Estia - Guardiões de Vidro escrita por Selaya


Capítulo 2
I - Nossas dúvidas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/642100/chapter/2

Apesar de minhas pálpebras permanecerem fechadas, ainda sinto a luz imergir, indicando um novo dia. Com ambas as mãos tampo meus olhos, sem muito querer saber de acordar; ao mesmo tempo, sinto tal necessidade, como se algo precisasse ser descoberto.

Minha mente é um vazio, eu sou vazia. Entretanto quem realmente eu sou? Quem são aqueles que amo ou odeio? Quais são meus gostos e desgostos? E o que eu realmente vivi?

Nesse momento, sinto-me desesperada, tratando de levantar com a respiração já descompassada pelo susto. Tento encontrar uma pista do que sou ou o que já fui um dia, mas é algo em vão.

Tateio as paredes, tentando achar uma saída e isso não acontece. Sinto uma dose de adrenalina ser estocada em meu sangue e começo a me debater sobre as paredes e gritar, e imediatamente surge um drone eletrônico, pronto para gravar-me.

Não sei se estou ficando louca, mas lentamente vejo aquelas paredes se diluírem, como se sequer tivessem existido. Elas dão lugar ao vidro e posso facilmente quebrá-lo jogando meu peso contra o mesmo. Sinto o sangue escorrer por todo meu corpo, mas prefiro ignorar a dor gritante que sinto.

O alarme ecoa em meus ouvidos e me apresso em correr. Estou nos corredores, cercada por paredes metálicas quando sinto dois braços agarrando-me firmemente. Tento me soltar e claramente é algo falho.

Olho para trás e percebo que quem me segurava não era humano, embora tivesse a aparência de um: era tudo sintético demais e os olhos eram certamente robóticos.

Volto meu olhar à frente, calculando como sairia dali. Não há tempo para isto e sou arrastada pelos corredores, não sem antes receber uma picada em meu braço. Estavam me dopando.

Sinto-me mole no mesmo instante e assisto o robô carregar-me até uma sala secreta abaixo do piso. Ele deita-me numa maca e vai embora. Observo uma mulher sorrir pra mim, enquanto mexe em algumas substâncias químicas. Ela prende alguns fios a minha cabeça e parece preparar uma injeção especialmente para mim.

Ouço um barulho alto e logo rolo meus olhos na direção. Há outro robô carregando um rapaz muito mais alto que ele e certamente muito extravagante; olhos serenos e esverdeados, dreads no cabelo e uma calmaria impressionante, mesmo que não estivesse dopado. E sim, eu saberia se ele estivesse afinal o garoto iria parecer um bobo, assim como eu estou.

A mulher analisa meus dados no telão e eu não consigo entender nenhum daqueles códigos, então não me esforço a olhar. Prefiro prender minha atenção ao garoto e a forma fria como ele age.

— Em que ano estamos? – ele pergunta alto o suficiente para que eu o ouvisse.

O homem que cuidava dele ignorou-o, mas novamente ele insistiu. O outro apenas meneou com a cabeça, colocando os fios cuidadosamente sobre as têmporas do rapaz.

— Não podemos dizer isso. – sussurrou o robô, que eu sequer percebi que ainda estava ali. O garoto repetiu a pergunta com uma voz serena e paciente.

— Dane-se, Maximillium. Que mal tem falar se logo o menino vai esquecer tudo? Estamos em 2052 e agora cale a boca antes que eu lhe dê uma lição!

Senti uma fisgada em meu pescoço e logo percebi que a mulher já aplicava o soro em minha veia. Tudo queimava e eu me sentia como se fosse cair no chão a qualquer momento. Lutava para permanecer acordada e ver o que aconteceria com o rapaz agora, se ele reagiria, se ele permaneceria calado.

O que realmente surpreendeu-me foi o moreno puxar o punho do homem que estava prestes a aplicar-lhe a injeção, torcendo-o tanto que fazia com que este agonizasse. Livrando-se de todos os fios, levantou em um pulo, dando um soco na garganta deste para que perdesse o ar. O robô logo agiu, transformando seu braço em uma arma e logo atirando as balas metálicas.

O menino era mais rápido e utilizava todas as máquinas da sala para desviar. O robô era como uma metralhadora, mas ele não se dava por vencido, jogando macas encima do andrógeno, o que aumentou a velocidade das balas. Assisti o moreno usar a mulher que antes tratava de mim como um escudo humano.

E incrivelmente eu não me sentia assustada. Talvez pelo calmante, talvez porque eu já estivesse acostumada com isso. Vejo o garoto utilizar a mulher nas costas, enquanto mexe nas substâncias químicas da estante. O robô vem em sua direção, trocando a arma pelo braço, porque queria machucá-lo fisicamente antes de finalmente matá-lo. Queria fazê-lo sofrer.

O garoto apenas dá um sorriso e corre até mim, jogando um líquido que outrora estava em suas mãos no chão. Sinto o barulho do vidro quebrando-se e algo como uma explosão de calor atingindo meu rosto, e logo assisto o lugar encher-se de um tom vermelho-alaranjado. Essa é a última coisa que vejo antes que minhas pálpebras lentamente se fechem.

A primeira coisa que penso ao abrir os olhos é porque está tão escuro. Não vejo um movimento e sequer um barulho, o que realmente me deixa assustada. Além disso, procuro qualquer acontecimento em minha memória e não o alcanço. Novamente, me sinto vazia, sem saber que rumo tomar. Um toque quente alcança meus ombros, agora nus, e me sinto assustada.

— Pela sua cara você não se lembra, isso é óbvio, você tomou o soro. – deixou-se suspirar e começou a explicar todos os detalhes do que havia ocorrido.

Tudo que eu via eram vultos, mas sabia que era um rapaz pelo seu tom de voz. Eu não me lembrava de nada o que tinha acontecido e o que mais me assustava era que tudo tinha ocorrido há poucas horas atrás.

Além disso, estávamos em 2052. Eu não me lembro de muito, mas sei de três coisas: meu nome, minha data de nascimento e minha idade. Chamo-me Lunna e nasci em 2034. Fazendo as contas, percebi que quando vim para cá, em 2049, eu tinha quinze anos. Agora, estou prestes a completar minha maioridade, ou seja, estou há três anos aqui e não me lembro de sequer um dia. Por isso acredito fielmente no que o moreno fala, mas não posso deixar de ficar brava com toda aquela situação.

— E agora você endoidece e me faz de cúmplice! Se você quer sair explodindo laboratórios, faça-o sozinho. Se eles já nos punem sem fizermos nada, imagina agora? Irão nos matar! Eu vou morrer por causa de um cara que eu sequer conheço. – retruco, com a cara ainda emburrada.

— Se eu não o tivesse feito, você morreria na explosão. Olha, eu só acredito que se ficarmos um tempo sem tomar essas vacinas, conseguiremos recuperar nossas memórias! Com isso, talvez poderemos achar uma saída daqui. Acredite em mim, eu já consigo sentir as lembranças voltando, ao menos eu sei quem eu sou, quem todos nós somos.

Nesse instante uma luz se acende e me preocupo, mas nada acontece. Agora consigo ver a face do rapaz, mas ela não me traz nenhum déjà-vu. Ele parece estressado, cansado e até com um resquício de preocupação com o que iria falar. Eu meneei a cabeça para que ele continuasse e ele o fez, crispando os lábios e falando de maneira baixa:

— Eu me chamo Owen. E nós, todos nós que estamos aqui somos criminosos.

E eu, bem, eu sou um assassino.

Não há tempo para surpreender-me com a revelação, pois logo a porta abre-se com um estrondo e sinto como meu coração fosse sair pela boca. Quem dá as caras agora é uma garota, aparentemente da nossa idade, com um sorriso no rosto. Impressiono-me logo de início, com a beleza esplendorosa daquela mulher: pele negra, cabelos voluptuosos e cacheados de tom amarronzado, certamente mais alta que eu, com um corpo muito mais delineado que o meu e um sorriso que tiraria o fôlego de qualquer homem. Percebo que Owen observa cada traço dela, mas não esboça nenhuma reação.

— O que diabos vocês estão fazendo no meu closet? Não, não falem, sou inocente demais pra ouvir e quero permanecer assim. – ela diz, com uma risada alta e escandalosa.

Ela aparentava ser alguém legal. De qualquer forma eu precisava sair dali, não é como se eu quisesse ficar presa com um assassino.

— Me ajuda a sair daqui, esse cara é maluco, ele me fez de cúmplice e se nos pegarem vão nos matar, ele é um... – mal pude completar a frase. Owen tampou meus lábios com a mão, justamente quando seus lábios se contorceram num sorriso tímido.

— Ela não é confiável, Lunna. Ninguém que está aqui é, lembra? Somos todos criminosos.

A morena pareceu ofendida, franzindo o cenho e logo dando de costas. Eu penso que ela sairá diretamente para a sala do diretor, pronta para denunciar-nos, mas tudo que ela faz é pegar um frasco de perfume e jogá-lo na direção do rapaz, que por muita sorte desvia. Doida de pedra, não deixo de pensar, arregalando os orbes.

Owen agora parece furioso, mas logo cai na gargalhada. Ele procura pelo closet algo que não machuque a mulher e acaba pegando uma embalagem plástica de hidratante, jogando-a.

Aí é que a surpresa foi maior: a morena dividiu cada partícula do corpo e o plástico passou diretamente pelo buraco deixado. O garoto ao meu lado fica boquiaberto e eu não fico diferente. Quem ri agora é a menina, voltando a juntar-se e logo sentando na cadeira.

— Meu nome é Zöe. E eu sou intangível.

Todas as luzes caem e um alarme começa a ecoar no corredor. As portas metálicas se abrem, assim como as janelas. Owen olha para nós e silenciosamente todos concordamos: essa é a nossa brecha. É a hora de nós sairmos.

Nós nos separamos. Zöe vai inspecionar os guardas e confirmar se as saídas para o exterior também estão abertas e não apenas a do interior. Owen aproveita para derrubar os guardas que aparecem no nosso caminho. Já eu fiquei com uma parte complicada: tenho que adentrar as salas em procura de armas.

Pode parecer fácil levando em conta que todas estão abertas, mas e se um guarda estiver lá? Eu olho para o meu corpo frustrada, pensando em como queria ter músculos e ser forte, como Zöe. Ao mesmo tempo penso que vou conseguir, porque é a nossa única chance. Sempre fui segura de mim mesma e não vai ser agora que vai mudar: vou achar aquelas armas.

Adentro umas cinco salas que estão vazias e mesmo assim não me sinto desesperançosa. Corro para outra sessão, saindo da área A para a B. Eu sequer sabia que existiam tantas alas, mas isso acaba sendo normal quando não tenho um resquício de memória.

Passo por uma porta que se mantém fechada e estranho tudo aquilo. Sei que ali pode haver uma segurança maior e que seria totalmente arriscado, mas não deixo de pensar que algo muito precioso estaria ali. Não há fechaduras, apenas um sensor para dígitos e senha.

Se eu colocasse meus dedos ali certamente não abriria e sequer sei a senha. Uma lembrança se retém em minha mente e logo me sinto tonta: eu estou invadindo um local como esse e um sorriso se mantém em meu rosto. Um machado está em minhas mãos e eu pressiono-o com muita força sobre o sensor.

Escorro-me pela parede, tentando lembrar mais, saber se aquilo tinha ajudado. Eu não sei se aquilo tinha realmente acontecido e o motivo por eu ter feito aquilo. O cérebro às vezes brinca com as pessoas, de forma que tudo podia nem ter sido real.

De uma coisa eu sei: não tenho um machado, mas tenho meu corpo. Eu sou magra demais, mas me lembro de uma voz percorrer minha cabeça, dizendo para que eu usasse a força de meus cotovelos. E é o que faço.

Golpeio o sensor por muitas vezes e tudo que vejo são rachaduras, ainda sim ele funciona. Continuo a bater, ignorando a dor aguda, ignorando o sangue que escorria pelo meu braço.

Canso-me e chuto com tudo o sensor com a ponta dos meus pés e logo ele se estilhaça. Tão quebradiço como eu. Empurro a porta e ela se abre, mas o que me surpreende é a luz vermelha piscando enquanto um monte de fumaça atinge meu rosto. Fico com medo de uma explosão, mas estou avistando as armas, e sei que não teremos outra chance. Muitos guardas irão vir aqui e Owen não dará conta deles.

Sinto-me tonta respirando aquele ar. Minha visão embaça e é mais difícil mover-me. Não sei de onde tiro forças para subir no banco e quebrar o vidro, pegando tudo que tivesse cara de perigoso em meus braços. Não vou desmaiar, não importa quão sonolenta, machucada e cansada estou.

Quando desço do banco caio, e logo vou me arrastando pelo chão para fora. Quando estou há dois passos de sair vejo um guarda na minha frente, que pisa em minha mão com um pé e o outro segura minha cabeça. Tenho outra mão livre, e é a que eu preciso usar agora.

Eu não sei se já usei uma arma na vida, mas ela me parece muito familiar. Seguro-a com mãos hábeis e sei que vou ter que mirar sem poder sequer virar o rosto. Puxo o gatilho e rezo para que tenha conseguido acertar qualquer parte dele.

E acertei. Ele geme de dor e cambaleia e é o que preciso para me rastejar mais dois passos e puxar a porta para que ele ficasse ali até que inalasse fumaça suficiente para desmaiar.

Respiro com dificuldade e vejo que deixei muitas armas para trás quando o rapaz pisara na minha mão, mas ainda temos algumas nos meus bolsos e essa na minha mão, a que definitivamente salvou minha vida.

Eu deveria me sentir mal por ter acabado de atirar em um cara, mas bem, não me sinto. Parece que o que Owen disse era verdade: somos criminosos. Eu não sei o que eu era, mas sei que eles não conseguiram eliminar essa natureza de mim. E por incrível que pareça, agradeço por isso.

Pensando no diabo logo ele parece, sorrindo, as vestes todas sujas de sangue. Sei que temos de correr e me esforço para levantar e não cair. Owen me apoia e corremos para nós encontrar com Zöe e fugir da multidão de guardas e robôs atrás de nós.

Eles estão cada vez mais perto e atiram em nossa direção. Inevitavelmente meus joelhos dobram e me sinto como se fosse cair no chão. Tento falar para Owen me deixar ali e ir embora, mas é tarde demais porque ele me pega no colo e logo aumenta a velocidade. Somos puxados pelos ombros e não deixo de pensar no pior, mas logo estamos em uma sala com fundo falso, seguros.

— Como diabos você conhece cada canto desse instituto? E bem, quais são as informações? – pergunta o rapaz, colocando-me sentada na cadeira.

— Porque bem, querido, a vacina deixou de funcionar em mim há muito tempo. Eu tenho muitas das minhas memórias, embora não todas. Consigo lembrar-me de tudo que acontece aqui, mas nunca nada relacionado ao mundo lá fora, e é por isso que preciso sair e descobrir. Quanto às informações: todas as portas estão abertas. Ao que parece, um hacker entrou em ação depois de todos esses três anos sem crime algum. Os guardas ficaram desesperados e mais da metade foram atrás do rapaz, por isso vocês não foram massacrados. – sentou-se na mesa, balançando os pés. — Você inalou o gás. Não era nem pra estar viva agora... Mas fico feliz que esteja.

A confusão mostra-se presente em meu semblante. Certamente eu não acreditava que aquilo me mataria, apenas que me deixaria desmaiada. Não consigo entender o porquê de eu estar aqui, não sei se Zöe é confiável e sequer como iremos continuar com o plano, mas sei que precisamos sair dali ou seriamos mortos pouco a pouco.

— Você. Eu não confio em você! Depois irá explicar tudo que sabe aqui dentro, certo? Pois bem, vamos sair por a porta dos fundos. Deve estar mais vazio do que aqui. – Owen estalou a língua sobre o céu da boca, logo girando os calcanhares para sair dali.

Corremos pelos corredores, pegamos atalhos inimagináveis ditados por Zöe, batalhamos com guardas e robôs e tudo foi uma aventura muito desgastante, até o momento que nossos corações gelaram. Muitos passos pelos corredores e urros de vitória.

Somos guiados pela escadaria, mas sabemos que os guardas também passariam por ela. Não vejo nenhum lugar para esconder-nos, mas a morena parece saber. Ela retira o tampo da ventilação e começa a adentrá-lo. Fazemos o mesmo e vamos andando pela escuridão dali.

Quando estávamos seguros, paramos prontos para ouvir a conversa. Há pequenos buracos na tubulação e por isso só vemos em pontilhado. Os guardas carregam um garoto branco, de cabelo castanho claro e olhos cansados, além de um corpo magro e alto demais para sua possível idade.

Era o criminoso. Um hacker.

— Temos que ir logo antes que ele seja forçado a desfazer as ações e fechar tudo. – Zöe diz, voltando a guiar-nos.

Meu coração se quebra em pedacinhos. Possivelmente aquele garoto tinha dado sua liberdade para ajudar-nos e agora estava lá, sendo preso, perdendo toda sua inteligência no exato instante que pressionassem a agulha em seu pescoço.

Mesmo assim, continuamos. Não podemos fazer com que aquilo seja em vão. Falta tão pouco para alcançarmos a liberdade que prometo a mim mesma que voltaremos para ajudá-lo. Ele não irá se lembrar de nós, mas mesmo assim iremos o fazer.

Caímos um em cima do outro e há apenas alguns corredores da porta, que está lá, aberta. Sei que deve ter guardas protegendo a saída, talvez atiradores de elite, mas assim como eles somos criminosos e devemos saber lidar com isso.

Corremos e sinto a respiração falhar. Estou me esforçando muito. Ainda sinto aquela fumaça queimar-me a garganta.

Somos interrompidos por um gigante em nossa frente. Sua aparência é surreal, a pele ganhando um tom azulado com pequenas escamas, um único olho âmbar, um corpo terrivelmente forte.

Ouço o som de o alarme ecoar novamente e cerro os punhos, observando a porta lentamente fechar-se ao fundo. Olho para Owen e para Zöe e assinto preparada para que eles deixem o local e que me deixem ficar ali.

Zöe corre pelo salão, pronta para sair, apenas esperando Owen, que nega com a cabeça. Franzo o cenho, indicando para que ele saísse. Pego uma das armas no bolso, mas sou impedida pelo seu punho.

— Vá. Você sequer tem forças para manter-se em pé, Lunna. Largue de ser a garota ridícula que quer ser uma heroína e mantenha a razão.

Aquelas palavras me atingiram em cheio, mas não demonstrei, apenas ignorei-o começando a atirar. O monstro com sua cauda derrubou-me ao chão e senti todos os ossos do meu corpo sendo atingidos. Levanto-me novamente, mas Owen já está na minha frente, usando um sabre para atingir cada parte do gigante. Zöe corre em nossa direção e pula nas costas do monstro enfiando uma pequena adaga. Ele tenta pressionar sua cauda contra a morena, mas novamente ela divide-se ao meio e nada a atinge.

O monstro tenta atingir Owen com fogo, mas ele desvia e infelizmente tropeça. Penso que é nessa hora que ele vai ser arruinado, mas isso não acontece porque Zöe pula em sua cabeça e vai escorregando por todo o corpo do gigante, rasgando da cabeça aos pés com sua pequena adaga.

O gigante cai no chão e lentamente assistimos o último vestígio da luz solar que batia lá fora sumir. A porta tinha se fechado.

— Por que diabos vocês não foram? Por que fizeram todo aquele trabalho árduo do menino ser em vão? – senti a raiva subir cada vez mais em meu corpo e abaixei a cabeça, mordendo os lábios com força.

— Fizemos tudo isso juntos, então temos que sair juntos. Incluindo aquele garoto, principalmente ele. Não foi em vão Lunna, porque agora sabemos nossa força, sabemos que podemos fazer tudo se acreditarmos que podemos. Você venceu a morte naquela sala, Zöe deixou de lado seu objetivo para nos ajudar e eu aprendi que posso confiar nas outras pessoas. Bem, você sabe onde fica a sala das câmeras para podermos ajudar aquele garoto? – olhou diretamente para a morena que se mantinha sorridente.

— Me diz o que é que eu não sei, querido.

O garoto estava preso a uma cadeira, sendo investigado pelos guardas. Cada vez que não respondia, levava uma queimadura nas costas. A crueldade era tamanha que sequer se importavam com o grito do acastanhado.

— Pois bem Noah, o que o levou a invadir nosso sistema e como fez isso? Eu acredito que é melhor responder-me, caso contrário seu destino será a sete palmos abaixo da Terra.

O garoto, agora nomeado Noah, sequer respondeu. Sua voz frágil e baixa apenas perguntou uma coisa:

— Quem restaurou o sistema?

Os guardas se entreolharam confusos e logo uma figura pequena e sorridente surgira, com feições asiáticas e um óculos no rosto. Observei mais atentamente e percebi que havia algemas em seus punhos. Era um prisioneiro, assim como nós.

— Fui eu. Acredite gracinha, você é bom no que faz, mas certamente eu sou mais. – gargalhou, enquanto um guarda aplicou-lhe a vacina, fazendo com que este desmaiasse em seus braços.

Eu estava irada. Como alguém de nós poderia apoiá-los? Por culpa daquele cara as portas haviam sido fechadas! E agora, Noah estava prestes a morrer por nada.

Sinto cada partícula do meu corpo esquentar e Owen e Zöe me olham assustados. Eles dizem algo sobre meus olhos, mas me parecem distantes demais para ouvi-los. Vejo todos os móveis daquela sala se moverem e entendo perfeitamente o que está acontecendo.

Meus poderes estão florescendo.

E eu estou pronta para usá-los.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Estia - Guardiões de Vidro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.