Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 51
Último dia de aula




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Assim que o sinal toca uma gritaria toma conta do lugar e claro que uma das centenas de vozes é a minha, afinal, eu esperei muito por esse dia para simplesmente não gritar, hoje é oficialmente o último dia de aula da minha vida, quer dizer, pelo menos aqui.

— Na verdade, eu vou sentir falta – Pedro fala depois que as comemorações acabam, eu dou de ombros.

— Dos intervalos e recreio? Provavelmente... Das aulas da Sra. Milan e do Sr. Pretzil pegando no meu pé? Nem um pouco – ele ri.

— Então, pra onde nós vamos? – Bella aparece a nossa frente, toda animada daquele jeito que só ela sabe.

— Achei que você e o senhor pombinho apaixonado fossem fazer alguma coisa...

— Ele já foi, teve que chegar mais cedo no estágio – ela dá de ombros sem se importar – Então, onde nós vamos? – ela olha para mim e para o Pedro.

— Foi mal, mas eu tenho que ir direto pra casa, minha mãe deve tá me esperando, o trem sai as duas...

— Eu ainda não acredito que você aceitou ir numa viagem onde eu não vou e logo no nosso ultimo dia de aula – Pedro revira os olhos.

— Você já viajou pelo menos uma dezena de vezes sem mim...

— Era a trabalho, não conta...

— Bom, eu não vou recusar passar duas semanas em uma fazenda cinca estrelas só por que o mocinho vai se sentir sozinho – ele aperta meu queixo fazendo uma cara triste, eu dou um tapa na sua mão e ele ri – Eu tenho que ir, a gente se vê em duas semanas e por favor, não se meta em nenhuma encrenca sem mim – ele pisca um dos olhos e sai, minha vez de revirar os olhos.

— Então? – Bella me olha com os olhos grandes e brilhantes – Somos só eu e você, como nos velhos tempos...

— Aqueles antes de você e o Theo virarem esse casalzinho super meloso e inseparável – ela me encara e eu sei que prometi não reclamar tanto, por isso levanto as mãos em inocência – O que você quer fazer?

— Sei lá, me surpreenda – ela me desafia e eu abro um sorriso já sabendo perfeitamente o que fazer, esperei por isso por um longo tempo, então jogo minha mochila nas costas e pulo da mesa que eu estava sentado, ela sorri animada e saímos da sala, já estava passando pelo pátio quando o cabelo ruivo chama minha atenção, e eu desvio o caminho.

— EI! – Bella reclama logo atrás de mim, mas ignoro.

— Hey, quebra-prato – Pat me cumprimenta pelo apelido que acabei ganhando lá no abrigo, por que na semana que eu fiquei responsável pela louça quebrei 5 pratos, em minha defesa aquele sabão é muito escorregadio.

— Eu tenho uma coisa pra você – ela parece meio desconfiada e as meninas que estão com ela ficam olhando pra mim com aquela cara de quem estão hipnotizada, não estou me gabando, mas é a verdade, mesmo assim ignoro, enfio a mão no bolso e pego o pequeno boneco de gesso colorido que ela coleciona e entrego a ela, seus olhos se arregalam assim que ela o vê e o tamanho do sorriso dela não poderia ser medido.

— NÃO ACREDITO – ela dá vários pulinhos  e então me abraça – Isso é incrível! Onde você achou?

— Eu passei por uma loja e vi, dei sorte – dou de ombros e ela continua toda animada – Feliz ultimo dia – ela abre o sorriso de novo.

— Mas eu ainda não vou aliviar pra você hoje...

— Eu espero que não – dou uma piscada e me afasto voltando para junto da Bella que me olha de um jeito curioso.

— Aquilo era um plaster baby? – concordo enquanto saímos da escola – E qual deles era? – dou de ombros.

— O do carnaval?

— O QUÊ? – ela para de andar – Você deu pra ela um plaster baby do carnaval?

— É – dou de ombros.

— Você tá brincando...

— Não – ignoro o drama dela e volto a andar, demora alguns segundos e ela me acompanha.

— Você sabe que esse é o boneco mais raro da coleção né? Tipo, eu já tentei comprar ele umas 5 vezes pela internet e sempre esgota... Ele é tipo, o boneco de ouro – como eu não respondo nada, ela continua – E você simplesmente achou passando por uma loja?

— Dia de sorte – dou de ombros, então ela agarra meu braço e me faz parar.

— Onde você achou esse boneco?

— Numa loja no centro...

— Lucca Everdeen Mellark, onde você achou esse boneco? – ela me encara de braços cruzados e eu a conheço bem demais para saber que não posso mentir.

— Comprei de um cara...

— Que cara?

— Da internet – ela espera que eu continue.

— Um leilão num site de colecionadores – ela arregala os olhos.

— Você participou de um leilão num site de colecionadores só pra comprar um boneco de gesso pra ela?

— Parece meio dramático quando você fala desse jeito...

— E você me deu uma agenda no meu aniversário – ela reclama fazendo uma careta.

— Na próxima vez você recusa – dou de ombros e volto a andar.

— Você gosta tanto assim dela?

— Não – respondo rápido demais.

— Ah claro, por que é super normal garotos entrarem em leilão para comprar bonecos de gesso pra meninas que eles não gostam...

— Se você usasse todo seu empenho em falar para andar mais rápido a gente já teria chegado – só então ela olha em volta.

— A gente tá indo... Pra mata? – o sorriso dela brinca no seu rosto.

— Se você puder se concentrar nisso, sim – então ela abandona qualquer outro assunto e começa a andar rápido e querer descobrir o que vamos fazer, levo ela pelo caminho diferente do lago da mamãe, ele é um pouco mais complicado do que o outro caminho, mas ela até que se dá muito bem, então chegamos até a área que eu e papai montamos a um tempo atrás, subo em uma arvore, e pendurado entre os galhos em sacos de batata estão os dois arcos e as flechas, jogos as sacolas no chão e depois pulo caindo quase ao lado dela, seus olhos brilham quando veem o arco.

— A gente vai atirar? – ela sorri já segurando o arco.

— Na verdade, eu acho que você tá pronta para o próximo passo – ela arregala os olhos.

— A gente vai caçar?

— Se você garantir que o Theo não vai me matar enquanto eu estiver dormindo – ela pula e me abraça toda animada.

— AAAAAA eu não acredito – ela fica dando pulinhos, há um tempo atrás Theo até achou a ideia de ensinar ela a atirar nos alvos legal e passamos um tempo com ela no campo, mas quando falamos de caça, ele simplesmente surtou e disse que não achava boa ideia, ela fez um pouco de bico, mas acabou deixando pra lá, até agora.

— Mas você precisa me obedecer – ela me encara pronta pra reclamar, quando eu levanto um dedo – Se você não prometer que vai fazer o que eu falar, então a gente volta e você continua com os alvos parados... Já tô arriscando minha cabeça fazendo isso, se você aparecer com um arranhão, ele me mata e dá de comer aos urubus – ela ri.

— Você tá sendo um grande exagerado, mas ok...

                Depois que estabelecemos as regras, nos preparamos, nos equipamos e então saímos para caçar, leva alguns minutos e ela pira quando me vê acertando um faisão que acaba de pousar num galho, e leva mais alguns minutos quando ela acerta um coelho que estava indo se esconder nas arvores, ela grita, pula e comemora como se tivesse acertado um cervo, eu acabo me divertindo em vê-la assim, sabia que ela ia adorar caçar, é realmente a cara dela, depois que ela acaba com a comemoração, mas permanece super empolgada, nós pegamos as caças e eu a ensino a limpar, diferente das maiorias das garotas que passam mal nas aulas de dissecação no laboratório da escola, Bella sempre ficava animada, e não é muito diferente quando ela me vê limpando a caça, mas mesmo assim na pior parte peço para ela ir adiantando a fogueira, e ela vai sem nem reclamar, quando termino a o fogo já está alto e nossos espetinhos vão para a fogueira.

— Então, como eu me saí? – ela pergunta ansiosa.

— Muito bem – faço uma cara de impressionado – Não me acertou nenhuma vez – ela ri.

— Não foi por falta de vontade – agora faço uma cara de ofendido.

— Não é culpa minha, você tem sido um idiota ultimamente...

— Eu?

— É, você...

— E por quê? – ela respira fundo, remexe o graveto com os pedaços de carne e me olha.

— Essa é a primeira vez que a gente faz alguma coisa sozinho, desde... – ela de ombros – Há muito tempo...

— Bom, você tem o Theo – ela me olha com uma cara feia.

— O Theo não é você...

— É, eu sei, ele até tenta, mas... Isso aqui não pode ser copiado – faço uma pose, ela sorri, mas não é um sorriso verdadeiro.

— Eu amo o Theo, ele é com toda certeza do mundo, o homem da minha vida e eu sou completamente apaixonada por ele – antes que ela termine já estou revirando os olhos e escolhendo uma pedra pra bater minha cabeça – Mas ele não é você – eu paro meu plano mental e olho pra ela – Não é meu melhor amigo... Não é quem tem as piadas mais grosseiras, os comentários mais idiotas e as decisões mais questionáveis do mundo – seu sorriso é um pouco mais verdadeiro agora – Eu sinto sua falta... Sinto falta de só ficar jogada do seu lado conversando sobre qualquer coisa... Tipo... A sua mais nova paixão pela garota do abrigo...

— Eu não tô apaixonado – ela revira os olhos.

— Sobre a sua negação em estar apaixonado – eu já ia rebater quando ela completa – Ou sobre como eu tô apavorada com essa coisa de casamento – agora sim ela ganha toda minha atenção.

— Apavorada? EU achei que você estivesse super animada já que não fala de outra coisa...

— Eu tô animada, mas isso não me impede de estar apavorada...

— Eu não sei se faz sentido

— Não precisa fazer sentido, você só precisa me escutar

— Ok – levanto as mãos em inocência – O que tá te apavorando?

— Que a gente continue assim... Que vivendo 24 horas do meu lado, ele perceba que eu sou um saco... Que eu não saiba fazer nada dentro de casa e ele veja que cometeu um erro... Que ele ronque e eu não consiga dormir... Sei lá... Eu só tô apavorada...

— Ok, se acalma aí, garota... Em primeiro lugar isso já está pronto – retiro os espetinhos e coloco em cima das folhas de bananeira que abrimos no chão – Em segundo lugar... Ele não ronca, quer dizer, só se estiver bêbado, mas isso só aconteceu uma vez, ele é certinho demais pra passar dos limites, então seu sono está garantido...  E sobre ele perceber que cometeu um erro é impossível, por que ele é totalmente apaixonado por você e por que você é a melhor e mais incrível garota que eu já conheci na minha vida...

— Mais do que a ruivinha? – a encaro e ela me encara de volta.

— Mais do que ela – o sorriso dela supera qualquer outro.

— Ok, continue...

— Eu tenho certeza que vocês serão ainda mais irritantemente felizes do que são agora... E mesmo sendo meu irmão, se ele pisar na bola com você, me fala que eu acabo com ele – ela ri.

— E quanto a nós dois?

— Você é minha melhor amiga... Olha, eu sei que me afastei, mas é que vocês são insuportáveis juntos

— Uau!

— Eu amo vocês, ok? Mas vocês tinham que se apaixonar um pelo outro? Você é minha melhor amiga, ele é meu irmão... Não podiam sei lá, ter ido mais longe?

 - Você me odeia por isso?

— Não – o absurdo do pensamento sai na minha voz e ela parece aliviada – Eu só... Tenho dificuldades em dividir, você sabe? Eu gosto de ser o principal...

— É, eu sei... E eu sinto muito por isso, eu não planejei me apaixonar por ele...

—- EU sei que não e você não precisa se desculpar por isso, você faz ele feliz, ele te faz feliz, isso é ótimo, eu só...

— É um bebezão mimado...

— Tipo isso – ela sorri e se aproxima de mim.

— Você segurou minha mão quando eu chorei no primeiro dia de aula, brigou com as meninas que me zoavam, me emprestou sua camisa quando a minha sujou toda com a tinta na aula de artes, me ensinou a escalar o muro da escola, segurou meu cabelo quando eu vomitei depois que eu bebi demais, me ensinou que o Theo sempre mexe no nariz quando mente e que sempre disfarça quando se emociona mexendo no cabelo, me ensinou a convencer ele de qualquer coisa e a sempre andar com um canivete na bolsa... E agora me ensinou a caçar, por que sabia o quanto eu queria aprender e você sabia por que você me conhece quase como eu mesma e ainda assim a gente jamais seria um casal – ela sorri – E é por isso tudo que eu posso garantir que você sempre, sempre, sempre, sempre, sempre mesmo vai ser meu melhor amigo e é apenas impossível que você perca a importância na minha vida...

— Eu sou um idiota, né?

— E por que você acha que eu te amo? – então eu me inclino e puxo ela pra um abraço.

— Eu também senti sua falta... E... Eu te amo também...

— Beleza, agora me conta dessa ruivinha aí?

— A gente não pode só esquecer isso?

— ÉÉÉÉÉ... Não – ela ri enquanto começa a comer – Eu vi que vocês estão cheio de papo há um tempinho...

— Ela é voluntária lá no abrigo e... Bom, a gente estuda com ela há alguns anos já...

— E por isso você gastou uma fortuna num presente de ultimo dia de aula?

— Não foi uma fortuna – ela me encara.

— Tá, não foi barato, mas... Qual é... Eu sou o atleta mais bem pago do momento né?

— Quanta humildade, você me comove – ela coloca a mão no coração – Mas é platônico, ela sabe, já estão se pegando, como que tá isso?

— Ela é só uma amiga

— Então ela não sabe...

— Não tem nada pra saber

— Jura?

— Bella, eu posso escolher qualquer garota, qualquer garota mesmo, a cada minuto da minha vida... Eu não vou me amarrar agora...

— Oh... você tá tão apaixonado

— A gente pode mudar de assunto?

— Não! Então, você planeja contar pra ela quando?

— Eu vou apenas te ignorar...

— É uma pena, por que ela é amiga da Rose, e ela disse que ela não para de falar de você...

— Sério?

— Não, eu nem falo com a Rose, mas foi maravilhoso ver seus olhos esperançosos...

— Você é uma babaca – ela dá de ombros e ela ri orgulhosa, então mudamos de assunto e passamos o dia como nos velhos tempos, só nos dois rindo e falando merda.

— Ah por que você não sabe o que já planejei pra lua de mel, é melhor que seu irmão esteja em plena forma...

— OOOOOOOOU, alerta de nojeira! Ele é meu irmão, eu não preciso saber o que você planeja fazer com ele...

— Na verdade seria fazer PRA ele...

— Fala sério – eu encaro ela que sorri de um jeito maldoso – Eu vou ter que fazer terapia agora – ela solta uma gargalhada alta.

— Vai me dizer que você não pensou em algumas coisas pra fazer pra ruivinha?

— Primeiro que ela tem nome... É Paty...

— Acho que Paty é só apelido...

— Você entendeu... E em segundo lugar... Tá na hora da gente voltar – me levanto já apagando a fogueira, ela faz uma cara triste, mas já estamos quase no fim da tarde e ela acaba concordando, nós retornamos cantarolando uma música que era sucesso um tempo atrás e que nós dois adorávamos. Deixo ela em casa e vou na direção da Aldeia, até que um carro diminui a velocidade ao meu lado e buzina.

— Ei, gostosão, quer uma carona? – sorrio quando vejo a motorista.

— Mulher, se controla, você é casada – ela sorri com os olhos azuis brilhantes enquanto eu entro no lugar do passageiro – E ele é meu tio...

— E um super gato – faço cara de nojo.

— O que tá acontecendo com as mulheres de hoje em dia? Vocês precisam se controlar – ela ri.

— Alguém foi assediado, é?

— Por favor, olha pra mim... Isso não é uma novidade, né? – ela ri ainda mais.

— Você é assustadoramente igual o seu tio – sorrio orgulhoso e dou de ombros – Por que o espanto com as mulheres?

— A Bella passou metade da tarde falando sobre o que ela planeja fazer com o meu irmão na lua de mel – Luíza ri, mas tenta fingir estar horrorizada, por sorte logo entramos na Aldeia e eu desço do carro.

— Manda um beijo pra todo mundo – ela grita de dentro do carro, já dando ré e saindo da Aldeia de novo.

— LUCCAAAAAA – a pequena figura, que infelizmente já não é mais tão pequena assim vem correndo na minha direção e estica os braços, eu a alcanço e a levanto com facilidade fazendo-a girar algumas vezes o que me dá uma ótima sinfonia de gargalhadas, as duas meninas que vinham logo atrás dela nos olhando rindo – A mamãe disse que se você for com a gente, a gente pode tomar sorvete – ela me dá um de seus olhares pedintes e mesmo se eu tentasse não conseguiria resistir, mamãe aparece logo na porta.

— Os pais da Ana já estão chegando, acabaram de avisar – Íris faz uma cara triste e as meninas fazem um coro de “ahhh”, como se combinado o carro se aproxima e estaciona, são os pais da Ana que também irão levar a Gabi, então elas logo se despedem.

— Mas eu ainda queria sorvete – ela me fala assim que o carro se afasta, eu acabo rindo.

— Então nós vamos tomar sorvete – o sorriso dela se alarga.

— Mãe, vamos com a gente também...

— Eu preciso terminar algumas coisas, vão vocês dois – ela faz cara triste, mas quando eu ofereço minha mão, ela aceita rapidamente, então saímos com ela super falante contando sobre como foi o último dia de aula e enquanto ela fala toda animada, eu apenas tomo cuidado para que ela não dê de cara em nenhum poste ou acabe atravessando na frente de algum carro ou moto, ela nem se preocupa, apenas continua sua animação e quando alcançamos a sorveteria, ela logo corre pro balcão com o pedido na ponta da língua, nos sentamos em uma mesinha de canto e ela continua tagarelando, eu me lembro de quando ela era menor e se atropelava por não saber falar as palavras direito, agora ela se atropela por querer falar mais palavras do que consegue em um único segundo, mas é maravilhoso estar com ela, até que a garota de cabelos loiros se aproxima da nossa mesa.

— Lucca? – a voz é levemente surpresa e impressionada, eu já ouvi esse tom algumas centenas de vezes, Íris para de falar e encara a garota.

— Oi! – não conheço a menina, mas obviamente isso não a impede se inclinar e beijar minha bochecha.

— Desculpa chegar assim é que... Eu nem acredito que é você mesmo... Eu... Eu cheguei há alguns dias no Distrito e... Enfim, eu sou uma grande fã...

— Bom, obrigado!

— Eu não quero parecer uma perseguidora, nem nada, mas é que eu acabei de chegar por aqui, não conheço nada pelo Distrito, então... Será que qualquer dia você poderia me mostrar um lugar legal? Eu deixo meu numero com você – ela fala já pegando um papel e caneta de dentro da sua bolsa e anotando, antes que eu pense em responder o papel está sendo colocado encostado no meu peito – Me liga quando você quiser – a mão escorrega levemente até o meio da minha barriga, então eu a paro, ela sorri e sai.

— Vaca – a voz me faz rir, mas logo paro.

— Íris! – ela revira os olhos.

— Ela deu em cima de você... Ela é uma vaca e uma piriguete e eu não gosto dela e se você ligar pra ela, eu vou falar pra mamãe que você fica saindo com as meninas que não prestam – eu acabo rindo.

— E você lá sabe o que é prestar ou não prestar?

— Sei, eu já tenho 9 anos

— Uau! Nove anos!

— Você tá me zoando... Mas eu sei sim, a mamãe falou que todas as garotas que ficam te gritando no estádio só querem usar você e por isso a gente não pode deixar você sair com elas, mas você é homem e por isso é tão burro e não percebe – eu acabo rindo de novo.

— Ok, a mamãe é meio exagerada e se for assim eu nunca vou sair com garota nenhuma...

— Perfeito, você vai ser pra sempre só meu – ela fala toda orgulhosa e em seguida enche a boca de sorvete, sorrio e me inclino pra ela.

— Posso te contar um segredo? – ela me dá permissão de continuar – Eu já SOU pra sempre seu – ela abre um sorriso e beija minha bochecha.

— Mas eu vou namorar tá? – ela avisa quando volta pra sua cadeira e eu não consigo segurar a risada.

— Termina logo seu sorvete que eu ainda tenho que sair daqui a pouco – ela se concentra no seu pote e assim que acaba nós voltamos pra casa.

                Saio de casa um pouco atrasado, então acabo indo de carro para o abrigo e assim que entro no refeitório o avental surge quase na minha cara.

— Tá atrasado! – Paty avisa, mas já está indo para o outro lado do salão.

— DESCULPA – grito, mas ela me ignora, então apenas começo o trabalho da noite e acabamos tendo bastante trabalho, um dos gases acabam e o jantar atrasa um pouco também, o que gera uma fila e um pouco de agitação, mas no final das contas tudo se resolve.

— Nem pensar, precisamos do dinheiro para trocar as mesas e não pra comprar prato – Paty implica tirando a esponja de lavar louça da minha mão.

— Ah qual é... Foi só uma vez, eu já aprendi minha lição – ela finge pensar, mas acaba me devolvendo.

— Cada prato quebrado eu tiro uma hora que você já cumpriu...

— Tá querendo em manter mais tempo por perto, é? – ela fica meio sem graça e apenas me ignora e se afasta falando com o pessoal.

Quando tudo termina e somos dispensados encontro com ela já do lado de fora se despedindo de todos.

— Eu tô de carro... Quer uma carona? – ela parece meio indecisa, mas eu insisto – Eu sou um bom motorista – ela sorri, mas logo seus olhar se desvia do meu para algo atrás de mim.

— Eu já tenho carona – ela sorri e quando me viro, uma moto acaba de parar, o piloto tira o capacete e sorri, então ela se afasta de mim, se aproxima do cara, ele se inclina e eles se beijam, eu ainda estou olhando a cena quando Denis que também é voluntário aqui se aproxima.

— Partiu McPaull? Hoje a segunda dose é grátis – dou uma ultima olhada e eles já estão saindo com a moto.

— Tô de carro – ele sorri animado e então vamos juntos até o bar que esta sendo o mais badalado dos últimos meses.

                Nós encontramos mais alguns conhecidos, arranjamos uma mesa e pedimos as primeiras doses, como prometido a segunda é de graça, o que nos faz logo pedir a terceira e ganharmos a quarta, o que nos leva para um ciclo bem animado, um dos garotos começa a paquerar as meninas da mesa do lado, somos em quatro, elas estão em três, o que já começa a criar uma pequena disputa de quem vai sobrar, mas como eu não falo nada eles me olham curiosos.

— Não tem nenhum argumento? – eu rio.

— Jura? Mais alguém olhou pra isso daqui? – faço um sinal com a mão para o meu rosto – Eu não preciso discutir, é ÓBVIO que eu não vou sobrar – agora é a vez de todos eles rirem e dizerem o quanto eu sou idiota e arrogante – Ok, ok... A que acenar pra mim eu levo – eu falo e então eles param pra observar, eu olho para a mesa ao lado, e as três já estão rindo e olhando pra gente, então tudo que eu preciso é levantar a mão mal aceno e as três acenam de volta, sorrio e olho pra elas – É meu carma – finjo uma cara de dor e ele só me zoam ainda mais.


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