Você aceita ser meu único amigo? escrita por snow Steps


Capítulo 8
Tanquinho Milagroso


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, sou uma péssima autora. Não, eu ainda não desisti da Fic.
:)



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Somos três fileiras espaçadas por cones laranjas de listras desgastadas, e estas três fileiras possuem apenas um item em comum: suor.
Na testa.
Nas axilas.
Nas nádegas.
Em qualquer lugar que ainda é permitido nomear de corpo humano.
Os bramas e pátrias estão lançando olhares fulminados uns para os outros, e parecem esquecer por completo a presença de um terceiro concorrente. Bem, eu também não nos levaria à sério. A gente se encaixa perfeitamente naquela expressão infantil: café-com-leite (e daqueles bem aguados).
Hélio é o primeiro da fila, pois acreditamos que suas pernas compridas podem nos prover alguns milésimos de vantagem - assim apreciaremos o sabor da vitória num breve suspiro. Alguns metros mais à frente, posiciona-se Lorena, com o rosto manchado de delineador escorrido e os braços cobertos por uma luva preta se mantém cruzados, demonstrando claramente a sua ânsia em pegar o bastão. Na margem da curva da pista de corrida, está a posição de Tatiana - lembramos que a Física disse em algum lugar que pernas curtam realizam curvas mais rápido - e após ela, sou eu. Por último está Nelson, a pedido de Nicholas.
— Por que eu não posso ser a última? _ Protesto para Nick, enquanto eu o guio para "um ponto muito, muito visível na linha de chegada".
— Porque ele é homem.
— Oi? - Devolvo, ainda mais contrariada.
— Veja, cara Liora - ah, como soa satírico quando digo a palavra "veja" - quem são os últimos competidores dos outros grupos?
— Humm... Camila e Rebeca.
— Isso. São mulheres. - Ele afirma com deleite. - Para o plano dar certo, precisamos atrair a atenção feminina. Exceto das garotas do nosso time, óbvio. É por isso que Nelson deve ser o último.
— Este plano não está me parecendo justo, Nick - Contraponho, evidenciando minha desconfiança.
— Liora, por que está construindo uma imagem tão ruim de mim? Acredite, sou um pouco melhor do que o pior cafajeste que você é capaz de imaginar.
E assim, ele abre um sorriso torto em minha direção, enquanto nossos braços estão entrelaçados nos ombros. Por que tão perfeito?
Ah, antes ele já houvesse nascido cego! Dessa forma jamais saberia a dimensão de sua beleza e eu poderia ao menos ter uma chance...
— Aqui parece ser a área mais próxima da linha de chegada. - Digo por fim, soltando uma lufada de desesperança ao concluir que talvez nunca irei além do que o braço de Nick em volta do meu pescoço.
— Você tem a certeza de que estou sendo visto?
— A única maneira de você não ser visto é se cobrindo com uma burca - Brinco. - Acho que devemos nos despedir, não é?
— Como?
— Você irá embora. É legal o que está tentando fazer, mas... é impossível ganharmos.
— Com esse pessimismo, não mesmo - Ele resmunga.
— É que você não está vendo o tamanho das coxas do William, nosso adversário - Digo, olhando para os pátrias.
— Poupe-me, Liora! O que são pedaços de carne perante meu cérebro incrível?

Os jogadores se colocam a postos, e meu coração bate tão forte que o escuto como se estivesse atrás dos ouvidos. Os veteranos distribuem os bastões de plástico, e os pátrias começam a soltar risadas de confiança.
Minhas pernas tremem. As de Nelson mais ainda.
Ao longe, avisto a figura de Nicholas, fazendo um joinha para o ar - creio que seja para nós, porém seu dedo polegar está virado mais para a árvore e fica difícil definir.
Os primeiros corredores se posicionam, dobrando os joelhos e inclinando o torso para frente. Helio os imita. Caio caminha até o o meio da linha de largada, e ergue os braços para o céu, com o apito babado fincado entre os dentes. Por um instante, todo o retiro parece perder o ar dos pulmões, e, num piscar de olhos, as mãos de Caio descem num movimento incisivo e o apito ressoa estridentemente.
Os corredores iniciam sua jornada, ferozes e selvagens feito touros desembestados. O desempenho de Hélio é surpreendente a princípio, suas pernas gigantes são como os passos das botas de sete-léguas, e deixo até um urro de emoção escapulir. No entanto, ele logo perde o fôlego, e as longas pernas ficam bambas e sem coordenação, permitindo que William, o coxudo, ultrapasse com a leveza de uma pluma. Daniela, a representante dos pátrias, está algumas frações de segundo atrás de Hélio, e este consegue manter a sua segunda posição até a entrega do bastão para Lorena.
Lorena parece um canguru ao correr: suas passadas estão mais para pulos, que lembram um carro com marcha engasgada. Ao menos ela está correndo, afinal...
Junior, o segundo corredor dos xátrias, possui pernas leves e esguias, ganhando vantagem facilmente de Renan, do grupo brama. Mesmo assim, ficamos por último, já que Lorena desperdiçou todos os milímetros de vantagem que Hélio havia deixado.
Tatiana agarra o bastão com uma urgência excessiva, que quase a faz tropeçar no próprio pé. A baixinha se inclina ao máximo para frente, e faz a curva com o corpo praticamente na diagonal. Olho rapidamente para os outros, mas a ansiedade não me permite ver quem está ganhando. Somente consigo focar na imagem de Tatiana se aproximando cada vez mais, com as bochechas vermelhas e os dentes rangendo à mostra. Meus pés começam a dançar no mesmo lugar à medida que a menina chega, e eu estendo o braço na tentativa de encurtar nossa distância. Um vulto violento passa a minha direita, indicando que os pátrias já estão na penúltima etapa. Num lance de desespero, Tatiana lança seu braço com o bastão para mim, fazendo com que seu peso a jogue também. É um misto de confusão total: sua cabeleira ondulada voa para frente, e uma hora vejo sua cabeça, noutra seu pé para o alto. O bastão é lançado ao ar por um breve momento, e eu salto para agarra-lo feito uma goleira.
Sinto a superfície quente e melada de suor do bastão tocar minha palma, e num giro, concentro-me na pista de corrida. Ricardo, dos pátrias, está bem a frente. Forço minhas pernas ao máximo, e sinto os joelhos pegarem fogo, enquanto que os músculos estão em incêndio. Também, o que esperar de alguém que não corre desde a última vez que pegou um ônibus?
Nelson está a minha frente como uma figura que vai para cima e para baixo, e vejo a mão dele estendida para mim. "Chegue logo naquela maldita mão", é tudo o que consigo pensar.
Num desfalecer de alívio, sinto o peso do bastão ser transferido para Nelson. Abro a boca e absorvo uma enorme quantidade de ar, sentindo o pulmão apertar o diafragma que repuxa uma dor forte em algum lugar próximo ao rim.
Os últimos corredores são Nelson, Bianca e Rebeca. Para minha surpresa, Nelson está relativamente próximo de Bianca dos pátrias - não que estejam encostados - mas Rebeca está numa vantagem avassaladora. Como tudo deve ser: bramas assumindo lugar de bramas.
Rebeca corre entusiasmada - praticamente desfilando com seu bastão vitorioso - quando, de repente e sem explicação aparente, a moça exemplar trava seus pés. De início, parece que algum mal estar a atinge, pois sua boca fica entreaberta e os olhos não piscam, absortos. Quando, para o maior espanto, Bianca também desacelera, dispersando sua atenção para a linha de chegada.
A linha de chegada.
Lá, encontra-se Nicholas, visível do que jeito como queria. Engulo em seco ao vê-lo: ele simplesmente está sem blusa, sem nada que lhe cubra o peitoral e o abdômen definido que reluz a película de suor ao sol. Ele se mantém indiferente, como um cara qualquer que só deseja se refrescar do calor: a blusa apoiada no ombro, os cabelos jogados para trás.
É a visão mais bela do retiro, desde que pisei ali.


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Notas finais do capítulo

Escrevi no celular e não deu tempo de concluir o capítulo de forma desenvolvida - caso contrário, perderia todo o texto! O próximo capítulo promete cenas arrebatadoras :)



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