Amor de Flor escrita por brunna


Capítulo 6
Seis


Notas iniciais do capítulo

Título em português hoje o/



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Eu encarei o molho de chaves deixado sobre o centro de vidro. Pegar ele faria um barulhinho irritante, então eu pensava em um plano. Eu deveria colocar o Felipe para pegá-lo, enquanto em distraía Liz. Mas estava sendo difícil pensar com uma gata daquelas na minha frente.

— Então Liz, você costuma ir à praia? — perguntei.

— Sim, costumo. Por quê?

— Só para saber se você é a entrevistada certa — completou Felipe.

— Isto aí mesmo — o apoio.

— Sim, eu vou para praia sempre.

— Então, você vê algum tipo de mudança no litoral? — pergunto.

— Sim — ela diz. — O mar está avançando por causa do porto.

— E a poluição? — perguntou Felipe.

— Eu não vejo muita coisa. Talvez alguns entulhos que boiam na água.

— Descreva este entulho — falei, fingindo estar empolgada.

— É sujo — brincou Liz.

Sorrimos bastante e depois eu resolvi ser mais descontraída.

— Nós realmente não estamos a fim de entrevistar todo mundo — falei —, mas precisamos de nota na escola e tudo mais.

— Verdade! — Felipe concordou com a mentira.

— Então eu peço, encarecidamente, que você nos ajude com um vídeo para o documentário e as outras entrevistas a gente falsifica — inventei na hora.

— Vídeo? — perguntou Liz.

— Vídeo! — concordou Felipe. — Faremos um vídeo.

Felipe retirou o celular do bolso e aproximou-se da Liz. Ela sorriu animadamente.

— Você só precisa falar que o mar era lindo e agora está feio. Aproveite e diga que você não vai mais à praia por causa da imundice do mar. E fala mal do capitalismo também, pois a professora é esquerdista.

— Vocês são uma comédia — disse Liz.

— Somos mesmo, para conseguir pontuação vale tudo — mentiu Felipe.

— Eu acho melhor gravar lá fora — falei a Felipe.

Felipe saiu com o celular, Liz o seguiu. Eu tive uns cinco segundos sozinha, peguei o molho de chaves inteirinho enfiei no macacão folgado. Andei até onde estava Felipe filmando Liz.

—... as praias estão cada vez piores e isto afeta todos nós — terminou Liz.

Felipe agradeceu e a elogiou, nós a abraçamos e, por fim, eu me lembrei de algo: eu deveria saber o horário que Liz estaria em casa. Eu tinha que pensar em algum modo de saber quando ela estaria em casa, ou quando não estaria lá.

— Quando você vai estar em casa? Para a gente mostrar o documentário pronto?

— Não sei — admitiu. — Eu vou a escola às treze e retorno apenas umas sete. Talvez você encontre minha mãe, mas ela só está em casa a partir das três.

— Tudo bem, se apenas sua mãe estiver aqui, eu deixo o arquivo com ela — falei. — Obrigada, Liz.

— Por nada, foi bom ajudar vocês.

Felipe já estava com vontade de sair, ele se apoiou no portão e estragou todo nosso plano. Não posso culpá-lo; ele não sabia o que estava fazendo. Mas ele me olhou, encarou o relógio e já estava ficando agoniado.

— Vamos logo, Flor! — disse.

Ele me chamou de Flor, nome que Liz conhecia bem, pois eu assinava este nome nas minhas cartas anônimas. Liz me encarou de modo estranho, mas eu não devolvi o olhar.

— Espera aí, seu nome é Flor? — perguntou Liz.

— Não... não — falei a verdade, pois Flor era meu apelido. — Felipe gosta de ser carinhoso com as amigas, meu nome é Maya.

— Hm — respondeu ela um pouco desconfiada. — Em que escola vocês estudam?

Eu não poderia falar, pois ela conhecia a farda de Mar, que entregava e recebia as cartas dela. Se eu falasse que estudava na mesma escola que Mar, Liz descobriria de imediato que era eu a remetente. Mas talvez fosse melhor assim. Não, não seria.

Eu olhei o que estava escrito na blusa de Felipe, era a marca GAP. Suspirei, meus pensamentos duraram uns cinco segundos. Bem, a escola será PAG.

— Estudamos no Instituto PAG.

— Nunca ouvi falar nesta escola. — Liz se aproximou mais desconfiada.

— É uma escola só de inglês, é nova na cidade. Fica na Zona Sul, bem longe daqui.

Liz estreitou os olhos.

— Interessante — disse ela. — Não se esqueçam de voltar aqui, eu quero ver meu livro antes de chegar ao Colégio PAG.

— Obrigada pela sua colaboração — falei a Liz, sem antes abraçá-la.

— Por nada. Os vejo logo.

E nós saímos. Eu só consegui suspirar e repetir a mim mesma que foi por muito pouco.

E que ainda não tinha acabado.

***

Chego a minha casa planejando algo. Eu deveria tomar muito cuidado, pois, agora, Liz já estava desconfiando de mim e não ia demorar muito para ela descobrir que não existe nenhum instituto de ensino nomeado PAG na cidade — e talvez no mundo. Pensei bem no que ela me falou.

Sua mãe chega às três

Ela sai às treze

Isto me daria duas horas, mas eu precisaria de bem menos. Eu teria de faltar aula, ou chegar muito atrasada. Ou eu poderia ir ao horário em que Liz ainda estivesse lá, mas dormindo.

Antes de perder para o sono, resolvi escrever algo para Liz. Peguei a caneta de sempre e selecionei um papel impecável.

Eu fico feliz em estar no mesmo concurso que você. Eu estou confiante, espero que seja recíproco a você.

Quero que saiba que eu me intimido com toda sua frieza nas cartas. Eu pretendo ser um alguém agradável contigo, o que ficaria difícil se você correspondesse com frieza.

Pensando em você, te presenteio com um novo poema. Espero que goste.

Na sua boca eu vejo um sorriso

Em seus cachos eu acho abrigo

Sua voz canta comigo

Sua cor me traz um motivo

Sua teimosia me encanta

Tudo o que você faz é dança

Traz-me um pouco de esperança

Faz-me inocente como criança

Eu não sei o que é sofrer por amor

Eu quero experimentar

Seja a dor que for

Eu vou aguentar

Eu não sei o que é amar

Eu quero sentir

Quero sonhar

Perto de ti

Com as melhores intenções,

Flor.

Dobro a folha, selo com uma gotinha de vela vermelha derretida e a guardo. Eu estou irritada com tudo o que aconteceu hoje. Eu vou acordar cedo e invadir a casa de Liz e tudo com relação a esta merda de cartinha com violetas será exterminado.

Era domingo. Eu não sei se a mãe dela estaria lá, mas não tinha como eu esperar mais, pois ela conseguiria achar as violetas quando sua mãe fosse lavar as roupas, e aposto que ela lavaria domingo.

Acordei quatro horas da manhã. Hoje minha mãe não estava em casa devido ao turno noturno, então eu não precisei falar-lhe nada. Eu vesti uma calça folgada e uma blusa com mangas compridas.

Saí de casa apressada e caminhei em direção a casa da Liz. A rua estava enfeitada por uma camada pesada de neblina e tudo parecia cinza, como na Inglaterra. Meus passos foram rápidos, eu cruzei os braços devido ao frio e continuei a caminhada.

A casa de Liz estava sem vida, como toda a vizinhança. O portão maior estava fechado. Eu peguei o chaveiro no bolso da calça e abri o portão sem fazer nenhum pouco de barulho.

Destranquei a porta que dava acesso total à casa e me arrepiei profundamente. Entrei o quarto de Liz caminhando como um cachorro, me arrastando sobre o chão.

Eu abri o cesto e logo senti uma camada de roupas, por baixo das roupas, quase no meio delas, estava meu cartão com as violetas intactas e já secas. Eu já estava a sair quando escutei Liz se mexer.

Eu entrei novamente no cesto. Ela erguei o corpo, mas estava com os olhos fechados. Vi sua mão retirar sua calcinha, ela começou então a massagear o clitóris. Eu resolvi então esperar ela acabar. Vi seus dois dedos encharcados sendo levados a boca. Ela continuou com o movimento, mas penetrando ela mesma.

Algo que veio depois disso me deixou mais pasma. A cama dela começou a balançar, ela atingiu o ápice e abriu os olhos e sentou-se.

— Flor — sussurrou.

Ela continuou sobre a cama, deitou-se novamente e voltou a dormir em uns cinco minutos. Eu saí do quarto dela, tranquei tudo e levei o chaveiro comigo — talvez fosse útil outro dia.


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Notas finais do capítulo

Eu tentei alongar o capítulo, mas não consegui >