Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 38
O Encontro




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O domingo amanhece ensolarado e os meninos vão logo cedo pra casa do Ryan, já que agora eles tem uma piscina lá e se tornou a casa preferida, Keyse adorou isso por que não precisa ficar preocupada com os móveis de casa, embora em defesa deles, eles até estão um pouco mais calmos agora, pelo menos em relação a correr dentro de casa, gostaria de poder dizer o mesmo do Boldo, mas parece que mesmo depois de tantos anos ele ainda não aprendeu a lição.
— Eu juro que um dia eu faço salsicha desse cachorro – Keyse reclama enquanto recolhe o ultimo pedaço do vaso que ele deixou cair quando entrou correndo pelo corredor.
— Se um dia você aprender a fazer salsicha já será uma grande surpresa...
— Cala a boca – ela reclama e passa por mim carregando a sacola com os cacos.
— Já que estamos sozinhos, a gente bem que podia almoçar lá naquele restaurante da estradinha – ela para no caminho e me olha com um sorriso divertido.
— Eu ainda vou reclamar no seu ouvido de qualquer jeito, foi você quem deixou a porta aberta – ela avisa e eu levando os braços mostrando que não é um problema.
— Mas você pode reclamar enquanto come um risoto de frutos do mar e uma taça de vinho...
— Aaaah isso vai ser incrível – ela fala fechando os olhos e já saboreando o momento, então como garanto que ela já está mais calma, vou até ela e a abraço por trás beijando seu pescoço.
 - Eu te amo – sussurro no ouvido dela e recebo um sorriso em resposta, eu a libero dos meus braços e então vamos nos arrumar. Como sempre acontece eu fico pronto primeiro que ela e me jogo no sofá esperando, ligo a tv e assisto o noticiário de esportes, eles estão falando do Campeonato juvenil de lutas que vai começar no próximo mês e seria impossível não sorrir orgulhoso quando escuto que o favorito do ano é o Lucca.
— AI MEU DEUS, PYTER – Keyse fala quase gritando e corre até a mim, eu me assusto e então ela passa a mão pelo meu queixo – Você tá babando tanto que pode molhar sua camisa – ela ri e eu também, mas faço uma careta.
— Depois o idiota sou eu – ela dá de ombros.
— Convivência! – eu desligo a tv e olho pra ela que está em um vestido florido curto, de alças finas que se prendem ao seu pescoço, ele é de um tecido fino e larguinho então balança a cada movimento dela e seria impossível olhar pra outro lugar.
— Como você consegue ficar mais linda todo dia? – faço a melhor cara de confuso que consigo e ela sorri satisfeita.
— Você também tá bem gato – ela pisca um dos olhos e eu sorrio.
— É, eu sou um gato – ela revira os olhos e me dá um beijo rápido.
— Eu tô morrendo de fome – ela fala já segurando minha mão e me puxando junto com ela.
— Onde vocês vão? – Pérola pergunta assim que saímos de casa.
— Não te interessa – eu falo sem nem olhar na sua direção, Keyse ri, mas responde ela.
— Nós vamos almoçar lá no Lenorte...
— Aí eu quero ir!
— Vai ficar querendo, tchau! – falo já abrindo o carro.
— Você vai ter coragem de deixar sua irmã e sua sobrinha jogadas nessa casa sozinhas sem ter o que comer? – ela faz com a melhor voz de drama dela, eu reviro os olhos, mas me viro pra olhar pra ela.
— Cadê o Ian? – ela me encara como se eu fosse um idiota.
— Ele viajou ontem por 9, como que você pode ter esquecido se você mesmo mandou ele não demorar muito pra eu não encher seu saco?
— Bom, ele já tá demorando... – ela me encara.
— Quer saber, bom almoço pra vocês – ela fala, então dá as costas e entra na casa batendo a porta.
— Precisava disso? – Keyse pergunta e eu reviro os olhos.
— Ela tá sendo dramática, é assim que ela é...
— Anda – ela faz sinal com a cabeça na direção da casa, eu fecho a porta do carro e vou até lá, bato uma vez e nada, então abro a porta.
— Pérola! – grito ainda parado na porta e não tenho resposta, reviro os olhos já sabendo que ela vai fazer o drama e entro, vou até o inicio das escadas – Qual é Pérola?! Foi uma brincadeira idiota só, você não vai ficar com raiva né? – espero alguns segundo e nenhuma resposta, mas ouço passos vindo da direção do quarto dela – Pérola, por favor, eu sou um idiota, nós sabemos disso, só me desculpa ok?
— Ei, relaxa, não vai começar a chorar né? Eu só vim trocar de roupa – ela fala com um sorriso vitorioso quando aparece no topo da escada.
— VOCÊ é uma idiota – ela ri e dá de ombros.
— Uma idiota que vai almoçar no Lenorte com você pagando a conta...
— Eu não vou pagar sua conta!
— Mas vai pagar a minha né? – Loui aparece também arrumada.
— Não seja como a sua mãe – eu aviso e elas riem e descem as escadas, eu saio e elas vem logo atrás de mim, elas e Keyse se cumprimentam e então entramos no carro.
Um pouco mais de 15 minutos e paramos na frente do restaurante, conseguimos uma mesa boa e elas comemoram o ar condicionado, fazemos os pedidos e peço uma garrafa de vinho.
— Você tá dirigindo, não deveria beber – Loui fala quando bebo um gole.
— Eu tô pagando sua conta, não deveria encher meu saco – forço um sorriso amigável e ela faz uma careta.
— Ogro!
— Mal criada!
— EI! Eu criei ela muito bem, ok? – Pérola se defende – Não tenho culpa se o resto da família não é uma boa influência.
— Como assim o resto da família? – reconheço a voz e quando olho pra trás é o Pietro.
— O que você tá fazendo aqui? – pergunto confuso.
— Eu mandei uma mensagem pra ele avisando que você tava pagando o almoço de hoje...
— Eu o quê? Eu não tô pagando nada. Eu não vou pagar o de vocês – eu aponto pra eles dois, mas sou ignorado, enquanto ele pede pro garçom colocar uma mesa e cadeira extra, Pérola sugere que ele peça o mesmo prato que ela que vem com lagosta e camarão.
— É o prato mais caro! – eu reclamo e ela dá de ombros.
— Por isso é o melhor... – eu olho pra Keyse e ela está rindo, mas tenta fingir que não, só que como ela falha, apenas se inclina e me beija.
— Eles te amam, fazer o quê?!
— Pagar a própria conta já seria o suficiente – ela ri.
— Quando você ficou tão mão de vaca? – Pietro pergunta depois de se ajeitar no seu lugar.
— É verdade, você não era assim – Loui concorda com ele – O homem paga a conta você sempre disse isso...
— O Pedrão paga a conta? – pergunto e as três riem juntas.
— Esquece o Pedrão – ela fala ainda rindo.
— Você cismou com isso ein? – Pérola se diverte.
— Eu não cismei com nada, vocês que vivem falando dele e fazendo todo esse mistério, eu só não entendo por que, já que ele é tão incrível, por que nunca vi ele?
— Por que a gente não tem nada sério...
— Eu achei que você tava gostando do tal do Marx – ela revira os olhos.
— Eu sai com ele duas vezes...
— Já é um namoro pra mim – Pietro fala e eu concordo.
— Fala sério, você ficou maior tempão enrolando a tia Luiza antes de pedir ela em namoro e agora quer vim me ensinar?
— Alguém lembra pra ela que eu sou o tio e sou mais velho...
— Isso que dá ter essa cara de bebezão!
— E o melhor é já ter cabelo branco que nem você?
— Eu não tenho cabelo branco – passo a mão pelo cabelo.
— Por enquanto né, por enquanto – ele ri.
— Cala a boca, eu nem tava falando com você... E você, mocinha, não foge do assunto...
— AI MEU DEUS – ela joga a cabeça pra trás.
— É simples, você me diz quem é esse Pedrão e o assunto morre – ela me encara duvidando.
— Ou talvez ele morra, não sei, mas eu garanto que o assunto acaba – elas riem e Loui nega, já ia tentar novamente mas nossos pratos chegam. O almoço foi ótimo, a comida estava perfeita e acabamos rindo bastante juntos, pedimos sobremesa e Keyse come a dela e metade da minha torta de limão enquanto Loui briga com Pietro querendo experimentar a cheesecake de amora dele, ele faz um charme mas acaba liberando um pedaço e ela quase devora o resto, o que gera outra briga. Quando terminamos peço a conta e pago a de todos, saímos do restaurante e Pietro volta sozinho no carro dele enquanto eu levo elas de volta pra casa, paro o carro e elas logo descem e agradecem o almoço, Keyse vai pra casa e eu vou até a casa dos meus pais, bato uma vez e logo entro, mamãe está descendo as escadas e abre um sorriso quando me vê, vou até ela e beijo sua bochecha.
— Não vi os meninos hoje...
— Eles saíram cedo e foram pro Ryan... A piscina – eu falo resumindo a explicação.
— Ah claro, esse calor tá insuportável mesmo...
— Pyter! Eu queria mesmo falar com você – papai fala vindo do corredor – Eu tô com umas contas da padaria e eu não tô conseguindo entender muito bem...
— Por que você está velho, Peeta, e se recusa a usar uma calculadora...
— Eu sempre fiz os cálculos de cabeça – ele reclama.
— Há uns 20 anos atrás né
— Eu ainda dou conta de muita coisa...
— Ah por favor, me poupem, eu não quero ouvir sobre as aventuras de vocês – recebo um tapa da mamãe, mas papai acaba rindo.
— Anda, vão fazer a conta de vocês, vão – ela nos expulsa e eu o sigo até o escritório, os papéis estão em cima da mesa e ele me mostra tudo, eu o ajudo e cerca de umas meia hora depois ele finalmente consegue entender tudo.
— Ainda não entendo como você tirava notas tão baixa em matemática e consegue resolver tudo isso...
— Eu tinha 13 anos e não me importava muito com nada que fosse tão longe da quadra – ele ri.
— Você ainda tinha uns 8 anos quando disse que ia ser um campeão e muito famoso, e não é que você acertou – ele coloca a mão no meu ombro e sorri.
— É, eu tive um bom caminho... Mas você viu o noticiário de esportes hoje? – agora meu sorriso é tão orgulhoso quanto o dele.
— Claro que eu vi! Lucca Mellark, o favorito do ano...
— Ele vai ficar doido quando souber disso...
— Ele é igualzinho você era na idade dele.
— Mas vai ser melhor ainda!
— É, eu sei que vai, também, com um treinador desses...
— Você tá muito babão hoje – falo mas o puxo pra um abraço e bagunço os cabelos brancos dele que ri.
— Eu nem acredito que vivi o suficiente pra ver tudo isso... Quem sabe ainda consigo ver o Pietro casando...
— Ele só tá no tempo dele, mas o que importa é que eles dois estão felizes...
— É, eu sei! Mas seria muito bom ter uma criança por perto de novo, já que você e Pérola fecharam a fabrica... – eu forço um sorriso e penso em contar a ele sobre a conversa que eu e Keyse tivemos, mas desisto por que sei que será impossível controlar ele depois disso.
— Você ainda vai viver muito mais, então nem começa com esses papos estranhos – ele sorri e concorda.
— Vou manter minha esperança – eu sorrio.
— Mantenha! – nós saímos do escritório e encontramos mamãe na cadeira de balanço na varanda, papai se senta na outra cadeira ao seu lado e eu me sento no degrau da escadinha conversando com eles, até que Loui sai da casa dela e vem até nós, ela beija eles e se senta ao meu lado, ficamos conversando por um tempo, até que ela reclama do calor.
— Quer tomar um sorvete?
— Vai me fazer pagar o meu? – eu a encaro reprovando e ela ri e beija minha bochecha, fica em pé e me estica a mão, nos despedimos deles, peço pra avisa caso a Keyse me procure e saímos, com o calor que está fazendo não me assusto quando vejo a sorveteria cheia, nós esperamos um pouco e então chega nossa vez, nos sentamos em uma mesa que fica de frente para um ventilador.
— Então... Eu sou um tio tão ruim assim? – ela me olha confusa.
— Que o Pietro não nos escute, mas é o melhor do mundo – sorrio.
— Então por que você não confia mais em mim? – seus olhos são confusos e assustados.
— Claro que eu confio, você é tipo, meu melhor amigo...
— Tem certeza?
— Claro que eu tenho. Você é um chato as vezes, mas é claro que é, e você sabe disso...
— Eu achava que sabia... Até você começar a me esconder as coisas – ela já ia responder, então para e me encara.
— Você tá falando do lance do Pedrão?
— Parece que todo mundo sabe, menos eu... – ela ri, nega e coloca a mão por cima da minha.
— Tio, esquece isso, é sério – eu puxo minha mão.
— Eu só quero que você seja feliz, eu não vou ser o chato que te diz quem namorar...
— Eu sei disso...
— Então por que não me conta?
— Por que não tem nada pra contar!
— OK! Eu não vou insistir mais... Será que a gente pode ir? – pergunto já me levantando, ela não se levanta.
— Tio!
— O quê?
— Você pode sentar, por favor? – eu penso em ignorar, mas ela está usando aquela voz e o olhar que eu nunca consigo dizer não, então me sento.
— Você não precisa me contar mais nada, eu já entendi...
— Entendeu o quê?
— Você não é a mais aquela adolescente rebelde que vivia correndo pra eu te livrar das enrascadas, você cresceu, agora não precisa mais do tio idiota...
— Fala sério! Você tá sendo muito injusto...
— Realista – mantenho meu rosto sério.
— Tio, fala sério, nada mudou!
— É, tô vendo – uso o mesmo olhar que os meninos quando fazem os dramas deles.
— Droga! Elas vão me matar... – ela fala se afundando na cadeira.
— Quem vai te matar? – ela revira os olhos, respira fundo e solta o ar.
— Minha mãe e a Tia Keyse!
— O que tem elas? – ela me encara como se fosse óbvio, mas eu não entendo.
— Não existe Pedrão nenhum, elas decidiram inventar isso pra deixar você maluco, aí combinou com a vovó, a Luiza, a Nathy e até a tia Hazel...
— Desgraçadas – eu falo tentando ficar irritado, mas acabo achando graça – Eu não acredito que elas fizeram isso...
— A mamãe tava com raiva por que você comeu o ultimo pedaço do pudim lá de casa naquele dia e a tia Keyse, bom, sei lá, ela adora te zoar mesmo – ela dá de ombros – Elas me fizeram jurar que eu não ia contar pra você, então agora eu vou ter que arranjar uma passagem pra sei lá... Qual o lugar mais longe daqui? A lua, talvez...
— Relaxa, você tá sobre minha proteção!
— Se era pra me deixar mais calma, não deu certo, não – eu tento ficar sério, mas acabamos rindo.
— Então eu ainda sou o tio maneiro que você conta tudo?
— Você sempre vai ser, daaaanz – dessa vez quando me levanto, vou até ela e abraço meio exagerado. Depois de conseguir resolver o mistério, nós terminamos o sorvete e voltamos pra Vila, ela vai pra casa e eu também. Subo as escadas e escuto a música que vem do banheiro do quarto, vou até lá e Keyse está dentro da banheira, de olhos fechados, relaxada enquanto o telefone dela toca uma música meio agitada, eu sorrio e paro encostado na porta observando-a.
— Vai ficar só olhando ou vai me fazer companhia? – ela pergunta e então abre os olhos, eu sorrio e tiro minha roupa rapidamente, entro na banheiro e me encaixo atrás dela, suas costas relaxam sob meu peito e eu beijo sua cabeça – Ela te contou né?
— Como você sabe?
— Eu vi vocês dois saindo e era óbvio que você ia jogar todo seu drama de titio traído e magoado pra cima dela – eu acabo rindo.
— Você me conhece tão bem – eu a aperto nos meus braços e ela ri – E funcionou!
— Claro que funcionou! Nenhuma de nós consegue resistir muito tempo a você mesmo você sendo um idiota...
— Vocês me amam – ela vira o rosto pro meu e sorri.
— Muito! – também sorrio e a beijo.
Os meninos chegam no fim da tarde e Lucca está todo animado por que viu o noticiário falando dele, nós comemoramos comendo um bolo de laranja com calda que a Keyse fez e assistimos a um filme juntos, depois eles acabam subindo e dormem cedo já que estão cansados do dia que passaram na piscina. Eu e Keyse acabamos dormindo mais cedo que de costume também e quando abro os olhos o dia já amanheceu, os meninos se arrumam pra ir pra escola e pulam na cama pra se despedirem da Keyse que ainda está deitada com preguiça, quando eles saem eu também me jogo na cama ao lado dela e a puxo pra mim, beijando seu pescoço.
— Eu tive um sonho engraçado...
— Que sonho?
— Eu sonhei que a gente tinha uma filha – eu paro os beijos assim que ela fala, mas tento não parecer tão assustado.
— E ela era tão bonita quanto você? – ela sorri.
— Na verdade ela era a sua cara...
— UAU, mas tão linda assim? – ela me acerta um tapa e ri.
— A gente tava tão feliz... – eu sorrio e a libero dos meus braços, me deito virado pra ela e ficamos nos olhando por alguns segundos sem dizer nada – Eu tava pensando que... Talvez eu devesse parar de tomar a pílula...
— Hoje? – ela confirma – Eu achei que nós fossêmos conversar sobre isso de novo, com mais calma...
— É, eu sei, é só que... Bom, isso não quer dizer nada, eu tomei a pílula por anos, não quer dizer que eu vá engravidar logo de cara... Talvez eu nem consiga mais...
— Ou talvez consiga – ela me olha desconfiada.
— Você mudou de ideia?
— Não, eu só... – respiro fundo tentando pensar em como dizer a ela, que eu achei que ela fosse desistir depois desse mês, que ela veria que é loucura, mas não encontro nenhum modo de dizer isso, sem magoar ela – Achei que fossemos conversar de novo.
— Eu sei que isso parece loucura, mas sei lá, eu sinto como se a gente precisasse disso, não sei... Eu nunca pensei nisso depois de ter eles, eu achava que estava tudo perfeito, mas desde o aniversario da Bella, alguma coisa mudou, eu não sei, é como se sei lá, alguma coisa me incomodasse, eu não sei... Parece loucura, eu sei... – eu a puxo pra mim e beijo sua testa demoradamente, depois deixo nossas testas encostadas e olho em seus olhos.
— Nós nunca fomos normais mesmo – dou de ombros e ela me dá um sorriso fraco.
— Você realmente quer isso ou é só pra me agradar?
— Sinceramente? Não sei! – falo sinceramente e ela toca meu rosto e depois beija minha testa.
— Obrigada... Eu não quero te forçar a nada, quero que essa decisão seja nossa, então... Acho que podemos conversar sobre isso outro dia – ela garante e então se levanta.
— Onde você vai?
— Tomar a pílula – ela me dá um sorriso, não é o mais alegre, mas é sincero, eu concordo e afundo minha cabeça no travesseiro.
Quando chego no galpão Ryan está terminando de arrumar o espaço e eu o ajudo, ele conta que Bella já quer planejar uma festa na piscina e que ele tá pensando em vender ingressos pra tirar um dinheiro extra, eu acabo rindo, zoou junto com ele, mas não consigo parar de pensar no olhar da Keyse depois que tivemos aquela conversa, mas como os alunos começam a chegar, eu sou obrigado a me concentrar e tento fazer isso do melhor jeito possível. Na hora do almoço nós comemos num restaurante aqui perto, já que Nathy e Keyse não estariam em casa mesmo e logo voltamos para o treino da tarde, Lucca chega depois da escola e começa a treinar pesado, eu observo ele e também inicio o treino dos novatos, mas minha cabeça parece ainda mais aérea que antes e eu não consigo me concentrar.
— Pausa de 2 minutos – Ryan avisa as crianças que se jogam no tatame comemorando – Menos você, Lucca – ele aponta e Lucca faz uma cara trise, mas continua socando e chutando o saco de areia – Você vem comigo – ele fala me levando com ele para o escritório, entra e fecha a porta – O que tá pegando? Sua cabeça não tá aqui... De manhã já estava estranho mas agora tá pior... – eu passo a mão pelo cabelo sabendo que ele tem razão, então conto pra ele sobre a conversa, ele já sabia que sobre a intenção da Keyse.
— Eu não sei o que fazer! Eu não sei se estamos prontos pra ter outro bebê em casa, mas eu sei que isso é importante pra ela, eu vi hoje, ela realmente quer isso, de verdade...
— Você só precisa esfriar a cabeça... Pensar um pouco sozinho, só isso... Pensa no por que você acha que não estão prontos, por que não quer um outro bebê e sobre como seria se tivessem... Aí você vai achar sua resposta, eu sei que vocês vão se entender, só não se cobra tanto, relaxa um pouco... – ele fala com a mão no  meu ombro parecendo confiante, mas eu não estou muito – Quer saber? Eu termino o treino hoje, os meninos tem um trabalho de história pra terminar, quando acabar o treino eu levo eles lá pra casa e quando terminarem o trabalho deixo eles na sua casa, enquanto isso, você vai pro único lugar onde você consegue relaxar... – ele me dá um sorriso encorajador.
— Obrigado – ele revira os olhos, abre a porta e praticamente me empurra pra fora.
Saio do galpão, entro no carro e vou até o limite do Distrito com a floresta, estaciono, desço, vou até a parte da cerca que pode ser aberta e entro no meu lugar preferido de todos, só de sentir o aroma e ver todo esse verde de tão perto já me sinto relaxar, pego a trilha principal e ando sem precisar olhar muito o caminho, por que sei tanto quanto conheço minha casa, depois de uns 10 minutos caminhando, vou até o tronco oco e pego meu arco, nunca tivemos permissão de levar armas pra casa e isso se mantem até hoje, qualquer arco ou flecha ficam da cerca pra cá, pego o meu, recupero as flechas escondidas em outro tronco e ando até o lago, um sorriso aparece naturalmente quando vejo o lugar, ando até a beirada, tiro meus sapatos e molho meus pés na agua gelada e refrescante, me abaixo e molho meu rosto e a nuca, os patos que estão nadando nem se importam com minha presença, e os pássaros param quase aos meus pés e então me lembro mais uma vez por que amo esse lugar, é por que tudo parece em perfeita paz aqui dentro, mesmo que pro lado de lá da cerca o mundo as vezes esteja confuso, assim como minha cabeça está agora. Eu me sento na beirada do lago e fico apenas observando, absorvendo os sons e os aromas, sentindo meus pensamentos tentando tomar um lugar coerente, me lembro dos olhos decepcionados da Keyse e me sinto culpado, mas ao mesmo tempo, não sei se realmente ela está pensando com a razão ou apenas ainda está sentimental por causa da Bella, ela realmente ficou mexida vendo toda animação da Nathy e da filha e talvez seja isso que esteja falando mais alto e se for isso, eu devo ser a parte racional de nós dois, aquela que faz o que deve ser feito, porém e se não for só isso? E se realmente ela percebeu que quer mais um filho? Que é disso que ela precisa pra ser totalmente feliz, como eu posso negar isso para a mulher que eu amo e que sempre me deu tudo que eu preciso? Eu não posso fazer isso com ela.
— MERDA – eu xingo e me jogo deitado pra trás, encaro as folhas das arvores e o pedaço do céu que escapa entre elas, fico alguns minutos apenas assim e então me levanto, caminho de volta até as arvores marcadas com o alvo, pego meu arco e as flechas, respiro fundo e então atiro, uma vez, depois outra, depois outra, depois outra, até completar os oito tiros certeiros, sorrio orgulhoso de mim mesmo e de não ter perdido nenhum pouco da prática, então ouço um barulho vindo do outro lado, ainda tenho uma flecha, coloco no arco e olho na direção do barulho, dou dois passos lentos e então vejo o vulto, miro, mas algo me para, são dois olhos no meio das folhas, mas não são olhos de animais, abaixo o arco quando reconheço, é apenas uma criança, ela está abaixada atrás de uma moita tentando se esconder.
— Oi! – eu falo e me aproximo devagar, leva alguns segundos e então a figura se mostra, é uma menina, realmente uma menina, ela deve ter no máximo uns seis anos, ela parece um pouco assustada, mas ainda assim me encara firmemente, sua pele é cor de chocolate, seus olhos são quase do mesmo tom que sua pele, ela tem um boné preto na cabeça, está com um casaco de adulto que arrasta aos pés dela e sobre seus braços, ela está suja e ao que parece sozinha.
— Oi – sua voz é doce, mas desconfiada.
— Você me assustou, achei que fosse um lobo... – ela ri – Meu nome é Pyter! – eu falo e me abaixo ficando apoiado em um joelho e ainda assim fico mais alto que ela, estico minha mão e ela dá um passo desconfiado e aperta – Qual seu nome?
— Iris! – ela fala levando o dedo até a boca.
— É um nome lindo! – ela não sorri, apenas me olha desconfiada.
— Você usa pra caçar? – ela pergunta apontando o meu arco.
— Geralmente só uso nas arvores... – aponto para as que eu acertei – Você já viu um desses antes? – ela me analisa por alguns segundos, então volta até a moita, se abaixa e pega algo, ela traz até a mim um arco feito com pedaços de madeiras e gravetos, nem se longe é como o meu, mas é realmente surpreendente – Você que fez? – ela concorda com a cabeça – Uau, você é boa! – eu examino o arco e realmente é impressionante que ela tenha feito algo assim – Quantos anos você tem?  - ela mostra o numero 6 com os dedos – Você é daqui do 12? – ela nega.
— Do 11!
—E você veio pra cá sozinha? – ela concorda – Se perdeu? – ela nega e dessa vez parece inquieta, pega o arco dela da minha mão e me olha como se eu fosse fazer algo com ela – Você tá aqui na floresta sozinha? – ela confirma – Desde quando?
— Quando as chuvas pararam – ela fala e isso tem quase um mês.
— E por que você tá aqui? – ela dá de ombros, então vejo a mão direita dela enrolada em um pedaço de pano manchado de sangue – Posso? – pergunto apontando pra sua mão.
— Dói! – ela esconde a mão por proteção.
— Eu só quero ver se posso te ajudar... Não vou te machucar – ela me observa tomando uma decisão então me estica a mão, eu desenrolo o pano e então encontro um corte no meio da palma da mão dela, está vermelho, inchado e parece inflamado, além de estar sujo, eu toco em volta e ela solta um gemido de dor, eu paro – Você precisa tomar um remédio e fazer um curativo... Eu posso te levar no hospital... – ela puxa o pano da minha mão, encolhe a mão machucada e se afasta de mim rapidamente – Eu levo você lá e eles vão cuidar de você – seus olhos não são mais desconfiados, agora são assustados e irritados, ela pega o arco dela e se afasta de mim – Ei, espera! – ela me ignora e começa a andar pro meio da mata – Você não pode ficar aqui sozinha – vou atrás dela.
— ME DEIXA! – ela grita e corre, eu levo um segundo pra decidir e corro atrás dela, conheço a mata como minha mão, mas ela é pequena, ágil e parece assustada, então demoro um pouco até conseguir alcança-la e preciso segurar ela pra que ela pare, então ela começa se sacudir desesperada.
— Eu não vou te machucar, eu só quero te ajudar...
— Eu não vou em lugar nenhum...
— Tudo bem! Não vou te levar no hospital – ela pare de se debater na hora e me olha – Você sabe o que é uma promessa? – ela não responde – É quando você diz alguma coisa e tem que cumprir, então eu te prometo, eu não vou levar você no hospital e nem em nenhum lugar que você não queira ir. É uma promessa! – ela se acalma, sua respiração se acalma também e eu a solto, dessa vez ela não corre – Eu não quero te fazer mal, só quero te ajudar...
— Eu não vou voltar – ela avisa e eu concordo.
— Tudo bem! Mas posso te ajudar com sua mão? – ela olha pra mão e depois pra mim, então balança a cabeça afirmando – Mas a gente tem que voltar pro lago – estico a mão pra ela que aceita segurando com a mão boa, andamos em silêncio até o lago, me aproximo da beirada, nos sentamos e eu lavo a mão dela com cuidado, ela geme de dor e faz algumas caretas, mas consigo pelo menos tirar a sujeira e o sangue preso – Como você fez isso?
— Eu dormi em cima da arvore e ia cair, aí segurei no galho e cortou...
— Você dorme aqui na floresta?
— Em cima das arvores, tem muito bicho de noite aqui embaixo – ela responde como se fosse algo normal.
— E por que você tá morando aqui na floresta, sozinha?
— Eu não quero volta pra casa – sua voz e seu rosto mudaram rapidamente.
— Por que não? – ela não responde – Cadê sua mãe? – ela abaixa a cabeça e olha pro lago, seu solhos se enchem de lagrima – Seu pai? – novamente sua expressão muda – Pode confiar em mim, eu só quero ser seu amigo – ela levanta os olhos do chão e olha pra mim.
— Promete? – eu confirmo com a cabeça.
— Prometo! – ela respira fundo, remexe em uns matinhos que tem aos pés dela e dá de ombros.
— O Phill, me bate muito e dói e eu não quero mais apanhar – eu sinto um nó na garganta quando sinto a dor na voz dela.
— Quem é Phill? E por que você não conta pros seus pais? – ela me olha.
—  O Phill é meu pai! – eu não consigo disfarçar o choque.
— Ele é seu pai e ele que te bate?
— É! Mas ele não gosta que eu chame ele assim...
— Assim como?
— De pai – ela dá de ombros – Se eu chamar ele me deixa sem comer... – eu ainda estou em choque e sinto algo que nunca senti antes.
— Ele te deixava sem comer?
— Se eu fizesse coisa errada, ele me batia e não deixava eu comer, era pra eu aprender...
— E sua mãe? – ela volta a encarar o chão e vejo uma lagrima rolar – Ela também fazia isso com você? – ela nega.
— Ela morreu... – sinto a dor ainda mais forte na sua voz e queria poder fazer sumir, mas a revelação a seguir me faz parar – Eu matei ela...
— Quê? Como assim?
— O Phill disse que eu matei ela quando nasci. É tudo culpa minha, por isso que ele me odeia – então ela começa a chorar, aqui na minha frente, ela chora com tanta dor que eu preciso respirar o mais fundo que consigo pra não chorar junto com ela, eu levanto seu rosto pra mim.
— Isso não é verdade – eu afirmo mas ela nega.
— É sim!
— Não, não é! Você não tem culpa de nada do que aconteceu... As vezes as pessoas morrem e não é culpa de ninguém... – eu enxugo as lagrimas do rosto dela – Olha pra mim... – eu peço e ela obedece – O que o Phill fazia com você é errado! Ele não podia fazer isso e você não precisa ficar aqui na mata pra fugir dele, eu posso te ajudar, posso te levar daqui e arranjar um lugar pra você ficar...
— Não! Ele disse que se me achasse de novo ele ia me bater mais do que as outras vezes...
— Você já fugiu antes?
— Ano passado! Mas ele me achou...
— Eu não vou deixar ele te achar. Confia em mim. Olha, você não tá mais no 11, você tá no 12, ele não vai te achar aqui, pode confiar em mim... A noite vai cair e eu não posso te deixar aqui sozinha, eu posso te ajudar, te dar comida... – os olhos dela se arregalam – Quando foi a ultima vez que você comeu?
— Ontem de manhã!
— Você caçou? – ela nega.
— Não consegui. Eu peguei do mercadão...
— Você roubou?
— NÃO, roubar é errado – ela fala ofendida – Eu peguei o que eles jogaram fora... Mas não tava muito ruim – meu peito se aperta de novo e se eu tinha alguma duvida não tenho mais, eu não vou deixar ela aqui.
— Então você vem comigo, na minha casa tem comida, você pode comer o que quiser...
— Eu não quero voltar pro Phill...
— Olha pra mim, você nunca mais vai voltar pro Phill, você entendeu? NUNCA MAIS. É uma promessa e eu sempre cumpro minhas promessas! – um pouco do medo que ela tinha nos olhos some, então fico em pé e lhe ofereço minha mão, ela aceita, nós fazemos o caminho para sair da mata e enquanto caminhamos de mãos dadas eu olho pra ela ainda tão pequena tendo que ter passado por tudo isso, eu nem imagino como foi pra ela passar um mês sozinha aqui na mata, dormindo em arvores e comendo comida do lixo, consigo imaginar menos ainda ela morar com um monstro como o pai dela.
— Você é rico? – ela olha pra mim do nada, com aqueles olhos curiosos.
— Eu não acho! – ela ri e pela primeira vez eu enxergo apenas uma menininha de seis anos.
— Você tem cara de rico – ela garante e eu acabo rindo, continuamos o caminho e ela parece menos desconfiada de mim e começa a fazer perguntas – Você tem outro arco?
— Tenho, eles ficam escondidos aqui na mata...
— Você podia me dar um pra quando eu voltar pra cá, o meu é meio fraco as vezes e não consigo acertar quase nada...
— Você não vai voltar pra cá! – ela para assim que eu falo – EU vou te ajudar a ir pra um lugar legal e sem o Phill... – ela respira aliviada e volta a andar.
— Eu acho aqui legal, só de noite que dá medo, por causa dos barulhos...
— É, eu imagino.
— Mas o lago é bonitão!
— É, lindo mesmo...
Nós alcançamos a cerca, eu abro e vou na direção do carro.
— AH EU SABIA QUE VOCÊ ERA RICO – ela fala rindo vitoriosa, eu acabo rindo, abro a porta e a coloco no banco do carona, boto o cinto e fecho a porta, entro e dou partida no carro.
Quando chego na Vila, não vejo ninguém e logo entro em casa com ela, seus olhos se arregalam e ela para na frente da escada olhando ao redor – Sua casa é muito grande – ela parece impressionada – Tem até escada – ela toca o degrau e sorri.
— Você gostou?
— É muito bonita...
— Obrigado! Depois eu te mostro tudo, mas agora você precisa botar um remédio e fazer um curativo na sua mão – eu aviso e a levo para o banheiro do corredor, coloco ela sentada no vaso, abro o armário e pego a maleta de primeiros socorros, lavo a mão dela de novo, dessa vez uso sabonete, ela reclama um pouco mas me deixa fazer tudo, limpo, passo o remédio, pomada e coloco um curativo – Pronto! Agora é melhor, isso podia infeccionar...
— O quê que é fexonar? – eu ri.
— É INFECCIONAR... É quando você não cuida de um machucado, aí pode te dar febre, muita dor e você fica doente... – ela parece pensativa – Tá com fome? – seus olhos brilham – Vamos, vou ver o que posso fazer, mas é melhor eu avisar que não sou bom na cozinha... – levo ela pra cozinha, a coloco sentada na cadeira e pego tudo que tem pra fazer um sanduiche, pedaços de carne, maionese, queijo, tomate e folhas de agrião, preparo um copo de suco de laranja e coloca na frente dela, antes que eu possa dizer que ela pode comer, ela está devorando o lanche, me sinto divido vendo-a assim, uma parte está feliz por ter dado algo pra ela e outra está destroçada por ela ter passado por tanta coisa.
— PYTER, VOCÊ NÃO VAI ACRE... – Keyse para assim que alcança a porta da cozinha e nos vê, Iris para de comer e solta o sanduiche no prato, ela se levanta como se estivesse pronta pra correr.
— Tá tudo bem, ela é minha esposa, ela é legal... – eu falo tentando acalmar a Iris, ela ainda aparece desconfiada – Keyse, essa é a Iris... Iris, essa é a Keyse... – Keyse se aproxima e abaixa na frente dela.
— Oi! – ela fala e Iris me olha, depois volta a olhar pra Keyse.
— Oi! Eu já vou embora, não vou demorar...
— Você não precisa ir embora agora, a gente ainda nem se conheceu... – Keyse usa aquele sorriso que conquista qualquer pessoa e então Iris sorri – Foi ele que fez esse sanduiche? – Iris confirma e Keyse faz uma careta – Meus sanduiches são melhores que o dele...
— Tá gostoso, você quer? – ela oferece pra Keyse.
— Esse é seu! E ele não sabe cozinhar – ela finge sussurrar e Iris ri.
— Mas ele é muito legal, ele me ajudou com meu machucado pra eu não morrer de fexão...- eu acabo rindo.
— Infecção! Ela tá com um corte na mão...
— Não é melhor ir pra um hospital...
— Não! – eu e Iris falamos juntos e enquanto Keyse parece confusa, Iris me dá um sorriso agradecido e eu sorrio de volta – Eu fiz um curativo.
— Ok, então ela está a salvo – Keyse fala e sorri pra Iris, então a mãozinha sobe no ar e lentamente toca o rosto da Keyse.
— Você parece uma princesa – ela fala do jeito mais natural e sincero que só as crianças podem fazer, Keyse me olha e vejo a emoção em seus olhos, mas logo volta a olhar pra Iris.
— Eu pensei a mesma coisa quando te vi...
— Eu tô suja – Iris fala e olha pra própria roupa – E fedida! Você não! Você é muito linda...
— Você também é linda, e sabe como eu sei que você é uma princesa? – ela nega – Por que uma princesa de verdade não é a roupa bonita, nem o perfume, ela é princesa aqui dentro... – Keyse leva o dedo até a direção do coração dela – E aqui ... – ela mostra os olhos – E você tem coração e olhos de uma princesa – Iris abre o maior sorriso que eu já vi ela abrir até agora – E tem mais um segredo, quer saber qual?
— Quero!
— Só uma princesa consegue reconhecer outra – as duas sorriem e Keyse abraça Iris.
— Eu também soube que você era uma princesa assim que eu te vi...
— Mas você achou que eu era um lobo – ela fala e eu e Keyse acabamos rindo.
— É por que ele ta ficando velho, aí não enxerga de longe – eu faço sinal de positivo com o dedo.
— Agora é melhor você terminar de comer, eu preciso falar com a Keyse... – Iris concorda e se senta na cadeira voltando a devorar o sanduiche, eu e Keyse saímos da cozinha.
— Onde você encontrou ela?
— Na mata!
— Sozinha?
— Ela fugiu de casa... – então eu conto tudo que ela me disse, o jeito que a encontrei na mata, o medo dela de acabar na casa do pai de novo e de como ela confiou em mim.
— E o que a gente faz agora?
— Eu não sei, mas eu não podia deixar ela sozinha lá...
— Eu sei, claro que não podia, você fez o certo... Eu só não sei quem a gente procura pra ajudar ela...
— Ela não pode voltar pras mãos desse monstro!
— Ela não vai voltar – ela me afirma e me dá um sorriso encorajador – Nós vamos pensar em algo, mas agora eu vou preparar um banho pra ela... – ela avisa me beija e sobe as escadas correndo, volto pra cozinha e Iris está terminando o copo de suco.
— Já acabei! – ela fala quando me vê e se levanta.
— Eu só não te ofereço outro por que a Keyse iria me bater se deixasse você comer de novo e não jantar – ela abre os olhos surpresa.
— Eu vou dormir aqui?
— Claro que vai...
— Ô PAI, PAI, VOCÊ ... – a gritaria para quando Lucca entra na cozinha e nos vê, Theo vem logo atrás dele e também parece surpreso.
— Oi! Eu sou o Lucca e esse é o Theo – Lucca como sempre sai se apresentando sem esperar eu dizer nada e como se fosse algo normal.
— Vocês são iguais! – ela fala achando engraçado.
— Claro que não, eu sou mais bonito – ela ri.
— Vocês são iguais!
— Ih, acho que você tá meio doida, eu sou muito mais bonito que ele – Theo fala e ela ri, ri de verdade.
— Para de enganar a garota, eu que sou mais bonito – Lucca fala como se fosse óbvio.
— Os dois são... – eles riem e eu tomo a frente.
— Meninos essa é Iris... Iris, esse é o Lucca e esse o Theo...
— Você é pai deles? – ela pergunta curiosa.
— Sou!
— Legal...
— Nem tanto, as vezes ele beeeeeeem chato – Theo fala fingindo sussurrar e eu faço uma careta, Iris ri.
— Eu também quero rir – Keyse fala entrando na cozinha.
— Eu só disse a verdade sobre o papai...
— Que ele é um chato? – Keyse fala e eles riem enquanto eu me faço ofendido.
— É mentira, eu sou super legal – eu garanto e ela sorri.
— Você quer ver uma coisa maneira? – Lucca pergunta pra Iris e ela concorda, então ele pega o tablete de dentro da mochila que ele carregava, digita algo rápido e então se ajoelha ao lado dela mostrando a gravação do noticiário de hoje.
— É você! – ela aponta pra tela e abre a boca surpresa.
— É sou eu mesmo, e tô muito gato né – ela ri tampando a boca com as mãos.
— Ele apareceu na televisão!
— É, um rostinho desse não pode ficar escondido... – eu tenho quase certeza que ela não entendeu de verdade o que ele disse, mas ela ri tanto ou até mais do que nós e isso me deixa feliz.
— A Iris vai passar essa noite com a gente, então acho que vou precisar de ajuda pra arrumar o quarto de hospedes – eu falo e os meninos logo me acompanham, deixamos Keyse e Iris na cozinha.
Assim que entramos no quarto Theo quem pergunta primeiro.
— Ela mora na rua?
— Eu encontrei ela na mata... – então explico como tudo aconteceu, falo sobre a fuga, sobre como ela era tratada e por que fez isso, eles me ouvem atentos e quando termino parecem tão revoltados quanto eu fiquei.
— Quero ver se ele tem coragem de chegar perto dela com a gente perto agora – Lucca fala irritado.
— Eu não quero vocês pensando nisso, só contei pra que saibam a verdade e entendam ela, mas o que eu quero é que a gente faça ela se sentir em casa hoje, posso contar com vocês?
— Claro – os dois falam juntos, então trocamos a roupa de cama e eu saio do quarto, Keyse e Iris estão entrando no nosso quarto e vou atrás delas.
— Eu preparei um banho pra você e separei uma roupa limpa, eu acho que vai ficar um pouco grande mas vai servir... – Keyse estica a mão pra ela e elas entram no banheiro.
— É uma piscina! – Iris fala com os olhos brilhando de empolgação, Keyse ri.
— É uma banheira e eu coloquei bastante espuma, espero que você goste – seria impossível não perceber o brilho que iluminou seu rosto todo, ela concorda e Keyse ajuda ela a tirar a roupa, ela tira o chinelo, arranco o boné, mostrando uma confusão de cabelos cacheados, então Keyse a ajuda com o casaco, quando ela o tira e Iris fica apenas de calcinha eu começo a sentir algo que nunca senti antes, é uma mistura de ódio, raiva e inutilidade tão grande que eu sinto que meu peito pode explodir, os músculos do meu corpo se tencionam e como instinto cerro os punhos, Keyse vira o rosto pra mim, o horror estampado em seus olhos e eu sei que ela sente o mesmo que eu, ela volta a olhar pra Iris e sei que ela precisa de toda força do mundo pra conseguir abrir a boca e falar.
— O que foi isso? – Keyse desce os dedos por uma das muitas marcas que ela tem no corpo, essa é na altura das costelas dela, é a marca de queimadura, do que parece ser um garfo, Iris dá de ombros e passo o dedo pela cicatriz.
— Foi o Phill...
— E por que ele fez isso? – ela dá de ombros e me olha envergonhada.
— Eu queimei o mingau...
— Você que fazia seu mingau? – Keyse pergunta ainda surpresa.
— A comida toda, mas eu não consegui alcançar o fogo antes e queimou...
— Anda, melhor você entrar ou a agua vai esfriar – Keyse fala tentando parecer animada e cortando o clima, mas assim que ela se vira pra andar até a banheira e eu vejo as marcas nas suas costas eu só sinto ainda mais ódio do que estava antes, os ombros e as costas dela são cheias de cicatrizes, como se alguém tivesse arranhado-a ou lhe queimado, Keyse também parece chocada novamente e dessa vez eu não consigo disfarçar, então apenas viro as costas e saio, eu desço as escadas correndo, vou direto pro quintal na parte de trás, eu chuto o ar e cerro os punhos o máximo que consigo, mesmo assim ainda sinto a raiva fervendo na minha veia, tudo que eu queria agora era encontrar esse desgraçado e me certificar que ele sinta o dobro de dor que ela já deve ter sentido, quero que ele sinta tanta dor que implore pra morrer, é isso o que eu quero.
— A mamãe tá te chamando! – Theo avisa parando na porta, eu forço um sorriso, respiro fundo e fecho os olhos por alguns segundos, então entro, subo as escadas e vou pro quarto.
— Eu preciso preparar o jantar – ela explica e eu concordo – Ela ainda tá na banheira...
— Ok – ela me olha, se aproxima e coloca a mão no meu rosto.
— Você tá bem? – eu nego.
— Você viu? Viu as costas dela? Viu o corpo dela? Como que... Que espécie de monstro ele é? – eu começo a me exaltar e ela coloca a mão no meu peito pra que eu me acalme.
— Eu sei, eu sei... É horrível, mas ela tá segura agora, nós vamos ajudar ela, certo? – eu balanço a cabeça concordando mas sinto que nada está certo – Vai ficar tudo bem – não tenho tanta certeza, mas concordo, ela fica na ponta do pé e beija minha boca rapidamente, então sai do quarto, eu fico parado respirando fundo e criando forças então vou até o banheiro e a cena me faz perder parte de toda raiva, Iris está sentada na banheira com a cabeça cheia de espuma assim como as mãos, ela assopra e solta uma risada quando a espuma se espalha e voa antes de afundar na agua, sua risada é inocente, seus olhos são doces e puros e ela parece ainda mais nova quando está sem todo aquele escudo protetor.
— Tem cheiro de morango – ela fala e me estica um vidro de shampoo, o preferido da Keyse, eu sorrio e sinto o cheiro mesmo que já o conheça perfeitamente, faço uma cara de satisfação e ela sorri.
— Posso? – pergunto pegando o vidro e apontando pra cabeça dela, ela me olha meio confusa – É de passar no cabelo – eu explico e ela arregala os olhos impressionada, eu me ajoelho na beirada da banheira e a faço virar de costas pra mim, despejo o liquido no seu cabelo e massageio levemente com as mãos, ela ri e se encolhe todo, quase sumindo debaixo da espuma.
— Faz cosquinha – ela ri se esquivando, eu acabo rindo também.
— É pra você ficar cheirosa...
— É, eu tava fedida – ela faz uma careta, eu penso em dizer que não estava mais ela não é boba e não me sinto bem em tentar fazer ela parecer assim.
— Mas agora vai ficar tão cheirosa que os perfumes vão ter inveja de você – ela ri, uma risada alta.
— Igual a Keyse?
— Mais do que a Keyse – eu finjo sussurrar e faço sinal de segredo, ela ri escondendo o rosto com as mãos, ela me deixa voltar a lavar sua cabeça, massageio e depois com um pote jogo a agua pra me livrar do creme no seu cabelo, tendo cuidado com o ouvido dela.
— Por que você ta fazendo isso? – ela pergunta curiosa.
— Tem que tirar, você não pode ficar com shampoo pra sempre...
— Não, por que você me trouxe pra cá? – eu paro sem saber ao certo o que dizer.
— Eu gostei de você – decido partir do mais fácil, ela se vira rápido pra mim e quase molho seu rosto.
— Você não tem medo de mim? – eu nego sem entender como poderia ficar com medo dela.
— Por que você tá perguntando isso? – ela dá de ombros.
— Todo mundo tem... Quando eu passei pelo mercadão eles ficarão me olhando com medo, acho que pensou que eu ia roubar, mas eu não roubo...
— Eu sei que não, eles só são meio burros... – ela ri.
— A moça da fruta disse que eu era nojenta – ela fala ainda magoada, sinto o nó na minha garganta – Mas amanhã quando eu voltar lá ela vai que eu tenho cheiro de morango – ela fala e abre um sorriso orgulhoso – Você acha que a Keyse me dá esse creme? Quando eu tomar banho no lago, eu passo, aí as pessoas não vão me olhar feio...
— Ninguém mais vai te olhar feio, eu prometi que ia achar um lugar legal pra você, não prometi? – ela faz que sim com a cabeça – Então! E eu garanto que vai ter muitos cremes cheirosos lá – ela sorri animada – Agora é melhor a gente sair antes que você vire uma espuma – aviso fazendo cara de assustado e ela ri, pego a toalha e a ajudo a sair da banheiro, enrolo nela e a pego no colo pra que ela não caia e então percebo que ela está muito mais magra do que parece, é como pegar alguns quilos de açúcar, caminho até a cama e coloco em pé nela, Keyse separou uma roupa que era de um dos meninos quando eles eram crianças, algumas das poucas que não doamos, eu a ajudo a se vestir tentando ignorar as marcas que estão pela sua costela, barriga, ombros e costas, quando termino ela está perfeitamente vestida em uma calça cinza de moletom e uma camiseta verde com a cara de um leão na frente, os cabelos ainda estão muito molhados, então a levo de volta pro banheiro, coloco-a sentada na pia e ligo o secador que Keyse usa, Iris faz uma careta para o ar quente mas me deixa tentar secar, os cachos do cabelo dela estão um pouco embolados, então pra passar o pente dão um pouco de trabalho, mas quando termino parecem bem mais limpos e comportados, eu a viro pro espelho e ela sorri.
— Eu vou poder ficar com essa roupa?
— Você gostou? – ela faz que sim – Então é sua agora – ela sorri e olha para o leão na camiseta, eu refaço o curativo da sua mão e saímos do quarto, descemos as escadas e vamos até a cozinha.
— Olha, você ficou muito bem – Keyse fala fazendo cara de impressionada.
— Eu tô com cheiro de morango – ela fala indo até Keyse pra cheirar ela.
— Uau, você ficou mais cheirosa que eu...
— Eu disse!
— OLHA, OLHA, OLHA, CORRE, VEM PAI, MÃE, IRIS – Lucca quase nos puxa pra fora cozinha para a sala, quando chegamos a foto dele está estampada na tv novamente.
“Com apenas 15 anos, Lucca Mellark já é o grande destaque de toda temporada, ele acabou de ser confirmado essa manhã para o Campeonato de Juniores Nacional e é disparado o preferido de todos que acompanham o evento, ele que já vem de uma carreira no Distrito 12, onde é o campeão atual tem conseguido despertar o interesse de muita gente, muitos apostam que ele consegue superar o pai, o já conhecido e também campeão Pyter Mellark...” – então uma foto minha aparece e Iris solta um som alto de surpresa, nós rimos – “Mas ao que parece o filho tem tudo pra superar o pai que não teve um Campeonato Nacional no histórico devido a um banimento, dias antes da Competição, já o garoto, promete deixar todos os torcedores impressionados, então só nos resta aguardar o inicio do Campeonato” – a mulher termina e começa outro assunto.
— Imagina só quando eu ganhar... – Lucca fala já sorrindo vitorioso.
— Antes você precisa continuar treinando...
— Eu sei, hoje o tio Ryan me ajudou com as finalizações...
— Isso aí, garoto – eu o puxo pra um abraço orgulhoso e beijo sua cabeça.
— E você? Como foi o treino de basquete? Não é só por que acabaram de ganhar que vão descansar não né? – ele ri e nega.
— Amanhã o treino é dobrado ...
— Isso aí – bato com a mão na dele e também beijo sua cabeça, ele faz parte do time de basquete e semana passada ganharam o estadual, sendo a maior pontuação da partida, as dele.
— E você? Sabe jogar alguma coisa? – Lucca pergunta pra Iris.
— Não, eu não tenho amigos – ela dá de ombros.
— Bom, agora você tem dois – Theo fala e ela sorri.
— E nós vamos começar te ensinando a melhor coisa do mundo... – Lucca faz um suspense e Theo completa.
— Video game! -
— Ah nem pensar, só depois, o jantar tá quase pronto e preciso que alguém bote a mesa... – eles fazem caretas, mas se afastam da tv.
— Quando ela fala assim a gente tem que obedecer se não ela fica reclamando a noite toda... – ele explica pra Iris, nós vamos todos para cozinha, ajudamos a por os pratos, talheres e copos na mesa, então Keyse coloca as duas panelas no meio e nos sentamos, o jantar é macarrão com molho de carne e os olhos da Iris brilham quando sirvo seu prato, os meninos enchem os pratos e devoram como sempre fazem, quando terminamos eu e Keyse ficamos com a louça do jantar e eles sobem junto com a Iris.
— Eu quero ele na cadeia – eu falo quando Keyse me passa um prato pra enxugar.
— Eu quero ele morto – ela dá de ombros.
— A morte é pro pouco pra ele... – ela apenas me olha e depois volta a lavar outro prato.
— E você já sabe o que fazer?
— Eu vou atrás da ficha dele...
— E ela? Como ela vai ficar? – então eu não tenho resposta, por que eu não sei, só não posso largar ela com qualquer um.
— Talvez minha mãe possa ajudar com isso – eu falo sem ter certeza de nada, mas Keyse concorda, ela coloca a mão na minha e olha nos meus olhos.
— Eu tenho muito orgulho de você, sabia? – ela se aproxima e me abraça, eu aperto meus braços em volta dela e afundo meu rosto no seu cabelo – Vai ficar tudo bem – não tenho certeza se ela disse isso pra mim ou pra si mesma, mas não digo nada, terminamos de arrumar a cozinha em silêncio e então apagamos tudo e subimos as escadas.
As vozes altas e risadas invadem o andar de cima, eu e Keyse vamos até o quarto deles, Iris está sentada entre os dois e enquanto Theo vai dizendo a ela o que fazer e Lucca tenta ganhar dela, eles riem e Theo reclama Lucca roubou e não valeu, mas Iris não parece se importar muito se perdeu ou não, ela apenas gargalha entre eles.
— Amanhã tem aula – Keyse fala dando uma batida na porta, eles fazem careta, mas desligam a tv.
— A Iris pode dormir aqui no quarto? – Lucca pergunta e Keyse me olha.
— A gente coloca um colchão aqui e ela pode dormir na minha cama – Theo sugere.
— Você quer, IRIS? – ela abre um sorriso grande.
— Quero! – então Theo me ajuda e colocamos o colchão entre as duas camas arrumamos tudo – Eu fico no baixo – ela fala indo pro colchão.
— Não, você fica na minha cama, você é menina e é visita – ele explica e ela parece indecisa, eu a coloco na cama, ela se deita e eu puxo a coberta pra cima dela.
— Eu nunca dormi numa cama – a confissão faz até os meninos se levantarem e olhar pra ela.
— E onde você dormia? – ela dá de ombros.
— No chão!
— No chão? Até quando você tava em casa? – Theo parece confuso e ela afirma.
— Não tinha cama? – Lucca também não entende.
— Tinha uma, mas era do Phill – eles me olham irritados.
— E você dormia no chão?
— Dormia.
— Num colchão? – Theo pergunta curioso.
— Com o lençol.
— Só o lençol?
— Lucca, por favor – Keyse fala pra que ele encerre o assunto, mas ele está impressionado demais pra evitar.
— Mas e quando tava frio?
— Eu dormia perto do fogão – um minuto de silêncio se estende e ninguém sabe o que dizer.
— É melhor vocês dormirem agora – Keyse avisa e beija os meninos, eu dou boa noite pra eles e já ia sair de perto da cama onde Iris está quando ela segura minha mão, eu paro, ela se levanta e me  abraça, uma mistura de emoções me atinge, eu sinta tantas coisas que apenas a abraço mais apertado.
— Não me deixa voltar pra lá! – ela pede com a voz assustada.
— Você nunca mais vai voltar pra lá, eu prometo – ela sorri e beija minha bochecha, então eu a coloco deitada de novo e saio do quarto, fecho a porta e vou pro meu quarto, Keyse está parada no meio do quarto me esperando.
— Eu não posso entregar ela... – eu confesso.
— Eu sei que não!
— Não, Keyse, você não entendeu. Eu realmente não posso entregar ela. Pra ninguém! Eu amo você, você sabe disso... Eu sei que tudo que a gente tem foi por que construímos e decidimos juntos e eu não quero que isso mude, mas eu realmente não posso deixar ela sair daqui, eu não sei o que você pensa sobre isso, mas eu não posso... Não vou conseguir... Eu quero ela por perto. Perto de mim. Da gente... – confesso sem saber como dizer isso.
— Pyter, você tá maluco? – ela me olha confusa e eu começo a me preparar para uma discussão – Eu passei o mês inteiro dizendo e sonhando em ter outro filho... ou melhor, uma filha... Você realmente acha que agora que ela apareceu, eu a deixaria ir embora assim tão fácil? – eu levo alguns segundos pra entender, então Keyse sorri, ela segura minha mão e toca meu rosto –Eu não sei como ela apareceu nas nossas vidas, nem por que agora, mas eu te garanto que no que depender de mim ela não sai mais... – eu a abraço apertado, o máximo que consigo e ela faz o mesmo comigo.
— Obrigado! – eu falo no seu ouvido e ela sorri.
— Eu disse que você estava pronto – ela fala quando eu a coloco no chão.
— Parece que você sempre está certa – ela sorri orgulhosa.
— Eu sempre soube disso – nós dois rimos e eu a abraço de novo com a certeza que eu nunca poderia ter escolhido melhor.


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Notas finais do capítulo

Oi, pessoal, comentem por que eu adoro ler o comentario de vcs kkk e é muito importante pra mim esse retorno, espero que estejam gostando...



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