ao lado.

Pietro, a sua gravidade. Todos seus pensamentos eram voltados para ele e sua segurança e família.

Sozinhos no mundo. Sozinhos nos experimentos. Porém juntos.

Pietro, o seu ar.

E sem ele, ela sentia como se não fosse mais conseguir respirar.

— Não posso ter isso em mente.

— Wanda...

— Não tente me preparar para algo que não vai acontecer, Visão! Eu conheço meu irmão e ele é um lutador! Vai voltar pra mim... Tem que... Ele precisa... Nós dois sempre... Nós...

Estava difícil respirar. Por que era difícil? Faltava-lhe ar.

Faltava-lhe Pietro.

Visão estendeu o braço, e um tanto desajeitado, a abraçou de lado puxando-a para si. Wanda chorou e de um modo estranho, o gesto dele era... bom. Mesmo que fosse o primeiro abraço que androide dava em alguém, era... bom.

(Só não era primeira vez que ele tinha alguém nos braços, não. Wanda ainda se lembrava de como ele a salvou em Sokovia.)

— Eu não entendia o porquê de Ultron tê-los recrutado. A agente Romanoff disse que, era porque ele queria ser ouvido. No entanto, eu sabia que havia mais que isso. – Ele murmurava contra seus cabelos. – Ele queria lealdade. E ele sabia que no momento que ganhasse a lealdade de um de vocês, os teria pelo tempo que quisesse. Pois um não sairia de perto do outro nunca. A conexão de vocês dois é forte demais.

— Gêmeos. – Ela concluiu.

Sozinhos.

Mas tendo um ao outro.

— Ahm, com licença. – Outra voz soou dentro do quarto, fazendo Wanda se sobressaltar. – Desculpe, mas Visão, estão te chamando na Sala de Reunião.

Gavião Arqueiro.

Wanda franziu o cenho, incomodada. Como lidar com o homem que havia lhe tirado seu irmão? Ela sabia que ele não era culpado, mas não conseguia não se incomodar. E pelo jeito que ele a fitava, ele também não sabia como lhe dirigir a palavra.

Devia ter se perdido em pensamentos, pois quando ergueu os olhos, nem Visão, ou Clint estavam ali.

Wanda se sentia caindo.

E dessa vez, Pietro não estava mais ali para segura-la.

Suspirou em frustração quando um som a chamou atenção, parecia um grunhido. E ela se virou no mesmo instante.

Dentro do Berço, Pietro acordava.

Um arrepio correu por todo o seu corpo, sua telepatia encontrando a ponte que ligava suas mentes. Conexão, ela lembrou, sentindo as pernas bambas, um tontura leve com o conhecimento. Ele estava mesmo vivo! Ele estava ali pra ela ainda!

Vivo.

São e salvo.

— Pietro! – Wanda exclamou num feliz desespero. Sentiu quando o coração passou acelerar tão rapidamente que pensou que ele fosse saltar pra fora do peito. – Pietro?!

Abriu o mecanismo rapidamente, vendo-o franzir o cenho enquanto batia as mãos vidro. A pele dele estava mais corada e ele piscava os olhos, fazendo uma careta de dor.

— Wan... Wanda... – Murmurou, tentando levantar-se com tudo, e caindo logo em seguida na superfície de metal. - Aarghh...

— Hey! Calma, vai devagar. – Ela sorriu entre lágrimas. A mão de Pietro varreu o ar, Wanda a segurou logo, ela sabia que ele estava tentando toca-la. – Você me deu um baita susto!

— O... que... O... O que... – Sussurrava, sua voz estava fraca. Ele se sentia esgotado. - ... aconteceu? O que acon-conteceu?

— Shiiii... Não se esforce, querido. – Wanda passou a mão pelo seu rosto. – Está tudo bem, foi só uma lembrança ruim.

Eu estou aqui, ela enviou para a mente dele. E aos poucos, Pietro se acalmou. Os olhos dele focaram nela, e ele pareceu aliviado, respirando fundo algumas vezes.

— Eu... E-eu ouvi você.... Eu ouvi você gritar. - Falou com a voz falhando.

Wanda o olhou assustada.

— O quê?

Não, era impossível.

— Eu senti... Senti a sua presença, você.... Estav-va chorando?

Ela passou a mão pelos olhos, rindo, enquanto tentava limpar os resíduos das lágrimas.

— Não, foi só um cisco que caiu no meu olho. – Mentiu descaradamente. Pietro apenas sorriu retribuindo, como se acreditasse.

Depois de alguns minutos parado, ele ergueu-se, primeiro se sentou com calma, e em seguida pondo os pés no chão. Mas ao tentar ficar de pé, uma tontura o atingiu. Sentia seu corpo inteiro dolorido.

Wanda o segurou pelos braços rapidamente, impedindo-o de cair.

— Não, eu... Consigo. Eu consigo. - Ele retrucava, tentando ficar de pé sozinho.

— Não lute. Minhas mãos estão te segurando, não te deixarei cair.

E com ajuda da irmã, Pietro conseguiu se sentar novamente.

Wanda mal ficou á sua frente e ele já á puxava para mais perto, seus olhos viajaram pelo corpo dela, procurando qualquer machucado que fosse. – Você está bem? Eu pensei... – Pietro respirou fundo. – Pensei que nunca mais a veria.

Ela sorriu por alguns instantes, colocando suas mãos por cima das dele.

— Você me assustou. – Sua voz estava frágil e seus olhos começavam a criar lágrimas novamente.

Pietro balançou a cabeça em forma negativa.

— Não, não chore. – Ele disse no momento que uma lágrima escapou dos olhos dela, e ele a limpou rapidamente. – Por que está chorando? Por favor, não chore, me desculpe. Perdão Wanda, mas eu... E-eu não podia deixa-los. O menino ia morrer...

— E eu?

Ela estava sendo tão egoísta. Mas quem disse que se importava?

Pois nos piores de seus surtos, era com Pietro que ela se acalmava.

— Não pense nisso. Eu estou aqui agora. – Ele disse e ela o abraçou.

— Eu te amo, seu idiota.

Pietro apenas enterrou o rosto em meio a seus cabelos longos, respirando fundo.

Ela tinha cheiro de morango.

O mesmo cheiro de sua mãe.

Wanda o lembrava casa, e de que ela era a sua casa. Como a deixaria?

Os dois. Sozinhos no mundo e contra o mundo. 

Juntos.

E isso que importava.

— Ei, você acordou. – Eles se separaram rapidamente, olhando em direção á porta.

Clint Barton estava ali novamente encostado na parede.

— É, eu não podia ficar atirado nessa cama para sempre.

Clint riu, balançando a cabeça.

E ali o sorriso debochado de seu irmão, o sorriso que Wanda pensou que nunca mais veria.

— Não sabia que estava ai, coroa.

— É, as pessoas não me veem chegar nos lugares. – E dessa vez Pietro estreitou os olhos, fazendo Barton rir novamente. Wanda ficou confusa, parecia uma piada interna entre eles. – Mas Wanda, o Capitão está te chamando também.

— É sobre o que? Tem que ser agora?

— É, eu também não sei muito bem, algo sobre Novos Vingadores, ou algo assim... Não fiquei pra ouvir.

— E não vai ficar?

O Arqueiro a olhou surpreso. Pietro estava vivo, afinal. Não havia por que desviar-se sempre que chegava perto dela.

— É, eu... Eu parto amanhã. Tenho que resolver uns assuntos... Familiares.

Ela se virou para o irmão, hesitante.

— Eu posso ficar com ele um pouco, não se preocupe. – Clint ofereceu e Wanda assentiu, ele parecia mesmo querer falar com seu irmão sobre o que aconteceu, ela podia sentir.

— Ei. – Seu irmão apertou sua mão. – Ainda estarei aqui quando voltar.

Arqueou as sobrancelhas.

— É bom mesmo. – Falou, e sorriu. – Experimenta ficar parado um pouco.

— E aonde está a diversão nisso?

— Não está. Considere-se de castigo.

Clint riu e Wanda saiu da sala, satisfeita com o olhar chocado que Pietro tinha ficado.

Ele mexeu com a cabeça, suspirando amargo, mas feliz em estar de volta:

— Irmãs...

•♦•♦•♦•

"E eu estarei ao seu lado,

Onde quer que você caia,

No meio da noite,

Sempre que chamar-me,

E por favor, não lute,

Essas mãos estão te segurando...

Minhas mãos estão te segurando."