Desde que começara a namorar Nao, Yuu descobrira uma coisa nova sobre si mesmo.

Ser ciumento.

Claro, estaria mentindo se dissesse que não torcera o nariz para cada garoto que tentasse se aproximar de Ayumi, mas aquilo era zelo de irmão mais velho, algo normal. (Sem esquecer que Ayumi era muito nova para esse tipo de coisa!)

Com a garota dos cabelos claros, a sensação chegava a ser parecida, mas tinha seu quê de diferente. Era mais incômoda, mais chata.

A primeira vez que a sentira, para ser mais exato, tinha sido antes mesmo dos dois ficarem juntos, no dia que ele desmaiou no show do ZHIEND e foram do hospital direto encontrar o seu recém descoberto irmão mais velho.

Vê-la ser tão atipicamente amigável e simpática com Shunsuke o atingira muito mais forte que o esperado.

Ele era a pessoa em quem ela confiara e dera apoio ao irmão dela depois de tudo que a garota sofrera, então não era incomum que ela se sentisse bem e a vontade perto dele.

Mas ainda assim...

Yuu não conseguia evitar a sensação de querer dar uns tapas na nuca do irmão.

O que, claro, seria errado e ele não faria de jeito nenhum visto que era um motivo um tanto quanto estúpido.

Nao o escolhera, por isso ele não devia se preocupar.

No entanto...

Shunsuke era a pessoa extraordinária que sacrificara completamente a sua visão e vida para proteger aqueles que tinham habilidades, criou um refúgio e o ajudou a salvar Ayumi.

Enquanto ele...

Era o garoto trapaceiro que gastara maior parte de sua vida usando sua habilidade para colar em provas e se dar bem as custas dos outros.

Mesmo que ele tivesse melhorado muito e não fosse mais assim, a diferença entre ele e Shun era um verdadeiro precipício.

Foi por isso que se rendeu ao seu pessimismo e cansado de ver Nao comentando tão animadamente sobre suas gravações com ele, resolveu levantar do sofá e sair da sala.

–Eh? Yuu, você já vai? - Mas claro que a audição apurada de Shunsuke o impediria de sair despercebido. Parece que aquilo que dizem sobre seus outros sentidos ficarem mais fortes quando você perde um deles era verdade.

Ele respirou fundo e virou para trás, sorrindo porque mesmo que Shun não pudesse vê-lo, Nao podia.

–É, eu estou meio cansado, só isso.

–... Oh, entendo. Bom, diga pra Ayumi que eu mandei um oi, sim?

–Certo, até então.

–Até! - O mais velho acenou.

O moreno não percebeu que olhos azuis límpidos e vivos o seguiram durante todo o tempo.

Depois que a porta se fechou, alguns minutos de silêncio se passaram. A garota dos cabelos claros olhava distraidamente para os conteúdos da sua câmera enquanto o mais velho encarava algum ponto a sua frente.

–Você devia dar mais atenção para ele. - E riu um pouco ao se encostar melhor na cadeira.

Nao parou em uma das gravações que fizera na sala do conselho, na tela, Yuu estava com uma cara absurdamente vermelha.

–É divertido brincar um pouco com ele.

Nisso, Shunsuke riu mais.

–Que namorada malvada você é, Nao-chan.

Ainda olhando para a tela de sua câmera, a garota tinha um pequeno sorriso travesso em seus lábios.

***

Suspirou assim que fechara a porta de seu apartamento e se dirigiu para a sala de estar onde encontrou sua irmã mais nova na cozinha, preparando alguma coisa.

–Ah! - Ayumi percebeu sua presença e virou para trás, sorrindo. - Bem-vindo, Yuu-nii-chan!

Yuu sorriu de volta.

–Eu voltei, Ayumi.

–Ué, a Tomori-nee-chan não está com você?

–Ah. - Ele olhou para baixo e procurou pelas palavras certas, resquícios do desconforto de vê-la tão a vontade com Shunsuke voltando a sua mente. - Ela não vem hoje, é.

Quando voltou a olhar a irmã, tomou um susto.

A garota parecia ter a expressão de quem vira seu mundo todo cair.

–VOCÊS TERMINARAM?!? - Ela gritou, correndo até ele e o encarando com enormes olhos violetas e chorosos.

Ele piscou.

–QUÊ?! Não!!

–NÃO?!

–Não, Ayumi! - O moreno a afastou empurrando-a levemente pelos ombros. - Não terminamos!

A garotinha piscou e soltou um longo suspiro.

–Ah, que bom...

–Vem cá, você ficou maluca, é?

–Mas, mas! - Ela estufou as bochechas. - Demorou tanto para vocês deixarem de ser teimosos e ficarem juntos para simplesmente terminar do nada? É claro que incomoda a Ayu!

–Não devia. Você é um cupido, por acaso? - Ele resmungou e suspirou, sentindo suas bochechas esquentarem. - E nem demorou tanto assim, viu.

Porém, logo depois se arrependeu de ter falado aquilo, ainda mais quando a morena a sua frente assumiu um sorriso de orelha a orelha e assobiu.

–Huhu, você tá todo vermelhinho. - Cobriu seu sorriso com as duas mãos.

–Ayumi!

Ela riu mais. Yuu bufou.

–Olha, o nii-san mandou um oi para você, tá?

–Eh?! É mesmo! Algum dia temos que jantar nós três juntos de novo! - E voltou para a pequena cozinha. - Falando nisso, Yuu-nii-chan.

–Hm?

–A Ayu está fazendo omurice hoje. - Ela lavou as mãos na pia e o olhou mais uma vez. - Não esqueça de ser sincero dessa vez, tá?

O garoto piscou, mas assentiu sorrindo.

–Prometo.

Ayumi sorriu uma ultima vez antes de voltar para o fogão e Yuu se dirigiu para o seu quarto.

Assim que deitou em seu futon, respirou fundo e grato por ter esquecido de guardá-lo. Quem sabe um omurice bem doce e uma boa noite de sono não seriam o suficiente para acalmá-lo, não é mesmo?

Porque, realmente, ele não tinha motivos para ter cíumes...

Okay, ele tinha.

Ele gostava de Nao - bastante alias -, ela era importante para ele, então era apenas natural que se sentisse daquela forma. Mesmo que mais ninguém tenha mostrado algum evidente interesse romântico nela, o garoto as vezes tinha vontade de segurar sua mão quando estavam andando lado a lado, de abraçá-la sem motivo ou até mesmo... Roubar um beijo dela numa das pouquíssimas ocasiões que estivesse com a guarda baixa e vê-la corar...

Tanto como ele estava corando naquele momento.

–Droga... - Cobriu o rosto e virou para o lado.

Não só ciumento, talvez ele tivesse até descoberto que era um pouco possessivo.

Ouviu a campainha tocar, mas não se incomodou visto que ouvira os passos de Ayumi indo até a porta.

Mas quando não ouviu uma terceira voz, franziu o cenho. Levantou do futon e caminhou até a porta de seu quarto.

–Quem era, Ayumi?

–Ah, ninguém! - Ela respondeu de seu lugar da cozinha. - Não tinha ninguém na porta.

Ué? Que estranho.

Bem... Devia ser só uma criança pregando peças, quem sabe. Yuu suspirou e caminhou de volta para onde estava. No meio do trajeto, no entanto, ouviu sua porta bater e virou para trás, assustado.

–Mas que raio-

E depois foi empurrado para trás por alguma força invisível.

Realmente, teria sido uma queda bem dolorida se não tivesse caído em cheio no seu futon. Quando abriu os olhos, encontrou com orbes azuis como o céu.

O garoto piscou.

–Boo. - Nao sorriu.

–Ueh-! - Mas ela tampou sua boca impedindo seu grito de surpresa.

–Ei, calma né, não precisa gritar.

–N- Nao?! O que você tá fazendo aqui?!

Ela arqueou uma sobrancelha.

–Vim te fazer uma surpresa, namorados fazem isso, não?

–Ah, mas-! - Ele ponderou. Ela tinha razão, era um bom argumento. - Tá, então, er...

–Hmm?

–Você já pode sair de cima de mim, sabe...

–Eu sei.

–É, pois é.

–Mas eu não vou não, tá?

...

–EH!? Por que?!

–Não tô com vontade, simples. - E se ajeitou melhor, deitando a cabeça na curva do pescoço dele e encostando a ponta de seu nariz na sua pele.

Ah...

Nada bom. Nada bom, nada bom, nada bom. Que raio de coincidência era aquela?! Tinha pensado sobre querer abraçá-la e lá estavam os dois deitados no futon dele sozinhos no seu quarto e...

Não tinha como o coração dele bater ainda mais rápido, por acaso?!

–... Por que isso tão de repente?

–Já disse, vim te fazer uma surpresa. - Ela bufou. - E também, você parecia meio solitário mesmo.

Ele parou.

–... Oi?

–Hoje mais cedo, quando você tava com cíumes.

–Ah...

Espera.

–ESPE-! Espera aí! - O moreno tentou olhá-la, mas a garota ainda estava com a cabeça encostada no pescoço dele. - Eu não estava com ciúmes.

Então, Nao levantou o rosto para encará-lo.

–Claro que não. - Respondeu com um sorriso travesso que ficava ridiculamente lindo nela e- Yuu, concentre-se!

–Ei, é sério!

–Claro, claro. - Ela assentiu lentamente.

–Nao! - E dessa vez, a garota não conteve o riso que escapou dos seus lábios.

–Você até que fica uma graçinha quando tá com ciúmes, Yuu.

Antes que ele pudesse retrucar, a loira se aproximou mais e esfregou seu nariz levemente no dele, fazendo os batimentos do garoto saltarem para um novo recorde.

Como sempre, ele não tinha forças em si mesmo para dizer não a ela, por isso não teve outra escolha não ser se render e colocar seus braços envolta da cintura dela.

–Wooow, você conseguiu ficar bem mais vermelho que o normal, hein.

–A- Ah, vê se cala a boca. - Ele resmungou e ela riu um pouco mais, esfregando seus narizes novamente.

Os lábios dela estavam tão perto, não teria problema se ele roubasse um beijo como pensara anteriormente, não é mesmo? Sentir a respiração dela tão perto de sua boca era um convite tentador demais para que ele não atendesse.

E de fato, teria atendido se não fosse a interrupção de uma força maior.

–Yuu-nii-chan, o jantar tá pront- OHOY!! - O moreno jogou sua cabeça para o lado - quase que em sincronia com a loira - e encontrou uma Ayumi vermelha dos pés a cabeça, com as mãos postas sobre o rosto e cobrindo tudo que não fosse os seus olhos.

Silêncio.

–A- Ayumi, peraí...

–N- NÃO TEM PROBLEMA! - A pequena exclamou, um sorriso enorme e bobo em seu rosto. - E- EU SEMPRE QUIS SER TIA, ENTÃO TUDO BEM!

E bateu a porta, depois puderam ouvir seus passos rápidos correndo até a cozinha.

Yuu piscou e teve a sensação que tinha uma chaleira no lugar da sua cabeça.

–Yuu, se você ficar mais vermelho, acho que vai sair fumaça das suas orelhas, viu? - Nao comentou, inocentemente.

Como cargas d'água ela conseguia ficar tão calma?!?

–AYUMI, NÃO É NADA DISSO!

–Ué, não?

–NAO!

–Tem razão. - Ela pôs a mão no queixo. - Pensando bem, é melhor quando formos um pouco mais velhos.

–N- NAO!!!

–Ih, acho que vai sair fumaça mesmo.

Mais tarde naquela noite, os três comeram uma omurice tão vermelha quanto o rosto do pobre garoto.