Encarei a folha em branco na tela do notebook, Beth tinha me requirido um relatório com o balanço dos pontos negativos e positivos do festival e tudo que eu conseguia pensar era em um certo Jonas. Dois dias e uma ligação perdida estavam me consumindo, era o único sinal que ele tinha dado durante esse tempo depois da festa. Se eu queria retornar? Sim. Se eu tinha coragem? Não. Olhei por cima da divisória e vi Mel com uma cara de desolada igual ou pior que a minha.

– Almoço adiantado?

– Hell, yeah.

Ela rapidamente se levantou, pegou a bolsa e me puxou da cadeira antes que eu pudesse afundar na minha preguiça desistindo.

– Sério que a gente pode fazer isso?

– Pode agora, é uma situação de emergência.

– Anh?

Mel continuou andando como se sua vida dependesse disso só me soltando quando chegamos a cafeteria.

– Eu preciso te contar uma coisa. - falou bem séria.

No mesmo segundo minha barriga roncou.

– Jesus, Jessica.

– Eu não tomei café da manhã, tá?

Pedimos duas fatias de torta salgada, o que me deixou com vontade de pedir da doce. Mas consegui me controlar devido a minha curiosidade.

– Mel?

– Oi.

– Fala.

– Lembra da festa ?- ela abriu um sorriso amarelo hesitante e puxou uma mecha do seu cabelo curto.

– Claro que eu lembro.

– Humm, você sumiu né?

– Você tem alguma coisa para falar ou não?

– Tenho, mas...

– Você também sumiu.

– Acabou de admitir, humm.

– Mel, fala logo.

– Eu...

Fiz sinal para ela continuar porque estava difícil.

– Fiquei com o Theo.

– O QUE?

– Você ouviu.

– Não acredito, - tentei imaginar a cena. - como isso aconteceu?

– Foi estranho demais, eu acho pelo que eu lembro.

– Melody. - falei a repreendendo.

– Deus, você parece minha mãe. Eu bebi, bebi sim, tá. Mas agora estou perfeitamente sóbria, sinto que não sei o que estou fazendo e continuo fazendo do mesmo jeito. - ela bufou.

– Somos duas.

– Mas você tá com o Nick.

– E daí? Eu não consigo pensar quando to com ele mesmo.

– Isso não é ruim.

– Também não é bom.

Felizmente nossa comida chegou. Só que se afogar em coisas deliciosas não parecia ser a resposta. Eu sei, a situação era mais séria que eu pensava.

– O que você tá fazendo em relação ao Theo?

– Tipo?

– Tipo, a gente trabalha junto, duh.

– Eu to evitando ele.

– Então, foi por isso que você veio para o café onde ele almoça?

– Droga.

Com um timing perfeito, Theo aparece na porta e entra despreocupado, enquanto isso Mel entrava em desespero, muito discreta tenta se esconder embaixo da mesa.

–Vamos embora como pessoas civilizadas por favor. - digo sem paciência.

–Eu quero morrer.

Arrastei-a para a porta tentando não chamar mais atenção, mesmo assim consegui ver Theo nos encarando com uma expressão de dar pena. Chegamos no hall do prédio pior que quando saímos.

– Isso não pode continuar, você tem que se resolver com ele.

– Como?

– Não sei, mas se falem pelo menos.

– Acho que isso serve para você também.

– Eu?!

– Jess, você não me engana, tá estressada como eu.

Botei a mão no rosto e suspirei, era verdade, era uma sensação horrível que não passava de jeito nenhum.

– Vamos tentar, ok?

– Ok.

Olhei para a minha nova melhor amiga que estava surtando a pouco tempo e agora me dava conselhos, tive vontade de rir. A gente tinha que parar de frescura, só que não ia ser nada fácil.