Era engraçado vê-lá sorrir daquele jeito, quando o mundo todo parecia estar desabando, mas era apenas para ele, já estava cansando aquilo. Por que nunca recebera àquele sorriso? Abertamente, mostrando seus dentes perfeitamente brancos e retinhos, e todas as vezes que sorria, quando suas sardas se movimentavam acompanhando os olhos cerrados, fazia tanto tempo que ele não a via sorrir assim, fazia meses, talvez porque fosse o primeiro dia do ano letivo, tudo aquilo estava acabando, ele queria acreditar que quando Hogwarts terminasse, ele estaria livre desse sentimento louco.

E o verdadeiro rancor que seu coração carregava não era por aquele sorriso, mas era para quem ela o dedicava, quem disse que aquele cara notava suas covinhas? Ou notava o lábio inferior levemente cortado por ela passar muito tempo o mordendo? Ou que ele notava quando um fio flamejante caia sobre seu rosto? Ou que notava o mar pacífico que seus olhos se tornavam? Ou que notava como seu nariz se contorcia quando estava preocupada? Mas por que notaria? Ele não ligava, não deveria se importar.

Ela estava bem ali, e o nó na garganta não permitia expressar qualquer palavra, ela estava tão próxima, seu sorriso impecável, dedicado aquele cara, que ainda sim olhava para Al com mais interesse. Ela não deveria fazer isso, ela não poderia se destruir dessa forma, não poderia, ele não suportaria não ver seu sorriso durante todas as manhãs, seria horrível. Mesmo que parecesse estar próximo demais, ele estava longe, tão longe que não era possível gritar para chamar sua atenção, mesmo que os laços de sangue os tornassem tão próximos, ele estava distante, pois ela não permitia ser tocada.

Ele queria afastar o fio ruivo de seus olhos, ela estava nervosa, por isso soprava o cabelo com certa vergonha, ele sabia exatamente o que era aquilo, Roxanne havia lhe contado, ela estava pronta, pronta para dizer tudo que não precisava, será que algum dia os seus cabelos voltariam a brilhar da mesma forma?

Então tudo passou em um piscar de olhos no seu campo de visão, todos saindo para fora dali, e ele sabia que ela não sairia de forma alguma agora, aquele trio sempre demorava um pouco mais, ele queria se certificar de que ela deixaria Alvo ir na frente, para falar logo atrás. A sensação apertou seu coração, era como se sentisse ciúmes de algo que nem era seu. Era decepcionante, ver que tinha perdido, havia acabado, bastava abaixar a cabeça e sair de fininho de uma vez por todas. Ele não podia sair dali, nunca se perdoaria.

Ela parou exatamente no corredor vazio, chamando a atenção do amigo um pouco maior que ela mais a frente, ele parou e suspirou, se voltando para ela, enquanto Al lançava um último olhar de preocupação ao dobrar a esquina. E ele estava bem ali, atrás de um dos arcos que levavam a outro corredor, observando, vendo sem ser visto.

— Scorpius, eu preciso te contar algo - ela disse, com sua voz suave, Scorpius jamais saberia a diferença em cada tom de voz seu

— se for sobre aquilo, eu sinto muito, já falei e...

— você sente? -o olhar dela começava a perder toda a esperança que tivera

— sinto, claro, por quê?

— porque eu não sinto, eu realmente...

— não, Rose, não me fale uma coisa dessas- ele pediu arregalando os olhos

Ela perdera toda sua esperança, e ele podia notar, no modo como ela ficara calada, baixou o olhar, ela cerrou os punhos, os olhos azuis já se tornavam uma mar em fúria, até que uma única lágrima escorreu, solitária, dando passagem para outras.

Ele não suportou a ver daquele jeito, apertou o passo sem pensar duas vezes e se pôs ao seu lado, Scorpius o encarou incrédulo, ele olhou desafiador para o loiro

— escute aqui, Malfoy, você já destruiu coisas o suficiente, acho bom você parar, porque o próximo a ser destruído será você- ele cortou entre dentes, Scorpius abriu boca para argumentar, mas a fechou.

Rose estava ali, com a cabeça pouco inclinada para o lado, olhando surpresa para ele, Scorpius a encarou piscando lentamente, como se suas pálpebras fossem de porcelana.

— eu não destruí nada- Scorpius respondeu franzindo o cenho

— ah, você destruiu sim, e espero que não esteja feliz por fazer a garota mais perfeita que já conheci chorar, você não merece uma lágrima se quer dela, mas não tenho culpa se ela te olhou, por tanto, não a decepcione ouviu?

— mas eu...

— não a decepcione, ela gosta muito de você, dá pra perceber quando ela sorri daquele jeito, e os olhos dela só brilham ao te ver, você pode não perceber, mas ela está quase sempre corada, porque acima de tudo Rose é tímida, e se ousar tirar isso dela eu o matarei- ele finalizou- cuide bem dela

E com essas palavras saiu a passos firmes dali, não queria olhar para trás e muito menos pensar no que fizera, já bastava tudo aquilo. Por vários segundos ele se sentiu estúpido, mas sabia que tinha feito o certo, o mais próximo de certo que podia fazer.

Os corredores estavam silenciosos, todos estariam na sala, cada ruído do vento invadia seus ouvidos, formando uma melodia bonita, e era a única coisa que o fazia respirar fundo. Ele escutou, no piso do corredor extenso, o clique de algum sapato de encontro ao chão, o silêncio era tão absurdo, que era possível ouvir a respiração ofegante da pessoa que corria o mais rápido que seu pés podiam. Ele parou, no meio do corredor, temendo se virar, o que faria?

— James! -a voz gritou, já no começo do corredor, a voz um pouco falha, mas ainda sim convicta.

Ele se virou, para encarar ela, que vinha a toda velocidade, os fios ruivos esvoaçantes, o desespero no olhar, a boca entre aberta buscando ar, as bochechas coradas, ela corria, disparava, ele imaginou que no momento que ela chegasse a sua frente pararia, porém ela continuou, além dos próprio limite, ultrapassou a linha invisível.

Ela impulsionou a ponta dos pés no chão e envolveu o pescoço do garoto em poucos segundos, tomando seus lábios em um beijo desesperado, ele sentiu o choque, mas conseguiu acompanhar seu ritmo. Ela parecia tão desesperada, com o coração a mil dentro do peito, ela não se importava se os alunos saíssem naquele exato momento, não ligaria se Rony Weasley visse aquela cena, ela não se importaria com nada.

A ruiva quebrou o beijo baixando o olhar, as bochechas tão vermelhas quanto um tomate, ela o abraçou, como se sentisse medo, fechou os olhos com força e tentou controlar a respiração. James respirou fundo tentando raciocinar, ela pulou para trás envergonhada.

— me desculpe, por Merlin, me desculpe- ela murmurou com os olhos arregalados.

James tentou raciocinar, tudo muito rápido, e ela estava ali, impulsionada pela emoção, sem pensar em nada, movida pela impulsividade, ela parecia tão feliz daquele jeito, ela estava feliz assim, ele conseguira, agora aquele sorriso era para ele.

— não precisa se desculpar...

— eu sou uma boba mesmo, eu estava lá, me declarando para Scorpius, quando você surge do nada, e de uma hora pra outra me faz parar de pensar, pensar em tudo, pela primeira vez em tempos eu não pensei em mais nada- ela explicou ofegante, como se contasse a história mais importante de sua vida.

James apenas sorriu e se inclinou, erguendo seu queixo com o indicador, e depositando mais um beijo nos lábios da ruiva, ela estava tão empolgada que deu um passo a frente, aprofundando o beijo, que já se tornara desesperado.

Ela não se importou quando as pessoas começaram a invadir o corredor de novo, quando elas começaram a parar pra saber o que estava acontecendo, quando Alvo esticou o pescoço sobre a multidão só pra ver a cena, quando todos começaram a cochichar entre si, ela realmente não se importava.

James quebrou o beijo e riu baixinho, Rose fechou os olhos escondendo o rosto no peito do moreno.

— não se pode ter privacidade em Hogwarts, as aulas acabam na hora errada, os alunos saem na hora errada, e ainda ficam fofocando -James reclamou brincalhão, Rose agarrou sua camisa com as duas mãos e riu abafadamente.

— vamos sair daqui- ela pediu olhando ao redor envergonhada

— se tiver uma saída vai ser legal- ele murmurou olhando para as pessoas, era uma meia roda.

O único jeito era passar pela multidão, mas aquilo não seria bom, ouvir as fofocas de longe não resultava em nada, porém de perto elas eram mais convidativas. Rose pegou na mão do jovem com força e começou a puxá-lo em meio a multidão, indo em direção ao salão comunal.

— não vamos pra aula?

— você quer que eu vá pra aula morrendo de vergonha? Não mesmo.

Rose tinha um brilhante sorriso no rosto, e ele podia sentir o coração aquecer, aquele sorriso era a recompensa por todos aqueles anos difíceis, uma bela recompensa.

Eles adentraram a comunal como em alívio, aquilo provavelmente sairia em algum jornal, mas ele não ligaria, o que importava era que ela estava ali, agora ela estava ali.

— oh céus! Vamos ser capa do jornal por pelo menos duas semanas!

— já pensou as coisas absurdas que vão sair? "Weasley e Potter sempre quebrando regras" isso vai ser muito louco...

— isso, se for né...

— se for?!

— se nós formos... Você entendeu- ela corava completamente a cada minuto

— nos já somos- ele abriu um sorriso maroto, especialidade Potter

— ai meu Merlin, James! Você me fará pirar- ela levou as mãos a cabeça, James gargalhou e se aproximou

— não se você me fizer perder a cabeça antes- ele sussurrou, quase inaudível, Rose sorriu e embalou os braços ao redor de seu pescoço

— eu acho que isso vai ser difícil, e eu nem sei o que estou fazendo.

— então, nós deixamos tudo pra depois - ele depositou um beijo na ponta de seu nariz e ela riu

— Jay...

— hum?

— vamos aprender com o tempo

— aprender o que?

— a suportar todos ao redor- ela murmurou cabisbaixa

— sim, nós vamos, juntos- ele sorriu e iniciou mais um beijo doce.

Não era importante, qual mal era tão difícil para James Sirius Potter? Ele só sabia que estava ali, com a garota mais perfeita que já conheceu.