Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 57
Dia a dia




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São 05:45h da manhã quando eu alcanço o lago. Aproveitei para correr e fiz isso numa velocidade quase impressionante; de brinde, ganho o espetáculo único que é o nascer do sol entre as montanhas da floresta. É inacreditável como eu me sinto renovado aqui, embora não venha aqui tanto quanto eu queria.
Todo esse verde, o ar que parece mais puro aqui do que em qualquer outro lugar e o sol que, mesmo preguiçosamente, vai tomando seu lugar. Sorrio ao olhar o lago brilhando e praticamente vazio, com exceção de um grupo de patinhos que estão a alguns metros de mim.

Me apresso em tirar meu tênis, short e meu casaco de moletom. Corro só de cueca e mergulho na água estupidamente gelada, se eu ainda não estivesse despertado, com certeza, agora eu estaria. Os patos se espantam comigo e vão para o outro lado, o mais distante possível de mim. Fico por um bom tempo aproveitando a água, mergulhando ou simplesmente boiando e olhando como a luz do sol começa a invadir a floresta, exigindo seu lugar entre as árvores e se fazendo ser percebida; os pássaros voam de um lado para o outro, os tordos cantam alto e os galhos das árvores se chacoalham levemente, completando a trilha sonora perfeita para essa manhã.

Saio da água, vou até um pé de jabuticaba, pego algumas e me sento apoiando as costas na árvore. Gasto todo o tempo que posso e até um pouco do que não posso, mas só me levanto quando me sinto totalmente renovado. Visto minha roupa, verifico o relógio e já são quase 9h da manhã, meu pai já deve estar querendo me matar, por isso me apresso e volto todo o caminho correndo novamente.

Abro a porta de casa no momento exato que meu pai está descendo as escadas, todo arrumado.

— Você tem 8 minutos - ele avisa como um recado de que não terá segundo aviso.
— Só preciso de 5 - ele passa por mim e vai para a cozinha.
— Por favor, gaste os 8 - mamãe fala, colocando a cabeça pra fora da divisão da cozinha com a sala, fingindo tampar o nariz, eu faço uma careta e subo correndo.

Entro pelo quarto e Lucca ainda está dormindo; ele chegou um pouco depois das 3h da manhã hoje, o que significa que ele não levanta antes do almoço. Tomo um banho, me visto, pego minhas coisas e saio do quarto sem nem ter sido notado. Encontro papai e mamãe se agarrando na cozinha.

— Eeeeeei - reclamo, fazendo uma careta, eles se soltam, mas estão sorrindo.
— Observe e aprenda, daqui a pouco você está nesse time - papai avisa e mamãe ri.
— Dos sem vergonhas?
— Dos casados e apaixonados - faço uma cara de assustado, mas a verdade é que só de pensar que, em poucos meses, eu estarei casado, meu estômago já revira, não de um jeito ruim, é exatamente o contrário, não consigo me controlar pra que esse dia chegue logo. Desde adolescente eu sempre soube o que eu queria ser, antes de tudo, antes de qualquer profissão, eu sempre quis ser um marido e, um pai. Então, pra mim, dois meses parecem uma eternidade.
— Anda, não podemos nos atrasar - papai avisa já dando um selinho na mamãe, pegando um biscoito e se afastando. Mamãe me entrega meu copo de vitamina já tampado pra viagem.
— Leva uma fruta também, ficou correndo que nem um doido, precisa comer alguma coisa - pego uma maçã verde, beijo sua testa e saio.

Mesmo que eu já tenha meu carro, nós acabamos indo no carro do papai, e eu nem penso em reclamar, afinal, ele está me fazendo um favor. Estamos indo conversar e, tomara Deus, fechar negócio com um amigo dele que tem uma espécie de sítio, incrível, bem na fronteira do Distrito, eles fecham o lugar para eventos super privados e VIPs, geralmente programas de TV, a vista de lá é impressionante. O lugar traz o equilíbrio perfeito da floresta e da cidade, eles tem um casarão inteiro de vidro espelhado que usa a luz do sol como fonte de energia; e além disso, ao fundo, duas montanhas enormes trazem uma visão privilegiada do pôr do sol, quase tão incrível quanto a visão que temos da floresta. Tudo que eu preciso é ter sorte o suficiente para que esse lugar perfeito seja o local da minha cerimônia de casamento. Eu não contei isso para Bella ainda, quero fazer uma surpresa. O lugar é incrível, realmente impressionante, exatamente por isso é super difícil de estar vago, mas como papai conhece o dono do lugar, conseguiu agendar uma conversa hoje. Eu só espero que eles estejam livres para a data que nós queremos.
A viagem dura cerca de uns 45 minutos. Somos recebidos por um rapaz muito simpático que nos leva até o casarão que terá a reunião.

— Grande Pyter Everdeen Mellark - o homem que parece somente um pouco mais velho que meu pai, mas que já é totalmente grisalho, abre os braços com um sorriso enorme assim que vê meu pai.
— Renato Bonniari - eles se abraçam, fazem uma espécie de cumprimento estranho com as mãos e então riem.
— Meu Deus, você já é um homem - ele olha pra mim e me puxa para um abraço, como se também me conhecesse a muito tempo, não comento nada, apenas entro no clima - Fiquei surpreso quando você me ligou… Do quê que eu posso te salvar, dessa vez?
— Então - papai toca meu ombro e me puxa pra junto dele - Eu só vim pela viagem, seu papo é com esse daqui…
— Perfeito, adoro conversar com gente jovem, me identifico de cara…
— Você nem lembra mais o que a palavra jovem quer dizer - ele responde a brincadeira do papai com o dedo do meio.
— Vamos, to curioso pra saber o que trouxe os Everdeen Mellark aqui - então entramos na sala dele.

Mais de uma hora depois saímos da sala. Meu sorriso não pode ser disfarçado e, enquanto ele e meu pai estão conversando, tudo que eu quero é contar a novidade para a Bella. Nós vamos casar no lugar mais perfeito do Distrito. Ela vai pirar.

Sem conseguir me aguentar mais por muito tempo, pego o celular do bolso e abro na conversa dela.

Eu: Jantar hoje no Bistrô?

— Então você já tem o contato da minha equipe, é só acertar os detalhes com eles - Renato fala me esticando a mão, sorrio ao apertar.
— Muito obrigado, isso é… perfeito - ele sorri. Nos despedimos e voltamos para o carro, assim que coloco o cinto, meu celular vibra com a resposta da Bella.

Amor: Alguém ta afim de gastar hoje? 

Sorrio.

Eu: Com você? SEMPRE!
Ela responde com vários emojis de coração.

— Quando vai contar pra ela? - papai pergunta já entrando com o carro na estrada.
— Hoje mesmo. Vamos no Bistrô - ele faz uma cara de impressionado.
— Só lembre-se que você tem uma festa de casamento e uma lua de mel inesquecível pra bancar - embora fosse pra parecer preocupante, ele não parece nem um pouco preocupado, e nem eu.


Não quero parecer esnobe, nem nada, mas a verdade é que dinheiro nunca foi um problema pra mim; desde que me lembro sempre tive tudo o que eu quis e talvez até um pouco além. Sei que isso não foi sempre assim na historia da nossa família, vovó passou por dias bem difíceis, o vovô também teve alguns, mas a verdade meio insana é que depois de toda história da Revolução tudo melhorou financeiramente para nós. Não vivi nada disso, nem mesmo o papai, tudo que sabemos vem das aulas de histórias, livros didáticos e o livro que o vovô e a vovó guardam no escritório, tudo além disso, vem de especulação. Eu sei que foram dias horríveis para eles, mas correndo o risco de parecer totalmente mimado, não faço ideia do que foram esses dias. Temos uma vida ótima hoje, tenho muita sorte e reconheço isso, por isso, tento sempre me lembrar disso e não ser um babaca. É graças a essa boa vida que posso garantir a mulher dos meus sonhos, o casamento dos sonhos dela.

— To morrendo de fome e sua mãe com certeza não fez comida, vai acabar almoçando na sua tia - isso é muito a cara da mamãe mesmo - Eu vi uma pousada na estrada e acho que tem um restaurante, é um pouco mais a frente, a gente pode parar lá e comer alguma coisa, pode ser?
— Só se você for pagar - ele me olha pronto pra negar - Eu tenho um casamento pra bancar, você mesmo disse - levanto as mãos em inocência, ele tenta reprovar, mas sorri.
— E uma lua de mel, não esquece
— E uma lua de mel!
— E já sabem pra onde vão?
— Ainda não decidimos, mas a Bella não para de jogar indireta sobre como tudo que ela precisa pra relaxar é praia, sombra e agua de coco - eu acabo rindo lembrando dela, nada discreta, me jogando indiretas.
— Distrito 4 então - ele ri dando de ombros.
— Ou o 3 - eu vi que tem umas praias escondidas por lá muito boas.
— Praias escondidas são boas para lua de mel - ele lança um sorriso divertido.
— Você é casado com a minha mãe - faço uma careta.
— Se quiser umas dicas - ele dá de ombros e continua implicando comigo por mais alguns minutos, até que alcançamos a tal pousada que ele viu, estacionamos, entramos na recepção e enquanto ele pergunta sobre o restaurante, eu verifico meu celular; tem algumas mensagens de trabalho que eu simplesmente ignoro, hoje é sábado e eu não respondo nada de trabalho aos fins de semana, eu sei que se eu fizer isso uma vez, então estarei ferrado sempre. Bella também me mandou mensagem avisando que ela me encontra no Bistrô, porque vai as compras com a mãe dela a tarde e provavelmente elas não vão parar de andar até a noite e como já estará na rua, ela me encontra lá.

Depois que respondo, papai faz sinal para eu seguir ele e o rapaz da recepção, nos fundos da pousada, um salão não muito grande tem mesas e cadeiras simples, mas o cheiro da comida já abre meu apetite. Nós escolhemos a mesa perto de uma janela que mostra uma grande horta ao fundo do lugar.
— Esse cheiro ta me matando - papai fala e antes que eu possa concordar com ele, uma menina aparece pra nos atender. Ela parece ter uns 16 anos, é loira e tem uma pequena cicatriz na bochecha. Quando ela me olha, seus olhos escuros se arregalam de uma maneira quase assustadora, ela me encara, a boca entreaberta como se quisesse me dizer algo, mas não conseguisse. Olho para o papai e ele está meio que achando graça.
— Lucca? - ela pergunta quando recupera o fôlego, e o revirar de olhos é natural, ainda não entendo como podem nos confundir tanto. Eu sei que somos gêmeos, mas é exatamente pra evitar essas confusões que eu não corto mais meu cabelo como o dele, enquanto o dele é desordenado e repicado, o meu está liso e penteado, mas parece não adiantar nada.
— Theo - conserto sem querer parecer rude, o espanto dela não diminui, continua sorrindo meio encantada.
— E o senhor é… o Pyter? - papai confirma sorrindo.
— Em carne, osso e super conservado - a menina ri.
— Meu pai ama o senhor, ele assistia suas lutas, ele tem tudo gravado, as vezes ele ainda assiste… Ele ta lá atrás, eu… Será que o senhor poderia vir comigo pra ele te conhecer? Ele não vai acreditar. É aniversario dele amanhã. Vai ser o melhor presente do mundo, se ele não morrer do coração - ela ri.
— Tomara que não - papai fala cruzando os dedos - Eu até posso ir, mas tem uma condição… sem esse papo de senhor, eu me sinto velho…
— É porque você é velho - eu implico e ele me acerta um tapa enquanto se levanta.
— Você também - ela fala quando me vê ainda sentado, então me levanto e sigo eles para uma porta que dá para o quintal, o homem está empilhando alguns caixotes, ele usa um chapéu de cowboy, camiseta e calça jeans.
— Pai! - a menina chama animada.
— Eu não tinha falado pra você… - ele para a frase no meio quando se vira e nos vê, assim como a menina, os olhos dele se arrelagam e ele leva uns segundos para arrancar o chapéu da cabeça e vir na boas direção com a mão estendida para o papai - Pyter Mellark - um sorriso quase venerado aparece - Oh meu Deus, é ele mesmo, não é? - ele olha pra filha que ri e ele também ri - Pyter Mellark na minha pousada…
— É uma honra - papai fala sorrindo todo orgulhoso, então puxa o homem para um abraço rápido.
— Você é o Theo, não é isso? O cabelo ta bem diferente - sorrio e aperto sua mão.
— Um homem com sabedoria - falo e ele ri.
— Eu não consigo acreditar nisso… eu acompanhava todas as suas lutas, a sua família ela… é incrível. Eu cresci ouvindo as histórias, eu tenho tudo sobre vocês. Não quero parecer um maluco, nem nada, mas, meus pais viveram na época dos Jogos. Eles contavam como tudo era difícil, até seus pais mudarem a história de Panem inteira - papai sorri.
— É, eles também são meus heróis…
— Eu quero mostrar uma coisa pra vocês… Se não for atrapalhar, as vezes vocês estão com pressa…
— Não atrapalha em nada, nós viemos comer alguma coisa...
— Oh sim, Nilse, fala pra sua mãe preparar aquele especial pra eles - ele mal termina de falar e a garota vai correndo para dentro - Vamos, quero mostrar algo - nós o seguimos para dentro da casa de novo, mas dessa vez até uma porta na lateral, ele entra primeiro e então percebo que é um escritório, bem menor que o lá de casa, mas muito bem organizado. O homem anda até um armário na lateral, abre uma gaveta e pega uma pasta marrom, ele traz até a mesa e a abre. Meus olhos saltam imediatamente para a foto que aparece, penso que devo ter tido a mesma reação de quando eles me viram, a foto é de um rapaz que eu não conheço e do vovô e da vovó, mas eu nunca vi a vovó desse jeito. Provavelmente foi na época que eles venceram os jogos. Mas não é isso que me chama atenção, nem mesmo o fato deles serem jovens, mas sim o fato de que vovó está gargalhando, a foto foi tirada no momento exato em que ela gargalha, não uma risada, mas uma gargalhada, daquelas que eu vi pouquíssimas vezes na vida; a mesma que ela reserva apenas para membros exclusivos, o que inclui unicamente nossa família. No entanto, ela esta gargalhando junto com um jovem e o vovô como sempre está olhando pra ela com uma cara de bobo.
— Essa é a minha preferida também - ele fala e só então percebo que estou segurando a foto - Esse era o meu pai. Ele morreu tem uns 4 anos. Mas eu cresci com ele contando sobre os jogos, como as coisas mudaram, a revolução e quanto Panem deve ser agradecida a eles, seus avós. Eles deram um passo pra vida que levamos hoje. E essa foto - o homem sorri meio sonhador - Meu pai amava essa foto, foi durante a Turnê da Vitória…
— Seu pai devia ser um grande homem, é muito difícil arrancar uma gargalhada assim da vovó, não é pai? - quando ele não responde, eu olho pra ele, e só então percebo que ele também esta hipnotizado por uma foto, mas a que ele segura tem apenas uma pessoa, Haymitch. Infelizmente, eu não cheguei a conhecê-lo, mas ele foi o avô do papai. Não de sangue. Ele não era pai nem da vovó, nem do vovô, mas ele era mais do que da família. Eu cresci ouvindo as histórias que o papai contava dele; de como ele ajudava o papai a escapar das broncas, o ensinou a fazer pegadinhas na escola e até mesmo o quanto ele era implicante com a vovó e com a minha mãe, mas que no fundo, gostava muito das duas. Lá em casa, no escritório do papai, tem varias fotos dele, embora ele sempre parecesse estar reclamando de algo, sempre que papai olha para elas é como se ele se sentisse um garoto de novo, seus olhos chegam brilhar, assim como estão agora. Na foto, ele está em pé em um palco acenando, ele não sorri, mas não parece irritado.
— Pai? - eu chamo a atenção dele e ele respira fundo antes de abaixar a foto e me olhar, mas quando ele fala não se dirige a mim.
— Você tem uma bela coleção - então o homem se empolga, nos mostra mais alguns recortes de jornal e fotos de campeonatos do papai, e só quando a garota reaparece que somos conduzidos de novo a nossa mesa.

Somos servidos com um ensopado de abóbora, batata e uma carne que cheira tão bem que fico com medo de simplesmente desmaiar de tão bom. Não apenas o cheiro, mas o sabor estava impecável. Típico de um almoço de família num domingo agitado. O pensamento me faz desejar que todos nós estivéssemos juntos, já até consigo ouvir as vozes altas, gargalhadas descontroladas, vovó dizendo que pro vovô sossegar, ele dizendo pra ela relaxar e em seguida a beijando de um jeito que faz ela sorrir, mas não o suficiente pra admitir que gostou. Um sorriso aparece enquanto imagino, mas sou interrompido pela sobremesa, um doce de laranja simplesmente divino, poucas vezes eu comi tão bem assim, papai também parece muito satisfeito e não poupa elogios a eles, agradecemos pela simpatia e depois de tirarmos uma foto, que nos prometeram que irá para um porta retrato de destaque, nós nos despedimos e saímos.


Já na estrada, papai parece pensativo demais enquanto observa a estrada e eu quebro o silêncio.

— Foi a foto do seu avô que te deixou assim, ne? - ele não nega, mas também não diz nada por alguns segundos.

— Ele ia ficar enlouquecido com o seu casamento - ele sorri de um jeito nostálgico - Com certeza iria querer te fazer mudar de ideia… Ele ainda é um garoto, vai deixar ele fazer isso? - a última frase ele fala fazendo uma voz meio rouca.

— Eu queria ter conhecido ele…
— Vocês teriam amado ele. Ele era incrível! - um ar quase triste invade, mas ele completa - Quer dizer, ele era um velho insuportável, metido a sabe tudo, incrivelmente orgulhoso e com péssimos modos, mas… - ele dá de ombros e sorri - Era o melhor avô do mundo - mesmo que eu não tenha chegado a conhecê-lo também sorrio - Mas chega disso… e aí, como você acha que a Bella reagir quando souber?
— Ela vai surtar, com certeza - nós rimos e então ele me conta sobre os vários surtos da mamãe durante os preparativos do casamento deles e nosso resto de viagem fica entre risadas e faltas de ar de tanto rir.


Chegamos na Aldeia e papai vai ver como estão o vovô e a vovó, já que ela estava meio doente e como sempre se recusa a ir ao médico, mas vovô garantiu que é só uma gripe, nós confiamos por que não existe ninguém no mundo que se preocupe mais com a saúde da vovó do que o vovô.


Enquanto ele vai lá, eu vou para casa, assim que abri a porta, ou melhor, até mesmo antes de abrir ouço as vozes altas e reconheço imediatamente.
— Alguém lembrou que tem primos? - falo quando entro na sala e vejo Louise jogada em cima do Lucca, os dois estavam rindo e discutindo alguma coisa.
— O noivo do ano! - ela se levanta do colo dele e estica os braços pra mim, pedindo um abraço, me inclino por cima do sofá para alcança-lá, então ela me puxa e eu caio por cima deles enquanto ela me aperta, morde e faz cócegas.
— Você é uma idiota, sabia? - falo me livrando dela que está rindo.
— Quer ver uma coisa em primeira mão? - ela pergunta ansiosa.
— Loui!!! - Lucca briga e ela revira os olhos.
— Anda, mostra - ela cutuca ele, e agora ele revira os olhos - Vamos, juntos, no 3… 1… 2… 3 - e então ela levanta a camiseta e Lucca estica o braço direito, por um minuto eu fico surpreso. Na Loui, bem entre os seios tem uma tatuagem, meio tribal, meio floral, um desenho bem delicado que se estende para debaixo de cada seio, pelo menos por alguns centímetros. No Lucca, metade do seu braço, do cotovelo para baixo, na mesma posição em que fica a palma da mão, a cara de um lobo está marcada entre sombras e traços perfeitos que ficam entre o rústico e o delicado, galhos parecem sair em volta do desenho. É impecável, mas ainda assim loucura.
— A mamãe já viu? - ele dá de ombros - E seu pai? - pergunto pra Loui.
— Eu amo meu pai, mas se eu não fizesse tudo que ele me diz pra não fazer, então eu teria que ser freira - ela sorri - Mas o que você achou?
— São incríveis, vocês são corajosos. Ou malucos - eles riem - Só não quero ta perto quando eles descobrirem...
— Eu só vou contar depois da viagem - Loui fala despreocupada, se jogando no colo do Lucca de novo.
— Que viagem? - eles sorriem juntos.
— Nós vamos aproveitar o fim de semana e o feriado prolongado…
— Pra onde vocês vão?
— Fazer umas trilhas e acampar no 7! - eles parecem animados.
— Você podia ir também - Lucca fala botando pilha e eu acabo rindo.
— Não sei se seria bom eu aguentar todas as reclamações da Bella sobre não ter chuveiro, banheiro ou por ter que dormir no chão, logo antes do casamento…
— Então vem só você - eu sei que ele tentou parecer casual, como se fosse apenas uma sugestão boba, mas eu o conheço bem demais e sei que ele realmente espera que eu aceite, mas não tem como, eu já tinha feito planos. Planos que não podem ser adiados. Então mesmo sabendo que ele não vai gostar, tenho que negar.
— É que eu meio que já tinha outros planos…
— Que seja - ele dá de ombros e volta sua atenção pra Loui - Você precisa melhorar seu condicionamento, não vou ficar parando toda hora… - e então os dois começam a discutir e eu sei que Lucca está me evitando pra que eu não perceba sua irritação, então apenas subo para o quarto.
Me jogo na cama para relaxar por cinco minutos e acordo com a Íris beijando minha bochecha várias e várias vezes, sorrio antes de abrir os olhos.
— O melhor jeito de acordar do mundo - puxo ela pra cima de mim e ganho a melhor risada do mundo.
— Eu não tinha te visto hoje - ela fala meio brava, mas acaba rindo quando aperto ela em mim.
— Você me perdoa? - ela faz que não com a cabeça, mas tenta esconder um sorriso - Não mesmo?
— Só se você fizer pipoca - eu sorrio e começo a fazer cócegas e morder sua bochecha, ela ri ate quase perder o fôlego.
— Mas só faço a pipoca se você me ajudar - ela dá um pulo da cama.
Já estamos quase no fim da tarde, meu cochilo durou algumas horas a mais que o previsto, mas cumpro minha promessa e fazemos a melhor pipoca doce do mundo.
— Que cheirinho é esse? - mamãe pergunta já entrando na cozinha enquanto jogamos a pipoca numa bacia grande e ao mesmo tempo roubamos alguma.
— A gente fez pipoca - Íris fala toda animada.
— Será que dá pra dividir pra mais uma? - claro que dividimos, levamos a bacia pra sala e nos jogamos no sofá, Iris no colo da mamãe e eu segurando a pipoca.
— To indo lá no Pedro - Lucca avisa entrando correndo na sala e beijando a testa da manhã e depois a bochecha da Iris.
— Avisa ele que eu vou buscar o tênis na segunda - ele não me responde, simplesmente vira as costas como se ninguém tivesse falado nada e sai.
— Por que vocês brigaram dessa vez?
— Não brigamos - falo a verdade, mas tem algo errado e ela sabe - Eu acho que ele não gostou que eu disse não pro tal feriadão no meio do mato dele e da Loui…
— Hmmmm - é tudo que ela diz, mas mamãe nunca é de poucas palavras, então sei que tem algo aí também.
— Fala logo…
— Nada, é só… Quanto tempo vocês não fazem nada juntos?
— A gente dorme no mesmo quarto, vejo ele todo dia e as vezes até estamos na mesma balada…
— Ok - ela dá de ombros.
— Vai, mãe, fala de uma vez…
— Você vai casar
— A gente já superou isso
— Tem certeza?
— Sim, ele e a Bella também tiveram uma conversa. Era só um pouco de ciúme…
— Theo, você vai se mudar - ela fala e olha nos meus olhos como se esperasse que eu absorvesse - Uma vez quando vocês eram pequenos, eu separei vocês, como castigo… Vocês quase morreram do coração. O Lucca ficou desesperado, no meio da madrugada, ele foi escondido e dormiu no chão do lado da sua cama segurando sua mão - ela me olha novamente - Ele nao é tão Durão quanto tenta parecer…
— Eu sei - ela não diz mais nada sobre isso, nem eu.
Terminamos a pipoca, subo pra tomar um banho e não paro de pensar no assunto nem me esforçando, mas quando já estou arrumado, a ideia vem, sorrio sabendo que é uma boa ideia. Mas só pro dia seguinte. Agora eu tenho uma noticia bombástica pra dar pra minha futura esposa.

Assim como imaginei, ela surta quando eu conto sobre o local. Ela ri, chora emocionada e se empolga como eu nunca vi antes. Me sinto o homem mais feliz do mundo só por vê-la desse jeito, por isso quando a deixo em casa, anseio ainda mais o dia em que não iremos nos separar no fim da noite.

Quando chego em casa acaba de passar das onze, mas tudo está tão silencioso quanto estaria no meio da madrugada. Subo devagar, entro no quarto e pra minha surpresa Lucca está apagado, cedo demais pra ele, ainda mais num sábado a noite, mas as vezes acontece, mesmo que raramente. Talvez ele tenha se estressado com alguém. Então me lembro que eu, provavelmente, sou uma dessas pessoas. Me lembro do jeito dele quando eu disse que não podia ir, e sei que ele jamais admitiria isso, mas ele odiou que eu tenha negado. Confesso que depois que eu falei com a mamãe, também odiei ter negado, mas eu realmente tenho planos. Porém, não tenho plano nenhum para amanhã, por isso sorrio antes de entrar no banheiro já imaginando a cara dele amanhã.
Acordo mais cedo que Lucca, o que não é muito difícil. Na ponta dos pés arrumo tudo que preciso, não que ele acorde facilmente, mas também não quis contar com a sorte, depois de pegar tudo que preciso do quarto, desço e vou pra cozinha, papai e mamãe estão lá, é por algum milagre não estão se agarrando. Conto a eles do plano. Mamãe adora, papai mais ainda, tanto que quase quis ir junto, mas mamãe o controla. Peço ajuda dela para preparar o que vou precisar da cozinha e corro no escritório pra dar dois telefonemas. Tudo já está pronto quando ouço os passos corridos na escada, Lucca está com sua roupa de treinar, mas eu entro bem na sua frente entre a porta e ele.
— Isso é seu - estico sua mochila que eu preparei, ele me olha daquele jeito meio magoado, mas jamais confesso.
— Minha mochila…
— Foi o que eu disse. É seu
— E porque ta com você? - ele pega da minha mão meio desconfiado - E por que está tão pesada?
— Uma mochila pra acampar, geralmente pesa um pouco - seu olhar é ainda mais confuso e também um pouco desdenhador - Como eu não vou mesmo conseguir ir na semana que vem, eu pensei que poderíamos fazer uma pré aventura…
— A Loui ainda não tem todos os equipamentos…
— Ela não precisa… Eu pensei em ser uma coisa de gêmeos - ele faz uma cara surpresa.
— Você ainda lembra o que é isso? - eu o encaro meio que pedindo pra pegar leve, mesmo sabendo que ele pode ter um pouco de razão.
— O que me diz?
— Eu tenho o abrigo, e amanhã você trabalha
— Já resolvi. Sua falta vai ser abonada e peguei uma folga, eu tinha várias acumuladas…
— Parece que pensou em tudo
— Eu só preciso do meu irmão por um tempo… e acho que, talvez, ele também precise de mim - ele me olha nos olhos e juro que vi a sombra de um sorriso quando ele responde.
— Você não é tão idiota quanto parece - então ele coloca a mochila nos ombros, sorrio, pego a minha e então saímos de casa.


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