Turno da noite novamente, somente eu, o metal rangendo sobre meus pés, e o deserto infinito. Muralha é como a chamamos, tecnologia ACH, paredes altamente inteligentes que protegem nossa cidade, equipadas com armamentos de última geração, eliminam qualquer ameaça num raio de 100m. E quando é propício, se expande, nos dando mais território para construir e ocupar. Se isso não faz alguém se sentir seguro, não sei o que faria. Meu trabalho é simples, observo o céu estrelado, tiro alguns cochilos, e em caso de falha no sistema, sôo o alarme.

Em uma infinidade de noites solitárias e pacíficas na Muralha, algumas vezes posso ver coisas no deserto, espíritos ou pessoas, daqui de cima não sei dizer a diferença. Eles vem, eles vão, jamais chegam perto demais da muralha, mas a circundam com frequencia.

Mais um vulto se aproxima, gostaria de saber se é real ou não. Os Outsiders não são tolos de se aproximarem da muralha, vivem suas vidas evitando nossos arredores ao máximo, já que só seriam engolidos pela Muralha. Provavelmente minha mente está me pregando peças novamente. Cada vez mais perto, o vulto quase podia tocar a muralha. Tinha cabelos brancos, diria que era apenas um garoto se a distância me permitisse enxergar com clareza.

Está perto demais da muralha, porque não atira? - disse o vigia com incerteza. - Devo soar o alarme? - perguntou a si mesmo. - Seria realmente só coisa da minha cabeça?

Este momento de incerteza e duvida fora o bastante. Um repentino flash de luzes multicoloridas, seguido de um grande estrondo, afetaram os sentidos do vigia. E quando abriu os olhos, só pode observar a muralha se afastando, e o garoto vindo em sua direção, depois de muito se debater e lutar, ele aceitou, e assistindo as estrelas cada vez mais longe, o deserto o engoliu.