Belo Casal escrita por Kinaryeong


Capítulo 1
Único




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Visualmente falando não formávamos um “belo casal”, estávamos mais para um par de amigos que sempre andavam juntos… Na verdade, não éramos um casal e sim um par de amigos que sempre andavam juntos.

Conheci Hoseok quando fui escolhido para ser seu parceiro/guia na escola de Artes. Hoseok estava inscrito na classe de dança e eu, na de canto. Quando recebi a notícia da minha nova obrigação fiquei um pouco intrigado por ter sido eleito para ajudar um aluno que não era da mesma sala que eu. Fiquei ainda mais quando descobri que esse aluno era deficiente visual.

O que um garoto cego estaria fazendo em uma turma de dança? Seria um daqueles casos que a pessoa quer se desafiar? Ou um jeito de provar ao mundo que, mesmo em desvantagem ele também poderia ser “normal”?

Foram com essas dúvidas que o conheci. Na primeira impressão ninguém acreditaria em sua deficiência. Ele era tão vivo, tão extrovertido que qualquer pessoa duvidaria que ele sofresse da falta de um sentido humano. Só era possível perceber isso quando ele trombava em alguma coisa enquanto caminhava ou quando não olhava em seus olhos ao lhe dirigir a palavra.

Mesmo cego, ele se virava muito bem sozinho. A meu ver, não precisava de ninguém para ajudá-lo.

Mesmo não entendendo muito bem qual seria a minha função, eu aceitei.

Todos os dias, durante as minhas aulas de canto ele me acompanhava para que eu, assim que acabasse com as minhas obrigações, acompanhasse as aulas dele.

Vê-lo dançar era simplesmente mágico. Seus passos eram precisos. Únicos. Cheios de sentimento. Ver a paixão que ele colocava em seus movimentos me dava vontade de entrar no ritmo da música junto com ele mesmo não tendo nenhuma coordenação motora.

Quando as aulas de ambos acabavam íamos ao parque da escola ficar olhando – no caso dele, escutando – o movimento das pessoas, dos carros, dos pássaros e de tudo que passasse ali.

Conversávamos sobre histórias familiares, planos futuros. Tudo. Falávamos de tudo. Até mesmo sobre relacionamentos.

Em uma dessas conversas descobri que ele era apaixonado por alguém que estudava na nossa escola. Mesmo com a minha insistência, ele não revelava quem era a felizarda – ou felizardo, pelo seu histórico amoroso conter alguns garotos. A única coisa que dizia era: “Um dia o hyung vai saber.”. E quando eu perguntava como ele se apaixonara por essa pessoa ele respondia que, se eu escutasse o que ele escutava também me apaixonaria por ela.

Depois daquele dia me peguei pensando, diversas vezes, em quem seria essa pessoa. Algumas alunas da minha classe me passaram pela cabeça e quando dei conta da grande aproximação que ele tinha com uma das meninas uma tristeza sem sentido tomara conta de mim. Eu não saberia explicar o porquê daquele sentimento. A única coisa que eu sabia era que Hoseok e sua paixão secreta estavam envolvidos naquilo.

Mesmo sem muita vontade de ir à escola devido a indisposição de escutar Hoseok falando na sua pessoa amada, fui, porque tinha obrigações como seu guia.

Ao término da minha aula o acompanhei para sua sala. Naquele dia ele estava dançando com mais paixão. Mais amor. E a resposta do porquê daquela tristeza que insistia em me dominar veio assim que, involuntariamente deduzi que ele estava animado desse jeito por ter encontrado Min Na, a minha colega de sala que eu cortara relações por ter uma quedinha por Hoseok e por quem ele provavelmente nutria sentimentos.

Não consegui ficar naquela sala o assistindo depois de entender que, o que eu sentia era ciúme por, simplesmente estar apaixonado por ele.

Retirei-me silenciosamente para que ele não percebesse e fui para o parque. Eu não conseguia acreditar que me apaixonara pelo meu amigo.

Não consegui evitar que as lágrimas caíssem. Esse sentimento havia crescido de uma forma tão discreta e, ao mesmo tempo tão forte. Eu não me dera conta da existência dele até aquele momento.

A vergonha não permitia que eu voltasse para a sala onde ele dançava e a vontade de estar com ele não me permitia ir embora de uma vez.

-Jin hyung, você está aqui? – Sua voz me despertou causando um calafrio em todo o meu corpo. – Se estiver, por favor, de algum sinal de vida porque, não sei se você lembra, mas eu sou cego. – disse rindo.

Ao dizer isso, toda a vergonha que eu sentia foi substituída por preocupação.

-Hoseok, você está maluco! – o repreendi indo em sua direção para ajudá-lo a se sentar. – Aqui é perigoso demais para você andar sozinho. Ninguém se ofereceu para te acompanhar? – perguntei indignado.

- Eu não quis incomodar. - respondeu se sentando ao meu lado. – Até porque, quem deveria estar lá para me acompanhar, não estava.

-Ah é verdade. Me desculpe. – Como num passe de mágica, todos os meus medos voltaram a me incomodar por lembrar o motivo de eu não estar lá para ajudá-lo.

-Não precisa se desculpar. Só fiquei triste pelo hyung não ter assistido a minha aula. Hoje eu estava tão feliz.

-Eu percebi. – falei tentando esconder meu ciúme. – Eu posso pelo menos saber o motivo da sua alegria?

- Claro que pode. – se acomodou, posicionando-se de frente para mim. – Ontem eu conversei com a Min Na e ela me disse algumas coisas. – Minha vontade era de levantar e deixa-lo falando sozinho. Eu não era obrigado a escutar aquele tipo de coisa que só me deprimiria mais.

-Min Na outra vez. Já estou cansando dela... – só percebi meu desabafo segundos depois, quando a risada de Hoseok indicou que eu falara alto o suficiente para ele escutar. - Digo... – tentei corrigir – Nunca fui com a cara dela.

-Engraçado o hyung dizer isso porque, uma das coisas que ela me falou foi que sentia saudade da sua amizade, que não entedia seu afastamento repentino. Entre outras coisas.

- Que amizade? Nunca fomos amigos. – Min Na era uma grande amiga. Sempre me ajudou. Mas não consegui manter nosso contato quando ela me revelara que sentia algo por Hoseok. E agora eu entendia o por quê.

-E ela falou que tudo isso começou quando você descobriu que ela gostava de mim. - Em momentos como aquele eu agradecia o fato de Hoseok não poder enxergar. Meu rosto começou a ferver. Meu coração batia a uma velocidade incalculável. Meus olhos arregalados o encaravam. Eu queria dizer alguma coisa, mas nada saia da minha boca. – Ser cego me ensinou muitas coisas. Uma delas é que o silêncio também fala.

-Hoseok... – sussurrei logo sendo interrompido.

-Hyung, lembra quando eu disse que um dia você saberia quem é a pessoa por quem estou apaixonado?

É claro que eu lembrava. Aquela frase ecoava todos os dias na minha cabeça.

-Lembro – me forcei lhe dar uma resposta para que prosseguisse.

-Você já se escutou cantando? – não foi necessária uma resposta para que ele seguisse adiante - Eu já. E é a melhor coisa do mundo. Mesmo não podendo enxergar, ao escutar sua voz sinto que posso te ver.

Espera... Escutar? Então eu era a sua pessoa amada? Não podia ser!

-Mas como?

-Quem você acha que te escolheu como meu guia? – um sorriso se formou em seus lábios – Eu precisava conhecer o dono daquela voz e ter a chance de escutá-la todos os dias perto de mim.

-Quer dizer então que...

-Eu gosto de você hyung. E descobrir que você ficou bravo com a Min Na por ela gostar de mim foi o empurrãozinho que eu precisava para me confessar.

-Você gosta de mim desde aquela época?

-Sim hyung. Desde aquela época tenho vontade de te abraçar, te beijar...

Ele não precisava falar mais nada.

Em questão de milésimos meus lábios já selavam os dele. Sentir a maciez de sua boca sobre a minha era alucinante.

Calmamente suas mãos foram até meus ombros e lentamente afastaram nosso beijo.

Não consegui entender sua atitude. Será que eu havia me precipitado?

-Desculpa. E-Eu... Desculpa.

-Por que está se desculpando hyung?

-Por ter te beijado sem você querer? – Nem eu sabia o por que. Só sentia uma vergonha enorme por ter agido sem pensar.

- Eu queria esse beijo tanto quanto você... Ou até mais – Mesmo não enxergando, seus olhos insistiam em olhar na minha direção me dando a impressão de estar sendo observado nos mínimos detalhes. – Só estou esperando o hyung dizer que gosta de mim.

-Não está claro?

-Quero escutar a sua voz dizendo o que sente.

Meu desejo era de expor aqueles sentimentos intensos da forma mais clara possível, mas nenhuma frase que eu formulava mentalmente parecia se encaixar com o que se passava dentro de mim. Exceto uma.

-E-Eu te amo.

Ao pronunciar essas palavras aprecei-me em curvar a cabeça para me esconder de alguma forma. Mesmo tendo o conhecimento que ele era incapaz de me visualizar naquela situação constrangedora, saber que eu acabara de me confessar da forma mais vulnerável possível tirava toda a minha coragem de encará-lo.

-Se eu te conheço bem, você deve estar evitando olhar em meu rosto. - Sim, ele me conhecia muito bem. – Mas quero que saiba que isso era tudo o que eu precisava ouvir para fazer isso...

Mesmo curioso não olhei em sua direção, até sentir sua mão guiando meu rosto para cima. O que presenciei foi um Hoseok totalmente corado.

Os seus olhos, mesmo sem intenção, estavam fixados nos meus. Suas mãos acariciavam meu rosto de uma forma carinhosa. Pela sua falta de visão, sua procura pela minha boca era calma. Lentamente ele se aproximava de mim guiando-se apenas pela respiração forte que batia em seu rosto.

Eu ansiava em ter seus lábios nos meus o mais rápido possível, mas sua falta de pressa me fazia ter vontade de aproveitar cada segundo daquele momento pré-beijo.

Quando finalmente nossas bocas se reencontraram meu coração foi a mil. Tudo o que poderia estar acontecendo a nossa volta se tornaram coisas insignificantes. Eu sentia o gosto que eu tanto, inconscientemente, desejava: O gosto de Hoseok. O gosto dos seus lábios.

Nada no mundo poderia me dar sensação melhor do que sentir os sentimentos dele sendo transmitidos pelos seus lábios.

-Sua boca é exatamente como eu visualizei. – sussurrou ao cortar nosso contato.

Surpreendi-me com a sua afirmação.

- Como você poderia ter me visualizado? – perguntei.

-Não é porque sou cego que não enxergo. – disse rindo da própria frase confusa que falara. – Eu tenho um jeito diferente de ver as coisas ao meu redor. Vamos, feche os olhos. Vou tentar te mostrar. – o obedeci prontamente me ajeitando para que minha cabeça apoiasse em seu ombro. – Primeiro vou descrever o lugar onde estamos: É um campo verde enorme com três árvores gigantescas. E nós, provavelmente estamos sentados embaixo da maior, por causa do barulho um pouco distante que as folhas fazem. Há um pequeno morro bem próximo a nós, porque escuto o barulho dos skates pulando sobre ele. Durante o dia, três ou quatro barraquinhas de comerciantes ficam circulando e provavelmente uma delas é de algodão doce, porque sempre que o som do carrinho chega perto você diz que vai me fazer uma surpresa, se levanta e volta com um algodão doce para mim...

Enquanto ele descrevia o ambiente em que estávamos fui montando a imagem na minha cabeça. Eu não tinha palavras para descrever minha perplexidade. Ele havia descrevido aquele local com tanta perfeição que alguns itens citados eu nunca tomara nota de sua existência. Pela primeira eu vi o mundo através dos seus olhos. E esse mundo que ele enxergava era infinitamente mais bonito do que o real. Era muito mais... Inocente.

-... Mas é claro que esse meu mundo não seria tão incrível assim se não fosse por uma pessoa. – minha atenção voltara para si. – Quando escutei sua voz imediatamente percebi que precisava dela perto de mim de algum jeito. No dia em que falei com você pela primeira vez descobri a sua altura porque sua voz ecoava de acima. No verão descobri a cor da sua pele pelo cheiro do seu protetor solar ser parecido com o do meu. No inverno descobri que o seu porte físico é maior que o meu porque quando você me emprestou sua blusa ela ficou larga em mim... – As descrições continuaram. Eu me sentia um apaixonado de quinta por nunca ter reparado nessas características dele. Ele simplesmente me “montou” exatamente como eu era. – E quando te beijei descobri que eu não precisava ser fisicamente perfeito para entender o que é estar apaixonado. Eu te amo Seokjin.

Senti seu corpo se mover para, novamente, unir sua boca a minha. Daquela vez eu não hesitei, não fugi, apenas consenti.

Visualmente falando não formávamos um “belo casal”, estávamos mais para um par de amigos que sempre andavam juntos. Mas naquela tarde deixamos de ser apenas um par de amigos que sempre andavam juntos para nos tornamos um casal. Um belo casal, a nosso ver.


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