As Crônicas de Gelo e Ferro escrita por Miss Greyjoy


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpa o sumiço! Mas fim de ano deixa todo mundo aturdido, é aquela correria e tudo o mais...mas tô de volta! Com um mega capítulo...espero que gostem! ♥



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Quando Mereena terminou seu banho, sua barriga roncava de fome. Alisou-a, por baixo das toalhas. Um temor tomou conta de seu corpo. Logo seu ventre carregaria um leãozinho, e ela não queria nem pensar em tal hipótese. Só a ideia de ter um herdeiro com Joffrey...já fazia seu estômago revirar.

A jovem estava refletindo sobre as atitudes de Theon tempos atrás. Ele estava tão delicado, tão atencioso...será que poderia estar voltando a ser aquele garotinho de olhos tão azuis quanto o mar de Pyke, de olhos tão inocentes, que acompanharam a loba durante toda sua infância?

Não, não estava.

Theon Greyjoy nunca mais seria o mesmo. Nunca mais seria o seu Theon.

E era aquilo que mais doía na garota.

Ela achava engraçado o quanto as pessoas podem mudar com o passar dos anos.

Vestiu sedas verdes, arrumou os longos cabelos por cima da capa prateada e saiu em direção ao salão, onde seus irmãos aguardavam por sua chegada.

— Meri! Como você está, sente-se melhor agora? – Robb acariciou os cabelos da irmã, que sorriu. Jon tomou as mãos da mais velha entre as suas, afagando-as num gesto de carinho. Mereena sorriu. Seus irmãos eram tão protetores! Ela com certeza se lançaria às lágrimas quando tivesse que deixá-los. Sentiu braços agarrando suas pernas e se virou para baixo. Eram Bran e Rickon, que tentavam a abraçar. A primeira das Stark se abaixou e tomou os irmãos nos braços, recebendo beijos nas duas bochechas.

— Obrigada pelo carinho, irmãozinhos. Estou revigorada agora, embora seja do conhecimento de todos que detesto a ideia de ter de me casar com Joffrey.

— Eu lutarei com ele, Meri! Pela sua mão! E então darei para Theon – Bran disse, pegando a espadinha de madeira da cintura e brandindo-a no ar – Não se preocupe, nós não deixaremos que ele a leve embora.

— Bom, embora o senhor seja muito novo para lutar pela mão de donzelas, está correto em dizer que não deixaremos sua irmã ir embora – Todos se viraram para a voz e deram de cara com Greyjoy, ainda com o curativo na fronte – Concorda,Robb? Snow? – O bastardo rosnou, mas afirmou com a cabeça, assim como o Stark – Venham comigo, precisamos debater isso em um lugar mais reservado.

Os lobos seguiram o kraken até um cômodo perto das tumbas, num canto bem afastado do castelo. Arya se juntara a eles no caminho e andava animadíssima ao lado de Mereena, com a qual tecia planos para se livrarem das aulas de bordado com a Septã Mordane.

O cômodo era uma sala feita com pedras de todos os tamanhos, empilhadas. O protegido de Ned acendeu algumas tochas e todos sentaram-se no chão frio, também rochoso.

— Então, qual o plano, Greyjoy? – Jon disse, com Arya em seus braços. A menina estava encolhida em seu peito, como um filhote se esconde no aconchego da mãe – pretende sequestrá-la antes da partida à Porto Real?

— Passou longe, bastardo – Snow franziu as sobrancelhas, mas guardou os comentários para si mesmo – bom, vocês vão precisar aprender a mentir, e muito bem. E isso vai custar muito pra todos, principalmente para você, Meri – Os olhares de todos recaíram sobre a Stark mais velha – Vamos por partes. Primeiro, vamos convencer Lord Eddard a oferecer outra moça em seu lugar.

— Jeyne? – Arya sugeriu. Theon negou com a cabeça – Tem razão. Ela é de uma casa muito inferior, e Joffrey é chato demais – Robb, que estava olhando o nada, de repente se aproximou do círculo.

— Sansa. Ela é a pessoa ideal pra isso. Desde pequena, sempre quis se casar com um rei – Os olhos de Mereena brilharam e ela não pôde deixar de sorrir. Seu olhar encontrou o de Greyjoy, que repetiu o gesto. O rapaz de repente sentiu uma imensa vontade de segurar em sua mão e dizer que não a deixaria partir, mas se contentou em olhá-la mais uma vez antes de voltar à conversa.

— Bom, a primeira parte está feita, então. Robb, creio que você é a melhor pessoa para apresentar a proposta da mudança para seu pai. E agora, Meri, você vai ter que ser uma ótima mentirosa. Estou falando sério mesmo. Vamos fazer assim... – E puseram-se a conversar e discutir sobre a segunda parte do plano do nascido do Ferro.

Horas se passaram desde a reunião, e logo, era hora do jantar. Reuniram-se todos no Grande Salão. As crianças menores brincavam juntas, enquanto as mais velhas estavam concentradas e preparadas para agir. Naquela noite, após as refeições, todos iriam ao quarto do pai, um por um, para desempenharem seu papel na trama.

A Stark mais velha tremia de ansiedade. Ela detestava mentir, para quem quer que fosse, e ainda que fosse por uma boa causa, uma sensação de culpa tomava conta de seu corpo. Mereena era a única dos filhos que rezava para os deuses do pai e da mãe. Toda semana acompanhava Ned até a Árvore Coração para orar pelos Deuses Antigos, e tempos depois se juntava à mãe no Septo feito especialmente para ela. Naquele momento, ela pedira à todas as entidades, quer fossem os deuses dos Primeiros Homens, quer fossem as sete faces de Deus, que lhe dessem coragem o suficiente para fazer o que tinha que ser feito para salvar sua pele. Sentada na mesa dos filhotes, suas mãos se movimentavam rapidamente com os talheres.

— Não coma tão rápido, vai acabar tendo uma indigestão.

A jovem se virou. Era Theon, que segurava dois cálices de vinho de verão. Entregou um deles à garota e se sentou ao seu lado – Um brinde a futura rainha do Norte.

— Um brinde ao futuro rei das Ilhas de Ferro – As taças tilintaram ao se encontrar e ambos levaram o objeto aos lábios ao mesmo tempo – Ah, tão bom. De onde veio?

— Creio que de Jardim de Cima. Dizem que lá é o lugar mais belo dos Sete Reinos. E que é mais fértil do que as Terras Fluviais. As flores de lá são maravilhosas, como bem deve saber – Dito isso, a jovem corou, se lembrando do buquê que ganhara alguns dias atrás. Por algum tempo, os dois ficaram em silêncio, apenas apreciando a doçura da bebida e o prazer da presença um do outro – Hey – Greyjoy cortou o silêncio – Você lembra de quando nós éramos menores, e chovia torrencialmente, e você ia para os meus aposentos?

— Lembro. Era tão bom – O rubor voltou, agora na face de ambos – quer dizer, eu me sentia protegida. Até me esquecia das tempestades. Você sempre foi tão carinhoso comigo, Theon – O rapaz sorriu com aquilo. Ele adorava chuvas, pois crescera em meio às águas - tanto as marítimas quanto as fluviais de Pyke – mas preferia mil vezes se fechar em seus aposentos com Mereena abraçada à sua cintura, a cabeça enterrada em seu pescoço, com pequenas lágrimas escorrendo de seus olhos.

— Um refém deve servir seus servos – Ele riu, se lembrando da primeira vez em que se viram – e os filhos dos servos também – Meri sorriu de lado, provavelmente com a mesma lembrança vindo à mente – Além disso, você lembra do que eu te disse naquela noite, não lembra?

A noite em questão foi um entardecer fortemente chuvoso. Tão forte, que conseguiu derrubar alguns pedaços de pedra nos pátios e balaustradas do castelo. Horas antes, Theon subira no esconderijo favorito dos dois – uma torre abandonada na parte sul -  a fim de arrumar a surpresa que ele daria para sua “amiga”, e estava tão concentrado que não percebera quando a garoa engrossara violentamente. Quando se preparava para descer e se deparou com a tempestade, sentou-se no chão de pedra e resolveu esperar. Então começou a escutar alguns gritos vindos ao longe. Desconfiado, tentou descobrir de onde vinham os sons.

Acontece que na outra ala do castelo, Mereena estava aos berros em seus aposentos. Ned havia saído para tratar assuntos com casas vassalas, Cat estava cuidando de Bran, com apenas 2 anos e de Rickon, recém-nascido, Sansa dormia serenamente, Jon distraía Arya e Robb tentava em vão acalmar os pulmões nervosos da primeira loba da matilha Stark, mas sem sucesso. Como de costume, quando os primeiros ventos de chuva começaram, a menina se preparou para correr para os aposentos do protegido de Ned. Pegou o castiçal, algumas almofadas – Theon não tinha muitas – seu cobertor e um livro com as páginas em branco, para que ambos pudessem desenhar.  Mas então, o irmão mais velho apareceu na porta, impedindo sua passagem. Dizia que estava grande para não conseguir aturar uma chuva sozinha, e que se um dia queria ser a rainha do Norte, deveria estar preparada para esse tipo de fenômeno. A Septã Mordane costuma dizer que se Mereena tivesse uma espada em mãos naquele momento, Robb já teria provado o sabor de seu aço. A primeira herdeira gritou, esperneou, chutou o irmão, mas nada o fazia mudar de ideia. O menino então decidiu montar guarda na frente da porta, mas acabou sendo vencido pelo cansaço. Aproveitando-se disso, a menininha zarpou até o quarto do Greyjoy, com uma fina chuva já caindo. Munida apenas com a capa prateada que nunca abandonava, começou a senti-la molhada. O vento frio soprava entre seus cabelos, e a fazia tiritar. Não obstante, seguiu em frente, pois só havia outro lugar no mundo em que Theon podia estar, além do pátio de armas.

No esconderijo secreto dos dois.

Talvez pela construção naquela parte do castelo já estar bem envelhecida, ou talvez pela ação conjunta dos ventos e da chuva, algumas pedras começaram a se soltar no caminho que levava até a torre, derrubando assim a sinuosa e estreita estrada que ligava o local ao restante da fortaleza. Mereena estava na metade do caminho quando uma rocha atingiu o chão a centímetros dela. A loba gritou, chamando a atenção do protegido. Quando este se deparou com a cena, entrou em desespero. A sua menininha indefesa, no meio da chuva mais torrencial que já presenciara longe do litoral, tremendo e morrendo de medo. Meri simplesmente congelou naquele pedaço do caminho. O corpo dela tinha espasmos, tanto por causa do frio quanto por causa do medo.

— Meri! Meri! Eu estou aqui! Deuses, você é maluca! Vir até aqui com essa chuva! – O jovem gritou, já saindo de seu esconderijo, se aproximando da borda da rachadura.

— Theon! Theon, por favor, eu preciso de ajuda. Essa chuva, eu estou com medo. Muito medo. Eu nunca vi tanta água assim, Theon. Eu quero que você venha ficar comigo, por favor. Eu...eu preciso de você! Theon, eu preciso de você!

Ninguém sabe como, mas Greyjoy fez uma ponte improvisada com algumas pedras menores e rapidamente, atravessou para o outro lado. Nisso, Mereena estava ajoelhada no chão, os cabelos escovados grudavam por seu pescoço, as roupas encharcadas. O menino se ajoelhou também e a abraçou, num gesto de proteção. A garota chorava baixinho.

— Shh, eu estou aqui. Vamos voltar para dentro agora. Venha, não chore mais. Eu estou aqui.

Deram as mãos e juntos, voltaram para o castelo, onde todos ficaram espantados com a coragem do pequeno refém. Ambos foram se banhar com água morna; quando já estavam devidamente arrumados, a Stark convidou seu companheiro inseparável para ir até seus aposentos para que lá, “se protegessem” da chuva. Theon timidamente se recostou na cama, então Mereena o abraçou pela cintura, como sempre, ainda com a respiração descompassada.

— Hey Theon? – O protegido abaixou um pouco a cabeça e inalou o cheiro de lavanda que emanava dos cabelos dela – Obrigada. Por não ter me deixado sozinha – Ele beijou-lhe a testa.

— Eu sempre vou estar lá quando você precisar, Meri. Basta você me chamar e eu atravesso os sete reinos, e se você gritar, atravesso o Mar Estreito – A garota o abraçou um pouco mais forte, e teve o gesto retribuído. De repente, sentiu uma pequena elevação vinda das calças do Greyjoy – O que é isso? – Theon corou e enfiou rapidamente a mão no bolso, retirando um montinho prateado.

— Bom – Ele pigarreou – uma vez, quando eu andava pelas praias de Pyke, encontrei isto – Desenrolando o conteúdo, a jovem se deparou com uma corrente com uma âncora pendurada – No litoral, os homens às vezes presenteiam suas esposas de ferro com uma âncora. Pode ser, literalmente, o objeto, ou algum adorno relacionado. A âncora representa confiança, abrigo, proteção – colocou o colar em torno do pescoço esguio da loba – ou então, era como uma garantia de que mesmo longe, uma parte deles estaria com elas. Eu quero que fique com ela. Pra se lembrar de mim – Mereena apertou Theon contra o corpo o mais forte que pode.

— Obrigada. Eu nunca vou esquecer de você.

— Nunca?

— Jamais.

Mereena sorriu, puxando de dentro das vestes o presente ganhado há tempos.

— É claro que sim. “Chame meu nome e eu atravesso os Sete Reinos, grite por ele e eu atravesso o Mar Estreito”. Como eu poderia esquecer? – Subitamente, Theon pegou na mão da moça.

— Meri, eu só queria dizer que...- O protegido foi cortado pelo vozeirão de Robert, que já a muito bêbado, queria fazer um comunicado à todos os presentes.

— Eu, Rei Robert Baratheon, o primeiro do meu nome e a porra toda, gostaria de anunciar à todos do Salão que meu filho mais velho, Joffrey Baratheon, tem uma nova prometida! A herdeira do Norte, Mereena Stark!
 

Greyjoy olhou para a moça, depois para Robb, perto do pai. Estava na hora.


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