Meu paizinho Naraku escrita por Okaasan


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Este conto se passa um pouco antes da morte de Kikyou; Kohaku já não está mais obedecendo a Naraku.
Acerca das demais crias dele, preferi não inseri-las, pois, fora o Byakuya, não achei nada atrativo nelas.
Façamos de conta que a Kanna tem 10 anos de idade e Kagura, 18.

Boa leitura!



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Prólogo

— Ele diz odiar humanos, mas faz tudo por essa garotinha... Age como se fosse pai dela! — resmungou Kagura.

Naquela noite tranquila, em um dos cômodos do castelo onde Naraku se escondia, suas duas crias, Kagura e Kanna, observavam pelo espelho Sesshoumaru, que acabara de se sentar ao lado de Ah-Un e ajeitara uma Rin adormecida sobre sua estola; Jaken, também adormecido, recostava no animal youkai. A Mestra dos Ventos não disfarçava sua inveja. A criança albina olhou para ela com sua habitual inexpressividade e perguntou:

— Como assim, age como se fosse pai dela?

— Você não percebe, Kanna? — retrucou a outra. — Cuida dela, protege de todos os perigos, a trata com muito zelo e lhe dá quimonos novos! — concluiu, inconformada, olhando para seu próprio (e único) traje.

De fato era verdade, pensou Kanna, voltando os olhos para o espelho, e indagando:

— Então, ser pai é isso? Zelar, cuidar, proteger...?

— Exatamente!

Pausa.

— Kagura...

— O que é agora? — respondeu ela, azeda.

— Então, Naraku não é o nosso pai?

Kagura olhou meio desconcertada para a pequena. Como Kanna não tinha alma, nem sempre compreendia bem coisas subjetivas como relacionamentos familiares. Era a mais leal serva de Naraku — nunca questionava as ordens recebidas, estava sempre pronta a proteger seu mestre, entre outras coisas. Ou seja, uma verdadeira marionete. Mas aquela curiosidade era bem incomum.

— É claro que não, Kanna — respondeu. — Você e eu somos extensões do corpo de Naraku, ele apenas nos usa como lhe convém. Somos suas crias, não suas filhas. Entendeu?

— Sim — disse Kanna. Naquele mesmo instante, ouviram a grave e autoritária voz de seu mestre:

— Kanna! Venha aqui!

De imediato, a pequena deixou sua companheira no quarto e foi até Naraku, que queria sondar os passos do grupo de InuYasha. Kagura, sozinha, pensava consigo:

— É impressão minha, ou Kanna anda diferente desde que começamos a espionar Sesshoumaru e a garotinha?

***

No quarto de Naraku, o espelho mostrava o que acontecia na casa de Kaede. O vilão ficou imensamente satisfeito.

— Hum... Então, Kagome voltará amanhã para sua era? Ótimo... Não sairão para me procurar, terei um tempo extra para elaborar mais um plano para destrui-los — riu ele e, atentando novamente para a imagem, gargalhou ao ver seu inimigo, o também hanyou InuYasha, sendo atirado contra o chão com um "Senta". — Huhuhu! Que cachorro ridículo! — E dispensou Kanna, com um aceno displicente de mão. A pequena, porém, continuou lá. O perverso ficou surpreso.

— Pode sair, Kanna.

Ela deu um passinho em sua direção.

— Naraku, você não é meu pai?

Ele piscou umas duas vezes, confuso, depois gargalhou com vontade.

— Kanna, minha pequena Kanna, quem pôs isso na sua cabeça?

— Você não é meu pai? — repetiu ela.

Naraku se levantou do futon onde estava sentado e ficou de pé, perante ela. Agora estava sério. Kanna continuava a encará-lo com seus grandes olhos negros e vazios. Evidentemente, ele não esperava por isso e conteve a vontade de coçar a cabeça, para não demonstrar confusão. Mantendo a postura altiva de sempre, perguntou à criança com um tom de voz sereno:

— Quer mesmo saber, pequena Kanna?

— Quero. Você não é meu pai?

Então, Naraku se abaixou para que seu rosto ficasse à altura do de Kanna e falou, mantendo a serenidade da voz:

— Eu sou seu dono, pequena Kanna. Sou seu criador. Você não passa de uma escrava minha, composta por partes do meu corpo. E, não, um youkai poderoso como eu jamais teria sentimentos idiotas por uma cria estúpida como você. E, veja só que coisa boa — disse ele com expressão alegre, pousando o indicador sobre o nariz da criança — eu estou de ótimo humor hoje! Se fosse em outro dia, eu a mataria com esse dedo! E absorveria seu corpinho, se quisesse. Já pensou? — concluiu, com um grande sorriso.

Kanna, a despeito das palavras cruéis, não se sentiu intimidada ou magoada. Apenas decidiu sair dos aposentos do maligno mestre, porque já tinha obtido a resposta para sua pergunta: ele não era seu pai. Fez uma reverência a ele e ia se afastando, quando ouviu Naraku dizendo, ainda naquele tom falsamente amistoso:

— Tenha uma boa noite, pequena Kanna, e bons sonhos. Ah, me esqueci — fez um gesto teatral, levando a mão à testa — que criei uma youkai sem alma, que nem sequer pode sonhar... — e deu mais uma risada alta.

De volta ao quarto que dividia com Kagura, Kanna sentou-se devagar no chão, impassível. A youkai mais velha, que estava à janela, olhou para ela, imensamente revoltada e também condoída, pois ouvira o diálogo. Odiava ver Naraku fazer aquilo.

— Kanna... Eu tinha lhe dito que aquele bastardo não era nosso pai...

— Sim, Kagura — respondeu ela, serena como sempre.

— Então, por que você perguntou a ele?

Kanna deu um breve suspiro antes de responder:

— Porque achei que ele quisesse mudar de ideia. Afinal, nós lhe obedecemos em tudo. Se ele nos tratasse como Sesshoumaru trata daquela humana... Não seria ruim, seria?

Kagura tornou a olhar pela janela, amargurada. Maldito Naraku... O que ela mais desejava era se ver livre do jugo dele.

E, sentada no cantinho do quarto, a pequena albina processava na mente tudo o que ouvira naquela noite.

***

Mal o dia amanhecera, Naraku criava uma barreira em volta de si e saía do castelo com Kagura, não sem antes ordenar a Kanna que continuasse vigiando o grupo de InuYasha, que estava no vilarejo de Kaede. A pequena se sentou no chão da grande varanda, com seu espelho, e constatou que nada de diferente acontecia na casa da velha sacerdotisa: Kagome se preparava para voltar para sua era, depois de detonar InuYasha com um “Senta” por ele ter feito Shippou chorar. Sango aplicava um emplastro de ervas sobre um corte na pata dianteira de Kirara e Miroku conversava trivialidades com a dona da casa.

Kanna já não prestava mais tanta atenção, quando ouviu um comentário do monge:

— Uma rocha mágica que cumpre desejos, a leste da antiga floresta do InuYasha? Ora, Kaede-Sama, não creio nisso.

— Bem, é o que disse um viajante que passou por aqui dias atrás — respondeu Kaede. — Talvez seja até mesmo uma armadilha de algum youkai para comer humanos, embora eu não creia nisso. Aquele viajante alegava ter recebido uma dádiva da tal rocha, mas parecia estar louco, na verdade — e ela, dizendo isso, franziu o cenho, parecendo incomodada, o que não passou despercebido por Miroku.

— Err... Ele lhe aborreceu de alguma maneira? — inquiriu ele, falando baixo.

A velha sacerdotisa respirou fundo, antes de responder irritada:

— Aquele idiota disse que seu desejo era ter um harém de mulheres e ousou pedir a mim, Kaede, para ser uma de suas esposas! Eu lhe respondi que uma de minhas flechas enfiada em seu fígado daria uma bela história romântica, aí ele fugiu.

O monge se conteve para não dar uma risada ao comentar:

— Prova de que a história da rocha mágica é mentira. Vamos, não se incomode tanto, Kaede-Sama.

Ouvindo aquilo, Kanna ficou alerta e, através do espelho, se pôs a estudar a região citada. De fato, havia por ali uma grande pedra negra próxima a um lago. Após uns quinze minutos, uma menininha descalça chegou junto à pedra, que tinha um buraco na frente, dizia algo e depositava ali um ramo de azevinho, saindo correndo em seguida. A pedra emitia um brilho esverdeado muito tênue, quase imperceptível, e o ramo desaparecia. Então a pedra era real e tinha algo de mágico em si, mas será que dava para confiar?

— Só há um jeito de descobrir — murmurou Kanna, planejando ir para lá depois que Naraku voltasse.

***

Graças ao seu youki, a pequena serva de Naraku chegou rapidamente às imediações da floresta. Saíra sob pretexto de roubar alguma alma, sendo liberada sem problemas pelo hanyou (e sentindo a inveja gritante de Kagura a perfurar-lhe as costas). Como ela era da total confiança de seu mestre, não havia nenhum saimyousho para vigiá-la. O entardecer estava tranquilo, poucas nuvens no céu e o local totalmente deserto. Kanna teve um pensamento de que aquele seria seu dia de sorte. Chegou diante da pedra e perguntou:

— Você realiza desejos?

Silêncio.

— Você é mágica?

Silêncio.

— Você não me ouve?

Silêncio. Kanna apontou o espelho para a pedra; instantaneamente, uma aura verde começou a se desprender do objeto, que começou a gritar:

— Não! Não! Deixe minha alma em paz! Socorro!

A menina baixou o espelho e viu que surgiram olhos humanos e uma boca na pedra.

— Então, você é um youkai disfarçado — disse ela.

A pedra retrucou, ofegante e irritada:

— Disfarçado, não! Eu sou Ishiteimei, um youkai pedra que estava bem sossegado até você chegar tentando roubar minha alma, pirralha! Aliás, quem é você? É uma criança mesmo? Você tem um rosto estranho, parece que está morta.

— Eu sou Kanna. Não estou morta, apenas não tenho alma — respondeu ela, impassível como de costume. — Você realiza desejos mesmo?

— Não é bem assim... Eu apenas faço alguns agradinhos para crianças, para que me tragam azevinho para comer. Elas pedem brinquedos, sacos de arroz, animaizinhos de estimação... — falou o youkai pedra, olhando para cima como quem se lembra de algo. — Ah, adultos vêm também, mas eles só querem saber de ouro e grandes propriedades, ambição pura. E hoje veio um monge budista que pediu muitas mulheres férteis que lhe dessem filhos...

“Miroku”, pensou Kanna. Ishiteimei perguntou a ela:

— Certo, agora que já me apresentei, quero saber o que deseja, criança. Você diz não ter alma, é isso mesmo? Como será o seu pedido de alguém sem alma, pelos deuses?

— Eu lhe direi se você me der provas de que é capaz de realizar tal feito.

— Pois então, peça qualquer coisa — respondeu o youkai, entusiasmado. — Eu não nego pedidos de crianças, pois sempre são pedidos simples e destituídos de maldade! Agora, aos adultos gananciosos, nem dou ouvidos. Por isso meus poderes passam despercebidos nesta região.

A menina permaneceu calada por um momento. Pela expressão vazia, Ishiteimei não conseguiu notar que ela estava pensando furiosamente. Por fim, declarou:

— Quero um filhote de akita inu preto.

Ishiteimei ficou surpreso.

— Filhote de akita inu preto? Tem certeza?

— Tenho — volveu Kanna.

— E para que você quer?

— Para ver de perto, pois nunca vi um.

O youkai achou graça daquelas palavras. “É uma criança totalmente estranha, mas ainda assim é uma criança”, pensou. E exigiu o ramo de azevinho que Kanna, previamente, segurava na mão esquerda.

— Agora, se afaste e me dê alguns minutos.

A pequena depositou ali o ramo e se afastou. O ar ficou mais quente; Ishiteimei foi rodeado de uma aura verde, discretíssima, e um forte esplendor apareceu repentinamente, fazendo Kanna fechar os olhos. Um latido se fez ouvir; logo um cachorrinho saiu detrás do youkai pedra e foi até Kanna, abanando o rabinho. Mesmo com sua expressão vazia, a menina estendeu as mãozinhas para o animal, satisfeita.

— E então, criança, o que achou?

— É quente, macio, tem pelos bonitos. Gostei. É mais agradável ao toque do que eu imaginava.

O youkai pedra riu com gosto.

— Que bom! Agora que você viu a extensão dos meus poderes, está convencida? Fará o seu verdadeiro pedido? Mas já lhe adianto que, agora, exijo cinco ramos de azevinho. Isso gasta youki, sabia?

— Dou-lhe o que quiser, desde que me atenda. Meu desejo não é tão simples.

— Uau — fez o outro. — Mal me contenho de curiosidade, pequena! Vamos, diga-me!

Kanna fez um movimento sutil com os lábios, como se quisesse sorrir.

— Quero ter um pai.

Ishiteimei fez um perfeito “O” com a boca.

— Pelos deuses, que pedido estranho! Nunca me pediram tal coisa... Meus poderes não são ilimitados!

— Não tem problema — retrucou ela. — Mesmo que dure por apenas alguns instantes...

— E você já tem em mente quem é o homem que quer ter como pai, pequena?

— Sim. É um youkai aranha chamado Naraku.


Continua...


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Notas finais do capítulo

Gente, não me matem pelo diálogo horroroso do Naraku com a Kanna! Afinal, ele é capaz de falar (e fazer) tudo isso mesmo... E então, será que Kanna e Ishiteimei, o youkai pedra, conseguirão "paternizar" o terrível Naraku? Até semana que vem, leitores! :-) ~TheOkaasan



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