Caminhos, vários caminhos passam por entre meus pés... Asfalto, pedras, grama, terra... Por quanto tempo já andei? Por quanto tempo ainda andarei? Eu não sei, mas também não me importo.

Minha frente está turvada, mas mantenho os olhos fixos no horizonte. Eu sei, eu sinto. Você está por aqui. Consigo sentir a sua presença, o seu perfume...

O sinal mudou do verde para o vermelho, parei. A paisagem surgiu como se entre brumas nos meus olhos. Não pisquei, caminhando, lentamente, pela trilha de pedras ao longo de um rio.

Eu desci o trajeto, ignorando a grama, as pequenas flores amarelas e as lágrimas que pareciam querer molhara-las. Eu poderia ignorar qualquer coisa, qualquer paisagem, qualquer pessoa... Menos uma, menos aquela pessoa que estava agachada à margem do rio, jogando pequenas pedras nele.

As lágrimas, que pensei que já não tinham mais como cair rapidamente, derramaram-se como se acompanhassem o ritmo das águas doces. Mas não fechei os olhos para que parassem ou secá-las.

Tinha medo. Medo que ao piscar os olhos, tudo desaparecesse, você desaparecesse. Aproximei-me, devagar, parando a quase um braço de distância.

- Ryu... – Sussurrei seu nome, temia que se falasse mais alto, tudo se desmancharia.

- Inoue. – Sua voz soou gelada e afiada como uma faca de gelo em meu peito.

A sua indiferença quase me desabou e as lágrimas, que tanto quis que parasse, voltaram com um estremecimento.

- Ryu, por favor... – Estendi a mão para tocá-lo, mas me retive a tempo.

Uma pedra caiu no rio com violência.

De seu braço estendido, meus olhos passaram para sua camisa azul clara dobrada até os cotovelos, para os cabelos castanhos escuros que pareciam sem corte, a franja já cobria metade de seu olho esquerdo... Seus brilhantes olhos castanhos que tanto adorava fitar e me perder...

Com um profundo suspiro, você se sentou sobre as próprias pernas, sujando seu jeans preto e o cordão da mesma cor que estava pendurado nele (que você tanto adorava enroscar a mão), perdeu-se entre a grama e as pedras.

- Como conseguiu chegar até aqui? – Questionou, parecendo falar mais consigo mesmo. – Você não poderia...

- Eu queria te ver, Ryu. Queria conversar com você, ficar com você... – Sussurrei novamente. – Eu não quero ficar sozinha, eu não consigo, por favor...

- Não, Atsuko. – Levantou-se num salto e aproximou-se mais do rio. – Por favor... – Seu olhar estava perdido nas águas.

- Por que você não atravessa então? – Apontei para a outra margem. - Se você não quer que fiquemos juntos...

- Ati... – Subitamente, virou-se para mim e pude ver o caminho seco de lágrimas e as marcas do acidente em seu corpo. – Por que você continua me procurando, continua atrás de mim, mesmo depois... Do fim.

Você voltou a fitar o rio e eu aproveitei para chegar mais perto e apoiei a cabeça em suas costas, mas não lhe abracei.

- Porque eu amo você, Ryu. – Sentiu-o estremecer, mas nada fez ou falou. Então, o abracei. – Se é nessa intersecção, nessa margem do rio que você está, Ryu, então é aqui que ficarei.

Por um breve momento, você segurou minhas mãos, firmemente, entrelaçando nossos dedos. Sorri, feliz.

- Adeus, Ati. – Sussurrou e largou minhas mãos.

Como se tivesse recebido um choque, cambaleei alguns passos para trás enquanto você entrava no rio.

- Ryu! Não! – Gritei, correndo atrás de você.

Mas assim que meus pés tocaram as águas geladas, tudo desmanchou-se diante de meus olhos. Você já não estava mais ali... Tinha, novamente, me deixado.