...Caixa Postal.
–Merda.- eu atiro meu celular na bolsa, para não atirar no chão. O celular da minha mãe está na caixa postal. E Megan e Eve não atendem. A ligação depois de chamar várias vezes cai na caixa postal. Eu suspiro, terei que ir a pé para casa. Eu recolho a mochila que eu joguei na grama em um acesso de raiva e começo a andar os dois quilometros da escola até minha casa.
Depois que eu ando uns vinte metros, um conversível para do meu lado, os vidros do carro são escuros, o vidro se abaixa e me deparo com Kyle lá dentro.
–Hey Lou.
–Kyle.
–Você quer carona? Para onde você vai?- eu ajeitei minha mochila no ombro.
–Quero, mas eu não sei se é caminho. Não quero incomodar.
–Você não incomoda.- eu dou um sorriso tímido.-Vamos.
–Obrigada Kyle. Você não tem noção da minha indisposição para andar.
–Aonde você mora?- Eu vou indicando o percurso para ele, que comenta.
–É um pouco longe para ir a pé. Você vai assim todos os dias?
–Na verdade não -eu respondo- eu e Eve pegamos carona com Megan, mas é só enquanto eu não ganho meu carro. Só que hoje elas sumiram no meio do dia.
–Sério?- ele desvia o olhar para mim- elas não te disseram aonde iriam?
–Não, nós saimos para o almoço e quando voltei para a sala elas não estavam lá. Tentei ligar e elas não atenderam e não consegui falar com minha mãe então...-Ficamos calados alguns segundos.- isso é muito estranho. Será que aconteceu alguma coisa?
Kyle passa alguns instantes fitando a estrada. Começo a pensar que ele não me ouviu. Mas ele responde:
–Não se preocupe, linda. Elas estão bem.- eu sou um sorriso para ele. Ele foi tão meigo com esse último comentário. Eu indico para ele que chegamos, mas antes que eu abra a porta eu falo:
–Obrigada Kyle. Obrigada mesmo.
–Não se preocupe. Pode pedir carona para mim sempre que quiser.
–Não só por isso. Por ser tão gentil comigo sempre. Por se preocupar... Obrigada- eu não dou a ele uma chance de responder, pois deixo um beijo na bochecha dele e saio do carro.
***
Eu tento mais uma vez ligar para minhas amigas. Sem retorno novamente. A voz de Kyle ressoa em minha mente.
"Elas estão bem".
Espero que estejam mesmo. Eu como uma fatia de bolo e decido dormir alguns minutos. Sem sucesso. Ligo o Ipod em uma música aleatória e leio dois capítulos do livro de inglês quando meu celular toca.
–Melooody. Você me ligou?- a voz arrastada pertence a uma Eve que reconheci estar bêbada. Eu suspiro.
–Eve, aonde você e Megan estão? -ela grita para alguém que está perto dela.
–Na casa do Joe. Estamos tomando banho de piscina Mel. Você podia vir para cá.- ela começa a rir subitamente.
–Eve, você bebeu o quê?
–Eu nem sei Meloody. Vem pra cá.- minha paciência se esgota e eu ordeno:
–Eve passa o telefone para Megan vai.- por alguns segundos eu ouço o som de vozes e risadas. Parece estar tudo bem até eu ouvir o som de uma garrafa quebrando. Ai meu Deus.
–Mel?- Megan parece estar menos bêbada.
–Poxa Megan. Vocês sumiram no meio da aula, não me avisaram nem nada.
–Desculpa Mel, eu sabia que você não mataria aula, e não encontramos você então Joe trouxe a gente para tomar banho de piscina na casa dele.
– E você simplesmente aceitou? Você nem conhece o cara!
–Ai Melody, eu estou bem ok? Que horas são?- eu tiro o celular do ouvido e vejo as horas.
–quatro e meia.
–Ai Meu Deus! Você já saiu da aula? Foi a pé?
–Não Meg, eu peguei uma carona.
–Desculpa Mel, sério mesmo. Eu perdi a noção do tempo. Eu nem bebi muito, juro.
–ok, Meg. Mas se quer um conselho, volta pra sua casa. Seus pais devem estar preocupados.
–Certo.- ouço alguém chamar ela ao fundo.- beijos.
Ela desliga.
Que irresponsabilidade! Elas nem conhecem o Joe. Respiro fundo. Não vai fazer bem para mim me estressar, então decido fazer a única coisa que me acalma de verdade: jardinagem.
Eu vou para o quintal dos fundos e recolho os materiais que precisarei. Decido fazer a manutenção das tulipas que estão tortas desde a chuva e aparar a roseira.
Antes de começar eu faço uma meditação simples que aprendi quando criança. Sempre medito antes de realizar uma atividade assim. Me ajuda a manter minhas intenções claras, e não deixa as preocupações me atrapalharem. Depois que termino abro meus olhos lentamente e me deparo com Kyle que me fita com seus olhos castanhos.
–Como entrou?- ele aponta para a cerquinha que temos ao lado da casa que dá acesso ao quintal dos fundos. Nunca tivemos problema com a violência, então mantemos a cerquinha lá. Eu semicerro meus olhos para ele que diz:
–Calma, a sua vizinha disse que te viu pela cerca aqui. E eu achei que não teria problema entrar. Queria saber sobre Megan e Eve.
–Certo.- eu dou uma risada para deixar o clima mais leve.- elas me ligaram. Parece que foram tomar banho de piscina e matar aula na casa do Joe. Eve está bêbada, mas Megan vai leva-la para casa.
Kyle parece achar, assim como eu, a imprudência delas errada. Já que ele admite uma expressão preocupada e balança a cabeça um pouquinho.
–O que você está fazendo?- ele inclina a cabeça um pouco.
–Ah, eu vou fazer jardinagem, eatava meditando antes de começar.
–Que legal. Posso ajudar?- ele para um segundo e completa.- quero dizer, se não for incomodo.
–Imagina. Senta aí. Primeiro eu gosto de meditar, pode ser?-Ele acena com a cabeça, concordando e espera minhas instruções.
–Você consegue fazer a posição de lótus? Na verdade, sente-se de maneira que se sinta mais confortável.- Para minha surpresa ele faz uma posição de lótus perfeita.
–OK. Eu faço um exercício que eu sei desde pequena. Mantenha suas intenções claras e tente limpar a sua mente.
Ele respira fundo e acena com a cabeça. Eu prossigo:
–imagine-se em um rio. Bem no meio. Sinta a água corrente passando por você. Agora veja-a limpando suas energias. Ela vem pura e limpa e passa suja e densa. Levando toda a negatividade, pessimismo, preocupação, tensão e nervosismo. Você se sente mais leve?- depois de alguns segundos ele acena com a cabeça.
–Agora a água está totalmente purificante, ela reluz e é cristalina te preenchendo com pureza, boas intenções, força, vitalidade e poder. Abra os olhos quando se sentir pronto.
Ele leva alguns segundos para abri-los e quando o faz nossos olhares se encontram. Quando dizem que os olhos são a janela da alma não mentem. Eu posso não ver a aura de Kyle, mas olhando em seus olhos soube que se a visse, ela seria no tom mais bonita possível. Desvio meus olhos e pego as ferramentas.
– Ok Kyle, vamos restaurar as tulipas alí e aparar a roseira hoje.
–Certo. Posso ficar com as tulipas?
–Claro. Eu vou aparar as roseiras.
Começamos a fazer em silêncio, mas acabamos por conversar um pouco, descubro que Kyle fazia jardinagem quando morava com os pais, mas que depois que eles morreram não fez mais. Contei que para mim é um hobby, me tranquiliza, e minha mãe ama as flores assim como eu, mas não sabe mantê-las, então eu fico com essa parte, falamos sobre os significados das flores e das pedras. O tempo passou muito rápido e quando terminamos já está escurecendo.
–Lou, foi ótimo te ajudar com as flores, maseu tenho que ir. -Eu bato minhas mãos umas nas outras para apertar as dele, mas ele me puxa em um abraço.
–O.K. qualquer dia desses podemos fazer isso denovo.
–Claro- ele tira um cacho do rosto, mas suja a testa de terra. Eu tento segurar o riso, mas ele percebe.- o quê?
–Você sujou sua testa Ky.- ele levanta uma sobrancelha com o apelido e passa o dedão na minha testa dizendo:
–Sujei assim?- eu fiz uma expressão de surpresa e ele começa a rir, então eu passo a mão no rosto dele que fica mais sujo ainda, ele revida e isso acaba em dois adolescentes totalmente sujos de terra.
Depois de parar de rir Kyle fala:
–Certo, agora tenho que ir. Te vejo amanhã. Eu aceno e o acompanho até a cerquinha e observo ele ir embora.