Eu tinha consciência de mãos frias me tocando. Mais um par de mãos. Braços me segurando, uma palma encaixando-se em meu rosto, dedos afagando minha testa e mais dedos apertando de leve meu pulso.

   Depois tive consciência das vozes. Eram só um zumbido no início, depois ganharam intensidade e clareza, como se alguém tivesse aumentando o volume de um rádio.

   - Nenhuma mudança ainda?

   - Nenhuma.

   Senti-me totalmente desconectada do meu corpo. Como se eu estivesse engaiolada num pequeno canto da minha cabeça, sem controle algum. Mas eu não podia fazer nada a respeito. Não podia pensar. A agonia era forte demais para isso. Não havia escapatória para mim, desde meus 6 anos de idade - eu já tinha aparência de dezessete ou dezoito anos - a cada novo poder que se manifestava em mim eu sentia uma tontura e em seguida desmaiava.

   Vozes.

   E mais vozes.

   De longe, a voz da Cullen, Alice.

   - Aya abrirá os olhos daqui a trinta segundos. Eu não duvido que ela possa nos ouvir agora - ela disse com sua voz de anjo.

   - Aya, minha filha - era a voz tranquila de Aro, meu pai - Pode me ouvir?

   Depois lábios frios estavam em meu ouvido.

   - Por favor Mi - só Alec me chamava de Mi - acorde. "Eu te amo" - As palavras dele me permitiram escapar da tortura que me prendia em minha própria mente. Ele me amava? Desde quando?

   À medida que a dor cedia, vi-me de volta ao meu corpo. Minhas pálpebras tremeram. Mais vozes invadiram no mesmo instante a minha cabeça.

   - Ah, Aya - Jane e Alec disseram e suspiraram de alívio ao mesmo tempo. Ambos me abraçaram.

   "Que bom que você acordou, minha Mi." - Alec disse.

   Estranhei o que disse, isso não é normal. Mesmo que ele me amasse - o que era impossível - ele não diria em voz alta. Apesar que, de qualquer forma - com um simples toque - meu pai descobriria.

   - Alec - Sussurrei.

   - Sim, estou aqui.

   Consegui erguer as pálpebras e fitei seus olhos calorosos e vermelhos de sangue que estavam acima de mim. Foi quando uma voz invadiu minha mente, e o mais anormal de tudo. A voz era minha.

   - "Eu não estou estressada! Será que você está ficando velho demais e não se lembra o que lhe disse? Preciso repetir mais uma vez? NÃO SOU MAIS BEBÊ, TENHO 16 ANOS! JÁ SEI ME VIRAR SOZINHA!" 

   Disso não havia dúvidas, Aya Michelle Volturi, não era mais uma criança. Era uma mulher. E bota mulher nisso, soltei sem querer uma risada abafada. Nesse momento ela se virou para mim.

   - "Do quê você está rindo Demetri?"

   Estava diante dela, estirada nos braços de Aro, Alec e Jane com suas lindas pernas à mostra. Como uma meia humana e meia vampira podia ser tão bonita assim? Heidi, era atraente, mas a Aya era ainda mais gata.

   Senti meus olhos se arregalarem de susto, era um pensamento. De Demetri. Ele me achava gata. Óh céus, meu novo poder. Eu posso ler mentes, eu escuto tudo que os outros pensam. 

   - Aya, meu anjo, está se sentindo bem? - Aro disse, afagando de leve com seus dedos gelados o meu rosto. Mas eu sabia, que na realidade ele queria me tocar, para tentar me escutar.

   "Há algo de errado em você. Será o seu novo poder?" Aro pensou. Mas para mim, era como se ele estivesse mesmo conversando comigo.

   "Aro, eu posso ler mentes" pensei instantaneamente, como se estivesse mesmo conversando com ele.

   Aro fechou os olhos e se concentrou, eu não sabia o que estava acontecendo. Ele havia mesmo escutado o que eu havia dito? Ou eu estava ficando louca? Decidi ler sua mente.

   "Concentre-se, Aro. Você está imaginando coisas. Aya está te deixando totalmente desequilibrado" ele pensou.

   Me concentrei novamente, tentando estabelecer 'contato' mental com meu pai. "Pai, você não está imaginando coisas, infelizmente, isto está mesmo ocorrendo".

   Quando ele voltou a abrir os olhos, esses estavam brilhando de excitação, ele sorriu.

   - Ah, que ótimo! Minha princesinha tem um novo talento. E esse é semelhante ao meu - Aro declarou à todos.

   - O quê? - Disseram todos em coro, exceto Alec e Jane.

   "Poder semelhante? Qual será?" Alec pensou.

   - Eu posso ler mentes - respondi mais baixo que um sussurro. Mas graças à super audição dos vampiros, todos escutaram.

   "Ler mentes? Como Aro?" Alec questionou. Concentrei-me, de forma que eu pudesse fazer o mesmo que fiz com meu pai, conversar mentalmente "Eu consigo ler mentes, mas não como meu pai, não preciso entrar em contato com a pessoa." Olhei em seu rosto, e vi que seus olhos se arregalaram.

   - Ainda tem mais, ela pode se comunicar com outros telepaticamente. Talvez seja por isso que não consigo ler sua mente, ela deve estar bloqueada - Aro falou orgulhoso de ter uma filha com um poder tão fantástico.

   "Pensei que estivesse perdendo o meu poder" Jane pensou aliviada.

   - Isso me lembra de Edward Cullen - Aro falou.

   O que meu pai disse fez com que eu me lembrasse que o Cullen de cabelos cor de bronze também lia mentes, e que estava preocupado mais cedo por não conseguir ouvir meus pensamentos, estava preocupado com a segurança da sua amada. Meus pensamentos foram interrompidos pela voz de Aro. 

   - O seu poder é parecido com o dele, na verdade é idêntico, porém você também consegue se comunicar. Glorioso! - Aro disse empolgado.

   - Onde eles estão? Quando estava desacordada, ouvi Alice falando - Falei tentando conter a curiosidade que nascia dentro de mim, onde estava o garoto de cabelos cor de bronze?

   - Eles partiram a poucos segundos antes de você acordar - Meu pai respondeu, e pelo jeito notou que minha curiosidade não era saber sobre isso, e sim como eles estavam. "Em perfeitas condições" completou mentalmente.

   - Contra a nossa vontade - Caius completou a frase de Aro. "É contra regras humanos saberem da existência de vampiros. Nossa espécie corre perigo. E tudo isso por causa de uma desprezível humana vulnerável!"

   - Paz meu amigo, paz - Aro pousou sua mão levemente no ombro de Caius - Falando nisso, minha adorável Aya, você decidiu o que irá fazer? Ir com Alec e Jane, ou ficar com os Cullens?

   "Adoraria te acompanhar, Aya" Alec pensou.

   Não queria magoá-lo, sabia que se ele me acompanhasse não estaria completamente livre. E sim, sendo vigiada. Eu gostava muito de Jane e Alec, mas queria viver num mundo diferente, num mundo normal.