Burning Love escrita por Yumenaya


Capítulo 29
A terceira esposa




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- Aya! – uma voz rouca e familiar soou no alto da escada fazendo com que meu coração disparasse ainda mais do que o normal.

***

Jacob desceu as escadas apressado, quando chegou aos últimos degraus ele deu um salto elegante, parando na nossa frente sem fazer nenhum barulho. Ele abriu aquele sorriso que me deixava sem ar. Antes que eu pudesse dizer algo e me recompor ele passou as mãos pela minha cintura me puxando para um abraço de urso.

- Fico feliz que esteja melhor, pequena! – ele me levantou do ar com tanta facilidade e deu um giro. E eu me afundei em seu abraço quente e aconchegante. – Eu estive tão preocupado com você.

- Eu estou melhor. – sorri.

Contra minha vontade ele se afastou um pouco para olhar meu rosto.

- O que você está fazendo aqui? – a testa de Jacob enrugou devido à preocupação.

Mordi meu lábio inferior, lembrando-me do motivo inicial com a minha visita a Bella.

- Bella, você sabe aonde o cheiro é mais forte?

- Acho que no meu quarto. – Bella respondeu, e fez uma careta.

Os olhos de Jacob se estreitaram.

- O que você veio fazer aqui?

- O mesmo que você – sorri. Jacob continuou a me encarar confuso – Eu conheço todos da guarda, então se forem eles reconhecerei pelo cheiro. Mas de qualquer forma, saberei dizer quem esteve aqui.

Fomos até o quarto de Bella.

Paralisei quando o cheiro doce, típico de um vampiro inundou minha mente.

O garoto louro era musculoso e alto, possuía os olhos vermelhos tão vividos como todos da guarda dos Volturis. Possuía em suas mãos uma blusa vermelha, que exalava um cheiro que o enfeitiçava. Seus lábios estavam apertados numa linha rígida.

Pisquei os olhos rapidamente, expulsando qualquer imagem que se referia ao passado. Bella e Jacob olhavam para mim.

- Alice. – eu disse num tom acima do normal e no segundo seguinte ela estava no quarto. – Ele não pertence aos Volturis. É familiar para você?

Coloquei a imagem em sua mente.  Alice se concentrou nas imagens que repentinamente surgiram na sua mente.

- Ele queria pegar o cheiro de Bella. – Alice afirmou - Mas se não pertence à guarda dos Volturis, quem é?

 Bella se encolheu com aquele nome.

 - Eu não sei. – disse eu, tentando conseguir mais detalhes.

Depois de pegar algumas peças que continham o cheiro de Bella que estavam jogados pelo quarto, o garoto desceu as escadas silenciosamente.

Ele estava prestes a sair da casa quando algo lhe chamou a atenção. Havia um humano ali. Charlie dormia profundamente deitado no sofá diante da televisão que exibia um jogo de beisebol.

O garoto foi atraído pelo humano, e foi se aproximando cada vez mais. Seus olhos ficaram negros subitamente, e quando estava prestes a sugar todo o sangue que continha naquele corpo algo o despertou. Ele saiu correndo daquela casa.

Corri em sua direção disposta a segui-lo, mas algo começou a me puxar para fora daquela cena. Pisquei os olhos novamente e eu não estava mais no quarto de Bella.

Alice me chacoalhava freneticamente, parecendo estar preocupada.

- Aya? Aya? Aya?!

- O que foi Alice? – perguntei olhando a minha volta. Eu estava na sala, Bella e Jacob me observavam inquieto. Porém, parecia estar tudo normal. Tudo sob controle.

- Eu vi você correndo e sumindo na floresta. De repente todo o seu futuro desapareceu – ela disse visualizando tudo ficar preto, e meu futuro não passavam de simples borrões.

Respirei fundo.

- Eu estou bem. Apenas iria segui-lo.

Jacob também estava lá, ao meu lado, me observando com a testa franzida. Ele abraçava Bella, de uma forma protetora. Vê-lo ali, tão próximo de mim e ao mesmo tempo tão inalcançável. Era uma sensação terrível.

Fechei os olhos com força quando a dor voltou, mãos geladas envolveram minha cintura. Abri os olhos assustada.

- Edward? – perguntei confusa.

- Você está bem? Rosalie me contou que Luke foi até seu quarto e... – percebi pelo canto do olho Jacob tremer com a menção daquele nome.

- Não aconteceu nada. Ele foi se desculpar, está tudo bem. – abri um sorriso fraco. Edward abriu a boca para protestar – Veja você o conhece?

Mostrei as imagens para ele. Suas mãos cerraram em punhos.

- Riley Biers. Um nativo. – ele falou pausadamente – Desapareceu há um ano.

- Ele veio pegar o cheiro de Bella – Alice informou.

- O cheiro... – Edward repetiu, se concentrando. – Um Volturi?

- Não. Eu nunca o vi. Mas coisa boa não deve ser. Por que não matou Charlie? – essa última parte perguntei num sussurro para que Bella não escutasse. Mas Jacob com seu senso aguçado de lobisomem captou.

- Não sei – falou Edward, envolvendo-a num abraço.

Jacob se afastou deles.

- O que está havendo aqui? – perguntou Jacob, parecendo estressado.

- O visitante de Bella veio pegar o cheiro dela, e não sabemos o porquê.  Só não entendo porque ele não atacou Charlie. Algo o impediu, se eu pudesse...

Edward me lançou um olhar, repreendendo-me.

- Não, Aya. Você já fez demais, agora precisa voltar e descansar. Ainda não está cem por cento.

- Já estou pronta para outra, Edward. Pare de ser chato! – reclamei, revirando os olhos. Depois pisquei discretamente para Bella. – Sabe, acho que seria bom se você relevasse um pouco sobre certas coisas.

Acenei para Bella, que ainda me encarava em dúvida. Edward se contraiu com a minha frase, e Jacob permaneceu parado. Alice tinha seus lábios numa linha rígida, por causa do meu futuro incerto. Quando o seu celular tocou ela saiu da casa silenciosamente.

Quando também ia sair pela porta da frente, escutei Edward murmurar algo como “deixarei vocês se despedirem. Daqui a pouco eu volto.” E se posicionar ao meu lado.

- Aya, o que você queria dizer sobre relevar? – ele perguntou com um tom suave, mas pude perceber a preocupação atrás delas.

- Bella é totalmente livre, mas só pensa em lhe agradar. Enquanto estávamos lá, ela só pensava em como lhe pedir permissão para passar esta noite em La Push com os meninos. – ele me olhou intrigado. - É como se você fosse o pai dela, e não o namorado.

Edward abaixou a cabeça.

- Você precisa confiar nela, como Bella confia em você. – soei firme, embora desejasse nunca dizer aquilo. Afinal, estava aproximando cada vez mais Bella de Jacob.

Pude ver na mente dele onde estava o problema. Ele confiava em Bella, só não confiava em Jake. Abri um sorriso fraco.

- Sinceramente, você tem medo de perdê-la? Edward, Bella é louca por você. – eu afirmei, e ele abriu um sorriso torto lindo.

- Obrigado, Aya. – me puxou para um abraço forte. Um abraço que eu tanto precisava.

- Sim, sim. Agora vá logo falar com ela. – eu me afastei dele, e abri um sorriso mais sincero.

- Um dos muitos riscos de socializar com vampiro – disse Jacob. – Você fica cheirando mal. Um risco de menos importância, comparativamente.

A minha frente, Edward reprimiu um sorriso de lado.

- Edward? Você fez isso de propósito? – perguntei depois de entender o que havia acontecido.

- Tchau, Bells.

- Já vai embora?

- Ele está esperando que eu vá. Posso ouvi-lo lá fora.

- Ah.

Nesse instante Rose, Alice e Esme apareceram perto de nós, e Edward entrou na casa de Bella.

- Podemos ir? – Esme me perguntou, delicadamente.

- Esme, acho que Aya precisa fazer uma coisa antes. – Alice falou. Olhei para ela em dúvida.

Rosalie piscou para mim, e revirou seus olhos dourados, parecendo estar entediada. Em seguida, as três saíram da minha vista.

- Aya!? – uma voz animada surgiu da floreta. E de lá, a figura de Embry apareceu com um sorriso iluminado, sua voz mesclava empolgação e surpresa.

- Embry! – também gritei e me atirei em seus braços, escondendo meu rosto na curva do seu pescoço. Seu calor me preenchia de uma forma gostosa, seus braços entrelaçaram cautelosos minha cintura. Isso era tudo o que eu precisava agora. Embry, todo o seu calor, e a segurança que ele emanava para mim.

Ele me levantou no ar, e me girou.

- Senti sua falta. Você nunca mais foi me ver – ele acusou. Antes que eu pudesse lhe responder algo, novamente braços quentes envolveram meu corpo.

- Hey! – cumprimentou Quil, também com o sorriso caloroso no rosto. – Fiquei com saudade da sua companhia.

- Ou seria da comida? – disse Embry irônico.

Dei uma risada sonora. Quil deu um soco no ombro direito de Embry, que logo retrucou o gesto, dando início a uma luta seguido por vários socos.

Coloquei-me entre eles.

- Ei, parem! – exclamei, preocupada que eles se machucassem, mesmo sabendo que tal coisa não aconteceria tão facilmente.

Eles continuavam rindo que nem tontos.

- Precisamos lhe dizer uma coisa. – Embry começou a dizer, parando de rir.

- É um convite, na verdade. – Quil complementou.

- Teremos uma festa na praia com todo o conselho Quileute, hoje à noite. Vai ser legal. – disse Embry.

Bella estaria lá, eu sabia. Afinal, eu havia convencido a Edward. E consequentemente, Jacob estaria ao seu lado, já que estariam “sozinhos”, e sem ninguém os afastando. Não sei se sou forte o suficiente para suportar isso.

- Não sei garotos. Antes preciso...

- Pedir permissão para os seus sanguessugas? – a voz de Jacob era cheia de ironia implícita. Isso fez com que meu coração descompassasse.

- Jacob. – minha voz saiu aguda, e em seguida suspirei controlando a minha ansiedade. – Não os chame assim. E bem, não sei se serei bem-vinda nesta reunião.

Abri um sorriso incerto e depois suspirei. Afinal como Emily disse, eu era a garota-vampira, e sempre seria. Além de conviver com sete vampiros – embora sejam todos vegetarianos -, eu também era uma meia vampira. A inimizade entre vampiros e lobisomens ia além de qualquer situação.

- Billy faz questão da sua presença lá, e é claro que Sam também. – Embry sorriu - O velho Quil e o resto do grupo estão ansiosos para conhecê-la. Estarão todos lá, os garotos, Emily, Kim, e os anciões. Eles contarão as nossas lendas, será a primeira vez de Seth e Leah também. Então, você não ficará deslocada.

Só de imaginar rever todos os garotos, meu peito pareceu ficar mais leve. Independente do ambiente que fosse, se os meninos estiverem presentes eu sabia que iria me divertir. Seria uma ótima distração se Jacob não estivesse lá. Mas, infelizmente ele estaria. E Bella também.

- Emily e Kim estão esperando que você apareça. E bem, talvez Leah goste você.

- A Leah? Aquela lá não gosta nem do irmão! – falou Quil divertido.

- Olha, agora está tudo muito tenso... O visitante de Bela...

- O que é isso, você acha que alguém passa por todos nós? Até mesmo aquele sanguessuga invisível não seria tão idiota a ponto de passar por nós. – Jacob disse, seus olhos grandes e negros estavam cheios de uma súplica indisfarçável.

Eu sorri com aquilo.

 “Aya vá. Talvez você encontre sua felicidade, se não, nós estaremos ao seu lado para te apoiar em qualquer decisão que você tomar. Só tome cuidado.” O pensamento de Rosalie me pegou desprevenida. Ela estava me dizendo para ir a uma reunião que estaria cheia de lobisomens?

Meu sorriso se alargou ainda mais com isso. Saber que não precisaria discutir com ninguém, era bom demais.

- Tudo bem, eu vou. – disse por vencida, assistindo os três garotos abrirem sorrisos. Embry me puxou pela cintura, esquentando meu corpo e me fazendo relaxar automaticamente.

Durante todo o caminho para La Push tive que aguentar as brincadeiras de Quil em relação a minha proximidade com Embry. Jacob parecia nervoso com toda aquela situação.

E isso quase acabou com meu autocontrole. Ele podia ficar entre beijos e abraços com Bella, porém eu não podia nem me aproximar de Embry, que não era nada além de um grande amigo?

Sentei no círculo mais distante do centro da fogueira, o mais escondida possível. Vi Jacob me procurando, mas ele não me viu. Mas eu o via muito bem.

Lugar perfeito, Aya. Pensei. O quanto mais um coração pode ser machucado e continuar batendo? Ah esqueci, sou imortal. Nada pode me abalar, tecnicamente.

Da onde eu estava podia ver os dois juntos. Bella apesar de se auto menosprezar era uma garota bonita. E simpática. Próxima aquele grupo de imensos garotos lobisomens, ela parecia ainda mais frágil. Será que ela imaginava o mal que me causava? A dor dilacerante que eu sentia agora? Acho que não. Ninguém sabia.

- Aí está você! – Embry me pegou no colo, envolvendo minha cintura.

- Hey, Em! – eu disse, desanimada.

- O que há com você? Os meninos querem te ver, vamos!

- Nada demais – era tudo que eu podia dizer.

Ele me olhou nos olhos.

- Venha comigo. Seth não para de fazer perguntas sobre você.

- Claro. – comentei, e me apoiei nele, procurando por apoio.

- Você vai comer esse cachorro quente? – ouvi Paul dizer a Jacob.

Jacob encostou-se aos joelhos de Bella e continuou a provocar com Paul. Virei à cabeça para olhar o mar ao longe e ouvir as ondas quebrando em baixo do penhasco onde outro dia pulei com Embry.

Não era saudável o que eu estava sentindo. Embry passou os braços por meus ombros, como se soubesse que eu precisava de amparo. Quanto mais nos aproximávamos, mais o meu coração acelerava.  

- Hey pessoal! – forcei um sorriso, assim que chegamos à roda.

A atenção de todos foi atraída para mim.

- Aya! – gritaram os meninos em coro.

Paul parou de discutir com Jacob por causa de uma salsinha e veio ao meu encontro.

- Ei, gata. – ele disse passando um abraço de lado e afastando Embry de mim. Que o lançou um olhar zangado e começou a tremer levemente. – Você fez muita falta, sabia?

- Cara, acho que nunca vi Embry tão bravo assim em toda a minha vida. É melhor você larga-la – avisou Quil num tom brincalhão.

Todos riram.

- Sou Seth Clearwater. – um menino de aparência jovem, não aparentava ter mais de 15 anos estava postado diante de mim com um sorriso enorme.

Ela é mesmo muito bonita...” ele pensou, enquanto me observava de esguelha.

Dessa vez meu sorriso soou mais natural e verdadeiro.

- Aya Cullen – me apresentei e aumentei ainda mais o meu sorriso. – Você também é muito bonito, Seth.

O garoto pareceu ficar envergonhado e sua pele assumiu uma cor avermelhada. Era uma cor adorável. Que eu percebi ser típica dos descendentes dos Quileutes.

Todos os meninos riram da situação.

- Ela lê mentes, Seth! Cuidado com o que pensa, hein garoto! – avisou Jared, desviando a atenção de sua namorada, Kim, por um momento. A mesma me lançou um sorriso simpático, que eu logo correspondi.

- Pensei que nunca mais viesse nos visitar! – Emily falou, fingindo estar brava, mas logo o seu rosto se suavizou. – É bom vê-la aqui, garota-vampira.

Sam concordou com um aceno, envolvendo Emily num abraço. Ela se acomodou nos braços de Sam quase automaticamente. Eles se moviam em sincronia, como se fossem feitos um para o outro. Estava bem claro que eles me amavam.

- Digo o mesmo. Garota dos lobisomens! – disse de volta.

A metade de sua face sorriu.

- Michelle. – Billy disse acenando para mim, na sua cadeira de rodas. – Se importa de eu chamá-la assim?

- Não, claro que não Billy. Como você está?

- Saudável como nunca. – ele respondeu, movimentando-se com dificuldade a cadeira de rodas, afinal estávamos na areia. – Bem, está é Sue a mãe de Seth, e Leah. – Billy apontou para uma mulher bonita e atraente, não passava dos 40 anos e uma garota de cabelos curtos e negros, pele bronzeada e uma expressão serena. Ao seu lado estava o bisavô de cabelos brancos de Quil. – E este é o velho Quil.

- Me chamem de Aya. – falei sorrindo para eles. Sue me lançou um sorriso triste, e então eu vi que ela era viúva. Leah nem se quer me direcionou um olhar. – Oh, sinto muito pelo seu marido, Sue.

Ela me olhou curiosa.

- Aya consegue ler os pensamentos dos outros. – explicou Billy.

Então continuou a sua conversa com o velho Quil que ainda me direcionava um olhar cheio de enigma.

A garota que parecia estar excluída do grupo observava o horizonte, parecendo infeliz. Ela fechou os olhos, tentando esquecer-se de onde estava e com quem estava. Então eu soube de seu grande amor por Sam, e que ele teve Imprinting com sua prima, Emily. Leah odiava o triângulo amoroso que se formara.

Eu entendia perfeitamente o que ela sentia. Pois estava passando por situações semelhantes à dela. Compreendia o quão desconfortável era presenciar a “felicidade” do amado com outra, e não poder mudar aquilo.

Suspirei pesadamente.

A noite se seguiu com muitas histórias Quileutes. E durante todo esse tempo fiquei com os olhos fechados e, aconchegada nos braços de Embry, mesmo que não fossem os braços que meu corpo pedia. Deixei-me viajar pela voz de Billy que preenchia os meus pensamentos, e eu me vi em outra época.

A história da terceira esposa foi a que mais chamou a minha atenção, pois ela havia salvado sua família. Dando a sua vida em troca.

Eu sempre fora muito individualista. E agora, talvez, esteja na hora de me redimir. Se eu o amava tanto, eu deveria me preocupar com uma só coisa: A felicidade de Jacob. Ele estava feliz? Parecia que sim, então teria que me bastar.

Eu não era a única a pensar na terceira esposa.

... só uma humana sem nenhum dom nem poderes especiais. Fisicamente mais fraca e mais lenta do que qualquer dos monstros na história...” pensava Bella, ainda entretida com as lendas, “... mas ela foi a chave, a solução. Ela salvou o marido, os filhos jovens, a tribo...” e foi com esses pensamentos que ela adormeceu nos braços reconfortantes de Jacob.

Abri meus olhos, e percebi que já não havia quase ninguém na roda da fogueira. Todos estavam espalhados conversando. Alguns garotos disputavam os últimos cachorros quentes. Bella estava adormecida e Jacob estava em pé ao seu lado falando com alguém ao celular. Eu me levantei, passando a mão para retirar a areia da minha calça jeans, e quando levantei meu olhar, ele se encontrou com a de Jacob que me encarava tristemente. Bella continuava dormindo.

Sorri para ele, querendo dizer que estava tudo bem, que ele seguisse seu destino que eu seguiria o meu, mas só me virei e caminhei em direção às pessoas que conversavam entre si animadas, porém desviei no meio do caminho, seguindo até onde Leah estava sentada sozinha.

Acomodei-me ao seu lado silenciosamente.

- Eu entendo como você se sente. – sussurrei, soando compreensiva. Ela abriu os olhos, e estes brilharam de raiva.

- Todos dizem isso, mas ninguém realmente entende – sua voz era cortante.

- No meu caso estou sendo sincera, Leah. – olhei em direção onde Jacob pegava Bella no colo e se despedia dos garotos. – A pessoa que amo, também é apaixonado por outra. E eu não tenho nenhuma chance. – abaixei minha cabeça, desviando a atenção dele.

Leah seguiu o meu olhar, parecendo entender.

- Eu sei que o que sinto não é saudável para mim, porém é algo...

- Incontrolável. Eu sei. – ela disse abrindo um meio sorriso. Era a primeira vez naquela noite que a via sorrir – Pela primeira vez acho que encontrei alguém que tem ideia do que eu passo. Você também pode ler os pensamentos dele em relação a ela, não é?

Assenti tristemente.

- Infelizmente.

- Ele sabe sobre o que você sente por ele? – ela perguntou, parecendo estar curiosa.

- Acho que não. Sabe, para ele somos apenas bons amigos, nada mais. – abri um sorriso triste.

Leah não era uma garota insuportável como todos haviam me dito. Ela apenas não era compreendida, e por causa da dor dilacerante que sentia, se excluía dos outros, fechando-se para si mesma. E além da dor de não ser amada, também perdera o seu pai. Eram tragédias demais para uma única só pessoa suportar.

Olhei adiante. As nuvens já cobriam o céu da noite. A chuva não iria demorar a chegar.

Todos estavam preocupados em organizar seus pertences, pois as gotas da chuva já começavam a cair. Antes de se mover, Leah me lançou um olhar singelo.

- Nunca pensei em dizer isso... Mas foi bom te conhecer, Aya. – ela disse, abrindo o segundo sorriso da noite. Sorri de volta.

- Sim, sim. – assenti concordando. – Só não vou lhe convidar para dar uma passada em uma casa cheia de vampiros porque sei que não irá, mas... – nós rimos e vários olhares curiosos caíram sobre nós – Quem sabe podemos sair para desabafar um pouco? Entre garotas, nada de garotos? “E quem sabe encontrarmos outro amor? Um amor que seja correspondido?”

Ela abriu um sorriso amplo dessa vez. Isso surpreendeu a todos.

- Seria... – Leah hesitou antes de continuar sua frase, concluindo com um pouco mais de animo. – Bom. Até mais, Aya.

Nós trocamos um aceno e ela foi para perto de sua mãe e Seth. Um segundo depois Embry, Quil e Paul se aproximaram de mim. Jared tinha ido levar Kim embora que também estava adormecida nos seus braços.

- Agora tenho certeza, a Aya é capaz de fazer milagres! – disse Quil, rindo.

Foi possível escutar um grunhido surgir atrás de nós. Leah. Virei-me para ela, que deu um meio sorriso. “Exagerados. Esses garotos são insuportáveis!” pensou, bufando.

- Aya o que você fez com minha irmã? Leah está toda sorridente depois que conversou com você. – disse Seth, aparecendo de repente na minha frente. Ele estava todo saltitante e sorridente. – Me diga o seu segredo, por favor.

- Sossegue Seth. Desse jeito vai assustar Aya – Paul deu uma pancada nos braços de Seth.

- Vocês apenas precisam entender o lado dela. É difícil ser a única garota num grupo cheio de garotos. Imaginem-se no lugar dela, vocês num grupo só de garotas.

Seth fez uma meia careta, enquanto Quil e Paul sorriram maliciosamente. Embry foi o único que compreendeu o verdadeiro espírito de que eu estava me referindo.

- Eu adoraria – concluiu Paul. – Principalmente quando elas perdessem o controle, ou voltassem a sua forma humana.

Quil assentiu e gargalhou concordando. Já Seth revirou sues olhos negros.

- Vocês não prestam nenhum pouco mesmo! – ri de leve, dando um leve cutucão neles.

- Seth! – Sue chamou-o. – Precisamos ir, está tarde.

Ele abaixou a cabeça, cabisbaixo. Odiava o fato de ser novo demais.

- Tenho a mesma idade que você, Seth. 15 anos – confidenciei sorrindo. – Então somos dois.

- Sério?

- Não deixe nunca as aparências enganá-lo. Agora vá fazer companhia a sua mãe e Leah, elas precisam de um homem para protegê-las. – pisquei para ele. Seth me deu um beijo estalado na minha bochecha e afastou-se de nós sorridente.

- Ok. Você definitivamente sabe levantar uma estima de uma pessoa. – Concluiu Embry, me envolvendo num abraço de lado.

- E fazer milagres. Meu Deus, que garota é essa? – Quil levantou as mãos para o alto.

- Aya quer ser minha namorada? – perguntou Paul com um sorriso brincalhão, mas ainda assim malicioso no seu rosto.

Entrei na brincadeira e me afastei do abraço de Embry. Abri um sorriso encantador.

- Adoraria...

Paul puxou-me pela cintura com sua mão forte e quente. Nossos rostos ficaram a centímetros de distância. Podia sentir sua respiração forte e seu hálito quente. Ele aproximou seu rosto ainda mais do meu, o sorriso ainda em seu rosto. Quando nossos lábios estavam quase se tocando, me afastei dele rindo.

Quil suspirou teatralmente.

- Pensei que fossem se beijar!

Continuei rindo, e fui acompanhada por Paul e Quil. Embry tremia levemente, parecendo alterado. Me aproximei dele e o abracei carinhosamente.

- Calma. Só estávamos brincando, Embry. – sussurrei próximo ao seu ouvido, ele se encolheu de leve quando um tremor passou por seu corpo.

- Aya podemos conversar? – disse Jacob me fazendo afastar rapidamente de Embry e assumir uma expressão séria. Ele estava com uma expressão cansada.

Assenti rapidamente.

- Embry... – comecei a falar, me virando para ele.

- Não se preocupe comigo, eu estou bem. Quer que eu te espere? – perguntou colocando rapidamente um sorriso em seu rosto.

- Pode ser não vamos demorar. – disse rapidamente, andando mais rápido em direção ao mar. Jacob me seguia. Então quando ficamos afastados o suficiente que ninguém nos escutasse, ele apressou seus passos ficando ao meu lado.

- O que há de errado com você, Aya? – ele perguntou, segurando meu braço me obrigando a parar de andar. – Você me ignorou durante toda a reunião.

- Não há nenhum problema comigo, Jacob. – respondi rude.

- Você está brava comigo? Nunca me chamou de Jacob – sua testa enrugou de preocupação. – Agora só falta me chamar de Black.

- Jake – eu olhei para ele, enquanto meus pensamentos iam a mil. – Eu preciso lhe dizer uma coisa. – respirei fundo e controlei os meus batimentos cardíacos, assistindo-o a assentir. – O amor não é composto apenas por uma pessoa, e sim por dois, é preciso que os dois estejam conectados na mesma sintonia para acontecer...

- Aya... – Jacob me interrompeu, coçando a nuca e ressaltando o seu abdome definido. Seus cabelos estavam molhados, o deixando ainda mais bonito.

- Apenas escute o que eu tenho para lhe falar. É importante. – chacoalhei minha cabeça, desviando a minha atenção do seu corpo, Jacob arqueou sua sobrancelha. – Eu te amo. – sussurrei, e as lágrimas rolaram nos meus olhos – Eu sei que você não sente nada por mim, sei que você ama só a Bella. Eu só estou feliz quando você está feliz, e você não está – a minha voz embargou e mais lágrimas desciam pela minha face. – Só vou ser feliz quando você estiver. E se a sua felicidade só puder acontecer do lado de Bella, seja feliz, pois assim eu também serei.

Jacob me observava com os olhos incrédulos. Ele estava literalmente sem palavras.

- O amor que sinto por você, apareceu de repente, não sei exatamente a hora exata. Só sei que ela me dominou, e só agora tomei conta disto. Mas agora eu já estou tão envolvida que não adianta mais fugir, correr, tentar... Mas como eu já te disse antes, o amor não é só, pois não há como amar sozinha. Sei que não há como se amar duas pessoas ao mesmo tempo. Eu sei que você ama Bella, e que nada vai mudar isso. Quando você ao lado dela seus olhos brilham, e eu tenho certeza que ela é o seu grande amor. E eu sou apenas uma boa amiga para você. – Sequei as lágrimas que desciam incontrolavelmente pelo meu rosto e suspirei – Eu precisava que você soubesse o que eu sinto.

Naquele momento o silêncio reinou. Cada um estava imerso em seus próprios pensamentos. Eu observava o mar que estava diante de nós. As ondas rebeldes batiam nos nossos pés. Jacob estava de frente para mim, fitando além. Ou assim eu pensava. Depois de alguns minutos em silêncio ele se aproximou de mim, me fitando. Eu tive que fitá-lo também. Seus olhos eram pretos como a escuridão que nos cercava. Quanto mais se luta para não se perder nele, mais se perde. Quanto mais eu tentava não olhá-lo, mais eu olhava.

Eu estava praticamente hipnotizada. Ele foi chegando mais perto até que senti seus lábios tocando os meus. Naquela hora eu me desliguei do mundo. Dessa vez, Jacob me beijava cuidadosamente como se pedisse resposta para o beijo. Eu me entreguei ao beijo. Não importava mais se ele só estivesse querendo me usar para esquecer Bella. Não importava se ele não me amava. Eu tinha que aproveitar o máximo possível dos momentos ao lado dele. Só aquele momento importava. O beijo foi cessando devagar e eu abri os olhos. Jacob voltou a olhar para o chão.

- Me desculpa. Prometo que isso não vai mais se repetir. – seus olhos eram sinceros.

- Qual o seu problema, Jacob? – perguntei, sentindo novamente as lágrimas rolarem pelo meu rosto e a raiva tomar conta de mim.

- Eu não sei o que eu sinto... Desculpe-me.

Bufei pesadamente e me afastei dele. Antes que ele pudesse dizer algo, ou me segurar eu corri em direção à floresta com um buraco enorme em meu coração. Meu peito doía e o ar parecia faltar a mim.

- Aya, que bom que te achei... – a voz de Embry surgiu da escuridão, algum tempo depois e então ele apareceu fitando-me, analisando-me com cuidado. Ele abriu um sorriso relaxado, contrastando na noite escura, simplesmente reluzindo.

Embry enlaçou nossas mãos e me puxou para perto dele.

- Quer caminhar um pouco comigo? – ele ainda me fitava. Ele deu um beijo no topo da minha cabeça. A chuva ainda caía tranquila, deixando um cheiro de terra molhada que parecia me tranquilizar de certa maneira. – Desculpe, quer que eu a leve para casa? Você está toda molhada...

- Não se preocupe com isso, Embry. Eu estou bem – sorri fraco.

Aproximei-me dele, Embry envolveu minha cintura, pousando sua mão quente e firme em minha cintura. Apoiei minha cabeça em seu ombro, o que o fez sorrir.

As gotas da chuva começaram a engrossar, porém ainda assim tocavam suavemente minha pele. Igual no dia em que Jacob e eu demos nosso primeiro beijo. Suspirei. Não era ele que estava a minha procura. Provavelmente estava arrependido de ter me beijado e deveria estar pensando em Bella. Senti um bolo de lágrimas começando a se formar novamente em minha garganta. Para o meu próprio bem eu precisava para de pensar nele, não me fazia bem. Era Embry quem estava ao meu lado, que estava me reconfortando. Ele era o meu sol no meio da chuva. Meu sol particular.

Funguei baixinho. Embry fez um carinho com o polegar para secar a lágrima que escorreu pelo meu rosto.

- Você está bem?

- Era só uma gota de chuva – murmurei com a voz rouca. – Nada demais.

Ele assentiu, mesmo sabendo que não era verdade. Ele havia percebido que eu estava triste.

Embry. Embry. Embry. Eu repetia seu nome mentalmente, tentando me obrigar a parar de pensar em Jacob. Embry.

Embry afastou sua mão da minha cintura, o que me fez acordar para a realidade. Ele se sentou em um tronco enquanto me fitava.

Respirei fundo, sentando-me também no tronco. Sentei-me ao seu lado e busquei sua mão que repousava sobre sua perna, entalecei nossos dedos fitando as estrelas que brilhavam no céu. Aproximei meu corpo ainda mais do seu.

- O que foi? – ele perguntou rindo baixinho.

- Quero ficar perto de você. – Um brilho diferente surgiu nos olhos dele, por isso acrescentei: - E aqui também está frio.

- Eu não sou nenhum aquecedor particular, Aya – ele revirou os olhos e eu ri.

- Mas você é realmente quente. – eu me aconcheguei mais próxima dele. Embry não me rejeitou, pelo contrário, ele passou o seu braço livre por trás das minhas costas, me puxando para mais perto.

- Eu sei. – ele disse todo cheio de si.

Nós dois rimos em sintonia. Então o silêncio predominou a nossa volta. Embry começou a brincar com meus dedos, então ele entrelaçou-as. As nossas peles contrastavam. Pequeno e grande. Claro e escuro. Vampiro e Lobisomem. Estremeci com aquilo.

- Embry? Não te incomoda eu ser... Meia vampira? – perguntei num sussurro, com medo da sua resposta. Ele respirou fundo.

- Não. Você é diferente deles, Aya. É humana. – ele continuou olhando nossas mãos.

- Mas e o meu cheiro? Não é muito doce...? – falei, me lembrando do comentário de Jacob mais cedo.

- Ele é maravilhoso. Doce, mas na medida certa. – ele me olhou com os olhos calmos, e um pequeno sorriso brotou nos seus lábios. – Um cheiro totalmente inebriante.

Abaixei o meu olhar para as areias, mas a mão de Embry surgiu no meu queixo, fazendo com que eu o olhasse nos olhos. Nós ficamos nos encarando por alguns segundos. Nossos olhares conectados por algum fio invisível, e nossos rostos estavam próximos demais. A boca dele se entreabriu e eu me arrepiei com o ar quente que atingiu os meus lábios. Jacob. A mão de Embry subiu pelas minhas costas, pausando em minha nuca e eu estremeci, porém meus braços estavam mortas caídas ao lado do meu corpo. Fechei os olhos, e a imagem de Jacob me beijando invadiu minha mente.

Proibi-me de pensar nisso. Tentei focar no momento, nos lábios quentes e gentis de Embry se movimento com os meus. Era isso, tinha que ser a coisa certa. A minha boca se entreabrindo e a língua dele brincando com a minha. Mas tudo que eu conseguia pensar era do jeito que o cabelo de Jacob molhado deixava ele ainda mais sexy. Na maneira que as sobrancelhas dele se curvavam de irritação e seu corpo tremia levemente. Em como os seus olhos brilhavam de um modo diferente quando estava perto de Bella.

Embry envolveu minha cintura com o outro braço, e eu me obriguei a fazer carinho na nuca dele, seus lábios agora estavam mais calmos. Tudo que eu queria era fazê-lo parar de sofrer, esquecer Bella... Mas isso era impossível. O melhor que tinha a ser feito seria eu esquecê-lo.

Por mais esforços que eu reunisse, todas as células do meu corpo protestavam contra aquele toque. Não era o gosto certo, o cheiro certo, o modo certo. Não era Jacob!

O beijo terminou, eu encostei minha cabeça no peito de Embry e ele apoiou o queijo sobre minha cabeça. Afastei-me dele para poder olhá-lo nos olhos, e ele encostou sua testa na minha.

- Sabe Embry, isso não está certo... – comecei a falar, sentindo as minhas bochechas corarem, porém não sabia por onde começar. Não podia iludir Embry e ferir seus sentimentos.

- Está tudo bem Aya. – ele abriu um sorriso leve nos lábios e fez carinho na minha nuca.

- Me desculpe – sussurrei, abaixando a cabeça e me arrependendo do que havia acabado de acontecer.

- Está tudo bem, não precisa se preocupar com os meus sentimentos. Independente de qualquer coisa, sempre estarei ao seu lado. Sempre. – ele deu um beijo no alto da minha testa e se levantou rapidamente. – Acho melhor levá-la para casa, ou os vampiros te proibirão de vir nos visitar.

Ele deu uma risada sonora, o que fez com que eu automaticamente sorrisse também.

Embry, agora, era algo indispensável para mim. Alguém que me fazia sentir melhor. Mais completa. Inteira. 


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