Meu paizinho Naraku escrita por Okaasan


Capítulo 11
Eu estarei lá


Notas iniciais do capítulo

Sesshoumaru se depara com sentimentos inéditos ao ver seu irmão falecido.
Momento familiar e envolvente para Naraku, Kanna e Kagura.

Capítulo mais curto, emoções mais fortes (espero de coração não ter deixado o Sesshoumaru nem o Naraku OOC)...

Sugiro ouvir "I'll be there", de Michael Jackson; foi na vibe dela que escrevi o texto de hoje. ♥

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/643925/chapter/11

Sesshoumaru, apesar de desejar e tentar provocar, por muito tempo, a morte do irmão, naquele momento se sentiu miseravelmente vazio. As lembranças inundaram sua mente como um filme: o pai lhe perguntando se ele tinha alguém para proteger. A descoberta do rompimento do lacre que selava seu irmão. A batalha dentro do esqueleto de Inu no Taisho, a perda do braço. O confronto com InuYasha descontrolado em sua forma youkai.

— Até que enfim teve o que merecia, hanyou idiota, e agora a Tessaiga pertencerá a mim — murmurou ele, tentando se livrar daquele peso que seu espírito sentia.

Ver no rosto do irmão a perturbadora falta de vida estava doendo em Sesshoumaru. Relembrou do dia descontraído que passaram juntos: o prato com seus legumes prediletos, a disputa das galinhas, o remédio para o estômago que ele lhe dera. Os olhos âmbares, o sorriso franco, a displicência jovial.

Pela primeira vez, havia apreciado a companhia de InuYasha, embora não admitisse.

Pela primeira vez, a Tessaiga não tinha mais tanta importância.

Os olhos do youkai branco arderam.

— Isso é um absurdo. Este Sesshoumaru jamais se preocuparia com um maldito híbrido como você...

Entretanto, Sesshoumaru sentia um bolo na garganta que lhe maltratava. A pele de InuYasha estava fria e pálida. Se não fosse pela transformação da lua nova, possivelmente o ataque refletido da Toukijin não lhe faria tamanhos estragos.

— Meu pai foi morto porque decidiu proteger você e aquela princesa... Agiu como um louco, se sacrificando por uma humana e sua cria híbrida...

O youkai branco se sentou lentamente. Tirou a parte superior do quimono vermelho do irmão e viu que havia um corte médio, porém profundo, acima de seu umbigo. O sangramento não parava.

— No fim de tudo, foi pelas mãos deste Sesshoumaru que você encontrou seu fim... Mas... Não era assim que eu... Imaginava... Eu... — gaguejou ele, olhando para o hanyouinerte, as mãos meio trêmulas. — Eu te mataria, Tessaiga seria minha arma, eu dominaria estas terras, como um grande dai-youkai, como meu chichi-ue... E ficaria feliz ao saber que fui eu quem extirpou sua vida inútil deste mundo.

As palavras lhe saíam aos borbotões, a dor na alma não se aplacava.

— Por que meu espírito sente esse pesar...?

Ele se levantou mais uma vez e deu as costas para InuYasha, sentindo que algo úmido lhe descia pelo rosto. Surpreso e furioso consigo mesmo por causa daquela inesperada lágrima, atirou-se de joelhos ao lado do irmão de novo e o esbofeteou, gritando:

— Maldito seja, InuYasha! Viva, desgraçado! Eu preciso de você vivo para ter com quem brigar, hanyou imprestável! — e pegou-lhe pelo colarinho do quimono, sem se importar que estava se sujando de sangue. — Só EU posso matá-lo! Não aceito que você morra de maneira tão ridícula! Você é o meu estúpido irmão mais novo e eu me recuso a vê-lo morto por acidente!

Uma segunda lágrima correu pelo rosto de Sesshoumaru, que, enfim desiludido, parara de sacudir o corpo de InuYasha. Abaixou a cabeça, incomodado com aquela nova e torturante sensação de luto, quando sentiu, então, o youki da Tessaiga pulsar, ao mesmo tempo que o da Tenseiga. Havia esquecido totalmente da herança de seu pai pela dor inconfessa de ver seu meio-irmão morto. Piscou, nervoso.

— Ei... Tenseiga sempre esteve aqui comigo, eu já poderia ter revivido esse maldito... Você me fez esquecer a herança de nosso pai e chorar por sua causa? — e Sesshoumaru bateu em InuYasha mais uma vez, antes de desembainhar a espada. — Maldito, maldito... TENSEIGA!

Sesshoumaru, então, golpeou os emissários do outro mundo com a Tenseiga. Seu coração disparou ao ver o hanyou tossir. InuYasha abriu os olhos castanhos com muita dificuldade e viu o rosto molhado de lágrimas do irmão. Fraco e ferido, desmaiou de novo, porém o youkai branco não se preocupou mais. Tudo ficaria bem, pensou ele, enquanto colocava sua armadura e a estola branca.

— Vamos embora, humano maldito e desprezível — disse Sesshoumaru, levantando InuYasha com seu único braço e colocando-o sobre o ombro bom. Voaram de volta para o vilarejo. — E esteja avisado que as lágrimas deste Sesshoumaru lhe custarão muito caro!

 

***

 

Castelo feudal, salão principal.

— Ui, isso queima a garganta! — exclamou Kagura, divertida, sorvendo um refrigerante. Kanna, ao lado, experimentava uma jujuba enquanto abria as sacolas de roupas. Naraku repousava em seu quarto após tomar um analgésico.

— "Este lado para cima"... O que será este objeto? — perguntou a pequena, estudando a caixa do Microsystem. — Kagura? Está me ouvindo?

Kanna olhou em seu redor. Estava sozinha com as inúmeras sacolas e se perguntava para onde teria ido sua companheira, quando a ouviu falar dentro de sua mente: Vou levar azevinho para o youkai coisa.

Ishiteimei, o youkai pedra, lhes explicara que a dor de cabeça era resultado da instabilidade das centenas de youkais que originaram Naraku quando acabava o azevinho. Isso poderia ser fatal para os dois. A pequena, então, resolveu ir até ao hanyou para ver como ele se sentia.

Naraku ouviu os passos de Kanna se aproximando e abriu os olhos.

— Kanna, minha pequena, pode vir. Não estou dormindo.

— Você está melhor, Naraku? — inquiriu a menina, sentando-se ao lado do futon.

— Ah, bem melhor... — respondeu ele, se sentando também e pegando a mão dela. — Tem algo que preciso te entregar...

As costas de Naraku se alargaram e dois tentáculos surgiram de dentro delas, trazendo consigo a caixa colorida do akita, que cochilava despreocupado ali. Kanna apressou-se em tirar o animal de lá e aninhá-lo em seus braços, sentindo a maciez dos seus pelos luzidios. O cachorrinho despertou e lhe lambeu a mão, enquanto o hanyou fazia cara de nojo.

— Muito obrigada, Naraku. Sabia que o traria de volta... — afirmou Kanna, abraçada ao bichinho, que lhe cheirava o pescoço, alegre.

— Tudo bem, tudo bem. Mas não abuse, Kanna. Você sabe que detesto cachorros. Procure não deixá-lo perambular pelo castelo e nem fazer sujeira por aí, estamos de acordo?

— Sem dúvida, chichi-ue. Sou totalmente responsável pelo Suikune¹.

— Suikune?! — repetiu Naraku, com estranheza.

— É o nome dele...

— Certo, certo — replicou ele, impaciente. — Leve-o daqui, não aguento mais esse animal perto de mim. Depois volte.

A pequena já se aproximava da porta do cômodo, quando Naraku lhe chamou:

— A propósito, Kanna...

— Sim?

— A ração do bicho está em uma das sacolas plásticas. Tem uma imagem de cachorro na embalagem.

— Muito obrigada, chichi-ue.

O hanyou sempre sentia o coração apertar de ternura ao ouvi-la chamando-o dechichi-ue. Enquanto se levantava do futon, pensava o quanto sua vida tinha mudado para melhor nas últimas vinte e quatro horas.

Naraku achou por bem arrumar de vez as diversas coisas que trouxera. Chegando ao salão principal, usou os tentáculos para carregar as sacolas das crias e deixá-las no cômodo delas. Depois pegou sua parte e levou para seu quarto. Minutos depois, Kanna aparecia à porta, sendo logo convidada a entrar pelo hanyou. Ele indicou com a cabeça um espaço no futon para que ela se sentasse ao seu lado.

— Naraku, meu paizinho, me explique uma coisa?

— Diga, pequena Kanna — respondeu Naraku, solícito.

— O que tem naquela caixa? — perguntou, apontando para a embalagem do Microsystem.

— É um aparelho musical do futuro. Trouxe-o para ouvir as músicas de um youkai poderosíssimo que conheci através de um espelho quadrado — afirmou ele, com empolgação.

— Um youkai cantor?

— Cantor, dançarino, adorado por milhares de humanos! É uma pena que eu tenha, temporariamente, perdido meu youki naquele lugar, senão o procuraria para absorvê-lo.

E Naraku, enquanto dizia isto, abria a caixa do aparelho de som, introduzia nele pilhas e colocava cuidadosamente um CD. Kanna observava a tudo, muito interessada, a despeito de sua apatia.

— Puxa, quanta coisa diferente existe por lá...

— Sem dúvida — assegurou o hanyou. — Quando a Joia de Quatro Almas estiver completa, eu, Naraku, vou levar você e Kagura para conhecer aquela era.

O som de I’ll Be There, que Naraku ainda não conhecia, preencheu o quarto. Os acordes delicados fizeram com que ele, inconscientemente, puxasse Kanna para seu colo, enquanto ouviam atentamente aquela canção de palavras desconhecidas para si.

 

You and I must make a pact, we must bring salvation back

Where there is love, I'll be there (I'll be there)

I'll reach out my hand to you, I'll have faith in all you do

Just call my name and I'll be there (I'll be there)

 

"Qual seria o significado destas palavras?", pensava o hanyou, observando o aparelho eletrônico e aconchegado à pequena albina, os corpos balançando suavemente, conforme o ritmo da música. Kanna segurou-lhe a mão e olhou diretamente nos olhos do vilão, surpreendendo-o com uma pergunta:

Chichi-ue — murmurou ela — você estará sempre comigo?

Naraku encarou aqueles olhos vazios e negros e sentiu seus próprios olhos arderem. Trouxe a cabeça de Kanna para seu peito e respondeu, no mesmo tom de voz:

— É só chamar meu nome... Eu estarei lá.

 

I'll be there to protect you (Yeah baby), with an unselfish love I respect you

Just call my name and I'll be there (I'll be there)

And oh, I'll be there to comfort you, build my world of dreams around you

I'm so glad that I found you

 

Kagura, que voltara do esconderijo do youkai pedra, estranhou a presença de música naquele castelo habitualmente silencioso e se aproximou, devagar, da porta do quarto. Levou a mão ao peito ao ver a cena inimaginável diante de seus olhos: Naraku ninando Kanna.

— Ei...! — fez ela boquiaberta e embasbacada.

O hanyou agilmente capturou a Mestra dos ventos com um de seus tentáculos e fê-la sentar consigo, envolvendo-a também naquele momento carinhoso entre pai e filhas. Correspondendo ao abraço, Kagura não escondeu suas lágrimas de comoção.

 

Don't you know, baby, yeah yeah

I'll be there, I'll be there

Just call my name, I'll be there


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

¹- Suikune é um pokémon XD

Espero que tenham gostado do capítulo. Eu, particularmente, achei difícil escrevê-lo sem sentir o coração bater mais forte.
Ora, não tenho esse nick (The Okaasan: "a mãe") à toa! hehehe

Obrigada a cada um que tem lido e favoritado a fic. Abração, seus lindos.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Meu paizinho Naraku" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.