Rowena sempre fora considerada um gênio.

Desde pequena.

Desde sempre.

O tipo de gênio que com dois anos já fazia feitiços, o tipo de gênio que aos dez já inventava um feitiço, o tipo de gênio que aos dezessete já era considerada a bruxa mais inteligente de sua época.

Até mesmo entre seus amigos, os três maiores bruxos do século X, era considerada um gênio, mesmo sendo a mais nova dentre os quatro.

Sempre fora a garota que tinha as ideias. Hogwarts: ideia de Rowena; divisão de casas: ideia de Rowena; abrigar centauros nas florestas ao redor do castelo: ideia de Rowena; abrigar sereianos no lago: ideia de Rowena; abrigar fantasmas no castelo: Rowena!

Aos olhos de todos Rowena era perfeita. Bonita, inteligente, confiante, calma, calculista. Quase como uma deusa.

Aos olhos de Rowena ela via-se somente como orgulhosa, e inteligente. Nunca a maior, mas sempre tentando ser. E isso reflete em sua casa, Corvinal.

― Devemos ensinar todos dispostos a aprender, Salazar! ― Rowena afirmava, irritada, mas sempre com mesmo tom de voz, calmo e frio.

― Devemos nós ensinar os impuros? ― Salazar não escondeu a irritação ao aumentar o tom de voz.

― Sim, se estes estiverem de ouvidos abertos para o que ensinaremos!

As palavras irritadas voavam para fora da Torre de Astronomia, impedindo que qualquer um dos outros escutassem a discussão.

― Recuso-me a isso ― Salazar proferiu então, frio.

― Pois pode se retirar de minha presença com tamanha ignorância.

Salazar lançou um último olhar frio e irritado a Rowena e se foi, descendo as escadas da Torre.

Rowena sempre fora considerada muito parecida com Salazar, pois ambos eram conhecidos por sua esperteza, astúcia, confiança e orgulho. Talvez fosse por isso que brigavam tanto, talvez fosse por isso que Salazar tenha lhe dado as costas.

Rowena não se demorou mais na Torre, e logo foi-se para sua sala, onde prontamente Godric e Helga a esperavam. Era claro para Rowena que eles haviam escutado sua pequena discussão com Salazar, mesmo que não fosse o planejado.

― Se estão aqui para julgar meus atos, sugiro que deixem esta sala de imediato. Sei que não foram palavras sensatas as que eu disse a Salazar, e não preciso que me lembrem disso ― Diz Rowena, caminhando pela sala, até sentar-se em sua cadeira.

― Cara, Ravenclaw das Ravinas ― Rowena torceu a face diante do título empregado por Godric ― apesar de sempre confiarmos em suas escolhas, acho que não foi exatamente algo que agradaria a todos o que disse a Salazar.

― Salazar ofendeu-se com suas palavras, cara amiga, e tenho o claro instinto de que ele irá realmente nos deixar. O orgulho dele está ferido ― Helga manifestou-se, preocupada.

Rowena somente suspirou, retirando o diadema de seus cabelos e olhando para ele sobre sua mesa. A mulher então, levantou a cabeça, com sua beleza intimidante e austera preenchendo a sala, mostrando o porquê do seu título de “a bela Ravenclaw das Ravinas”.

― O espírito sem limites é o maior tesouro do homem ― Citou Rowena. ― É o que diz em meu tão preciosos diadema. Salazar perturba tanto a minha filosofia quanto a de uma escola, que deveria ensinar a todos ― A bela mulher encarou os outros dois presentes na sala, o olhar austero e inteligente. ― Draco Dormiens Nunquam Titillandus ― Novamente ela citou. ― Nunca faça cócegas em um dragão dormente, é o que diz nosso lema. Devo lembrar que isso é um aviso para nós mesmos?

A sala caiu em silêncio.

Mesmo Rowena sabendo que escolhera as palavras erradas ao conversar com Salazar, para ela seria inadmissível ensinar ser considerado um crime. Ela ensinaria!, ensinaria a todos dispostos a aprender.

― Rowena...

― Pretendem mesmo deixar um homem que prega contra o ensino, permanecer entre nós? ― Rowena interrompeu Helga.

― Salazar realmente não é um homem agradável. Mas ele continua sendo um dos fundadores, e um amigo. Não podemos simplesmente nos separarmos ― Godric eludiu.

― Você o diz agora, Godric, mas todos sabemos que Salazar há tempos já não é mais um dos integrantes de seu grupo de amigos ― Rowena desdenhou. Então ela levantou-se olhando os dois amigos de cima. ― Afinal, porque estão tão preocupados com Salazar fora de nossa escola?

― Pois sabemos que ele não é um dos homens mais doces existentes. Ele se vingará de nós ― Helga murmurou, encolhida.

― Eu não permitirei que algo aconteça por causa de meu descuido com as palavras. Acalmem-se. Tenho tudo sob controle.

Então Godric e Helga saíram da sala, sem conseguirem contrariar a inteligente amiga, que parecia sempre encontrar todos os argumentos possíveis para estar certa, mesmo quando ela mesma sabia estar errada.

Rowena foi deitar-se com mil pensamentos em sua mente, todos voltados para Salazar e em sua possível vingança, que Rowena impediria.

O dia seguinte chegou rápido, e com ele chegaram os primeiros alunos de Hogwarts.

Encarar o Grande Salão que Rowena e seus amigos haviam tanto sonhado, fazia o coração da mulher estremecer em alegria. E vê-lo repleto de crianças alegres a fazia ficar ainda mais feliz.

— Sejam bem-vindos à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts! — Rowena estremecia de orgulho. Sua voz quase falhava de tanta excitação. Parecia que todos os problemas da noite passada haviam se dissipado. — Sejam todos muito bem-vindos!

“Sei que muitos de vocês não têm conhecimento do que realmente seja uma escola; e também sei que o restante de vocês não faz a mínima ideia de como seja o mundo bruxo. Portanto, gostaria de deixar bem claro que todos, todos, estão aqui para aprender.”

Rowena então deixou que Helga falasse, mesmo querendo fazer milhares de declarações para os alunos de sua escola.

— Aqui todos vocês aprenderão os fundamentos básicos do mundo bruxo, como Poções, Feitiços, História da Magia, Herbologia, Defesa Contra as Artes das Trevas, e várias outras matérias, que os ajudarão a decidir qual das áreas do mundo bruxo vocês seguirão, profissionalmente ou não — Helga elucidou, com o mesmo brilho de orgulho que Rowena possuía.

Então Godric deu um passo a frente, declamando suas palavras com os braços abertos.

— Portanto, nós, os fundadores de Hogwarts, decidimos separá-los em casas, onde cada um de vocês encontrará seus companheiros iguais, onde suas ambições e objetivos não serão prejudicadas. Serão quatro casas.

Então ele sorriu e o brasão de sua casa estendeu-se atrás dele, como uma grande bandeira. O grande leão vermelho da Grifinória oscilando em seu tecido, parecendo que ele realmente estava rugindo bravamente.

— Grifinória!

O mesmo aconteceu com Salazar, que por mais que estivesse contrariado, também possuía um brilho de alegria no olhar, e com essa alegria declarou:

— Sonserina!

A bandeira da Sonserina balançava suavemente, sua grande cobra esverdeada encarando todos os alunos com astúcia e graciosidade.

Atrás de Rowena então, estendeu-se sua própria bandeira, a grande águia azul observando sabiamente todos a sua volta.

— Corvinal!

Helga então abriu os braços, orgulhosa, quando sua bandeira caiu graciosamente atrás de seu corpo, o enorme texugo amarelo e preto alheio a todos, somente mostrando sua simples presença através do olhar astuto.

— Lufa-Lufa!

Todos os alunos pareciam estupidificados.

Cada um tinha a sua atenção voltada para os quatro fundadores, todos orgulhosos de seu trabalho duro.

— Cada aluno deste salão será selecionado de acordo com suas características, e no final da cerimônia, todos terão suas próprias casas, e todos poderão partilhar da companhia de seus iguais! — Exclamou Salazar.

“E então, qual será a sua casa? Sonserina, o lar dos homens sábios, astutos e ambiciosos, destinados a grandeza?”

— Ou então a Grifinória, o lugar dos bravos e corajosos, companheiros e fiéis? — Indagou Godric aos alunos, que se interessavam cada vez mais pelo discurso.

— Ou talvez a Corvinal, o lar dos astutos, inteligentes, de mente e espírito abertos, dispostos a tudo aprender? — Rowena proferiu elegantemente.

— Ou pertence então à Lufa-Lufa, a casa dos humildes de coração, gentis e fiéis? — Helga sorria ao falar.

Então a cerimônia de seleção começou, com cada aluno sendo avaliado de perto pelo diretor de cada casa, e então sendo escolhido para seu devido lar. Ao final, as quatro grandes mesas estavam devidamente organizadas, com cada uma delas sendo ocupadas pelos pertencentes de suas casas.

Os pratos logo apareceram sobre as mesas, cheios das mais diversas comidas. Os fundadores então juntaram-se na grande mesa dos professores, prontos para comer junto do resto dos professores.

E tudo parecia tão calmo, que por um segundo, cada um se esqueceu de todos os problemas do universo.

As semanas voaram, e com elas, o primeiro, o segundo, o terceiro, e o quarto mês de aulas se passaram, e o Natal já havia chegado. Salazar continuava com o resto dos fundadores.

Mas não pelo motivo que todos imaginavam.

Construir uma Câmara Secreta demora tempos, e demora ainda mais para criar e adormecer um basilisco dentro dela.

Salazar já começava a odiar cada maldito dia que passava naquela escola, na presença de tantos impuros de sangue, de tantos traidores do próprio sangue bruxo. O bruxo não via a hora que finalmente o momento de ele sumir daquele lugar chegaria.

Mas por outro lado, Slytherin se orgulhava da própria casa. Tanto que até mesmo pensava que sentiria falta dela quando se fosse.

E enquanto Salazar aprendia a cada dia odiar mais a escola que ele próprio ajudara a fundar, Helga, Rowena e Godric não podiam amar mais o lugar. Na verdade os três até mesmo passaram a morar no castelo, cuidando de assuntos que o diretor não conseguia cuidar.

Quando o feriado de Natal chegou, somente os quatro fundadores permaneceram na escola.

Na noite de Natal, Rowena estava tão agitada que não conseguia dormir. Então a mulher fez o que sempre fazia quando isso lhe acontecia: caminhou pela escola.

Andou pelos corredores, desde a Torre da Corvinal, até o grande Saguão de Entrada. De certo modo não foi surpresa para ela encontrar Salazar andando determinado para fora do castelo.

— Estava me perguntando se nunca faria isso.

O homem não se espantou ao escutar a fria e calma voz de Ravenclaw.

— Eu disse que me recusava a ensinar aos impuros.

O homem virou-se, encarando a imagem de Rowena em seu roupão azul e bronze. Não era segredo que Salazar a achava atraente, assim como ele não escondia que sua briga com Godric havia começado por causa da bela mulher.

Mas ele estava com o orgulho ferido, e nem mesmo a beleza e a inteligência de Rowena poderiam mudar aquilo.

— Pensava que desapareceria antes. Mas é claro que um homem inconsequente como você prepararia alguma vingança antes. O que é?

Ela ordenava. Não havia brecha em suas palavras. Havia somente a certeza de que conseguiria uma resposta.

— Ravenclaw... — O tom debochado de Salazar pareceu escorrer em sua voz grave. — Penso que sabe muito bem que não conseguirá uma resposta para esta pergunta.

Ela desceu as escadas, andando na direção de Slytherin. Só parou quando estava frente a frente com o homem.

— Pois eu descobrirei sozinha.

— O que descobrirá sozinha, Rowena? — Godric também apareceu, descendo as escadas, firmando seu olhar em Salazar.

Os dois homens tinham os olhares cruzados, todas as rivalidades fervendo entre eles.

Salazar então virou-se e foi embora.

Não houve um tchau.

Não houve lamentações.

Não houve sequer uma briga.

E mesmo Rowena sendo um gênio, ela não conseguiu resolver aquilo.

Não conseguiu fazer Salazar ficar, não conseguiu impedir o ódio de Godric por ele, não conseguiu impedir Helga de ficar triste.

E no final, não conseguiu impedir a si mesma de culpar-se por tudo o que aconteceu.

Os anos passaram, e a rivalidade entre Godric e Salazar pareceu permanecer em suas casas. Grifinória e Sonserina se odiavam.

E tudo ocorreu tão rápido, que não houve tempo para impedir.

E Rowena se lamentava.

Lamentava-se por não conseguir impedir a rivalidade.

Lamentava-se por estar precocemente grávida.

Lamentava-se por ter um coração partido.

Lamentava-se de tanta lamentação.

Mas nunca parava de pensar no que tantos lhe diziam. Que ela e Salazar se pareciam. Perguntou-se se era por isso que se sentia tão amarga com a partida de Slytherin. E é claro que ela nunca deixava transparecer.

Sempre tão orgulhosa.

E sempre tão certa.